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A professora Nazaré, que participou das ações institucionais de formação, afirma em sua narrativa escrita: Com esses conhecimentos percebi que com planejamento e abordagem ativa das aulas, saindo da aula tradicional expositiva, a prática da docência fica mais

agradável e com melhores resultados para o professor e para os alunos, principalmente (NR- Nazaré). No encontro de reflexão, a professora reforçou a necessidade de entender a cabeça da geração atual:

[...] a gente tem que deixar esse conteúdo interessante pra eles também. Então, fazer esse exercício de tentar trazê-los pro seu lado. Não confrontar, mas, meio como eu tento fazer, com atividades, com coisas lúdicas até e tal [...] O jeito que eu aprendi, na minha graduação, não é o mesmo jeito que os alunos, hoje em dia, conseguem aprender. Porque tem o celular, porque tem muita informação o tempo inteiro. Então, eu acho que é isso [...] a adaptação pra linguagem atual. Que isso, pra mim, foi um aprendizado [...] tem também que tentar dialogar com essa geração. Então, com isso, você tem que se reinventar. Minha visão (NR-Nazaré)

Nas aulas ministradas por Nazaré, a professora buscava o envolvimento dos alunos, no decorrer da exposição, por meio de perguntas específicas relativas ao conteúdo:

“Alguém tem uma ideia?”; “Alguém tem contato?” [...]; “Alguém consegue dar um exemplo de [determinado tópico]?”; “O que vocês acham que é esse [tópico]?”; “Concordam?”; “Qual seria o melhor cenário [em determinado processo]?”. A partir de tabelas e gráficos presentes no artigo, a professora lança algumas perguntas aos alunos que envolvem [tópicos específicos do conteúdo]. Os alunos, então, vão sinalizando e a professora acompanha suas respostas, a partir [da atividade que eles desenvolveram], complementando com algumas informações (RO-Nazaré).

Por sua vez, nos encontros com o pesquisador, Nazaré expõe:

Isso o (EA)2 ajudou muito. O que eu tento fazer é botar as atividades para os alunos

primeiro, porque eles assimilam mais. E isso me dá mais satisfação, porque aí assim se torna uma aula participativa. Quando ficava só na aula expositiva, era muito frustrante. Então, quando faz esse mix de ter uma atividade, depois tem uma conversa e ficar tirando dúvidas deles, eu sinto o meu tempo mais proveitoso. E eu sinto que eles aprendem mais. Então, minha avaliação, até o momento, é positiva. O quê que foi marcante, que os alunos perceberam, da primeira vez que eu ofertei a disciplina pra essa segunda, foi o treinamento do (EA)2. Eu acho que tem muito da

experiência que eu tive em sala de aula. Mas tem muito das reflexões que o (EA)2

levou a fazer. Então a aula teórica expositiva está fadada ao fracasso. Por mais que você vê que o aluno sente falta. E alguns até falaram: “Ah, teve pouca aula teórica”. Mas a aula estava no exercício. E o exercício ia conduzindo eles a aprender. Então era esse o objetivo (NR-Nazaré).

Uma das estratégias adotadas por Nazaré, para promover o envolvimento dos alunos, foi a leitura coletiva de textos. Em duas aulas, a professora disponibilizou aos alunos um material impresso e/ou online (ambiente virtual de aprendizagem) e convidou cada aluno a ler, em voz alta, trechos desse material. Durante a realização da leitura, a professora dialogava

com eles, lançando algumas perguntas e explicando alguns conceitos, por exemplo: “O que é [determinado conceito]?” (RO-Nazaré). Provocando, também, reflexões: “Por que vocês acham que tem essa diferença?”; “O que vocês acham?” (RO-Nazaré). Colocava algumas situações práticas para esclarecer alguns conceitos. Aos poucos, procurava interagir com eles: “Alguma dúvida?”; “Algum comentário?” (RO-Nazaré). Em um primeiro momento que a professora adotou a estratégia, foi maior o envolvimento dos alunos na leitura e na interação com a professora.

Os alunos manifestaram, em concordância, suas impressões sobre a estratégia de leitura coletiva de textos, sinalizando que não gostaram, por ser muito cansativo, sobretudo devido ao tempo que ocupou da aula. Refletiram sobre possíveis alternativas para esse trabalho. Porém, reconheceram a intenção da professora em promover o envolvimento deles:

[...] o que eu acho que ela tenta com tudo isso é fazer a gente prestar atenção. [Alguns colegas concordam, sinalizando: É]. O objetivo dela é fazer a gente entender o que a gente tá fazendo, sabe? Não simplesmente passar a matéria (GF- Nazaré).

Nas aulas de Nazaré, a partir de suas orientações, constantes exercícios (avaliativos ou não) eram realizados pelos alunos no ambiente virtual de aprendizagem, seja com base na leitura prévia de textos (artigos científicos ou documentos, por exemplo), seja para introduzir determinado tópico do conteúdo. Durante a resolução, [...] os alunos dialogam entre si [...] e gradativamente vão esclarecendo suas dúvidas com a professora (RO-Nazaré).

Nazaré acompanhava esse processo, orientando-os, fazendo alguns destaques conceituais (por vezes, com o auxílio de ilustrações e tópicos sinalizados na lousa) e verificando se eles já concluíram. Em algumas aulas, Nazaré também lançava perguntas aos alunos, com base nos próprios exercícios ou nos textos que deram suporte para a sua realização, como exemplo: “quem já ouviu falar desses termos?”; “Alguém pode me falar quais as quatro etapas?” (RO-Nazaré). Alguns alunos participavam, respondendo a essas questões. Frequentemente, a professora reforçava a necessidade de envolvimento dos alunos, para que eles se concentrassem na realização da atividade. Durante esse processo, os alunos costumavam consultar materiais de apoio, disponíveis no próprio ambiente virtual, identificando palavras-chave relacionadas ao conteúdo das questões.

Quando os exercícios tinham a finalidade de introduzir o conteúdo, a professora, após a sua realização, iniciava a exposição dialogada do conteúdo, destacando alguns aspectos teóricos e, nesse processo, verificava as dúvidas e comentários dos alunos em relação às questões que eles responderam. Em uma das aulas, por exemplo, Nazaré propôs inicialmente

que os alunos realizassem os exercícios, para depois ela abordar determinados conteúdos e, por fim, os alunos refazerem os exercícios propostos inicialmente:

[...] em determinado momento, uma aluna pergunta para a professora: “É para fazer na raça mesmo?”. Então, a professora responde: “Na raça. Porque depois da atividade, vocês vão poder refazer ele”. Sinaliza, para um aluno, que “o objetivo é fazer com os conhecimentos que vocês têm”. E indica que depois da discussão dos conceitos, eles poderão refazer [...] então, tomando como referência o exercício que os alunos realizaram/estão realizando, começa a abordar, com o auxílio da lousa, os conceitos relacionados ao conteúdo [específico], perguntando aquilo (conceitos) que os alunos conseguiram identificar enquanto realizaram o exercício [...] nesse processo, dialoga com os alunos, para relacionar com o que foi contemplado nas questões do exercício: “Teve também uma questão sobre perspectiva?” [...] e verifica: “Vocês estão conseguindo acompanhar?”. Sinaliza, mais adiante: “Quando a gente fizer o exercício, vai ficar mais claro” [...] [em seguida], a professora orienta a realização de outro exercício [...] e sinaliza: “[...] se vocês tiverem dúvidas, me falem, que a gente vai resolvendo juntos”. Indica: “Se vocês quiserem agora, refazer os exercícios [questões que eles responderam no início da aula de hoje] [...] senão faz em casa”. Indica a necessidade de refazer os exercícios no [ambiente virtual de aprendizagem], tendo em vista que influencia na nota [exercício avaliativo]. Os alunos irão refazer os exercícios tendo em vista que o fizeram sem ter tido acesso aos conhecimentos específicos abordados. E, então, após a exposição dialogada da professora ao abordar esses conceitos, possivelmente conseguiram resolver melhor [...] (RO-Nazaré).

Em algumas aulas, era mais evidente o diálogo que se manifestava entre os alunos durante a realização dos exercícios, sobretudo quando eles discutiam as estratégias que estavam adotando na resolução:

“Eu não entendi direito como é que faz [...]”, um aluno sinaliza para a professora. “Deixa eu mostrar como eu fiz [...]”, indica outro aluno. O aluno sinaliza, então, para alguns de seus colegas e para a professora como realizou o exercício. A professora conversa com eles sobre essas possibilidades. E, a partir das dúvidas que ainda se manifestam, a professora recorre à lousa (“Eu vou explicar lá na lousa [...]”), para esboçar [...] informações básicas do conteúdo, orientando a turma. Nesse processo, indica: “Eu prefiro que vocês façam como o livro recomenda”. Mesmo encerrando o horário de aula, os alunos continuam realizando o exercício [...] isso possivelmente justifica-se pelas dúvidas que eles sinalizam constantemente para a professora, sentindo, portanto, necessidade de sua orientação presencial. No decorrer desse processo, a professora indica estratégias para a realização do exercício [...] (RO-Nazaré).

Na visão dos alunos, sobre o processo vivenciado, o exercício representou uma estratégia potente para a aprendizagem:

[...] eu adorei a dinâmica de aula dela, porque ela gosta muito de exercício, sabe? Eu acho que é mais fácil aprender com ela dando a matéria e fazendo o exercício depois [Alguém: É] daquela matéria. E mesmo que a gente faça depois em casa, sabe? Eu acho que não é a mesma coisa do que você fazer uma matéria, ter ela pra tirar dúvida ali presente, ter um amigo pra conversar, sabe? [Alguém: Sim], pra

discutir. Nesses exercícios de [tópico específico] aí, se a gente não estivesse em dupla, trio, eu não ia terminar nunca aqueles negócios [Alguns riem]..

[...] eu gosto muito de ela fazer os exercícios com a gente, sabe? Porque tem muito professor que manda aquelas listas enormes de uma vez só, a uma semana da prova. E aí você fica: “Meu Deus, eu não vou conseguir terminar de fazer os exercícios”. E ela vai fazendo com o tempo. Então, dá pra você absorver aos poucos e não é uma sofrência (GF-Nazaré).

Na reflexão de Nazaré: [...] eu vou motivar que eles discutam entre si. E, querendo ou não, quando eles fazem a atividade, você vê que eles estão conversando entre si, fazendo com o colega, discutindo e tal (NR-Nazaré).

Os alunos reconheceram a tentativa da professora de desenvolver experiências novas para possibilitar a aprendizagem:

Eu acho que a gente tá sendo meio cobaia de certas coisas, pra ela ir se ajustando, sabe? Pra gente também, eu acho que é muito válido ela dar experiências novas pra gente testar. Porque mesmo, se a gente não tiver oportunidade de conhecer, a gente não vai saber de fato se é bom ou não pra aprender. E eu acho que muitas das coisas que ela faz, a maioria, tipo 90% das coisas que ela dá, é muito efetivo no ensino [...] Ela tenta inovar sempre, sabe? Então eu reconheço isso. Me dá vontade de vir na aula e eu não fico com sono. E eu gosto das estratégias dela (GF-Nazaré).

Além disso, elogiaram o processo conjunto de correção desenvolvido ao final da segunda prova:

[...] inicia-se o processo de correção da [segunda] prova. Inicialmente, a professora indica que como a prova envolve conceito e cálculo, ela prefere corrigir em sala. Projeta a prova na lousa e, na medida em que apresenta as questões, os alunos interagem com ela, indicando a resposta. Em alguns momentos, a professora indaga: “Vocês têm dúvidas nessa? Tranquilo?” [...] Em determinado momento, a professora convida: “E agora um voluntário para fazer os cálculos”. Alguns alunos, então, participam do processo de correção, registrando os cálculos na lousa, a partir das questões da prova. Em alguns momentos, a professora auxilia, indicando os procedimentos para efetuar os cálculos [...] Na medida em que a turma prossegue na correção, outros alunos também vão se envolvendo. A correção da prova torna-se, então, um momento propício para a revisão dos tópicos contemplados no conteúdo, bem como de interação e descontração (considerando o envolvimento direto dos alunos com a atividade) [...] (RO-Nazaré).

Na reflexão de Nazaré, a correção de prova possibilitou a ela que tivesse uma percepção das aprendizagens que adquiriram: [...] Ali foi o momento que eu vi que todos eles aprenderam esse assunto (NR-Nazaré).

Em relação à prova, a professora questionou-se sobre seu papel, tendo em vista a avaliação contínua:

Acho que eu não vou querer fazer mais prova. Apesar de que eu tenho certeza que os alunos valorizam muito a prova. Você vê que, pra eles, a correção da prova foi um negócio fenomenal. A gente fazia isso todo dia em aula, mas a prova é um negócio marcante. Então eu fico ainda me questionando se tiro a prova. Mas eu acho que eu vou tirar. Até pra que toda aula seja importante. E não só revisar tudo em cima da hora e fazer a prova [...] E isso é uma coisa que a gente até pode usar pra meio que negociar, conversar com os alunos (NR-Nazaré).

Outra estratégia adotada pela professora foi a avaliação entre os alunos. Alguns exercícios avaliativos, realizados continuamente no ambiente virtual de aprendizagem, eram corrigidos pelos próprios colegas. Segundo uma das alunas: Fazia parte da nota. Se você respondesse, você ganhava certa nota, se você corrigisse de outra pessoa, complementava a nota (GF-Nazaré). Sobre essa estratégia, uma aluna apontou: [...] eu não entendi muito o porquê (GF-Nazaré). Uma das colegas sinalizou que a professora manifestou que era para poupar trabalho dela (GF-Nazaré). O grupo, então, ficou surpreso e em dúvida se a atividade, de fato, tinha essa finalidade e questionou-se sobre outras possíveis finalidades:

Eu acho que é mais pra gente aprender, ter mais contato [...]

[...] o que eu acho que ela tentou foi fazer a gente ter certas responsabilidades, sabe? [...] se eu soubesse que a nota dependia, se eu tivesse avaliado ou não, eu acho que eu teria prestado mais atenção do que só na minha nota [...]

Eu acho que ela queria estimular o pensamento crítico também, na hora de avaliar. Só que... Não funcionou muito, porque eu não tinha a mínima vontade de fazer, eu só olhava se tava preenchido e colocava [...] “Parabéns!”; “Muito bem” [...] Mas eu acho que se a pessoa analisasse certinho, eu acho que isso ia ajudar a treinar o pensamento crítico [...]

[...] Me deixou com mais empatia pelo trabalho dela, porque eu imagino ela fazendo isso 30 vezes, sabe? Então eu achei bem legal ver pela lente dela, pelo olhar dela, como que é corrigir no Moodle, ver se a pessoa tá indo bem ou não (GF- Nazaré).

Segundo a professora:

Era um pouco de tudo, era porque se... Pra eles terem um feedback mais rápido. Porque se eu corrijo todos, eu tenho que, eu, dar a nota pros 40. E eles fazendo entre eles... A gente fazia esse exercício em sala. Era realmente só pontuar [...] Então foi realmente uma questão prática e uma questão de aprendizagem. Mas a parte de eles também me ajudarem nisso, pesou bastante (NR-Nazaré).