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no Despacho n.º 16872/2008, de 23 de junho Esta correção é inscrita no Despacho n.º 15772/2009,

de 10 de julho.

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- Esta situação efetuava-se através da delegação de competências legisladas nos seguintes Despachos: Despacho n.º 7465/2008, de 13 de março, Despacho nº 27136/ 2008, de 24 de outubro e Despacho n.º 32048/2008, de 16 de dezembro, todos já mencionados neste trabalho.

iv) Poderiam ser consideradas as ações de formação contínua acreditadas que não tivessem sido tidas em conta em anteriores processos de avaliação (art.º 6º).

v) Na observação de aulas só seriam obrigatórias duas, dependendo a terceira da querença e requerimento do avaliado (art.º 7º).

vi) A entrevista individual deixa de ter caráter obrigatório passando a depender do requerimento do avaliado (art.º 9º).

Como se pode verificar, a simplificação dos procedimentos incidiu sobre pontos considerados essenciais pelo Ministério da Educação, expressos no prefácio do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, assinaladamente a valorização da actividade lectiva que passa de um procedimento obrigatório para optativo, uma vez que os docentes decidem se pretendem ou não ser avaliados na componente cientifico-pedagógica e o progresso dos resultados escolares dos alunos que deixa de ser um item a ponderar na avaliação. Para Flores, a observação de aulas constitui um elemento chave num sistema de avaliação de professores, pelo que a não obrigatoriedade deste procedimento constitui um retrocesso numa das dimensões centrais da avaliação do desempenho (2009: 251).

Para além de toda a legislação anteriormente mencionada, é importante referir que, no decurso da implementação deste processo, foram transmitidas pela Direção- Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGHRE), circulares e informações que oportunamente auxiliavam os agentes na efetuação de todos os procedimentos, esclarecendo dúvidas que, no terreno, iam surgindo.

Como se pôde verificar através da análise da legislação referente à avaliação de desempenho, o modelo inicialmente desenhado e expresso no Decreto-Lei nº. 15/2007, de 19 de janeiro, comportou contínuas alterações, ao longo da sua aplicação, como forma de responder ao clima de contestação e turbulência em torno da sua implementação, em grande parte, associado ao aumento da burocracia e do volume de trabalho nas escolas e a dificuldades de gestão e concretização do modelo tendo em conta as condições de trabalho das escolas e dos professores (Flores, 2009: 249).

Será que com estas mudanças e simplificações se concretizam os pressupostos considerados basilares pelo legislador? Não se terá desvirtualizado a essência do modelo de avaliação? Poder-se-á dizer que foi aplicado o novo modelo de avaliação patenteado no ECD? No nosso entender, as mudanças introduzidas não podem ser consideradas meras adaptações e ajustamentos mas alterações

significativas que converteram o modelo de avaliação num diferente e “novo sistema” de avaliação do desempenho docente, bem diferente do inicialmente estabelecido.

A avaliação de desempenho, com todas as mudanças introduzidas por este modelo e com um imenso reflexo no dia-a-dia das escolas e do trabalho docente, esteve na base de um profundo descontentamento dos professores, especialmente porque o viram como algo “imposto” e “contra os professores” (Flores, 2009: 251). Uma das críticas aludidas prendia-se com a enorme burocratização de todo o processo tornando-o pouco exequível. Neste quadro, é relevante mencionar o entendimento do CCAP sobre esta matéria:

O Conselho considera que, a par das oportunidades que se abrem, como é próprio dos processos de mudança, se corre o risco de a avaliação se constituir num acto irrelevante para o desenvolvimento profissional dos docentes, sem impacto na melhoria das aprendizagens dos alunos, que conviria evitar desde o início.

Esse risco poderá advir da burocratização excessiva, da emergência ou reforço de conflitualidades desnecessárias e do desvio das finalidades formativas e reguladoras que um processo de avaliação do desempenho profissional deve conter. Poderá, ainda, resultar da adopção ou imposição de instrumentos de registo ou de procedimentos pré-concebidos, sem que os interessados tenham recebido a informação necessária ou sido devidamente envolvidos num processo de participação (Recomendações n.º2/CCAP/2008b).

Importa aqui aludir para o facto de a centralidade da discussão sobre a avaliação do desempenho dos docentes se efetivar substancialmente no modelo de avaliação e não na necessidade e pertinência da avaliação dos professores (Machado e Formosinho, 2010: 101), pois parece ser aceite por todos a indispensabilidade da avaliação dos professores, manifesta nos discursos das diferentes organizações sindicais e nos professores. Com efeito, a contenda incorreu essencialmente na divisão da carreira e na existência de quotas para aceder aos diferentes escalões da carreira, ficando os índices de topo acessíveis a um número restrito de professores.

Em junho de 2009, o CCAP enuncia um conjunto de recomendações, com o intuito de contribuir, entre outros aspetos, para o processo de tomada de decisão relativamente à configuração que a avaliação do desempenho docente assumirá no próximo ciclo avaliativo. Algumas das considerações efetuadas enquadram-se nas contestações dos docentes, designadamente na ponderação na aplicação das quotas

para a atribuição das menções qualitativas, determinando que as medidas a tomar sejam previamente testadas e avaliadas antes de serem generalizadas e os avaliadores beneficiem de formação especializada (Recomendações n.º5/CCAP/2009. CCAP: 2009c).

Não obstante os constrangimentos e mal-estar que a avaliação de desempenho docente originou no seio das escolas e nos professores, o princípio está estabelecido e, ao que parece, todos o aceitam (Fernandes, 2009: 21). O mesmo autor refere ainda:

Não há sistemas de avaliação à prova de todas as situações que só as práticas reais podem suscitar e evidenciar. Por isso, em qualquer contexto ou circunstância, é necessário criar condições para que se possa analisar e discutir o que de útil se pode fazer a partir de um dado sistema e perceber que é preferível avaliar bem do que avaliar muito (Fernandes: 2009: 21).

Para a implementação deste sistema de avaliação foi indispensável a publicação de um número elevado de documentos decisores e orientadores por parte do Ministério da Educação e da elaboração de documentos tendentes à operacionalização da avaliação de desempenho docente nas escolas, convertendo-se a aplicação deste sistema de avaliação num processo assaz burocrático. Jorge Adelino Costa refere a existência, nos últimos anos, de uma desarticulação legal, onde a legislação se contraria a si própria, pois publica-se um decreto-lei e rapidamente surge um despacho que o contraria; sai um novo decreto-lei e outro despacho embaraça a sua aplicação… (2007a: 234).

Relativamente à ação das escolas, Machado e Formosinho referem:

É plausível que os actores escolares compliquem a burocracia induzida, no desejo de interpretar fielmente os normativos, seja no sentido de fragmentar os comportamentos observáveis, seja no sentido de demarcar todos os passos e procedimentos para salvaguarda de eventuais actos discricionários. Neste sentido, a azáfama das escolas na produção de instrumentos de registo de avaliação acabou por exaurir energias dos professores… (2010: 111).

De referir, também, que, não obstante as adversidades que foram surgindo, por um lado, pela complexidade e novidade dos procedimentos e, por outro, pela controvérsia que gerou na classe docente patente nos discursos e manifestações públicas, a avaliação de desempenho docente foi implementada em todas as escolas,

com diferentes dinâmicas, quer na construção dos instrumentos quer na consecução dos procedimentos, verificando-se um número elevado de docentes sujeito a avaliação (94%)75 e com objetivos individuais fixados (88,6%). No entanto, um número bastante reduzido de docentes avaliados solicitou a avaliação da componente cientifico- pedagógica (16,5%), o que, baseando-se simplesmente na nossa opinião e decorrente da nossa vivência na escola e das opiniões e sentimentos que fomos ouvindo, pode ter sido uma forma de refutação e oposição ao sistema instituído.

3.4 – Alteração ao sistema de avaliação do desempenho docente: ciclo 2009/2011

Como já tivemos oportunidade de referir, as alterações introduzidas na carreira e avaliação dos docentes condicionaram uma intensa contestação por parte dos professores. O modelo inicialmente estabelecido teve que sofrer sucessivos ajustamentos com base nas dificuldades que, na prática, ocorriam, de forma a torná-lo exequível.

Com o término do primeiro ciclo de avaliação (2007/2009), foram manifestas as pressões para que se procedesse a alterações no sistema de avaliação em vigor, bem como no fim da divisão da carreira em duas categorias. Essas ingerências ocorriam de diversas instâncias, designadamente dos professores e das organizações sindicais, que se reportavam ao memorando de entendimento76 concertado entre o Ministério da Educação e as estruturas sindicais, onde estava expresso que, durante os meses de junho e julho de 2009, teria lugar um processo negocial, entre as duas estruturas, com vista à introdução de eventuais alterações, tendo por base a avaliação e monitorização do primeiro ciclo de avaliação. Também a Assembleia da República, órgão onde este tema foi amplamente tratado e discutido, ao longo do primeiro ciclo de avaliação, concretiza uma recomendação no sentido de, no âmbito do processo negocial em curso e no prazo de 30 dias, seja revogada a divisão da carreira docente nas categorias hierarquizadas de “Professor” e “Professor titular” e seja concretizado um

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Estes dados foram retirados do Relatório sobre a Aplicação do 1º ciclo de Avaliação do Desempenho Docente, efetuado pelo CCAP e datado de 28 de julho de 2010 (CCAP, 2010d).

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novo regime de avaliação do desempenho dos docentes (Resolução da Assembleia da República n.º 108/2009 de 17 de dezembro).

Com o início de um novo ano escolar e tendo em conta a previsível morosidade do advento de um novo sistema de avaliação, é publicado o Decreto Regulamentar n.º 14/2009, de 21 de agosto que vem prorrogar a vigência do sistema de avaliação dos docentes em vigor77 até estarem reunidas as condições para a sua revisão. No prefácio do referido Decreto estão expressos os procedimentos perpetrados pelo Governo no sentido de melhorar e aperfeiçoar o sistema de avaliação do pessoal docente. Neste sentido, foram solicitados estudos e pareceres a entidades independentes, como o CCAP78, uma consultora internacional e a OCDE79, que pudessem sustentar a necessária tomada de decisão política, resultando esta auscultação, por um lado, na identificação de um conjunto de pontos fortes no sistema de avaliação80 e, por outro, na emissão de recomendações para a correção e melhoria de alguns dos aspetos do sistema implementado que, no parecer do legislador, exige um trabalho técnico complexo e uma longa negociação com as associações sindicais (Prefácio do Decreto Regulamentar n.º14/2009, de 21 de agosto).

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Decreto Regulamentar n.º1-A/2009,de 5 de janeiro.

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Parecer n.º 2/CCAP/2009, de 6 de julho (CCAP, 2009a).

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Estudo da OCDE sobre a avaliação de professores em Portugal. O estudo refere que o modelo de avaliação representa uma base sólida para futuros desenvolvimentos. É um modelo abrangente, inclui a maioria das vertentes do desempenho docente, recorre a uma diversidade de fontes de informação, prevê mais do que um avaliador e considera a avaliação pelos pares (2009b:2). Considera, no entanto, que devem ser feitos alguns ajustamentos e ultrapassadas duas fontes de tensão visíveis no modelo implementado: entre a avaliação do desempenho para o desenvolvimento profissional e a avaliação do desempenho para a progressão na carreira; e entre a avaliação feita ao nível da escola e as respectivas consequências ao nível nacional (2009b: 2). Recomenda, também, um maior investimento na formação em competências de avaliação, quer para os diretores quer para os avaliadores (OCDE, 2009b).

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Os pontos fortes assinalados são: i) incidir sobre a generalidade das funções dos docentes; ii) a avaliação ser interna à escola, tendo em conta o seu contexto específico e ser conduzida sobre a responsabilidade do director; iii) recorrer a uma pluralidade de fontes de informação e a diferentes avaliadores; iv) incluir uma componente de avaliação por pares mais qualificados e v) a observação de aulas constituir factor fundamental para a avaliação pedagógica e do desenvolvimento profissional. Refere, ainda, que no relatório da OCDE está expressa a opinião favorável à manutenção da fixação de percentagens máximas para a atribuição das menções qualitativas de mérito (de Excelente e Muito Bom) (Prefácio do Decreto Regulamentar n.º14/2009, de 21 de agosto).

A oito de janeiro de 2010, é celebrado um acordo de princípios entre o Ministério da Educação e as estruturas sindicais representativas dos professores, para a revisão do Estatuto da Carreira Docente e do modelo de avaliação dos docentes.

Tendo em conta a natureza complexa da questão “avaliação” e mormente da avaliação de professores, cedo se percebeu que o prazo estabelecido pela Assembleia da República dificilmente seria cumprido. De facto, só em junho de 2010 são publicados o Decreto-Lei n.º 75/2010 e o Decreto Regulamentar n.º 2/2010, ambos datados de 23 de junho e que consubstanciam alterações na carreira e no modelo de avaliação dos professores.

O Decreto-Lei n.º 75/2010 de 23 de junho introduz alterações ao ECD e na avaliação do desempenho docente. Estas alterações assentam nos seguintes aspetos: i) a carreira docente passa a estruturar-se numa única categoria - professor - findando a distinção entre professores e professores titulares (art.º 34.º); ii) está destinado aos docentes posicionados no 4.º escalão ou superior o desempenho de funções de coordenação, orientação, supervisão pedagógica e avaliação do desempenho. Excecionalmente e devidamente fundamentado podem desempenhar estas funções, docentes posicionados no 3.º escalão desde que possuam formação especializada. Aos docentes posicionados nos dois últimos escalões da carreira, proporciona-se o exercício exclusivo ou predominante das funções de supervisão pedagógica, gestão da formação, desenvolvimento curricular, avaliação do desempenho e administração escolar, desde que detentores de formação especializada (art.º 35.º); iii) a progressão aos 3.º e 5.º escalões têm a observação de aulas como requisito obrigatório. A progressão aos 5.º e 7.º escalões dependem da obtenção de vaga (art.º 37.º), com exceção dos docentes que obtenham, na avaliação de desempenho imediatamente anterior à progressão, a menção de Muito Bom ou Excelente (art.º 48.º); iv) os intervenientes no processo de avaliação passam a ser o avaliado, o júri de avaliação81 e a comissão de coordenação da avaliação do desempenho (art.º 43.º) e v) os docentes com avaliação de Muito Bom ou Excelente são premiados com uma progressão mais rápida na carreira (art.º 48.º).

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O Júri de avaliação surge como um novo elemento no processo de avaliação dos professores e tem como funções a atribuição da avaliação do desempenho aos docentes e a emissão de recomendações conducentes à melhoria da prática pedagógica e à qualificação do desempenho profissional (art.º43.º do Decreto-Lei n.º75/2010, de 23 de junho.

Para regulamentar e desenvolver os princípios do sistema de avaliação do desempenho docente, estabelecidos pelo Decreto-Lei supramencionado, é então publicado o Decreto Regulamentar n.º 2/2010, de 23 de junho.

Assim, a avaliação de desempenho passa a ter por referência os padrões de desempenho docente estabelecidos a nível nacional que dimanam da proposta do CCAP82, os objetivos e metas fixados no projeto educativo e no plano anual de atividades de cada escola /agrupamento e os objetivos individuais, que passam a ter caráter facultativo (art.º 7.º). Desta forma, é possível verificar diferenças relativamente ao sistema anterior: os padrões de desempenho como um novo elemento de referência na avaliação e a não obrigatoriedade da definição e apresentação dos objetivos individuais por parte dos docentes avaliados.

Os padrões de desempenho83, consagrados no Despacho 16034/2010, de 22 de outubro, definem, na opinião do legislador e expresso no Despacho em análise, as características fundamentais da profissão docente e as tarefas profissionais que dela decorrem, caracterizando a natureza, os saberes e os requisitos da profissão e aspiram constituir um documento orientador para a afirmação de um dispositivo de avaliação justo, confiável e que contribua efectivamente para o desenvolvimento profissional de todos os docentes envolvidos (Preâmbulo do Decreto em análise).

A observação de aulas constitui uma componente facultativa no processo de avaliação, sendo, no entanto, condição necessária para a obtenção das menções de Muito Bom e Excelente e para progressão aos 3.º e 5.º escalões da carreira84 (art.º 9.º, do Decreto Regulamentar n.º 2/2010, de 23 de junho).

A avaliação do desempenho dos docentes é da competência de um júri de avaliação85 composto pelos membros da comissão de coordenação da avaliação do

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Proposta n.º1 /CCAP/2010. (CCAP, 2010b).

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Na definição dos padrões de desempenho as vertentes caracterizadoras são as quatro dimensões da avaliação: i) profissional, social e ética; ii) desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; iii) participação na escola e relação com a comunidade educativa e iv) desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida. Para cada um dos padrões foram definidos domínios e indicadores, que operacionalizam as dimensões em planos mais restritos, e níveis e descritores que têm por objectivo a descrição pormenorizada do desempenho docente por forma a clarificar o que deve ser avaliado (Anexo do Despacho n.º 16034/2010, de 22 de outubro).

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De acordo com o estabelecido no n.º3, do art.º 37.º do Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei n.º75/2010, de 23 de junho).

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São competências do júri de avaliação: i) atribuir de forma fundamentada a classificação final a cada avaliado, sob proposta do relator; ii) emitir recomendações destinadas à melhoria da prática

desempenho (CCAD) e por um relator86 designado pelo coordenador do departamento curricular a que pertence o avaliado87 (art.º 13.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2010, de 23 de junho).

Constituem documentos obrigatórios no processo de avaliação88 o relatório de autoavaliação, a ficha de avaliação global89 e o documento de registo de observação de aulas, quando este último procedimento tenha tido lugar (art.º 16.º do Decreto em análise). Estes documentos são relevantes na comprovação e sustentação das decisões perpetradas pelos avaliadores. A autoavaliação é considerada, pelo legislador, como elemento essencial da avaliação do desempenho tendo por objetivo o envolvimento do docente no processo de avaliação. De cariz obrigatório, consubstancia-se na realização de um relatório que compreenderá, necessariamente, a abordagem de um conjunto de aspetos90 e deverá ser acompanhado, em anexo, dos