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PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA RECOLHA, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS

CAPÍTULO III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

5. PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA RECOLHA, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS

A presente investigação foi orientada sequencialmente tendo em conta as seguintes fases: delimitação do campo de análise através da definição dos problemas e das questões centrais; identificação das características do contexto da investigação; construção dos instrumentos de recolha de dados das entrevistas e das grelhas de análise dos documentos.

O processo de recolha de dados foi, num primeiro momento, precedido pelo pedido dirigido à escola, na pessoa do diretor, com o intuito de obter a permissão para a realização do estudo. Após uma breve exposição dos objetivos e propósitos da investigação, fomos informados de que a autorização dependeria da aceitação por parte da presidente do conselho geral, que veio a ser concedida, conforme o solicitado.

Neste contexto, procedemos à formalização deste pedido verbal, através da apresentação da declaração emitida pelo orientador científico que assegurou, ainda, a confidencialidade dos dados e o anonimato dos participantes na investigação.

O conhecimento do diretor da escola, dos seus colaboradores e de um número significativo de professores e funcionários, dado termos pertencido ao quadro da escola permitiu-nos que existisse uma razoável recetividade por parte dos elementos da comunidade escolar à nossa presença. Em contrapartida, este facto, e o conhecimento das opiniões e ideias da investigadora por parte de algumas pessoas, podem ter introduzido algum constrangimento nos resultados obtidos e, concretamente, introduziram no trabalho de recolha de dados apreensão e cuidados para minimizar estes efeitos.

Para a recolha de dados, Stake refere que “não existe um momento exato para o fazer. Ela tem início antes do compromisso de realizar o estudo: contextualização, familiarização com outros casos, primeiras impressões” (2007, p.65).

As técnicas de investigação utilizadas assentaram na análise documental e nas entrevistas semiestruturadas, bem como na análise de conteúdo destas.

Assim, numa primeira fase, que precedeu o início da investigação, foram lidos alguns documentos disponíveis na página eletrónica da escola dos quais se destacam o projeto educativo, o projeto de intervenção do diretor, o regulamento interno, o plano anual de atividades e o contrato

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de autonomia. Por outro lado, complementamos o conhecimento da estrutura organizativa através da constituição dos vários órgãos de direção e gestão da escola.

Este trabalho permitiu-nos o acesso a informações que tornaram a caracterização do contexto mais completa e que já apresentámos no ponto anterior.

Já na fase de investigação, tivemos acesso a outros documentos produzidos na escola, a saber, os Projetos Educativos, 2005 e 2011, e à Carta de Missão, entre outros.

Esta análise pretendia identificar as grandes linhas orientadoras da ação da escola, através dos objetivos, dos valores, das ideologias e das práticas dominantes que constituem orientações para ação de caráter formal dos atores escolares, construídas nas margens de autonomia dadas à escola (Lima, 1998, pp.166-167), e que, de algum modo, poderiam indiciar a perspetiva organizacional de resposta às pressões internas e externas do ambiente institucional.

Terminada a fase da análise documental, que se confrontou com dificuldades de acesso aos documentos, pelo seu afastamento na vigência temporal, mas nos permitiu percecionar o contexto atual da escola em estudo, iniciámos os contactos para efetuar as entrevistas.

A identificação, clara e objetiva, da população de um determinado estudo é imprescindível, mesmo que nos possa parecer demasiado evidente em muitas circunstâncias. A população não é mais do que “um conjunto de elementos constituintes de um todo” (Quivy & Campenhoudt, 1998, p. 160). Deste modo, o objetivo primordial da extração de uma amostra é o de obter uma representação “honesta” da população.

A população inicialmente selecionada para a aplicação das entrevistas foi constituída por seis membros da comunidade educativa a desempenhar as funções de membros do conselho geral, a saber, a presidente do conselho geral, dois professores, um não docente, um encarregado de educação e um representante da comunidade local, o diretor e um elemento do conselho pedagógico implicado diretamente na elaboração dos dois últimos projetos educativos da escola.

Esta nossa opção na escolha destes elementos a entrevistar vem na linha do que Ruquoy aponta como importante a preservar como critério de amostragem na seleção dos entrevistados, a “adequação aos objetivos da investigação, tomando como princípio a diversificação das pessoas interrogadas e garantindo que nenhuma situação importante foi esquecida”, assegurando, portanto, nesta escolha, o caráter exemplar do entrevistado (1995, p.103).

Optámos, logo no início, por afastar da abordagem e do processo o aluno do conselho geral, por termos recolhido informação, junto da presidente do mesmo conselho, de que era o primeiro ano

Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências 151 que pertencia a este órgão e de que, com a sua falta de experiência, pouco poderia contribuir para os objetivos desta investigação, visto desconhecer a realidade em estudo.

Entendemos que, mediante esta escolha, abarcámos as diferentes sensibilidades em presença no órgão, conselho geral, tendo em atenção que os professores, ao pertencerem a grupos de recrutamento distintos, poderiam enriquecer os dados a recolher, considerando a possibilidade de as suas representações da realidade serem diferentes de uns para outros. A opção de entrevistar um elemento do conselho pedagógico pareceu-nos óbvia tendo em conta que é este órgão o responsável pela elaboração do projeto educativo, sem, contudo, pôr de parte ouvir sobre este tema outros entrevistados.

Considerando o afastamento no tempo da fase de eleição do diretor, a seleção de um elemento que estivesse envolvido no processo foi considerada importante, dada a sua presença no atual conselho geral, em detrimento da presidente do conselho geral transitório, nossa ideia inicial. Como a presidente do conselho geral transitório não chegou a ter assento nos conselhos gerais, 2009- 2013 e no atual conselho, pensámos que se tornaria mais rica a participação de alguém que tivesse as duas experiências. Assim, selecionámos um representante da comunidade local para entrevistar, dado ter pertencido ao conselho geral transitório e ser membro dos conselhos gerais seguintes, considerando que um olhar externo à organização pudesse representar e introduzir um olhar mais distanciado na análise desta organização.

Iniciámos contactos via email para fazer uma primeira abordagem e sensibilização dos escolhidos para a aceitação de um encontro prévio à eventual realização da respetiva entrevista.

A entrevista a um encarregado de educação fazia parte dos nossos planos iniciais. Tal não se veio a concretizar devido à não existência de respostas aos emails de contacto enviados a duas das representantes no atual conselho geral.

As entrevistas ocorreram às mais diversas horas do dia, em locais que reuniam as condições adequadas para a realização das mesmas. No local apenas estavam presentes o investigador e o entrevistado. A duração média de cada entrevista situou-se entre vinte e cinco minutos e quarenta e oito minutos, de acordo com o tempo que cada entrevistado considerou necessário para se exprimir.

Antes da realização das entrevistas, através da realização de um encontro prévio, todos os entrevistados foram informados dos objetivos e propósitos da investigação, foi solicitada a ajuda ao investigador, mostrando a importância da sua colaboração, através das suas opiniões, para o sucesso da investigação e foram dadas informações gerais sobre os processos a utilizar,

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nomeadamente, a necessidade de gravação e a garantia de confidencialidade dos dados e proteção de identidade dos participantes. Foram também agendadas datas para a sua realização. As mesmas entrevistas foram marcadas e realizadas em salas da escola disponíveis no dia e hora da sua realização, tiveram duração em média de aproximadamente quarenta e cinco minutos. Os registos áudio das entrevistas foram disponibilizados aos entrevistados interessados.

Os participantes nesta investigação, através das respetivas entrevistas, foram codificados, designadamente através da atribuição de um código, tendo sido os membros do conselho geral designados por ECG com indicação do setor que representam no respetivo conselho e associados a uma numeração em função da ordem pela qual as entrevistas decorreram. Assim, os códigos foram atribuídos do seguinte modo: à presidente do conselho geral, EPCGp_6, traduzindo - entrevista à presidente do CG, professora entrevistada em sexto lugar-; aos membros docentes do CG, indicados por, ECGp_2, ECGp_4, traduzindo – entrevista ao membro do CG professor entrevistado em segundo e quarto lugar, respetivamente-; o membro não docente do CG indicado por ECGnd_1, traduzindo - entrevista ao membro do CG não docente entrevistado em primeiro lugar -; o membro representante da comunidade local do CG indicado por ECGcl_5, traduzindo - entrevista ao membro do CG representante da comunidade local entrevistado em quinto lugar. De modo análogo se indicam o membro do conselho pedagógico codificado como ECP_3 – entrevista ao membro do conselho pedagógico professor entrevistado em terceiro lugar - e o diretor como ED_7, traduzindo – entrevista ao diretor realizada em sétimo lugar.

O quadro que se segue apresenta os entrevistados bem como uma breve descrição do seu perfil. Achámos importante incluir informação sobre a sua formação académica e o tempo de serviço enquanto professores, assim como o tempo de serviço na escola em que incidiu a investigação. A informação sobre os cargos desempenhados ao longo do seu percurso profissional, no caso dos professores, pareceu-nos de alguma importância no contexto deste nosso estudo por, aparentemente, mostrar a diversidade de caraterísticas individuais destes atores.

Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências 153 Quadro 8 - Caracterização dos entrevistados

Cargo atual Formação/FormaÁrea de ção Cargo (s) Desempenhados ao longo da carreira Temp o de serviç o (anos) Tempo de serviço na escola (anos) Gén ero Anos de permanên cia no cargo Diretor (ED_7) Lic. Engenharia Geográfica e Especialização em Adm. Escolar

Presidente Conselho Executivo (CE), Membro do CE e do CD, Delegado de grupo e DT 29 24 M 7 Presidente do CG (EPCGp_6)

Lic. Economia Membro da AE, Coordenadora de departamento, Delegada de Grupo,

coordenadora CEF, DT

30 27 F 7

Membro docente do CG

(ECGp_2)

Lic. Geografia Membro do CP, Delegado de grupo e de disciplina, Coordenador DT,

DT 32 27 M 7 Membro docente do CG e CGT (ECGp_4)

Lic. Português e Inglês Membro da AE e CGT, Membro do CP, Delegada de grupo, DT 23 20 F 7

Membro não docente do CG (ECGnd_1) 12ºano --- 18 18 F 3 Membro representante da comunidade local do CG (ECGcl_5) Lic. Filosofia e Mestrado Filisofia Membro do CGT e da Assembleia de Escola -- -- M 7 Membro docente do CP (ECP_3)

Lic. História Assessora do CE, Coordenadora de Departamento, do PAA e dos DT,

Delegada de grupo, DT

29 28 F 7

Os entrevistados situam-se na faixa etária compreendida entre os quarenta e cinco e os sessenta anos, e, no que ao género diz respeito, foram entrevistados três elementos do sexo masculino e quatro do feminino.

As entrevistas semiestruturadas realizadas aos diferentes elementos previstos no quadro anterior tiveram por base um guião comum adaptado à individualidade de cada um dos entrevistados, no sentido de possibilitar o cruzamento de dados no que às questões de perceção e interpretação da realidade organizacional diz respeito. Foram todas previamente agendadas e realizadas entre maio e setembro de 2016 nas instalações da escola.

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As entrevistas foram transcritas na sequência umas das outras, e foram sujeitas a uma análise em termos de conteúdo, com identificação de opiniões, eventualmente divergentes, para posterior cruzamento de dados entre elas sobre os temas inerentes à organização educativa. Este trabalho foi feito através duma leitura construída á custa de quadros comparativos de respostas às diferentes perguntas para simplificar a apreensão do material recolhido.

As entrevistas foram tratadas com recurso à análise de conteúdoe agrupadas por dimensões, categorias e subcategorias, tendo como referência os objetivos da investigação de acordo com o quadro que se segue.

Quadro 9 - Dimensões, categorias e subcategorias

Dimensões Categorias e Subcategorias

A. Os PEEs e as representações dos

atores 1. Os intervenientes na construção/revisão do PEE 2. Os objetivos e os percursos da

mudança B. Perceções do PI e da organização

educativa 1. A construção do PI 2. 1.1. Os referentes do PI e as suas (inter)dependências com o PEEAs consequências do PI

2.1. No PEE

2.2. Nos processos de mudança ao nível da escola. O que mudou? C. Processo de eleição do diretor 1. Os pressupostos e o resultado

D. Perceção sobre as lógicas

organizativas 1. O papel estratégico do CG na organização educativa

1.1. As orientações e decisões produzidas pelo CG

1.2. A autonomia

2. As relações de poder: CG e diretor

Os métodos de análise de conteúdo, como refere Bardin (2009), têm por objetivo a superação da incerteza e o enriquecimento da leitura. É neste sentido, e perante a necessidade de descobrir para além das aparências, que investimos, primeiro, numa leitura flutuante dos textos para orientação e levantamento das questões que nortearam esta investigação, e depois, numa análise em função do quadro teórico que elegemos.

Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências 155 Por outro lado, com a análise dos documentos estratégicos da escola, focando-nos, essencialmente, nos projetos educativos da escola de 2005 e 2011 e no projeto de intervenção do diretor de 2009, que não foi formalmente revisto quando da sua recondução, destacaremos convergências e contradições para daí obtermos a confirmação, ou não, das hipóteses e objetivos orientadores deste estudo.

A apresentação de dados e a análise dos resultados será mencionada e concretizada no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO IV –