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3 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

4.1 TERRITÓRIO

4.2.3 Necessidades de informação e educação em saúde

A sociedade contemporânea foi denominada como a sociedade do risco por Beck (1998), expressa pela produção incessante de produtos e serviços, impulsionada pela ideologia do consumo (BAUDRILHARD, 1970, apud COSTA, 2004). O desenvolvimento de uma política de comunicação em vigilância sanitária, baseada nos princípios do SUS, é fundamental para que haja uma mobilização da coletividade em busca da garantia do direito à saúde, e, portanto de ter produtos e serviços de qualidade e ter o poder de tomar as decisões frente aos riscos, comportamentos e estilos prescritos nesta sociedade.

Com o objetivo de discutir princípios e diretrizes para a formulação de uma Política de Comunicação em Vigilância Sanitária, foi realizada em 2004, a Oficina Nacional de Comunicação em Vigilância Sanitária que como consta no relatório, corroborou os pontos apontados na I CONAVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2001), no que diz respeito a pouca visibilidade da VISA em relação a suas ações e seu papel; pouca comunicação com os diversos setores, instituições, segmentos regulados, população e ainda a centralização das informações.

A informação e a educação sanitária contribuem para a democratização dos conhecimentos técnicos-científicos, minimizando a assimetria de informação. Tais instrumentos, mediante estratégias adequadas de comunicação, devem ser acionados para subsidiar os cidadãos e profissionais de saúde a adotarem “atitudes de autodefesa contra o movimento iatrogênico das estratégias de mercado e para o uso racional dos produtos e tecnologias de risco”, como destaca Costa (2003b), contribuindo para o empoderamento dos sujeitos e para o exercício da cidadania. Além disso, é preciso criar espaços para que a população possa ser ouvida, a exemplo das ouvidorias, por meio da qual se pode conhecer necessidades demandadas pela população e buscar soluções adequadas.

Questões culturais muitas vezes representam um desafio a ser enfrentado pela área de vigilância, dada a presença de certos hábitos, como no exemplo dos pequenos municípios, com a comercialização da carne “verde” (in natura) e de margarinas nas gôndolas sem climatização, o que requer, como assinala Rangel-S (2007) uma atuação mais dialógica, na busca do entendimento do significado dos riscos para a população e não apenas repasse de informações, com linguagem

adequada. Como detentora de um saber muito específico, em relação à qualidade e segurança de seus objetos de atuação, a vigilância sanitária precisa dialogar com os saberes da população e dos outros setores.

O reconhecimento da participação da sociedade na definição dos riscos, com as quais ela aceita conviver, reduz o caráter técnico da atual forma de decisão regulatória contribuindo assim para o empoderamento da população e o controle social (O´DWYER; TAVARES; DE SETA, 2007). Principalmente, considerando a assimetria de informação, na qual o setor produtivo e o Estado detêm o conhecimento, e a população desinformada e impulsionada pela propaganda, é impelida a consumir indiscriminadamente vários produtos que trazem riscos à saúde. O direito à informação correta sobre os benefícios e riscos dos bens relacionados à saúde integra o rol dos direitos do cidadão e do consumidor. O que contribui para reduzir a assimetria das informações e para subsidiar uma ação mais proativa e participativa dos cidadãos na defesa dos seus direitos (COSTA, 2012).

A mídia representa um grande desafio, pois conforma todo um sistema de necessidades de consumo, comportamentos, estilos de vida, cujas estratégias mercadológicas mascaram, na maioria das vezes, práticas de risco à saúde, ao conferir valor simbólico a objetos e práticas de consumo que oferecem riscos à saúde ambiental, individual e coletiva. Isto faz com que a população valorize, deseje e se exponha a riscos, que em sua maioria são desconhecidos por ela, em função de uma necessidade criada, de um padrão construído para a manutenção do capital. A atuação de vigilância sanitária neste espaço de disputa de sentidos na comunicação em torno dos riscos, requer acumulação de poder e de competências comunicativas, na direção de estratégias culturalmente mais sensíveis e dialogadas com os movimentos sociais, para a circulação de discursos de proteção e promoção da saúde (RANGEL-S, 2007; RANGEL-S; COSTA; MARQUES; 2007).

Com relação à informação e comunicação no âmbito do SNVS, as dificuldades começam na coordenação do sistema, a ANVISA e se estende aos estados e principalmente aos municípios, como apontado pelos profissionais no estudo de Leal (2007): ausência de uma estrutura de educação sanitária ou núcleo de comunicação e de educação específica em vigilância, assim como a falta de insumos educativos e qualificação específica para o trabalho de educação em saúde.

A necessidade de informação ágil, organizada e com qualidade, sobre os objetos de cuidado da vigilância sanitária, torna necessária a estruturação de um sistema de informação operacionalizado pelos três entes federativos do SNVS, que possibilite o gerenciamento dos riscos sanitários, através da consolidação de informação sobre seus objetos e que oriente para uma tomada de decisão. O Sistema Nacional de Informação de Vigilância Sanitária (SINAVISA) foi estruturado pela ANVISA com esta finalidade, porém seu processo de implantação não tem avançado.

Desde a I CONAVISA e a 1ª Oficina de Comunicação em VISA quase uma década se passou e pouco se fez em relação a esta questão. Silva, Cruz e Melo (2007) destacam que o desenvolvimento e incorporação da informação e comunicação dependem de decisões políticas e econômicas que perpassam as relações de poder e produção do saber. Em vigilância sanitária os interesses e disputas de sentidos em torno da comunicação dos riscos são diversos e muitas vezes conflituosos, diante das relações produção-consumo. Comunicar é compartilhar o poder e o saber (ARAÚJO, 2007; SILVA; CRUZ; MELO, 2007) e, neste sentido, a quem interessa empoderar os consumidores e cidadãos para exercerem a sua cidadania?

Necessidade em vigilância sanitária pode ser necessidade de regulação e/ou de regulamentação de um determinado objeto, processo, procedimento, tecnologia etc.; necessidade de participação e controle social; de informação e educação em saúde. Estas necessidades não satisfeitas podem se transformar num problema que, por sua vez, pode resultar num problema real para a saúde da população.