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CAPÍTULO 1 Por onde flanou a cronista para encontrar suas pessoas-

5. Nem parte da frente, nem parte de trás: é parte de quem resiste no espaço

“ponte”

As populações destas áreas de “ponte” sofrem a segregação territorial49 e, também, simbólica, de condição de pobreza, por morar em uma “favela”50 (KOWARICK, 2009),

em virtude de seu espaço vivido. De fora para dentro há uma forte estigmatização, mas

que também ocorre “de dentro pra dentro” da baixada e da própria cidade.

A Baixada Perpétuo Socorro é “parte da frente”, com as melhores casas e “parte de trás”, com a população mais vulnerável. Estas se estabelecem em, literalmente, fronteiras-

pontes (DE CERTEAU, 1990), porque protagonizam, produzem e significam/ressignificam lutas de classificações sociais que se ratificam em

49 Conceito de Wacquant (2005) em que um grupo, ou uma rede social, sofre o descrédito coletivo em

função de seu precarizado local de residência ratificado pelos padrões do capitalismo contemporâneo.

50 Para Kowarick as favelas são lugares ocupados, de terra alheia, pública ou privada, onde há aglomeração

de pessoas e as unidades habitacionais precarizadas, onde as casas podem ser construídas de alvenaria e também de madeira, mas, muitas delas, sem necessidades básicas de saneamento e conforto. Estas estão

movimentações e “operações” do cotidiano, como intrigas, conflitos, acusações, tensões,

dramatizações, táticas e também sociabilidades, evidenciando fronteiras-pontes muito mais simbólicas do que reais, porque os moradores apreendem e produzem sentidos do lugar em que tecem como moradia. Os sujeitos moldam o lugar por intermédio das redes de relacionamentos. Logo, compreender a baixada e seus confins exige transgredir as fronteiras e as pontes, embrenhando pelos microespaços de vivências e apreendendo as construções de lugares que os moradores da baixada deram a ela. Exemplos disso são os poderes simbólicos e limites fronteiriços internos de “parte da frente” e “parte de trás” (ELIAS e SCOTSON, 2000), na luta pelo melhor espaço e pela melhor casa, na ostentação

dos eletrodomésticos, no poder de quem está preso e “manda tocar o terror”, no poder da

ordem imposta pelo traficante, nas construções de estigmatizações internas e, também e fundamentalmente, na vida diária dos moradores nas suas organizações de sociabilidades, onde os homens ordinários respiram.

Neste sentido, as palafitas condensam-se no espaço onde ocorrem as redes de relações dos indivíduos e dos grupos sociais, num ambiente de um cotidiano com disputas

de valores e leis próprias. E este espaço de práticas envolve a passarela: “A ponte é pública”, como dizem na baixada. A “ponte” ou a “passarela” é um lugar de oposições de ações e pensamentos. A “ponte” é o lugar da diversidade, onde todos tem liberdade de

agir de acordo com suas vontades. Faz-se dela e fica-se nela onde bem entender. Fala-se o que quiser, usa-se o que quiser. Pensa-se como quiser. Incomodados que se retirem. As pontes principais são como dois grandes rios com muitos braços, muitas vertentes, revelando nesta metáfora uma das práticas de espaço de tantos moradores, como Isidora, Ana, Zaíra, Maria e Vitória.

Nessas pontes sobre a água, os moradores já estão acostumados com a sua anatomia. Caminham rápido, correm, passeiam, namoram, há outros que fazem o uso da ponte para fugas, brigas, espancamentos, assassinatos por arma branca ou de fogo. Crianças brincam, no inverno até pulam da ponte para o lago que está cheio de água e sujeira, e muitos, ao pisarem em uma madeira estragada, ferem a canela e os dedos dos pés. Choram com aquele sentimento, o queixo tremendo, as lágrimas correndo com vontade pelo rosto, encontrando-se ao final da face. Mulheres sentadas em cantos de madeira de frente para a casa da vizinha. Os vizinhos são considerados os amigos de verdade, representam a união e a parceria. Os melhores vizinhos são os amigos. Ser grande amigo na baixada, é não incomodar o vizinho e ajudá-lo quando necessário. Na verdade, mais do que um grande sentimento de amizade é uma estratégia individual para resistir no espaço. Tomar

café juntos e bater um papo sobre a ponte, de janela em janela ou de área em área, cada um encostado na sua casa, ou até mesmo na casa do outro. “Eu passeio muito”, diz dona

Isaura, “este é o meu jeito. A Liquinha, que mora ali do lado, é muito minha vizinha desde que cheguei aqui. Nós se gostemo muito”. A ponte inicialmente dá uma ideia de grande

coesão social, que em tese revela credibilidade e solidariedade entre os membros da rede. Mais tarde percebe-se que há a coesão em redes muito particulares, como as familiares, de dona Maria de Jesus, e entre alguns vizinhos, como Isaura e Liquinha, Maria e Ana, Maria de Jesus e Fernandes, Argia e Barreto.

As sociabilidades na baixada, e nas casas que pertencem à “parte da frente” e à “parte de trás”, resultam em práticas sociais e culturais de um grande espaço com práticas

de lugares diferentes. Aqui há todo um sistema simbólico de poder econômico e social. Nesse universo de uma cidade escondida da cidade, repleta de palafitas, pontes e tramas,

a área se divide, pelos próprios moradores, na “parte da frente”, os estabelecidos (ELIAS;

SCOTSON, 2000), formada por um grupo de umas 20 casas que se caracteriza pela ocupação formal de um ou mais membros da família, que estudaram, alguns já

possuidores do bem simbólico do diploma de ensino superior. Além de que, nesta “parte”,

os moradores têm a maioria dos móveis e eletrodomésticos necessários dentro de suas casas. Alguns destes móveis também representavam um poder simbólico, como no caso de Diomira e Ramiro que possuem alguns eletrodomésticos que nem foram tirados das caixas, como um micro-ondas, por exemplo. Outro grande poder vangloriado pela “parte

da frente” é o banheiro dentro de casa, já com a água que sai do cano, sem a necessidade

de buscar água nas torneiras da feira ou ficar dependendo da escassa e suja água oriunda dos canos da companhia de água local. No entanto, nesta história toda há um grande problema, como uma vez me contou Maria:

A CAESA (Companhia de Água, Esgoto e Saneamento do Amapá) veio aqui e colocou um cano grosso, lá na (passagem) Maestro Miguel e na (passagem) Marcílio Dias. Só que a população mesmo faz buracos (nos canos da água). Vai lá e ‘ah, aqui não tá bom, tá ruim’ (de chegar água) e aí fura lá embaixo e já deixa o do lado aberto. Aí já faz embaixo (um buraco) com a ganância de ir mais água para a casa. Então fica ali. Quando é verão até que fica por cima (os dois canos ficam acima da água do lago, proporcionando aos moradores água limpa). Mas quando é inverno vem por baixo da água (os canos ficam submersos na água, sujando-a), então essa é a maior dificuldade, porque a água já é suja e ainda tem isso (de ter muitos furos no cano e a água, além de suja, vem

escassa). Aí o povo diz, eu mesmo digo ‘olha, a água tá vindo podre’, mas na verdade é a água do lago51.

Por isso o ir e vir de baldes coloridos, todos os dias. Essas declarações sempre me são dadas por Maria, que é minha interlocutora sem papas na língua, a única que denuncia

e afirma que não tem medo, “eu falo, e eu falo mesmo, não tenho medo não!!” Logo, se um banheiro com chuveiro que vem com a “água podre” já é objeto de desejo e luta, um

banheiro com um reservatório de água limpa é um poder inimaginável dentro da baixada.

O “meu banheiro” é, na verdade, uma resistência no lugar e um símbolo local de prestígio (Goffman, 2008), numa tentativa de ser melhor do que os demais e ter mais “condições”

sociais e simbólicas. Assim, este grupo de moradores da “parte da frente”, detentor de mais condições, inclusive onde há mais casas com banheiros, desloca de si o estigma que sofre fora da baixada para um estigma e estereótipo interno, direcionando estes preconceitos – mesmo que, muitas vezes, sem dar-se conta –, aos seus “vizinhos” da

“parte de trás”. Logo, os “pobres”, “coitados” e “favelados” não estão na “parte da frente”, e sim “lá pra banda de trás”. Estas casas da “parte da frente” se localizam

estritamente do trecho da Ana Nery – da Feira de roupas até a Marcilio Dias. Estas casas são mais bem instaladas e acabadas do que as demais. Este grupo de moradores também não passa fome, algumas famílias da parte de trás sim. Os estigmas citados acima refletem-se na fala de alguns moradores, evidentemente não de todos. Noto que muitos

moradores da “parte da frente” respeitam os moradores da “parte de trás”; no entanto, há outros moradores da “parte da frente” que querem ou precisam se sentir superior aos

moradores da “parte de trás”. Logo, evidenciam um poder simbólico de ter mais bens de

consumo e bens duráveis do que os moradores da “parte de trás”, como já foi enfatizado. Os moradores da “parte da frente” querem ter o mesmo poder de compra e modo de vida

da classe média que mora em outras partes centrais da cidade – e muitas vezes os tem -,

direcionando o estigma de “pobre” para os moradores da “parte de trás”. A manutenção

deste poder simbólico resulta em resistência econômica (de sentir-se ou de pertencer à classe média) e uma prática de cuidado de si (FOUCAULT, 2013) no plano dos sonhos, desejos e vontades; para construir um padrão de vida para si, superior aos seus vizinhos.

Esta prática do cuidado de si fica evidente em frases como “aqui temos de tudo”, “nada

51 Todos os depoimentos dispostos em citação recuada neste trabalho foram gravadas em áudio durante

nos falta”, “por que vamos sair daqui se estamos no centro, e temos tudo o que precisamos, além de nossa casa própria?!”. Por isso os moradores da “parte da frente”

usam frases de distinções (BOURDIEU, 2007), no sentido de transpor estigmatizações e estereótipos sociais e territoriais oriundos de fora das baixadas. São práticas simbólicas

que os moradores da “parte da frente” – e inclusive alguns da “parte de trás” que estão

em situação de maior vantagem econômica – encontram para imporem-se nos seus microespaços territoriais e no sentido de lugar que encontraram para viver suas experiências. No entanto, acabam espalhando e reproduzindo ideias de medo, insegurança, e preconceitos ditos fora da baixada, ratificando equivocadamente as configurações da violência urbana52 e operando uma fragilização na própria prática de resistência dos moradores, porque há uma fragmentação dos espaços e uma fragilidade nas relações entre os moradores.

Há uma construção simbólica das “duas partes”, que elucidam o capital

(BOURDIEU, 1996) por intermédio de uma espiral invisível que se torna visível no consumo: os moradores da cidade de Macapá estigmatizam moradores de baixada. Estes,

por sua vez, criam classificações de poder simbólico para si. “Parte da frente” estigmatiza “parte de trás” por ter “certas condições” e jogam qualificações negativas para esta parte

da área, destinando-lhes difamações e desqualificações. Já na “parte de trás” há a própria configuração de estabelecidos e outsiders (ELIAS; SCOTSON, 2000), uma vez que os mais antigos na área são os estabelecidos com melhores condições financeiras e de consumo, ratificadas nas benfeitorias da casa e nos eletrodomésticos dentro do lar, que

muitas vezes nem são usados, mas são importantes para “estarem ali”.

E há os outsiders, famílias que chegaram depois, são mais pobres, não possuem emprego, não tem qualificação para trabalho, fazem pequenos bicos como catar latinha e vender água de coco na rua, não têm móveis em casa, nas épocas de chuva suas casas alagam e muitas vezes passam fome. Algumas destas famílias mais pobres possuem filhos

adolescentes que querem consumir “o que os ricos usam”, como diz Maria. O problema

é que eles não possuem capital financeiro para tal.

Deste modo acabam praticando determinados delitos, como pequenos furtos, andam armados com facas e tiram bens e dinheiro dos próprios vizinhos para manterem o

52O sentido do termo “violência urbana” que utilizo aqui é o proposto por Machado da Silva (2008). Para ele, esta é um conjunto de práticas sociais que são frutos dos sentidos dados por seus “atores” (DUBAR,

2004) nas suas experiências realizadas na cidade, em que há, nestas práticas, o emprego da força física e também do crime.

simbolismo de um capital social e financeiro. Na baixada não há traficante de grandes quantias nem perigosos assaltantes. Aqui há pequenos traficantes, que vendem uma trouxinha de maconha ou crack em pequeníssima quantidade e que precisam pagar ao grande traficante. Uma vez, muito depois que já a conhecia, Maria me contou que seu filho mais velho, Pierre, já foi preso. Na primeira vez, menor de idade, foi apenas detido, pela prática de um homicídio para salvar uma tia, em legítima defesa. O marido, bêbado, espancava a tia, que já estava desacordada. Ele correu e bateu no agressor com um pedaço de pau. Mas acertou-o na cabeça e matou na hora. Ficou preso apenas para acalmar os parentes enfurecidos do morto. Alguns anos mais tarde foi preso por venda de drogas.

“Ele vendia droga. Era crack, ele vendia dentro da baixada. Ele era só a bomba dos caras

grandes. Como eu te disse, né Roberta, eles só pegam os filhos da gente. Eles são de classe alta, são traficantes grandes e moram na cidade. Tão por aí. Eu nem sei quem são.... ou sei até quem são, mas em nome de Jesus, eu não vou falar o nome deles”, disse. Isso

confirma que os “violentos” da baixada são ignorados pela população de outras áreas da cidade e estigmatizados como “malaquinhos”. O poderio destes meninos e meninas dá-

se apenas dentro da baixada, onde dirigem sua violência para apavorar idosos e adolescentes mais novos que eles. Deste ambiente extorquem roupas, dinheiro, eletrodomésticos. Fazem pequenos furtos para usar o tênis da Nike, boné da Adiddas, sandálias da Kenner, e roupas das marcas de classe média Starpolis e Tripé. Estes adolescentes se autodenominam de VASP (Vagabundos Anônimos Sustentados pelos Pais). Como um dia me disse Maria:

Mana, eles querem essas roupas porque é os ricos que usam. Eles querem se espelhar nos ricos, entendeu? Só usam sandália.... o menor preço de uma kenner é 50 reais. Uma starpolis é 100 reais, a mais barata é de 80. E a tripé é 100 reais uma bermuda. Então não é todo mundo que tem condições, e eles querem se mostrar que eles são igual os ricos. Na realidade é isso. Eles querem ser igual os ricos... Querem tá com chapéu, óculos, e é tudinho assim. A visão de um é a de outro. Porque o que o filho da vizinha quer o outro quer também.

É o padrão consumista do sistema de dominação cultural que impõe marcas e consequentemente desejos, vontades, verdades, dignidades. As vontades dos adolescentes nas baixadas – e aliás em todos os lugares – revelam meninos e meninas sonhadores, que não são inocentes, mas cuja dura realidade das determinações econômicas, sociais e

culturais são incorporadas sem a percepção da imposição da ordem social. No entanto a prescrição do padrão de consumo – e não da imposição multicultural – é totalmente percebida, e o adolescente resiste e utiliza táticas e estratégias para fazer parte destas determinações da globalização, numa sensação de igualdade perante o outro. Para isso, muitos adolescentes que não possuem dinheiro para comprar seus desejos acabam furtando alguns trocados na semana para passear no Macapá Shopping no sábado, bem vestido, tomando sorvete e impressionando quem o acompanha. Os capitais sociais e simbólicos, entre os jovens, não têm a ver com educação, mas com consumo. Eles não estudam e não querem estudar. Eles querem ter e usar. “O que um comprou o outro também quer. Todo mundo quer ser igual. Só querem ter, não querem estudar e trabalhar

pra ter. Os pais é que precisam trabalhar”, diz Maria. Em alguns casos, para ter o que os outros têm, é que na madrugada alguns moradores veem “gatos pingados jovens”

atravessando as pontes da baixada carregando televisores nas costas. “Eu olho a ponte e a casa mesmo (de madrugada), eu vejo eles passarem com televisão, bujão de gás,

booooomba... bomba d´água!!!”, conta Maria num sorriso triste. Essas andanças são fruto

de um furto nas redondezas para, na outra manhã, viverem no sonho do capital social (BOURDIEU, 1983). Eles também detêm o capital simbólico do crime e das representações sociais e imaginários de medo entre os vizinhos, de querer ter o que é dos outros. Eles se acham poderosos, e também incutem este imaginário de virilidade e força. Como Zaíra que se apaixonou por telefone por um homem preso, que mal conhece e que

lhe dá uma sensação de proteção. Como lhe disse sua mãe, “minha filha, entre tantos

homens na face desta terra, você foi escolher ligar para um preso e começar um

relacionamento com um homem que nunca viu na vida pelo telefone?” E ela sorri. Sente-

se muito segura com seu marido, e diz que ele tem olhos em todos os lugares da cidade.

E isto lhe é um grande orgulho: “Qualquer coisa que me acontecer eu ligo pros meninos do Iapen, e aí vocês vão ver o que acontece”. Muitos destes jovens abusam do uso de

drogas baratas que estimula assaltos e mortes entre eles mesmos por centavos ou por pequenas intrigas, como na semana do incêndio em que uma moça foi assassinada por dever alguns reais a um traficante.

É neste contexto de relações sociais em que eles estão envolvidos que determinam o seu comportamento (cf. COLEMAN, 1990). Como muitas senhoras me diziam, que por mais que tentassem educar os seus filhos, com a maioria dos pais trabalhando e se esforçando, o dia-a-dia na baixada, e os grupos de interação, roubavam os filhos da educação que lhes foi dada. Ou seja, para que os adolescentes não fossem considerados

“amamãezados” ou “apapaizados”, como eles dizem (fazer o que os pais lhes orientam), eles são estimulados por grupos sociais de adolescentes a abandonar a vida de “filhinho de papai” e ingressar numa vida que lhes proporcione um benefício de capital simbólico

em potencial, que é a consideração, a “moral”, “ser alguém”, ter a vantagem de usar roupas da moda e consumir os produtos que aparecem na televisão, usados por quem eles negam, mas no fundo mais admiram: os ricos. Após um tempo de práticas nestas redes sociais que lutam pelo capital social, os jovens sentem-se pertencidos a este universo. Este pertencimento somente se quebra quando um deles é preso e sofre violência física e simbólica na cadeia (ou assassinado); então volta não querendo “esta vida nunca mais”, como jura Pierre, filho de Maria, que foi preso por tráfico de drogas.

Enquanto uns agarram-se a pequenas oportunidades de mostrarem um valor simbólico de força física e de estilos consumidores, a declaração forte de Maria revela que os grandes traficantes são da classe alta de Macapá e escondem-se atrás de outras profissões de classe média alta. Eles revelam para a sociedade uma origem de capital social e têm um imenso poder simbólico percebido apenas nas áreas pobres de Macapá que lhes são submissas. Além disso, as áreas de ressaca como a Baixada Perpétuo

Socorro, são “vendidas” como imagens de descontrole, insegurança, medo, desordem,

fomentadas por um número pequeno de ricos, muitas vezes de forma ilegal.

Independentemente do lugar, saber viver é fundamental. As práticas sociais e as sociabilidades vivenciadas, sentidas, fazem do ser ordinário da cidade – se ele assim o quiser – um deus contador de histórias de suas experiências. Estas, por sua vez, como escreveu De Certeau (1994), acontecem ao rés-do-chão, na vida singela, simples, cotidiana; onde acontece uma criação/recriação das práticas e significações cotidianas de um determinado espaço. Os moradores da Baixada Perpétuo Socorro apropriaram-se de um espaço há muitos anos, e conceberam um sentido para estas práticas de vivências, praticando um lugar com relações, interações, identificações, subjetividades e sociabilidades.

Como a hora do café e os fins de semana. Falo da baixada, mas falo de Macapá. Depois do almoço há a hora da cesta. Para alguns, mais curta, para outros tantos, mais