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3 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

4.1 TERRITÓRIO

4.1.2 Território-processo

A concepção de território-processo vê o espaço como uma produção social em permanente construção. Este espaço é fruto de uma dinâmica social, onde sujeitos sociais estão em permanente tensão, e por conta disso, o território nunca está acabado e sim num movimento de construção e reconstrução. Por sua vez, extrapola a visão geográfica (superfície-solo) para um território de vida pulsante, ou seja, com um perfil demográfico, epidemiológico, econômico, administrativo, tecnológico, político e cultural e que ao ser esquadrinhado revela uma determinada situação de saúde. Assim, a situação de saúde é determinada pela dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas que se reproduzem historicamente, num determinado território em permanente construção (MENDES, 2003).

O território abrange um conjunto indissociável de objetos cujos conteúdos são utilizados como recursos básicos para a vida cotidiana, ou seja, para produção, habitação, circulação, cultura, associação e lazer. O reconhecimento dos objetos existentes no território e seus usos pela população e sua importância para os fluxos das pessoas e de materialidades (ar, água e alimentos) são relevantes para o reconhecimento da dinâmica social, hábitos e costumes, bem como na determinação de vulnerabilidades para a saúde humana (MONKEN; BARCELOS, 2005).

A territorialização é igualmente relevante para a vigilância sanitária. Piovesan et al., 2005, que realizaram um estudo nesta temática, destacam que para

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A Intersetorialidade é um processo de construção compartilhada, em que são estabelecidos vínculos de co-responsabilidade e co-gestão para melhoria das condições de vida da população (CAMPOS; BARROS; CASTRO, 2004). Uma possibilidade de encaminhar a resolução dos problemas da população, situada em determinado território, de maneira integrada. É a "articulação de saberes e experiências no planejamento, realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico em situações complexas visando o desenvolvimento social, superando a exclusão social" (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1997 apud JUNQUEIRA, 1997).

o controle sanitário é fundamental conhecer o território, identificar e interpretar a organização e a dinâmica das populações que nele habitam, compreendendo suas condições econômicas, sociais e culturais, e a relação destas com a vida e o trabalho, no intuito de minimizar os problemas sanitários a que estão expostos indivíduos, grupos sociais e objetos, e agir sobre os fatores que determinam e condicionam a ocorrência de agravos e danos.

Com base na concepção de território-processo, os objetos de atuação de vigilância sanitária como produto da dinâmica social encontram-se no cotidiano das pessoas, inseridos nas relações produção-consumo. Neste sentido, a identificação destes objetos é necessária tendo em vista que podem causar malefícios à saúde da população, direta ou indiretamente, ao não produzir o efeito benéfico esperado, havendo, portanto, a necessidade de estruturar ações de controle de riscos sob tais objetos. Pode-se considerar que tudo que está sob vigilância sanitária no território constitui um problema potencial.

Como os territórios não são homogêneos, os objetos da ação distribuem-se de acordo com a dinâmica social, econômica, demográfica, política e sanitária de um território específico.

Pensar o território na perspectiva do planejamento das ações de vigilância sanitária requer a compreensão da dinâmica social, num espaço que não se restringe a limites geográficos, mas com grande interação entre pessoas, objetos, meios de vida e os riscos produzidos, o que resulta na necessidade de articulação intersetorial e interdependência dos entes federativos e da sociedade para o enfrentamento e/ou gerenciamento dos riscos e, consequentemente para a satisfação das necessidades sociais em saúde.

4.2 NECESSIDADES EM SAÚDE

Todo ser humano ou grupo de indivíduos tem necessidades que estão associadas às suas condições de vida. As necessidades em saúde são geralmente identificadas a partir da existência de doenças ou potenciais agravos, riscos presentes no ambiente físico e social, bem como em função de análise das condições e estilos de vida dos indivíduos e grupos sociais (TEIXEIRA, 2001; 2010). Assim as necessidades de saúde, reproduzidas socialmente, podem ser

necessidades biológicas, ecológicas, de consciência e conduta, econômicas (CASTELLANOS, 1997), regulatórias etc.

As necessidades de saúde da população são tomadas como objeto pelos serviços de saúde para formulação de políticas, programação de ações e organização dos processos de trabalho, para melhoria da situação de saúde; e podem ser definidas como carências relacionadas com a manutenção das condições de sobrevivência e desenvolvimento pleno das capacidades dos indivíduos e grupos de uma população (TEIXEIRA, 2010).

No campo da saúde coletiva, atender as necessidades implicaria numa intervenção sobre os determinantes sociais da saúde, na perspectiva da efetivação do direito universal à saúde. Dessa forma, atender necessidades de saúde significa tomar como objeto do processo de trabalho as necessidades dos indivíduos das diferentes classes sociais que habitam um determinado território e encaminhar a política pública de saúde na direção do direito universal (CAMPOS, 2004, apud CAMPOS; MISHIMA, 2005).

As necessidades coletivas de saúde exigem atuação efetiva em vigilância sanitária, que segundo Costa (2004, p. 398), envolve:

[...] ações articuladas intra e intersetorialmente e tecnicamente fundamentadas que façam avançar o olhar do controle sanitário das estruturas (dos estabelecimentos), dos processos (de produção) e resultados (produtos e serviços) para alcançar os determinantes das relações produção-consumo nas suas múltiplas inter-relações com a saúde.

Estudo realizado por Campos e Mishima (2005), com usuários de uma unidade básica de saúde, sobre o que eles reconheciam como necessidades de saúde, concluiu que necessidades de saúde são necessidades da presença do Estado, necessidades de reprodução social e necessidade de participação política. Foi atribuída ao Estado a responsabilidade pela garantia de diversos serviços e destacado o descrédito nas instituições públicas, tanto na garantia do acesso quanto à efetividade do serviço. Embora o estudo esteja voltado para a assistência, necessidade de saúde como necessidade da presença do Estado em vigilância sanitária remete ao caráter de função indelegável do Estado neste componente do Sistema de Saúde, que diversamente das ações assistenciais não podem ser

facultadas à iniciativa privada. Dessa forma, a ausência ou insuficiência do Estado em ações de vigilância sanitária expõe a população a riscos à saúde.

Como espaço de intervenção do Estado, a vigilância sanitária atua no sentido de adequar o sistema produtivo de bens e serviços de interesse da saúde às demandas sociais de saúde, individuais e coletivas, e às necessidades do sistema de saúde (LUCCHESE, 2008). Tais necessidades, ao serem reconhecidas como problemas de saúde na política pública, desencadeiam ações de vigilância sanitária no âmbito dos três esferas de governo, com vistas a intervir sobre produtos e serviços de interesse da saúde, que podem causar problemas de saúde na população.

Considerando que as necessidades em saúde não se restringem a necessidades de ação assistencial ou necessidades de serviço de vigilância sanitária, e que os objetos de atuação constituem parte das necessidades sociais de saúde, pode-se compreender que no âmbito de vigilância sanitária, necessidades de saúde representam, também, necessidades de regulação e mais especificamente, de regulamentação.