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O PINOCCHIO, EM VEZ DE SE TORNAR UM MENINO, VAI EMBORA,

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 152-159)

SEGUINTE, ELE JÁ NÃO SERÁ MAIS UM BONECO, E SIM UM MENINO UM

30. O PINOCCHIO, EM VEZ DE SE TORNAR UM MENINO, VAI EMBORA,

ESCONDIDO,COM O SEU AMIGO

PAVIO PARA O PAÍS DOS

BRINQUEDOS

C

omo é natural, o Pinocchio logo pediu permissão à Fada para sair pela cidade e fazer os convites. A Fada respondeu:

— Então vá convidar os seus amiguinhos para o

lanche de amanhã, mas lembre-se de voltar para casa antes do anoitecer. Entendeu?

— Prometo voltar em uma hora — afirmou a marionete.

— Olha lá, Pinocchio! Os garotos prometem rápido, mas, na maioria das vezes, demoram a cumprir.

— Mas eu não sou mais como os outros. Quando digo alguma coisa, mantenho a palavra.

— Veremos. Se por acaso desobedecer, pior para você. — Por quê?

— Porque os garotos que não dão ouvidos aos

conselhos daqueles que sabem mais sempre acabam caindo em alguma desgraça.

— E eu sou uma prova disso! — disse o Pinocchio. — Mas agora não caio mais nessa.

— Vamos ver se você está dizendo a verdade. Sem dizer mais nada, o boneco se despediu da boa Fada, que era para ele como uma mãe, e, cantando e dançando, saiu à rua.

Em pouco mais de uma hora, todos os seus amigos tinham sido convidados. Alguns aceitaram de imediato e agradecidos. Outros deram uma de rogados, mas quando souberam que os sanduíches que seriam molhados no café com leite teriam manteiga nos dois lados, acabaram aceitando:

— Nós também iremos, para celebrar com você. Neste ponto, devemos saber que, entre seus colegas de escola, um era o mais querido pelo Pinocchio, um menino chamado Romeo — mas que todos chamavam pelo apelido de Pavio por ser magricela e desengonçado como um pavio de vela nova.

Pavio era o garoto mais preguiçoso e espertalhão de toda a escola, mas o Pinocchio gostava muito dele. De fato, logo foi até sua casa para convidá-lo para o lanche, mas não o encontrou. Voltou uma segunda vez, mas o Pavio não estava. Voltou pela terceira vez e nada.

Onde poderia encontrá-lo? Procura daqui, procura de lá, finalmente o avistou escondido sob o pórtico de uma casa de camponeses.

— O que faz aqui? — perguntou o Pinocchio ao se aproximar.

— Estou esperando que dê a meia-noite para ir embora.

— Aonde você vai?

— Para longe, longe, longe!

— E eu, que fui três vezes procurar você em casa… — O que você quer comigo?

— Não está sabendo do grande acontecimento? Não sabe a sorte que tenho?

— Qual é?

— De amanhã em diante, já não serei um boneco. Vou me transformar em um menino como você, como todos os demais.

— Boa sorte.

— Amanhã, então, espero você para um lanche lá em casa.

— Mas estou dizendo que vou embora esta noite! — A que horas?

— Daqui a pouco. — E aonde você vai?

— Vou morar em um lugar que é o cantinho mais lindo deste mundo, uma verdadeira boa vida!

— E como se chama?

— Ele se chama País dos Brinquedos. Por que você não vem também?

— Eu? Não, mesmo!

— Não seja bobo, Pinocchio. Acredite em mim ou vai se arrepender se não vier. Não existe lugar melhor para

nós, garotos. Lá não existem escolas, nem professores, nem livros. Naquele bendito lugar, nunca se estuda. Não há aulas e as semanas têm seis sábados e um domingo. Imagine que as férias de verão começam no dia primeiro de janeiro e terminam no último dia de dezembro. Está aí um lugar de que eu realmente gosto! É como deveriam ser todos os lugares civilizados.

— Mas como se passa o tempo no País dos Brinquedos?

— Brincando e se divertindo de manhã até a noite. À noite vão para a cama e, na manhã seguinte, começam tudo de novo. O que você acha?

— Hum… — fez o Pinocchio, balançando a cabeça como que dizendo: “É uma vida que eu também gostaria de ter”.

— Então, quer ir comigo? Sim ou não? Decida-se. — Não, não e não! Prometi à minha boa Fada que me tornaria um garoto direito, e quero cumprir a promessa. Inclusive, como vejo que o sol está se pondo, deixo você aí e vou-me embora já. Então adeus, e boa viagem.

— Aonde vai com tanta pressa?

— Para casa. A minha Fada querida quer que eu volte antes do anoitecer.

— Espere mais dois minutos. — Vou me atrasar.

— Só dois minutos.

— Deixe que grite. Quando tiver gritado bastante, vai se acalmar — disse o danado do Pavio.

— E como você vai fazer? Vai sozinho ou com alguma companhia?

— Sozinho? Seremos mais de cem garotos. — Vão viajar a pé?

— Daqui a pouco vai passar por aqui uma carroça que vai nos levar até aquele lugar afortunado.

— Como eu gostaria que a carroça passasse agora… — Por quê?

— Para ver vocês partirem todos juntos. — Fique aqui mais um pouco e verá. — Eu, não. Quero voltar para casa. — Espere mais dois minutos.

— Já demorei até demais. A Fada ficará preocupada comigo.

— Coitada da Fada! Ela tem medo de que os morcegos comam você?

— Mas então — continuou o Pinocchio —, você tem mesmo certeza de que naquele país não existe mesmo nenhuma escola?

— Nem sombra de escola. — Nem professores? — Nenhum.

— E ninguém é obrigado a estudar? — Nunca, nunca, nunquinha!

— Que lugar lindo! — admirou-se o Pinocchio, com brilho nos olhos. — Que legal esse lugar! Eu nunca estive lá, mas imagino!

— Por que você não vem também?

— É uma tentação inútil, pois prometi à minha boa Fada que me tornaria um menino de juízo, e não quero faltar com a palavra.

— Então adeus, e saudações de minha parte para a escola fundamental! E também para o colegial, se os vir por aí.

— Adeus, Pavio, faça uma boa viagem, divirta-se e lembre-se dos amigos de vez em quando.

Dito isso, o boneco de madeira deu dois passos, mas em seguida parou, virou-se para trás e perguntou uma vez mais para o amigo:

— Mas você está mesmo certo de que, naquele local, todas as semanas têm seis sábados e um domingo?

— Certíssimo.

— Mas você tem certeza de que as férias de verão começam no dia primeiro de janeiro e terminam no último dia de dezembro?

— Tenho.

— Que lugar legal! — repetiu o Pinocchio, tentando se consolar. Mas logo acrescentou, decidido: — Então, adeus, e boa viagem.

— Adeus.

— Daqui a pouco.

— Que pena! Se faltasse só uma hora para vocês partirem, eu seria capaz de esperar.

— E a Fada?

— Já estou mesmo atrasado, e voltar para casa uma hora antes ou uma hora depois vai dar na mesma.

— Pobre Pinocchio! E se a Fada gritar com você? — Paciência! Deixo que grite. Quando tiver gritado bastante, vai se acalmar.

Enquanto isso, a noite já tinha caído. De repente, viram uma luzinha se mexer ao longe e escutaram sininhos e o soar de uma trombeta, tão suave e abafada que parecia o zumbido de um mosquito.

— Aí está! — gritou o Pavio, ficando em pé. — O que é? — perguntou o Pinocchio baixinho. — É a charrete que vem me buscar. E então, você vem ou não?

— Mas é verdade — perguntou o boneco — que nesse lugar não obrigam ninguém a estudar?

— Nunca, nunca, nunquinha!

— Que legal esse lugar, que legal esse lugar… Que legal esse lugar!

31. APÓS CINCO MESES DE BOA VIDA,

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 152-159)