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O PINOCCHIO CHORA PELA MORTE DA MENINA BONITA DOS

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 103-110)

ENCONTRA UMA SERPENTE TERRÍVEL E DEPOIS FICA PRESO NA ARMADILHA

23. O PINOCCHIO CHORA PELA MORTE DA MENINA BONITA DOS

CABELOS AZUIS; DEPOIS ENCONTRA

UM POMBO QUE O LEVA AO LITORAL,

E, LÁ, SE JOGA AO MAR PARA SALVAR

SEU PAI, O GEPPETTO

A

ssim que o Pinocchio se livrou do peso e da humilhação daquela coleira, fugiu pelo campo e não parou um só minuto até alcançar a estrada principal, que levava à casa da Fada.

Na estrada, curvou-se para olhar a planície lá embaixo e viu muito bem, a olhos nus, o bosque onde por desgraça havia encontrado a Raposa e o Gato. Viu, no meio das árvores, o topo daquele grande carvalho, no qual fora pendurado pelo pescoço. Mas, olha para cá, olha para lá, nada de avistar a pequena casa da menina dos cabelos azul-turquesa.

Então teve algo como um mau pressentimento e disparou a correr com as forças que ainda tinha nas pernas. Em poucos minutos chegou ao prado aonde já estivera a casinha branca. Mas ela não existia mais. Em seu lugar havia uma pequena placa de mármore, na qual estavam escritas, em letras maiúsculas, estas dolorosas palavras:

Aqui jaz a menina dos cabelos azul-turquesa que morreu de dor por ter sido abandonada pelo seu irmãozinho

Pinocchio.

Deixo que vocês imaginem como ficou o boneco de madeira depois que, mal e mal, conseguiu ler aquelas palavras, soletrando sílaba por sílaba. Caiu de bruços no chão, cobriu aquela lápide com mil beijos e desatou a chorar. Chorou a noite inteira e, ao romper do dia, ainda chorava, mesmo já sem lágrimas nos olhos. Seus gritos e lamentos eram tão desoladores e agudos que todas as colinas ao redor repetiam seus ecos.

Enquanto chorava, dizia:

— Ah, Fadinha querida, por que você morreu? Por que não morri eu no seu lugar, que sou mau, enquanto você era tão boa? E o meu pai, onde estará? Ah, Fadinha querida, diga onde posso encontrá-lo, porque quero estar sempre com ele e nunca mais deixá-lo. Nunca mais, nunca mais! Fadinha querida, diga que não é verdade que você está morta! Se de fato gosta de mim, se gosta do seu irmãozinho, reviva, volte à vida como antes! Você não gosta de me ver assim, abandonado por todos, não é? Se chegam os assassinos, irão me pendurar de novo no galho da árvore, e então eu morrerei para sempre. O que quer que eu faça, aqui sozinho no mundo? Agora que perdi você e o meu pai, quem me dará comida? Onde vou dormir à noite? Quem me fará uma jaquetinha nova? Ai, seria

melhor, mil vezes melhor, que eu também morresse! Sim, eu quero morrer! Ai, ai, ai…

Em seu desespero, tentava arrancar os cabelos, mas como eram de madeira não conseguiu puxar os fios.

Nesse momento, um grande pombo o sobrevoou e, planando com as asas abertas, gritou lá de cima:

— Diga, menino, o que faz neste lugar? — Não está vendo? Estou chorando! — disse o Pinocchio, ao levantar a cabeça na direção daquela voz e secar seus olhos com a manga da jaqueta.

— Diga — acrescentou o pombo —, por acaso conhece, entre seus companheiros, uma marionete que se chama Pinocchio?

— O Pinocchio? Você disse Pinocchio? — levantou-se com um salto. — Eu sou o Pinocchio!

O pombo, ao ouvir a resposta, desceu velozmente e pousou. Era maior que um peru.

— Então você deve conhecer também o Geppetto? — perguntou ao boneco.

— Claro que conheço! É o coitado do meu pai! Ele falou sobre mim? Você pode me levar até ele? Está vivo? Responda, por favor, está vivo?

— Eu o deixei na praia há três dias. — O que ele estava fazendo?

— Construiu um pequeno barco para atravessar o oceano. Há mais de quatro meses que aquele pobre homem gira o mundo procurando você, sem encontrar. Agora pôs

na cabeça de ir para os países longínquos do Novo Mundo à sua procura.

— Qual é a distância daqui até a praia? — perguntou o Pinocchio, ansioso.

— Mais de mil quilômetros.

— Mil quilômetros?! Pombo querido, que coisa boa seria se eu tivesse as suas asas!

— Se quiser, eu levo você. — Mas como?

— Montado nas minhas costas. Você é muito pesado? — Pesado? Pelo contrário! Sou leve como uma pluma. Sem dizer mais nada, o Pinocchio saltou sobre o dorso do pombo e, com uma perna de cada lado como fazem os cavaleiros, gritou todo contente:

— Galope, galope, cavalinho, que tenho pressa de chegar!

O pombo tomou fôlego e, em poucos minutos, voava tão alto que quase tocava as nuvens. Quando alcançaram uma altura extraordinária, a marionete teve curiosidade de olhar para baixo, mas ficou com tanto medo e tontura que, para não despencar, agarrou ainda mais forte o pescoço de sua cavalgadura plumada.

Voaram durante o dia todo. Ao cair da noite, o pombo disse:

— Estou com muita sede!

— Vamos parar neste pombal por alguns minutos e depois retomamos a viagem, assim chegamos no litoral amanhã cedinho.

Entraram no pombal vazio, onde havia apenas uma pequena tina cheia de água e um cestinho com favas.

Em toda a sua vida, o boneco nunca tinha conseguido comer favas. Segundo ele, causavam náusea e reviravam seu estômago. Mas naquele fim de tarde, as devorou com gosto e, quando quase tinha dado fim nelas, virou-se para o pombo e disse:

— Eu não posso acreditar que as ervilhacas sejam tão gostosas!

— É preciso se conscientizar, meu garoto — aconselhou o pombo —, de que quando a fome bate de verdade e não há nada mais para se comer, até as ervilhacas são deliciosas! A fome não tem caprichos!

Depois da rápida refeição, retomaram a viagem, e em frente! Chegaram ao litoral na manhã seguinte.

O pombo pôs o Pinocchio no chão e, sem sequer parar para escutar a chatice dos agradecimentos por ter

realizado uma boa ação, alçou voo e desapareceu. A praia estava cheia de gente que berrava e gesticulava na direção do mar.

— O que aconteceu? — perguntou o Pinocchio a uma velhinha.

— Acontece que um coitado de um pai que perdeu o filho quis entrar em um barquinho para ir procurá-lo no

além-mar. Mas hoje o mar está muito bravo e o barquinho está prestes a afundar…

— Onde está o barquinho?

— Está lá, onde estou apontando — disse a velha, indicando um pequeno barco que, daquela distância, parecia uma casca de noz com um bonequinho dentro.

O Pinocchio direcionou o olhar para o lugar indicado e, depois de olhar atentamente, deu um berro agudo:

— É o meu pai! É o meu pai!

Enquanto isso, o barquinho, levado de cá para lá pelas ondas furiosas, ora desaparecia entre as enormes vagas, ora voltava a flutuar. E o Pinocchio, de pé sobre a ponta de uma rocha alta, esgoelava-se chamando seu pai, fazia sinais com as mãos e com o lencinho de assoar o nariz — e até com o boné.

Ainda que estivesse muito longe da praia, Geppetto pareceu reconhecer o filho, porque também levantou a boina e acenou. Com seus gestos, deu a entender que gostaria muito de voltar, mas o mar estava tão agitado que o impedia de remar de volta à terra firme.

De pronto, uma onda terrível engoliu o barco, que desapareceu. Esperaram que o barco voltasse à tona, mas nada.

— Pobre homem — disseram então os pescadores reunidos na praia. Murmurando uma oração, começaram a voltar para as suas casas.

Foi quando escutaram um grito desesperado. Ao olharem para trás, viram um garoto que, do topo das rochas, atirou-se ao mar, gritando:

— Eu quero salvar o meu pai!

O Pinocchio, sendo todo de madeira, flutuava facilmente e nadava como um peixe. Ora era visto

desaparecer embaixo d’água, levado pelo ímpeto da maré, ora reaparecia com uma perna ou um braço para fora, a uma grande distância da terra. Por fim, perdeu-se de vista.

— Pobre garoto! — disseram então os pescadores reunidos na praia. Murmurando uma oração, começaram a voltar para as suas casas.

24. O PINOCCHIO CHEGA À ILHA DAS

No documento Illustrado por André Ducci (páginas 103-110)