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O PINOCCHIO CHUPA BALA, MAS NÃO QUER TOMAR O REMÉDIO; ELE

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 73-80)

PENDURAM EM UM GALHO DO CARVALHO GRANDE

17. O PINOCCHIO CHUPA BALA, MAS NÃO QUER TOMAR O REMÉDIO; ELE

MUDA DE IDEIA QUANDO CHEGAM OS

COVEIROS PARA LEVÁ-LO; ENTÃO

CONTA MENTIRAS E, COMO CASTIGO,

SEU NARIZ CRESCE

L

ogo que os três médicos saíram do quarto, a Fada chegou junto ao Pinocchio e, depois de tocá-lo na testa, percebeu que estava com um febrão que só vendo!

Então dissolveu um certo pozinho branco em meio copo de água e o deu ao boneco, amorosamente.

— Tome tudo e, em poucos dias, você vai sarar. O Pinocchio olhou o copo, torceu a boca e perguntou meio que se queixando:

— É doce ou amargo?

— É amargo, mas fará bem a você. — Se é amargo, não quero.

— Não discuta, beba.

— Eu não gosto de coisas amargas.

— Tome. Depois de beber tudo, darei a você uma bala para adoçar sua boca.

— Está aqui — disse a Fada, abrindo uma bomboniere de ouro.

— Antes quero uma balinha, depois tomarei o remédio amargo…

— Promete? — Prometo.

A Fada deu a bala ao Pinocchio, que depois de estilhaçá-la e chupá-la em um instante, disse, lambendo os lábios:

— Seria ótimo se o açúcar fosse remédio! Eu me curaria todos os dias.

— Agora cumpra a promessa e beba um pouco desta água, para sarar.

O Pinocchio pegou o copo na mão com má vontade e meteu nele a ponta do nariz. Depois aproximou a boca da borda e voltou a enfiar a ponta do nariz. Finalmente, disse:

— É amargo demais, amargo demais! Não consigo tomar isto.

— Como pode saber, se nem provou?

— Imagino! Senti o cheiro. Antes quero uma outra balinha… depois eu tomo.

Então a Fada, com toda a paciência de uma boa mãe, pôs na boca dele uma outra bala. Em seguida, ofereceu-lhe o copo novamente.

— Assim eu não consigo tomar! — reclamou a marionete, fazendo muitas caretas.

— Porque o travesseiro nos meus pés está incomodando.

A Fada retirou o travesseiro.

— Não adianta! Nem assim eu consigo tomar. — O que mais incomoda você?

— A porta do quarto, que está meio aberta. A Fada foi até lá e fechou a porta do quarto.

— Na verdade — gritou o Pinocchio, com uma crise de choro —, eu não quero tomar esse remédio amargo de jeito nenhum, não, não e não!

— Meu garoto, você vai se arrepender… — Não me importo…

— A sua doença é grave. — Não me importo.

— Com a febre, você irá logo para o outro mundo. — Não me importo.

— Você não tem medo da morte?

— Eu, não! Prefiro morrer a tomar esse remédio ruim. Nesse momento, a porta do quarto se escancarou e quatro coelhos pretos como piche entraram trazendo um pequeno caixão nas costas.

— O que querem comigo? — gritou o Pinocchio, sentando-se na cama, morto de medo.

— Viemos buscar você — respondeu o coelho maior. — Me buscar? Mas eu ainda não morri.

— Ainda não, mas te restam poucos momentos de vida, pois você se recusou a tomar o remédio que teria curado sua febre!

— Ai, minha Fada. Ai, minha Fada! — fez o boneco, aos gritinhos. — Me dê já o copo. Tratem de ir embora depressa, por favor, que não quero morrer, não. Não quero morrer!

Com as duas mãos, esvaziou o copo num gole só. — Paciência! — disseram os coelhos. — Desta vez viemos à toa.

E, carregando de novo o pequeno caixão, saíram resmungando e murmurando entredentes.

O fato é que, em poucos minutos, o Pinocchio pulou da cama, curado e saudável. É preciso saber que os bonecos de pau têm o privilégio de raramente ficarem doentes e de sararem bem rápido.

E a Fada, vendo que ele corria e brincava pelo quarto, animado e alegre como um pintinho, disse:

— Então, o remédio funcionou mesmo, não foi? — E muito! Voltei ao mundo!

— Então, por que fez aquilo? Me fez suplicar para você beber?

— É que nós, garotos, somos assim! Temos mais medo dos remédios do que da doença.

— Que vergonha! Os garotos deveriam saber que um bom remédio tomado a tempo pode salvar de uma doença grave e, talvez, até da morte.

— Ah, mas da próxima vez eu não resistirei tanto! Vou me lembrar daqueles coelhos pretos com o caixão nas costas… e, então, pego logo o copo e tomo.

— Agora venha um pouco aqui perto de mim e me conte como foi que encontrou aqueles dois assassinos. — Foi que o marionetista Come-Fogo me deu cinco moedas de ouro e disse: “Tome e leve para o seu pai!” Mas, em vez disso, eu encontrei uma raposa e um gato na estrada, duas pessoas de bem, que me disseram: “Quer que estas moedas se transformem em mil, duas mil? Venha conosco e levaremos você até o Campo dos Milagres.” E eu disse: “Vamos!” E eles disseram: “Vamos parar aqui na Pousada do Camarão Vermelho, e, depois da meia-noite, partimos.” Mas quando eu acordei, não estavam mais lá, tinham ido embora. Então comecei a caminhar de noite, e estava uma escuridão que parecia de mentira, então eu me deparei na estrada com dois assassinos dentro de sacos de carvão, que me disseram: “Dê já o dinheiro”. E eu disse: “Não tenho nada”, porque eu tinha escondido as moedas de ouro na boca, e um dos assassinos tentou meter a mão dentro da minha boca, e eu, com uma mordida, arranquei sua mão e cuspi fora, mas em vez de uma mão, era uma patinha de gato. E os assassinos correram atrás de mim, e eu corri e corri até que eles me alcançaram e me

amarraram pelo pescoço em uma árvore deste bosque e disseram: “Amanhã voltaremos, e então estará morto e

com a boca aberta, e assim levaremos embora as moedas de ouro que estão embaixo da sua língua.”

— E então, onde você pôs as quatro moedas? — perguntou a Fada.

— Eu perdi! — mentiu o Pinocchio, pois elas estavam em seu bolso.

Logo que disse essa mentira, o seu nariz, que já era comprido, cresceu de imediato mais dois dedos.

— E perdeu onde? — No bosque aqui perto.

Com a segunda mentira, o nariz cresceu mais. — Se perdeu aqui perto no bosque — disse a Fada —, vamos procurar e as encontraremos. Tudo o que se perde no bosque aqui ao lado, sempre se encontra.

— Ah! Agora que me lembro bem — continuou o boneco, enrolando-se todo —, eu não perdi as quatro moedas, mas, sem perceber, as engoli enquanto tomava o remédio.

Com essa terceira mentira, seu nariz ficou tão incrivelmente comprido, que o coitado já não conseguia girar para lado nenhum. Se virasse para cá, batia com o nariz na cama ou nos vidros da janela; se virasse para lá, batia nas paredes ou na porta do quarto; se levantasse um pouco a cabeça, corria o risco de enfiá-lo no olho da Fada.

— Por que está rindo? — perguntou o boneco, todo confuso e preocupado com aquele nariz que crescia a olhos vistos.

— Dou risada da mentira que me contou. — Como sabe que eu menti?

— Meu garoto, eu reconheço logo as mentiras, porque há de duas espécies: as mentiras que têm as pernas curtas e as mentiras que têm o nariz comprido. As suas, no caso, são do tipo que têm o nariz comprido.

O Pinocchio, não sabendo mais onde se meter de tanta vergonha, tentou escapar do quarto, mas não conseguiu. O seu nariz tinha crescido tanto que não passava mais pela porta.

18. O PINOCCHIO REENCONTRA A

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 73-80)