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O PINOCCHIO REENCONTRA A RAPOSA E O GATO E VAI COM ELES

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 80-87)

PENDURAM EM UM GALHO DO CARVALHO GRANDE

18. O PINOCCHIO REENCONTRA A RAPOSA E O GATO E VAI COM ELES

PLANTAR AS QUATRO MOEDAS NO

CAMPO DOS MILAGRES

C

omo podem imaginar, a Fada deixou que a

marionete chorasse e berrasse uma boa meia hora por causa daquele seu nariz que já não passava pela porta do quarto. Ela fez isso para lhe dar uma dura lição e para que se corrigisse da feia mania de mentir, que é o costume mais feio que um garoto pode ter. Mas quando o viu transfigurado e com os olhos saltados de desespero, teve muita pena dele e bateu palmas uma vez. Com aquele sinal, entraram pela janela do quarto uns mil pássaros grandes chamados picapaus, que pousaram sobre o nariz do Pinocchio e começaram a bicá-lo tanto, tanto, que em poucos minutos aquele nariz enorme e despropositado foi reduzido ao seu tamanho natural.

— Que bondosa você é, minha Fada — disse a marionete, enxugando os olhos. — Gosto muito de você!

— Eu também gosto de você — respondeu a Fada —, e se quiser ficar aqui comigo, você será o irmãozinho e, eu, a sua boa irmãzinha.

— Eu ficaria com todo prazer, mas e o coitado do meu pai?

— Já pensei em tudo. O seu pai já foi avisado e, antes que anoiteça, ele estará aqui.

— É mesmo? — gritou o Pinocchio, pulando de

alegria. — Então, minha Fadinha, se não tiver nada contra, gostaria de ir ao seu encontro! Não vejo a hora de poder dar um beijo naquele pobre velho, que sofreu tanto por minha causa!

— Vá, então, mas cuidado para não se perder! Pegue a estrada do bosque e tenho certeza de que o encontrará pelo caminho.

O Pinocchio foi. Mal entrou no bosque e começou a correr feito cabrito. Mas quando chegou em um certo lugar, quase de cara com o Carvalho Grande, parou porque achou ter escutado alguém no meio da folhagem. De fato,

adivinhem quem ele viu aparecer na estrada? A Raposa e o Gato, ou seja, os dois companheiros de viagem com quem jantara na Pousada do Camarão Vermelho.

— Olha aí o nosso Pinocchio! — gritou a Raposa, abraçando-o e beijando-o. — Como veio parar por estas bandas?

— Como veio parar por estas bandas? — repetiu o Gato.

— É uma longa história — disse o boneco. — Contarei a vocês com calma. Saibam, porém, que aquela noite em que vocês me deixaram na pousada, dei de cara com assassinos no caminho para cá.

— Assassinos?! Coitado do nosso amigo! Mas o que queriam?

— Queriam roubar as minhas moedas de ouro. — Que infames! — exclamou a Raposa.

— Muito infames! — repetiu o Gato.

— Mas eu comecei a fugir — continuou a marionete —, e eles, sempre atrás de mim, me alcançaram e me

enforcaram no galho daquele carvalho.

E o Pinocchio apontou para o Carvalho Grande, que estava ali pertinho.

— Mas que lástima! — exclamou a Raposa. — Em que mundo estamos condenados a viver! Onde nós,

cavalheiros, encontraremos algum lugar seguro?

Enquanto conversavam, o Pinocchio percebeu que o Gato mancava da pata direita da frente, cuja ponta estava decepada. Por isso, o boneco perguntou:

— O que aconteceu com a sua pata?

O Gato tentou responder qualquer coisa, mas se enrolou. A Raposa então disse de imediato:

— O meu amigo é modesto demais, por isso não responde. Eu responderei por ele. Saiba que, na estrada, há uma hora, topamos com um velho lobo, quase morto de fome, que nos pediu uma esmola. Como não tínhamos nem mesmo uma espinha de peixe para dar a ele, veja o que fez o meu amigo, que tem um coração de ouro. Arrancou, com os próprios dentes, a ponta de sua pata dianteira e a jogou para que aquele pobre bicho matasse a fome.

Ao contar isso, a Raposa enxugou uma lágrima. O Pinocchio, também comovido, aproximou-se do Gato e sussurrou em sua orelha:

— Se todos os gatos fossem iguais a você, que sortudos seriam os ratos!

— Mas nos diga o que você está fazendo aqui por estes lados? — perguntou a Raposa ao boneco.

— Estou esperando o meu pai, que chega daqui a pouco.

— E as suas moedas de ouro?

— Estão no meu bolso, menos uma que gastei na Pousada do Camarão Vermelho.

— E pensar que, no lugar de quatro moedas, amanhã poderiam ser mil ou duas mil! Por que não segue o meu conselho? Por que não vai plantá-las no Campo dos Milagres?

— Hoje é impossível. Irei outro dia.

— Outro dia será tarde! — insistiu a Raposa. — Por quê?

— Porque aquele campo foi comprado por um homem rico e, a partir de amanhã, já não será permitido a ninguém colher dinheiro.

— Qual é a distância daqui ao Campo dos Milagres? — Só dois quilômetros. Quer vir com a gente? Em meia hora estaremos lá. Plante logo as quatro moedas e, após alguns minutos, colha duas mil. Esta noite você volta com os bolsos cheios. Vamos?

O Pinocchio hesitou em dar uma resposta porque voltaram à sua mente a boa Fada, o velho Geppetto e as advertências do Grilo Falante. Mas acabou fazendo o que fazem todos os garotos que não têm um pingo de juízo, nem coração. Acenou com a cabeça que sim, e disse à Raposa e ao Gato:

— Então, vamos. Eu vou com vocês. E se foram.

Depois de andarem bem uma metade do dia,

chegaram a uma cidade que se chamava Pegatrouxa. Logo na entrada, o Pinocchio viu que todas as ruas estavam cheias de cachorros sarnentos que bocejavam de fome, de ovelhas tosadas que tremiam de frio, de galinhas sem crista e sem papo que pediam um punhado de grão-de-bico como esmola, de grandes borboletas que não conseguiam mais voar porque tinham vendido as suas belíssimas asas coloridas, de pavões sem cauda que tinham vergonha de serem vistos, e de faisões que arrastavam as patas silenciosamente, lamentando-se da falta que faziam as suas cintilantes penas douradas e prateadas, perdidas para sempre.

No meio dessa multidão de mendigos e miseráveis, de vez em quando passava alguma raposa, uma pega-ladra ou um pássaro de rapina, em elegantes carruagens.

— Onde é esse Campo dos Milagres? — perguntou o Pinocchio.

Dito e feito. Atravessaram a cidade e, nos arrabaldes, pararam em um campo isolado que, no geral, se parecia com qualquer outro campo.

— Chegamos — anunciou a Raposa à marionete. — Agora abaixe e escave com suas mãos um pequeno buraco na terra. Depois ponha as moedas de ouro dentro dele.

O Pinocchio obedeceu. Escavou o buraco, pôs dentro as quatro moedas de ouro que sobraram e, em seguida, cobriu com um pouco de terra.

— Agora — disse a Raposa —, vá até o regato ali perto, pegue um balde de água e regue o terreno onde você plantou.

O Pinocchio foi até o regato, mas como não havia ali um balde, tirou um sapato, encheu-o de água e regou a terra que cobria o buraco. Depois perguntou:

— O que mais devo fazer?

— Nadinha — respondeu a Raposa. — Agora podemos ir embora. Aí você volta em uns vinte minutos e encontrará o arbusto brotando do solo com seus ramos carregados de moedas.

O coitado do boneco, contente que não se aguentava, agradeceu mil vezes à Raposa e ao Gato e prometeu a eles um belíssimo presente.

— Não queremos presentes — responderam os dois malandros. — Foi suficiente ter ensinado a você a maneira de enriquecer sem se cansar demais, e estamos contentes pra burro.

Dito isso, despediram-se do Pinocchio desejando boa sorte na colheita, e foram embora cuidar da vida.

19. O PINOCCHIO TEM AS SUAS

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 80-87)