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O PINOCCHIO CORRE O RISCO DE SER FRITO COMO UM PEIXE

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 135-142)

COLEGAS DA ESCOLA PARA A PRAIA VER O TERRÍVEL TUBARÃO

28. O PINOCCHIO CORRE O RISCO DE SER FRITO COMO UM PEIXE

D

urante aquela carreira desesperada, houve um momento terrível, no qual o Pinocchio achou que estivesse perdido, porque é preciso saber que o Alidoro (era este o nome do cão mastim), de tanto correr e correr, o havia alcançado.

Basta dizer que o boneco sentia atrás dele, à distância de um palmo, o bufar ofegante daquele bicho e até as ondas de calor da respiração dele.

Por sorte, a praia estava perto e já se via o mar a poucos passos.

Nem bem alcançou a praia, a marionete deu um belíssimo salto, como uma rã, e caiu no meio da água. O Alidoro, ao contrário, quis frear, mas sem conseguir conter o ímpeto da corrida, também acabou na água. Só que o azarado não sabia nadar. Então começou a agitar as patas, tentando ficar à tona, mas quanto mais se atarantava, mais afundava a sua cabeça.

Quanto tornou a pôr a cabeça para fora d’água, o coitado do cachorro estava com os olhos injetados de pânico e, quando latia, gritava:

— Estou me afogando! Estou me afogando!

— Que morra! — respondeu o Pinocchio de longe, já fora de perigo.

— Me ajude, caro Pinocchio, me salve da morte! Ao ouvir aqueles gritos lancinantes, o boneco, que no fundo tinha um ótimo coração, ficou com dó. Voltou-se para o cachorro e disse:

— Mas se eu te salvar, promete não me amolar e não correr mais atrás de mim?

— Prometo, prometo! Venha rápido, por favor, porque se você levar um minuto mais, estarei bem morto!

O Pinocchio hesitou um pouco, mas lembrando do que o seu pai disse tantas vezes (“ao fazer uma boa ação, ninguém fica no prejuízo”), nadou até alcançar o Alidoro e, pegando-o pelo rabo com as duas mãos, levou-o são e salvo para a areia seca da praia.

O pobre cachorro não se aguentava em pé. Tinha bebido, sem querer, tanta água salgada que estava inchado feito uma bola. O boneco, sem querer dar muita confiança, achou que o mais prudente seria mergulhar de novo no mar. E, afastando-se da praia, gritou para o amigo resgatado:

— Adeus, Alidoro, faça uma boa viagem! E saudações em casa.

— Adeus, Pinocchio — respondeu o cachorro —, muitíssimo obrigado por ter me livrado da morte. Você me fez uma coisa muito boa e, neste mundo, uma mão lava a outra. Te devo essa.

O Pinocchio continuou a nadar, mantendo-se sempre próximo à terra. Por fim, pareceu chegar a um lugar

seguro. Observou a praia e viu nos rochedos uma espécie de gruta da qual saía um longo fio de fumaça.

— Naquela gruta — disse consigo mesmo — deve ter fogo. Que bom! Vou me secar e me aquecer. E depois? Depois, o que será, será.

Tomada essa decisão, aproximou-se do penhasco, mas quando estava a ponto de escalar, sentiu alguma coisa embaixo da água que subia, subia, subia, até que o

levantou no ar. Tentou fugir, mas já era tarde porque, para sua enorme surpresa, estava enroscado em uma grande rede, no meio de um cardume fervilhante de peixes de todos os tipos e tamanhos, que batiam suas caudas e se contorciam em desespero.

Ao mesmo tempo, viu sair da gruta um pescador tão feio, mas tão feio, que parecia um monstro marinho. No lugar de cabelos, tinha uma moita densa de erva verde. Verde era a pele do seu corpo, verdes os olhos, verde a barba longuíssima que descia até quase o chão. Parecia um enorme lagarto de pé, sobre as patas de trás.

Quando o pescador puxou a rede do mar, gritou todo contente:

— Divina Providência! Hoje também encherei a barriga de peixe!

— Ainda bem que eu não sou um peixe! — disse o Pinocchio para si, retomando um pouco da coragem.

A rede cheia de peixe foi levada para dentro da gruta, uma gruta escura e enfumaçada, no centro da qual havia

uma grande frigideira de óleo fervente que exalava um cheirinho de fritura de cortar a respiração.

— Agora vamos ver que peixes pegamos! — disse o pescador verde, e meteu na rede sua mão

despropositadamente grande, que parecia uma pá de pizza. Ele retirou um punhado de salmonetes.

— Bons, estes salmonetes! — disse, olhando para eles e inalou com satisfação. E depois de ter cheirado,

lançou-os em uma bacia sem água.

Em seguida, repetiu outra e outra vez a mesma operação. E vai que vai, ao retirar os outros peixes, sentia água na boca e, contente, dizia:

— Boas, estas pescadas! — Especiais, estas tainhas! — Deliciosos, estes linguados! — Uma iguaria, estes robalos!

— Bonitinhas, estas anchovas com as cabeças! Como podem imaginar, as pescadas, as tainhas, os linguados, os robalos e as anchovas, todos foram para a mesma bacia fazer companhia aos salmonetes.

O último que restou na rede foi o Pinocchio.

Nem bem o pescador o tirou, arregalou de espanto os seus olhões verdes e gritou assustado:

— Que raça de peixe é esta? Eu não me lembro de ter comido nunca um peixe assim!

E voltou a examiná-lo atentamente. Após observá-lo bem por todos os lados, disse:

— Entendi. Deve ser um caranguejo-do-mar. Então o Pinocchio, mortificado por ser confundido com um caranguejo, disse ressentido:

— Mas que história é essa de caranguejo? Olhe lá como me trata! Eu, para a sua informação, sou uma marionete.

— Uma marionete? — replicou o pescador — Digo com sinceridade, peixe-marionete é, para mim, uma novidade! É melhor assim! Eu o comerei com mais gosto.

— Me comer? Entenda de uma vez que eu não sou um peixe! Ou não percebeu que eu falo e raciocino como o senhor?

— É a verdade verdadeira — concordou o pescador —, e como vejo que você é um peixe e que tem a sorte de falar e de raciocinar como eu, então faço questão de ter com você o devido respeito.

— E esse respeito seria…?

— Como sinal de amizade e de particular estima, deixarei que você escolha como quer ser cozinhado. Deseja ser frito na frigideira ou prefere ser cozido na caçarola com molho de tomate?

— Para falar a verdade — respondeu o Pinocchio —, se posso escolher, prefiro mesmo é ser posto em liberdade para poder voltar para casa.

— Você está brincando! Acha que eu perderia a chance de provar um peixe tão raro? Isso não acontece todo dia, dar um peixe-marionete nestes mares. Deixe que eu

escolho. Eu vou fritá-lo na frigideira junto com todos os outros peixes, e você ficará contente. Ser frito na

companhia de outros é sempre um consolo.

O infeliz do Pinocchio, com esse discurso, começou a chorar, a dar gritinhos, a pedir por proteção. Chorava e dizia:

— Como teria sido melhor se eu tivesse ido para a escola! Quis dar corda aos meus companheiros, e agora estou pagando. Ai, ai, ai.

Como o Pinocchio deslizava feito uma enguia em seu incrível esforço para se libertar das garras do pescador verde, este pegou uns ramos de junco e, depois de atar suas mãos e pés como se o boneco fosse um salame, atirou-o na bacia junto com os outros.

Então, pegou uma travessa de madeira cheia de farinha e pôs-se a enfarinhar os peixes. E à medida em que ia passando cada um na farinha, punha-os para fritar na frigideira.

As primeiras a bailar no óleo fervente foram as pobres pescadas. Depois foi a vez dos robalos, e então as tainhas, os linguados e as anchovas. Por fim chegou a vez do Pinocchio. Vendo-se tão perto da morte (e que morte horrível!), tremia tanto e estava tão assustado que já não tinha voz nem fôlego para suplicar.

O coitado do menino suplicava era com os olhos. Mas o pescador verde, sem dar a mínima bola, passou-o na farinha cinco ou seis vezes de cada lado, enfarinhando tão

bem, da cabeça aos pés, que ele parecia ter virado uma marionete de gesso.

29. ELE VOLTA PARA A CASA DA FADA,

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 135-142)