• Nenhum resultado encontrado

O PINOCCHIO REENCONTRA, NA BARRIGA DO TUBARÃO QUEM ELE

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 196-200)

GRANDE ESPETÁCULO DE GALA HOJE À NOITE!

35. O PINOCCHIO REENCONTRA, NA BARRIGA DO TUBARÃO QUEM ELE

REENCONTRA?LEIAM ESTE CAPÍTULO

E SABERÃO!

O

Pinocchio nem bem disse adeus ao seu amigo Atum e já andava às cegas na escuridão. Tateou pelas entranhas do tubarão, um passo atrás do outro, até aquela pequena claridade que cintilava de longe.

Enquanto caminhava, sentiu seus pés afundarem em um charco de água gordurosa e escorregadia. O odor de peixe frito era tão forte que parecia ser Sexta-feira Santa.

Quanto mais avançava, mais a claridade aumentava e se definia. De tanto caminhar, finalmente chegou. E o que encontrou? Dou a vocês mil chances para adivinhar! Encontrou uma mesa posta, com uma vela acesa enfiada em uma garrafa de vidro verde e, sentado à mesa, um velhinho de cabelo todo branco como se fosse de neve ou de chantili. Ele mordiscava alguns peixinhos vivos, tão vivos que às vezes escapavam da sua boca.

Com aquela visão, o pobre Pinocchio foi tomado por uma alegria tão grande e inesperada que praticamente caiu em delírio. Queria rir, chorar, dizer um monte de coisas, mas, em vez disso, articulava sons confusos e balbuciava pedaços de palavras incoerentes. Por fim, deu um grito de

alegria, abriu os braços e se jogou no colo do velhinho, berrando:

— Ai, papai querido, finalmente o reencontrei! Agora eu não deixo mais você, nunca mais, nunca mais!

— Então meus olhos não estão me enganando? — replicou o velhinho, franzindo os olhos. — É você mesmo, o meu querido Pinocchio?

— Sou! Sou eu! Sou eu mesmo! O senhor já me perdoou, não é mesmo? Ai, meu paizinho, como é

bondoso! E pensar que eu, ao contrário… ah, se soubesse quantas desgraças caíram sobre a minha cabeça, quantas coisas terríveis! Imagine que no dia em que o senhor, meu pobre pai, vendeu o seu casaco e comprou para mim a cartilha, eu escapei da escola para ver as marionetes. O marionetista queria me atirar ao fogo para assar o seu carneiro, e foi ele mesmo que me deu cinco moedas de ouro para que lhe entregasse, mas eu conheci a Raposa e o Gato, que me levaram até a Pousada do Camarão

Vermelho, onde comeram como lobos, e eu, partindo sozinho durante a noite, topei com assassinos que se puseram a me perseguir, e eu correndo, e eles atrás, e eu correndo, e eles sempre atrás de mim, e eu correndo, até que me penduraram pelo pescoço em um galho do Carvalho Grande, onde a bonita menina dos cabelos azul-turquesa mandou me buscar com uma carrocinha, e os médicos, quando me examinaram, falaram logo: “Se não está morto, é sinal de que está vivo”, e então deixei escapar

uma mentira, e o meu nariz começou a crescer e não passava mais pela porta do quarto, motivo pelo qual fui junto com a Raposa e com o Gato enterrar as quatro moedas de ouro, porque uma eu tinha gastado uma na pousada, e o papagaio começou a rir, e eu também, porque das duas mil moedas, não achei nem umazinha, posto que o juiz, quando soube que eu fora roubado, me mandou direto para a prisão, de onde, quando saí, vi um belo cacho de uvas no campo, mas fiquei preso na armadilha e o fazendeiro, com toda a razão, me pôs uma coleira de cachorro para que eu fosse o cão de guarda do galinheiro, mas reconheceu a minha inocência e me deixou ir embora, e a serpente, com o rabo de chaminé, começou a dar risada, então uma veia do seu peito estourou, e assim voltei para a casa da bonita menina, que estava morta, e o pombo, vendo que eu chorava, me disse: “Vi o seu pai fabricando um barquinho para ir procurar você”, e eu disse: “Ó, se eu também tivesse asas”, e ele me disse: “Quer ir até o seu pai?”, e eu disse: “Quisera eu! Mas quem vai me levar?”, e ele me disse: “Eu levo você”, e eu disse: “Como?”, e ele me disse: “Monte na minha garupa”, e assim voamos durante toda a noite. Depois, de manhã, todos os pescadores que olhavam para o mar diziam: “Tem um pobre homem em um barquinho que está a ponto de se afogar”, e eu, de longe, logo o reconheci, porque sabia em meu coração, e fiz sinal para que retornasse à praia…

— Eu também reconheci você — disse Geppetto — e teria retornado à praia com todo o gosto, mas como? O mar estava agitado e uma onda enorme emborcou o meu barquinho. Então um terrível tubarão me viu e avançou na minha direção. Abriu a boca, me apanhou com a maior facilidade e me engoliu como se eu fosse canja de galinha.

— Há quanto tempo está preso aqui dentro? — perguntou o Pinocchio.

— Desde aquele dia. Já faz dois anos, meu Pinocchio… mas parecem dois séculos!

— E como conseguiu sobreviver? Onde achou a vela? E quem lhe deu os fósforos para acendê-la?

— Agora conto tudinho. Saiba que aquela mesma tempestade que emborcou o meu barquinho também afundou um navio de carga. Os marinheiros todos se salvaram, mas o navio foi a pique. O mesmo tubarão, que naquele dia estava com um ótimo apetite, depois de me engolir, engoliu também o navio…

— Mas como? Engoliu inteiro, de uma só vez? — perguntou o Pinocchio, admirado.

— Sim, tudo de uma vez. Só cuspiu o mastro principal porque se prendeu entre seus dentes como uma espinha de peixe. Para minha grande sorte, aquele navio estava carregado não só de carne enlatada, mas também de biscoitos, torradas, garrafas de vinho, uva passa, queijo, café, açúcar, velas e caixas de fósforos de cera. Com essa dádiva, sobrevivi durante dois anos. Mas agora está tudo

prestes a acabar. Hoje, na despensa, já não tem mais nada, e esta vela já acesa é a última que restou…

— E depois?

— Depois, meu querido, ficaremos, os dois, no escuro. — Então, paizinho querido — disse o Pinocchio —, não há tempo a perder. Precisamos tratar logo de fugir.

— Fugir? Como?

— Escapando pela boca do Tubarão e nos atirando no mar a nado.

— É uma bela ideia. Mas eu, caro Pinocchio, não sei nadar.

— E daí? O senhor monta nas minhas costas, e eu, que sou um bom nadador, o levo são e salvo até a praia.

— Quanto otimismo, meu menino! — replicou Geppetto, balançando a cabeça e sorrindo

melancolicamente. — Como um boneco de apenas um metro de altura como você vai ter força suficiente para me carregar nas costas?

— Não se preocupe, você vai ver! Em todo caso, se estiver escrito nos céus que devemos morrer, pelo menos teremos o grande consolo de morrer juntos e abraçados.

Sem dizer mais nada, o Pinocchio pegou a vela e seguiu na frente para iluminar o caminho.

— Venha atrás de mim e não tenha medo.

Assim, andaram um bom pedaço de caminho ao longo das vísceras do tubarão. Ao chegarem onde começava a

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 196-200)