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NO GRANDE COMBATE ENTRE O PINOCCHIO E SEUS COLEGAS, UM

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 127-135)

COLEGAS DA ESCOLA PARA A PRAIA VER O TERRÍVEL TUBARÃO

27. NO GRANDE COMBATE ENTRE O PINOCCHIO E SEUS COLEGAS, UM

DELES SE FERE E O PINOCCHIO É

PRESO PELOS GUARDAS

Quando chegou na praia, o Pinocchio deu logo uma boa olhada no mar, mas não viu nenhum tubarão. O mar estava liso como um espelho.

— E o tubarão, onde está? — perguntou, virando-se para os companheiros.

— Deve ter ido tomar seu café da manhã — respondeu um deles, rindo.

— Ou será que mergulhou na cama para tirar uma soneca? — acrescentou um outro, rindo ainda mais.

Com aquelas respostas desconexas e as gargalhadas ridículas, o Pinocchio compreendeu que seus colegas o haviam enganado. Ao entender a peça, ficou furioso e disse com voz zangada:

— Qual é a graça? Qual o sentido de me enganar com essa história de tubarão?

— Muito sentido! — responderam em coro os outros moleques.

— E qual seria…?

— O de você perder a aula e vir conosco. Não tem vergonha de se apresentar todos os dias assim tão à risca e

dedicado nas aulas? Não tem vergonha de estudar tanto, como você faz?

— Se eu estudo, o que importa a vocês? — Importa muitíssimo, porque nos faz passar vergonha com o professor.

— Por quê?

— Porque os alunos que estudam fazem sombra sobre aqueles que, como nós, não têm vontade de estudar. E nós não queremos ficar na sombra! Até nós temos amor próprio!

— Então, o que devo fazer para que fiquem satisfeitos? — Você também deve passar a detestar a escola, as aulas e o professor, que são os nossos grandes inimigos.

— E se eu quiser continuar estudando?

— A gente não vai mais olhar na sua cara e, na primeira oportunidade, você vai se dar mal.

— Na verdade, vocês me fazem rir — disse o boneco, sacudindo a cabeça.

— Cuidado, Pinocchio! — adiantou-se o maior dos meninos. — Não dê uma de valentão, não venha dar uma de galo de briga! Se você não tem medo de nós, também não temos medo de você! Lembre-se de que você está sozinho, e nós estamos em sete!

— Sete como os pecados mortais — caçoou o Pinocchio, soltando uma grande risada.

— Escutaram? Ele insultou a todos nós! Ele nos chamou de “pecados mortais”!

— Pinocchio, peça desculpas pela ofensa… se não, coitado de você!

— Aqui para vocês! — fez a marionete, batendo com o indicador na ponta do nariz, zombando deles.

— Pinocchio, você vai se dar mal! — Aqui para vocês!

— Está bancando o idiota! — Aqui para vocês!

— Vai voltar pra casa com o nariz quebrado! — Aqui para vocês!

— Agora você vai ver! — gritou o mais atrevido dos moleques. — Tome isto de adiantamento, e aproveite para saborear hoje à noite.

Ao dizer isto, deu-lhe um soco na cabeça.

Mas foi, como se costuma dizer, ação e reação, porque o boneco, como era de se esperar, revidou de imediato com outro soco. Então, de um momento para o outro, a briga se transformou em um combate generalizado e feroz.

O Pinocchio, mesmo sozinho, defendia-se como um herói. Com aqueles pés de madeira duríssima, dava pernadas a três por quatro, mantendo seus inimigos sempre a uma considerável distância. Onde seus pés alcançassem, deixavam sempre uma mancha roxa de recordação.

Nesta altura, os garotos, de orgulho ferido por não estarem à altura do boneco no corpo a corpo, resolveram atacar com projéteis: abriram suas mochilas e começaram

a atirar contra ele as cartilhas, os livros de gramática, de matemática, de geografia, de leitura... todo o arsenal de livros didáticos. Mas o boneco, ágil e astuto, sempre se esquivava, de forma que os volumes passavam por cima de sua cabeça e acabavam caindo no mar.

Imaginem os peixes! Os peixes, achando que os livros fossem comida, correram em grande número à superfície da água. Mas depois de abocanhar alguma página ou capa, as cuspiam em seguida, contorcendo a boca. Pareciam dizer: “Não é coisa para nós, que estamos acostumados com comida muito melhor!”

A violência da luta aumentava quando um grande caranguejo saiu da água e, devagarinho, foi chegando à praia, até que gritou com um vozeirão de trombone resfriado:

— Parem já, seus moleques danados, pois é isso o que vocês são! Essas lutas entre meninos raramente terminam bem. Alguma desgraça sempre acaba acontecendo!

Coitado do caranguejo! Foi a mesma coisa que falar com as nuvens. Inclusive o Pinocchio, travesso, olhou para trás de esguelha e retrucou:

— Fique quieto, caranguejo da peste! Seria melhor que fosse fazer um gargarejo com água salgada para curar essa inflamação na garganta. Vá já para a cama, senão você piora!

Os garotos, sem terem mais o que atirar, viram ali pertinho os livros do Pinocchio e imediatamente os pegaram.

Entre os livros, havia um de capa dura com a lombada e os cantos de pergaminho. Era o Tratado de aritmética. Deixo à imaginação de vocês o quanto era pesado!

Um dos moleques ergueu o volume e, mirando a cabeça do Pinocchio, lançou-o com toda a força que tinha nos braços. Mas, em vez de atingir a marionete, acertou a cabeça de um dos outros companheiros, que ficou branco feito nuvem e não conseguiu dizer nada mais além de:

— Ai, minha mãe! Ajude porque estou morrendo… Em seguida, caiu duro na areia.

Vendo o colega meio mortinho, os garotos,

assustados, deram no pé e, em poucos minutos, já estavam fora de vista.

O Pinocchio ficou. O menino parecia mais morto do que vivo, ainda que dolorido e assustado. O boneco correu para molhar o seu lenço na água do mar e se pôs a

umedecer a têmpora do pobre companheiro de escola. Enquanto isso, chorando desesperado, chamava-o pelo nome e dizia:

— Eugenio! Coitado do querido Eugenio! Abra os olhos e olhe para mim! Por que você não responde? Sabe, não fui eu quem machucou você! Acredite, não fui eu! Abra os olhos, Eugenio… Se ficar assim com os olhos fechados, eu também morro. Ai, meu Deus, como faço agora para

voltar para casa? Com que coragem vou me apresentar diante de minha mãe? O que será de mim? Para onde vou fugir? Onde posso me esconder? Como teria sido melhor se eu tivesse ido para a escola! Por que dei trela para os colegas, que são o meu inferno? O professor tinha me dito, e a minha mãe repetiu: “Olhe lá, cuidado com os maus companheiros!” Mas eu sou teimoso, um cabeça-dura! Deixo que falem, e não escuto ninguém. Depois quem paga sou eu. E assim, desde que estou no mundo, não tive nem quinze minutos de sossego. Céus! O que será de mim, o que será de mim, o que será de mim?

O Pinocchio continuava a chorar, a berrar, a bater com a mão na cabeça e a chamar o pobre Eugenio, quando escutou de repente o rumor surdo de passos em sua direção.

Virou-se: eram dois policiais militares. — O que você está fazendo aí no chão? — perguntaram ao Pinocchio.

— Estou ajudando este meu colega de escola. — Por quê, ele está mal?

— Parece que sim.

— Está mal mesmo! — disse um dos guardas, inclinando-se para observar Eugenio de perto. — Este garoto foi ferido na têmpora. Quem foi que o machucou?

— Não fui eu! — quis livrar-se a marionete, já sem fôlego.

— Não fui eu! — repetiu o Pinocchio. — Com o que foi ferido?

— Com este livro. — Apanhou no chão o Tratado de aritmética, de capa dura e pergaminho, para mostrar ao guarda.

— De quem é este livro? — É meu.

— É o suficiente, não precisa de mais nada. Levante-se já e venha conosco.

— Mas eu… — Venha conosco! — Mas eu sou inocente! — Venha conosco!

Antes de irem, os guardas chamaram alguns

pescadores que justamente naquele momento passavam com o barco perto da praia, e disseram a eles:

— Fica sob a responsabilidade de vocês este garoto com um machucado na cabeça. Levem-no para sua casa e cuidem dele. Amanhã voltaremos para vê-lo.

Então se voltaram para o Pinocchio e o intimidaram em tom militar:

— Avante! E ande ligeiro, senão, pior para você! Sem ouvir duas vezes, o boneco começou a caminhar pela trilha que levava à vila. Mas o pobre diabo também estava meio zonzo. Parecia que estava sonhando, e que pesadelo! Estava fora de si. Seus olhos viam tudo dobrado, as pernas tremiam, a língua estava grudada ao céu da boca

e não conseguia mais pronunciar nem uma palavra. Porém, no meio daquela espécie de torpor, um espinho afiado feria seu coração: o pensamento de que teria de passar sob a janela da casa da sua boa Fada entre dois guardas. Preferia morrer.

Estavam a ponto de entrar na vila quando uma forte rajada de vento soprou o boné da cabeça do Pinocchio a uns vinte passos de distância.

— Os senhores me permitem — disse o boneco aos policiais — que eu vá apanhar o meu boné?

— Vá, mas rapidinho.

O boneco de madeira foi, recolheu o boné, mas em vez de pôr na cabeça, abocanhou-o e começou a correr a toda velocidade na direção da praia. Ia feito bala de fuzil.

Os policiais, achando impossível alcançá-lo, atiçaram atrás dele um grande cão mastim, campeão de todas as corridas caninas. O Pinocchio corria e o cachorro corria mais do que ele. Todo mundo saiu à janela ou se

aglomerou no meio da rua para tentar assistir ao final de uma corrida tão acirrada. Mas não conseguiram, pois o mastim e o Pinocchio levantaram tanta poeira na estrada que, após poucos minutos, já não se enxergava nada.

28. O PINOCCHIO CORRE O RISCO DE

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 127-135)