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CAPÍTULO 2 – Tem algo queimando: A dor e o sofrimento social de um evento

3. Notas sobre resistências

3.1 O apetite de narrar: Intrigas e fofocas

Afinal, quem foi que “botou” fogo na baixada? “Se continuarem com essa história de culpar meu irmão vou ligar pros meninos do presídio e eles vão tocar o terror”, me

confessou Zaíra, sempre repetindo esta frase de ameaça e beijando a testa e a cabeça de sua filhinha que há um mês nasceu com seis dedos em cada mão.

O período que envolveu os dias subsequentes ao incêndio, nos abrigos e escolas, foi de muita angústia e tensão; a angústia do nome na lista e da ordem de entrega do aluguel social e das casas prontas, a dor de estar longe da família, que estava espalhada em abrigos pela capital do Estado, a tristeza de estar em um colchão jogado numa sala de aula, junto com mais 10 a 20 pessoas no mesmo espaço, entre homens, mulheres e crianças, sem conforto e intimidade nenhuma, tendo que entrar em filas para urinar, defecar e tomar banho, aceitando doações de sabonete, escovas de dente, toalha, roupas

íntimas e roupas que lhes coubessem no corpo e muitas vezes que tiravam suas identidades. Um momento de medo de não conhecer quem dormia ao seu lado, ou porque não conhecia aquele morador, ou porque ele estava se passando por um desabrigado. Logo, concomitantemente a dor, sofrimento, humilhação e sentimento de falta de dignidade, os moradores viveram um período intenso de intrigas e fofocas, frente ao Estado e entre eles mesmos.

Primeiro foi a fofoca com relação aos culpados do incêndio. A polícia deteve quatro meninos que foram denunciados por fumar crack no local. Todos maiores de idade. Mas as conversas que nutriam as práticas das rodas de conversas dos moradores – principalmente na Escola Mário Andreazza, onde estavam alguns suspeitos – era de que apenas um destes meninos estava na casa com outros dois menores de idade e pequenos, e que este menino teria colocado a culpa também em outras pessoas. Estas, por sua vez,

estavam na Escola Mario Andreazza. Eles faziam cara de “mau”, no entanto, não faziam

discursos sobre si próprios, só diziam que iam pegar o tal delator. Mas suas irmãs, mães e amigas se encarregavam de lhes defender. Tudo se iniciou quando Zoé, a moça grávida e mãe de três filhos, começou a falar no pátio da escola – que possui uma espécie de arena, daqueles teatros gregos com o palco no centro e ao redor as arquibancadas –, que ela viu que aqueles meninos estavam lá fumando crack. Inclusive ela disse para um grupo de pessoas e eu estava entre elas.

Diz o laudo da Polícia Civil e dos Bombeiros do Estado do Amapá que havia quatro jovens consumindo drogas e que um dos fósforos teria iniciado o fogo. Zoé, que morava na casa ao lado da que teria iniciado o fogo, conta que os meninos estavam usando drogas e que eles são de fato os culpados do incêndio, incluindo os outros acusados. Ela contava

e chorava. E declarou: “Quando eu saí de lá os meninos deviam tá lá fumando droga. Eu

sempre via, às vezes eu falava, discutia com eles, era uma boca, eles fumavam crack,

maconha, e o incêndio começou assim”. Ao redor de Zoé já estava formada uma roda de

mulheres. Algumas pessoas – entre elas um dos acusados – estavam sentadas próximo

nas arquibancadas da arena. Ela, corajosa, continua: “só que uns falam que foi a vizinha

lá do lado que (e não os filhos dela fumando) tava discutindo com o marido dela... e a minha prima me falou que o filho tava brincando com um Bombril perto de um botijão,

mas ela não tinha botijão!!” Nestas alturas a tensão já estava instalada. Os olhos dos acusados comiam Zoé. E ela não parou de falar: “A Ipásia não tinha Botijão. Sabe porquê?

Porque eu morava do lado da casa dela e eu conhecia ela! Eu olhava pra dentro da casa

depois da esculhambação, faz que não é com ela: “E nesse dia ela tava dois dias sumida

de lá, e eles (os filhos) tavam direto fumando! Só que eu não tenho nada a ver com a vida

dos outros né, então deixava lá por conta”. Dona Isaura, com um vestido longo que lhe doaram, sem sua dentadura, estava “só filmando”, ou “só de olho”, ou ainda, “só na butuca” (termos nativos para observação) em Zoé. Pouco tempo depois, quando a

conversa terminou e fui para uma sala de aula ver Zaíra e sua filhinha, dona Isaura foi lá

se “enxerir” (categoria nativa para duas situações, uma “se meter” e outra “dar em cima de alguém”) e contar-lhe que Zoé estava falando mal de seu irmão:

- (Zaíra) – E agora tem mais essa confusão do meu irmão [...]... Meu irmão quase morreu queimado dentro da casa da minha avó...

- (Dona Isaura) Eu não quis falar nada, mas a Zoé tava entregando pra ali [...]

- (Zaíra) – Mas não foi, dona Isaura, não foi ele...

- (Dona Isaura) – Mas eu sei! Quase que eu me meto, mas daí deixei... - (Zaíra) – Porque foi o filho da menina, que tavam brincando com bombril... Deixa eu te falar... Foram os dois meninos da sogra da minha mãe (filhos da Ipásia), que tavam brincando com bombriiiiil, tavam fariscando assim... rodando o Bombril. Aí disque o Bombril foi coisando, foi pegando no colchão e foi queimando. Isso era lá pro outro lado da ponte (da parte leste de trás). Aí foi que a Ipásia, a sogra da minha mãe, que já falou que o meu irmão tava no meio... E o outro já se acusou... O filho dela se acusou dizendo que tinha sido ele que tinha tocado fogo. Ele pegou os outros três abestados e entregou o nome deles.

- (Dona Isaura) – Parece que o menino, [...], se acusou porque ficou com pena dos meninos porque eles são criança... (os menores de idade). Eles são crianças, mas tem uma coisa (ela se refere a pena) pra eles. Parece que lá na prisão já tão querendo matar eles... (Os menininhos também eram filhos da dona da casa).

- (Zaíra) – E ela (se referindo a Ipásia) não tem que acusar nada, porque ela passava de semana ou até mês fora da casa dela, não era dona Isaura? - (Dona Isaura) – Era...

- (Zaíra) – A Ipásia é a mãe do menino que se acusou e dos dois meninos que tocaram fogo. Todos eram filhos dela [...]

- (EU) – Vocês têm certeza que eram os meninozinhos que iniciaram o fogo?

- (Dona Isaura) – Era!

- (Zaíra) – Era... Eles eram crianças, a vovó falou que era pra meu tio [...] acordar o filho dela e o meu irmão, porque ele tava na parede lá do quarto dormindo... porque senão era pra eles tarem morto essa hora. O fogo já ia pra parede do quarto dele. Porque meu irmão sempre bebia com meu tio e ele dormiu lá no quarto.

- (EU) – Alguém viu esses meninos brincando com o Bombril?

- (Dona Isaura) – Aí que eu não sei... Quando eu vi a casa já tava pegando fogo, já tava cobrindo a casa... Isso eu sou testemunha que o fogo saiu da casa da Ipásia, porque eu fui uma das primeiras a ver e avisei.

- (Zaíra) – Só os meninos tavam lá, o meu irmão tava dormindo ressacado e o outro tava trabalhando. Os dois tavam trabalhando (os outros acusados). Então agora o meu irmão é um dos acusados, aquele moreno que tava sentado lá do meu lado antes, lá no pátio. Agora, isso que eu acho engraçado, a Ipásia não viu, como ela vai acusar? E ainda vão pegar um menor como testemunha de acusação? Não pode isso... (Ipásia confirmou a informação de seu filho para a polícia). Ele tem só 14 anos o menino que falou que viu eles lá dentro, porque eu não sei se vocês assistiram o Rota (o programa policial Rota 16), o Ericlaudio (apresentador) falou que era lombra (sacanagem, viagem) deles se jogaram droga um no outro. Mas se eles são viciado, viciado, vocês acham que eles vão jogar droga fora pra ficarem brincando de se jogar um no outro???? Nãããão....não... Agora eu tô querendo entrar em contato com os moleque lá da cadeia, porque Deus o livre... eu vou falar pra mamãe que a Zoé tá acusando meu irmão, não, mas não vou dizer da senhora (fala pra dona Isaura que não vai falar que foi ela que contou...)

- (Dona Isaura) – Eles botaram fogo no colchão...se eles tivessem jogado água...se queimasse era só a casa dela lá, mas não, quando eu cheguei o fogo já tava passando pra outra casa.

- (Zaíra) – Eu fico lembrando que eu era de deixar a neném sozinha lá... lá na rede lá em cima, eu deixava ela sozinha lá, que era mais ventilado... e o fogo começou logo de cara lá em cima!!! E tem mais uma, a Zoé não tem que falar nada, que ela foi levar o filho dela pro posto de saúde e deixou os filhos trancados lá na casa. Já pensou se não tiram eles? Se não fosse o vizinho... Mas eu vou falar pra mamãe... [...]

- (Zaíra) – Mas ainda tá no processo ainda, a advogada falou que não era pra gente contar esse negócio na mídia, que era pra deixar só com ela lá... a gente tem testemunha que não foram os meninos, porque dois tavam trabalhando e o meu irmão tava ressacado.

- (dona Isaura) – Agora quem fez a besteira foi o irmão dos meninos (menores) que assumiu.

- (Zaíra) – Ele se acusou e acusou os meninos!

- (Dona Isaura) – Esse merece que dêem uma pisa (surra) nele... - (Zaíra) – O moleque tá lá pra (Baixada) Pará com a mãe dele. Tão querendo matar ele já... Mas eu tenho fé em Deus que isso não vai acontecer (já pensando no irmão dela e não nas ameaças ao menino que se acusou...) Mas porque se não foi ele, por que ele se assumiu? E disque os policial civil falaram que sabiam que não eram eles, mas que era pra eles confessarem, que enquanto eles não confessassem eles iam continuar dando porrada. Mas polícia é assim mesmo, quando não acha culpado... Bate até dizer. A mamãe tá desesperada, tá tomando remédio controlado...58

Esta situação relatada revela em primeiro lugar que a ruptura transgride o fim do espaço habitado de moradia e imerge nas relações sociais de vizinhos. Há, a partir dos fatos que integram a narração acima, um conflito entre os moradores a respeito dos

58 Conversa que participei e gravei com a autorização das interlocutoras em 29 de outubro de 2013, no

culpados do incêndio gerando uma reinvenção política entre eles. Zoé corre perigos ao acusar seus vizinhos, mas o faz em forma de resistência contra o abuso de poder dos traficantes, usuários e também dos apenados que parecem exercer grande poder na Baixada. Há uma desconfiança na ordem social e uma reordenação dos atos morais dos moradores, como o testemunho acusatório de Zoé, que parece querer o retorno de uma ética – ou de uma operação de resistência particular – que finda um tempo vivido em um certo espaço. Assim como várias pessoas me falaram, que eram “da banda da queimada”, criando através da estética, um discurso, ou seja, um modo de fazer da linguagem algo particular, linguístico, ordinário; e dos depoimentos algo concreto e – para eles –, verdadeiro, que revela a vida na perda de um espaço destruído, que trás dor e perda de

pertencimento. Eles são da “banda da queimada”, repercutindo e digladiando relações de

força entre o depoimento de quem via as coisas acontecer, como Zoé, e a fala de Zaíra, que tinha a ajuda dos meninos apenados. São trajetórias que, conforme afirma De Certeau

(1990, p.97 e 98), são aparentemente “desprovidas de sentido”, mas ao percebê-las de

perto se veem escolhas que estão na ordem da subjetividade e dos sentidos da vida construída neste lugar extinto, que tem a ver com proteção e segurança, revelando trajetórias como a de Zoé, de Zaíra, de Isaura, do irmão de Zaíra, que movimentam o espaço social e temporal do lugar vividos desenhando e redesenhando trajetórias envolvidas no tempo e no espaço que se transformam e se intercambiam.

As táticas são utilizadas contra amigos e vizinhos que – momentaneamente ou não

– deixam de ser tanto amigos quanto vizinhos e que tem a ver com o desenlace da certeza

do nome na lista que é uma estratégia estatal. Zoé revela a tática da denúncia, da “boca

no trombone”, como foi dito. Zaíra revela um segundo tópico nos fatos narrados: as imposições de violências físicas e simbólicas pelos “‘muleques’ do presídio”, lugar em

que estão muitos amigos, irmãos, maridos e namorados, tidos como “salvadores” e pessoas dotadas de poder, que são acionadas pelas mulheres em momentos de tensão e

insegurança social. Os “moleques do presídio” são como o Estado na lei da baixada, cuja

retórica, narrativa e ações encenam, performatizam, incutem e geram violências, para evidenciar uma subversão pública, mantendo a disputa de poder sobre preocupações e necessidades comuns a determinados grupos.

Um terceiro momento no fato sobre os culpados do incêndio é revelado na fala de Zaíra de um poder coercitivo e violento da polícia, que ratifica o monopólio do capital da força, digamos assim, mesmo que muitas vezes esta força seja exercida de forma injusta, ilegal e imoral. Os comportamentos policialescos são construídos com interesses de

dominação política e física, como se seu desígnio fosse universalizar e sancionar valores morais e preceitos de interesses e percepções, proliferando nas pessoas o que Bourdieu

chama de “trabalho de inculcação de categorias de percepção e de apreciação comuns”

(2014, p.453), como se o Estado e a polícia – como pertencente a ele – tivesse um princípio máximo de criação de ordem social fomentada pelos valores sociais estatais. Desta maneira, a violência ganha corpo nas histórias contadas e/ou impostas através da coerção e do abuso de poder contra os mais fracos na esfera social com outras subjetividades e valores morais.

A fofoca agitou os abrigos. Os da “parte da frente” não sabiam direito como havia começado o fogo, mas concordavam com o laudo. A fofoca fez com que os da “parte de trás” divergissem sobre os culpados, o que causou uma desunião no grupo. Eles estavam “de bico” uns com os outros. Zaíra mal olhava para Zoé.

Neste período inicial da crise ocorreram várias outras fofocas e boatos, mergulhando no que nas obras de Veena Das (1995) podemos entender como transitoriedade, de mudança entre o local e o estilo de vida dos moradores e o processo transitório ao futuro próximo. É um momento propício a condutas e atitudes conflitantes, de tensões que no dia a dia ficam encobertas. As fofocas e os boatos, além dos culpados

do incêndio, giravam em torno de como “tem gente que não está aqui, mas está com nome na lista das casas”, “Olha ali... até ontem andava de shortinho, agora tá aí, andando de saião”, se referindo às doações que chegavam às escolas. Mas também havia boatos maiores, como: “o governo tá querendo mandar a gente lá pro Bairro Ipê e Açaí... mas a gente não quer ir pra longe não. Queremos ficar aqui no bairro, no centro”, “não vou

morar longe não. Vamos voltar a invadir aqui”, “tão querendo fazer uma praça no lugar

da baixada, mas vai servir só pra malandro fumar droga”, “aqui nós estamos no centro! Vamos ficar aqui!”.

Estas frases revelam a importância do espaço de moradia para as pessoas que viviam na Baixada Perpétuo Socorro, não somente pela casa própria e pelas sociabilidades, mas pelo entorno do lugar. Ali se acessava a pé – o que é deveras importante – minibox (pequenos mercantis), supermercados, escolas, postos de saúde, postos policiais e os órgãos governamentais, localizados em sua maioria da orla em direção ao centro. Os pertencimentos ao bairro e aos equipamentos centrais resultam em regiões territoriais em que se construíram sentidos, referências e trajetos.

As conversas dos moradores sobre “morar lá longe” diziam respeito aos conjuntos

em parcerias do Governo Federal com Estado e Prefeitura. Há, desde o ano de 2013 – antes do incêndio – políticas públicas desenvolvidas pelo governo do Estado e principalmente pela Prefeitura de Macapá para a retirada das populações das áreas de risco e de proteção ambiental, naquelas residências chamadas de subnormais (IBGE, 2010). Em 2010 algumas ações isoladas foram realizadas, como o conjunto habitacional Mucajá, localizado no centro de Macapá. Para as novas políticas públicas há conjuntos habitacionais prontos e outros sendo construídos. Destes, dois são centrais e dois afastados do centro. Era para o Oscar Santos e para o Macapaba que a população não queria ir. Para estas pessoas, invisíveis nas baixadas do centro, mas acessando-o, morar nos bairros afastados seria como acabar com a própria existência, ou seja, estar invisível, ser invisível e não poder acessar os pertencimentos espaciais em função da falta de dinheiro e transporte.

Os moradores que acabaram de ter arrancadas as suas casas e os seus pertences têm como honra a moradia em lugar central, como forma de resistência frente à segregação e gentrificação do espaço, uma fez que há um sentido classificatório de desqualificacao moral para quem mora nestes espaços de estigmatização territorial, em que determinados grupos sofrem um descrédito coletivo em função da precarização do local de residência, comparado aos padrões de moradia contemporâneos (Cf. Wacquant, 2005). Logo, as baixadas são sinônimo de resistência, de lutar por um espaço valorizado como central, afrontando o esmagamento (termo empregado por SCOTT, 2011, p.218) estatal, latifundiário e de conglomerados econômicos; resistindo no direito à cidade (LEFEBVRE, 2001) e opondo-se à coerção dos aparelhos estatais.

Desta forma, relutar contra a mudança de seu espaço central de moradia, empregar uma falsa submissão, provocar incêndios (nunca será comprovado se foi criminoso ou não, mas particularmente não acredito nesta possibilidade) e difamar são formas cotidianas de resistência (SCOTT, 2011) utilizadas como ferramentas de cidadãos ordinários e invisíveis da cidade frente às imposições do Estado e grupos dominantes. As pessoas não querem ir para lugares considerados residuais, afastados do centro, onde não há – num raio de metros, como era na baixada – vizinhança, supermercados, escolas, padarias com o pão feito na hora, postos de saúde e postos policiais, feiras e comércios dos mais variados tipos. Quem já mora nos bairros próximos aos conjuntos habitacionais

na zona norte argumenta que: “Aqui a gente tem que andar bastante para chegar nestes

lugares. Porque não temos carro, nem bicicleta e o transporte, além de caro, demora

(bairro de localização do conjunto Macapaba) não tem um fluxo de comércio e estabelecimentos porque são bairros novos. Ainda não há especulação imobiliária, e os moradores temem ser esquecidos e distanciados socialmente do centro da cidade, o que ampliaria as desigualdades e a dominação física e simbólica das classes dominantes. A gentrificação se expande, espacialmente e também abstratamente, ou seja, de modo simbólico pela valorização dos terrenos e do espaço onde se dão os lugares praticados. Logo, os lugares se hierarquizam (BOURDIEU, 2008) e ratifica-se uma abismal distância

social entre casas no centro da cidade e “conjuntos habitacionais” – que já são marcas de

estigmas, como discutiremos adiante – em lugares distantes do espaço social da cidade;

fomentando uma fronteira simbólica entre “a posição social de morar no centro” e a “posição social de morar longe”.