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Lei 9.605/1998 Lei Ambiental

4.1.3 Nos Municípios da RMA

A Constituição de 1988 atribuiu para os municípios a responsabilidade pela administração de questões de interesse predominantemente local49, ligadas ao planejamento urbano, dentre as quais, incluem-se a responsabilidade pela correta gestão e gerenciamento do RSU produzido em seu território (SILVA, 1994b).

A Lei Orgânica é a norma fundamental dos municípios, devendo estar, como apontado acima, em consonância com as Constituições Federal e Estadual e, por sua vez, atua como

48 O tema “resíduos sólidos” é abordado expressamente somente duas vezes na referida norma e ainda assim,

como conceito de saneamento e estabelecendo a atribuição dos municípios para sua gestão (arts. 2º, caput e 14, II).

49 “Interesse local não é interesse exclusivo do Município; não é interesse privativo da localidade; não é interesse

único dos munícipes. Se se exigisse essa exclusividade, essa privatividade, essa unicidade, bem reduzido ficaria o âmbito da Administração local, aniquilando-se a autonomia de que faz praça a Constituição. Mesmo porque não há interesse municipal que não o seja reflexamente da União e do Estado-membro, como, também, não há interesse regional ou nacional que não ressoe nos Municípios, como partes integrantes da Federação brasileira. O que define e caracteriza o “interesse local”, inscrito como dogma constitucional, é a predominância do interesse do Município sobre o Estado ou da União” (SILVA, 1994b, p. 99).

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 106 premissa legal para todas as normas municipais. Entre as leis municipais, a própria Constituição Federal elegeu o plano diretor como a norma municipal de importância não somente como parâmetro para a função social da propriedade (182, §§ 1º e 2º, CF), mas também como instrumento principal da política de desenvolvimento urbano a ser desenvolvida pelo ente federativo municipal (182, caput, CF). Nele devem estar inseridas as políticas de saneamento e, consequentemente de gestão de RSU, sem prejuízo de regulamentação do tema por normas municipais específicas.

A figura 13 apresenta o microssistema jurídico-ambiental municipal, sendo que todos os municípios da RMA têm, no mínimo, Lei Orgânica e Plano Diretor em vigor. Tais normas são analisadas de forma específica a seguir:

4.1.3.1 Aracaju

A Lei Orgânica de Aracaju (LOA), em vigor desde 1990, trata especificamente de resíduos sólidos, ao estabelecer expressamente a responsabilidade do município pela limpeza pública, coleta (que segundo a norma deve ser seletiva – ressalte-se) e destinação final de resíduos sólidos (arts. 19, IX, “e” e 282). Especifica ainda, no seu artigo 279, a competência do município para a fiscalização das águas subterrâneas, com o fito de protegê-las de poluição, inclusive por resíduos sólidos ou líquidos (neste último caso, pode se citar a percolação do chorume, produzido por vazadouros de lixo).

De forma não específica, mas no limite das dimensões tratadas neste trabalho, destacam-se as seguintes normas estabelecidas na Lei Orgânica:

Lei Orgânica

Plano Diretor

Legislação Municipal específica

Figura 13: Sistema jurídico- ambiental de RSU no âmbito municipal

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 107 a) no aspecto econômico, todas as despesas e receitas devem ser

compatibilizadas com planejamento adequado (art. 19, IV; 183, VII e 213);

b) o controle social deve ser garantido através da gestão democrática e participação popular na construção ou revisão do plano diretor e das políticas públicas de desenvolvimento urbano, viabilizadas através de audiências públicas e ampla divulgação de informações, além do direito de petição (arts. 14; 15;19, XXII; 183, I e 223);

c) a gestão compartilhada de funções ou serviços de interesses comuns é prevista (arts. 19, XXXIII; 20 e 213).

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Aracaju vigente é previsto na Lei Complementar Municipal 42/2000. Desde 2005, existe um processo de revisão deste, mas ainda não chegou a seu termo final.

Quanto aos dispositivos relacionados à gestão e ao gerenciamento de RSU, destacam- se aqueles que tratam da universalização dos serviços, da educação ambiental, da coleta seletiva, da extinção dos vazadouros e da destinação ambientalmente correta de resíduos, dentre outros, apresentados da seguinte forma:

Art. 54. Constituem diretrizes gerais relativas aos serviços de infra-estrutura: I - assegurar acesso da população às ações e serviços de saneamento, associados a programas de educação sanitária e em consonância com as normas de proteção ao meio ambiente e a saúde pública;

Art. 56. O Executivo Municipal deve assegurar a adequada prestação dos serviços de limpeza urbana em toda a área do município, inclusive na Zona de Expansão, e implantar o sistema de coleta seletivo ou diferenciado dos resíduos sólidos urbanos, assim como, uma destinação final do lixo, ambientalmente adequada.

Parágrafo Único - Os recursos arrecadados com os serviços básicos de limpeza pública, posta à disposição da população, deverão destinar-se exclusivamente, ao custeio dos serviços de limpeza urbana.

Art. 57. Constituem diretrizes específicas dos serviços de limpeza urbana: I - assegurar a adequada prestação dos serviços de Limpeza Urbana em toda a área urbanizada do município, inclusive na Zona de Expansão Urbana;

II - promover a educação ambiental, inclusive em parceria com entidades da sociedade civil organizada, com enfoque especial na educação para a limpeza urbana, com vistas à participação ativa da população na manutenção da limpeza da cidade, bem como a difusão dos conceitos referentes à redução, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos urbanos;

III - implantar o sistema de coleta seletiva ou diferenciada dos resíduos sólidos urbanos;

IV – acabar com os vazadouros a céu aberto para a disposição final do lixo, substituindo-os por aterros sanitários, ambientalmente administrados com reflorestamento e disposição adequada do chorume;

V - exigir a implantação de medidas adequadas para manejo dos resíduos sólidos produzidos pelas unidades prestadoras de serviços de saúde, bem como, dos resíduos de natureza tóxica, corrosiva ou contaminante, de forma a minimizar os riscos de seus efeitos sobre a população.

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 108

Art. 59. O poder executivo deverá desenvolver estudos técnicos, no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de promulgação desta Lei, com o objetivo de definir estratégias para o tratamento dos resíduos sólidos. (grifo nosso).

Sobressaem-se ainda as dimensões de sustentabilidade delineadoras deste trabalho, internalizadas no PDDU, nos seguintes aspectos:

a) gestão compartilhada para destinação final de lixo (arts. 3º, III e IX; 54, X; 58 e 81);

b) estabelecimento de um sistema de planejamento e informações para subsidiar a gestão da cidade (art. 3º, VIII);

c) proteção e preservação do meio ambiente, além da busca da sustentabilidade (arts. 3º, XVI e 8º);

d) controle social exercido através da participação popular no Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano, órgão deliberativo de gestão urbana do município (art. 77).

O Município de Aracaju possui as seguintes normas, ligadas ao tema:

Quadro 11: Normas sobre resíduos sólidos em vigor - município de Aracaju

Norma Legal Assunto Relação com RSU

Lei 637/1979 Institui o código de Higiene Pública do Município de Aracaju e dá outras providências correlatas.

Trata de normas municipais referentes ao controle prévio à coleta pública dos resíduos sólidos produzidos pelos munícipes.

Lei 688/1980 Autoriza o poder executivo a contratar empréstimo com a caixa econômica.

Aquisição de equipamento de coleta de lixo e para serviços de saneamento básico.

Lei 1.175/1986 Autoriza o poder executivo a contratar empréstimo com a caixa econômica.

Aquisição de equipamento de coleta de lixo.

Lei 1.668/1990 Autoriza o poder executivo a constituir a empresa municipal de serviço urbano

Cria a EMSURB, autarquia municipal responsável pelo gerenciamento de RSU

Lei 1.789/1992 Código de Proteção Ambiental do Município de Aracaju e dá providências correlatas.

Apresenta normas proibitivas em relação à poluição causada por resíduos sólidos.

Lei 1.721/1992 Código de Limpeza Urbana e atividades correlatas.

Diz respeito a normas referentes à gestão e gerenciamento de RSU.

Lei 2.035/1993 institui a coleta de resíduo sólidos, recicláveis nas repartições públicas municipais.

Trata da Coleta Seletiva.

Lei 2.177/1994 Regulamenta o horário da coleta do lixo comercial, residencial e hospitalar no município de Aracaju e dá providências correlatas.

Estabelece horários para coleta de diversos tipos de resíduos sólidos.

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 109

Lei 2.280/1995 Dispõe sobre o plano plurianual do município de Aracaju para o período de 1994 a 1997.

Prevê implantação do aterro sanitário.

Lei 2.788/2000 Dispõe sobre a política municipal de saneamento, seus instrumentos e dá outras providências.

Inserido na Política de Saneamento.

Lei 3.625/2008 Autoriza o Prefeito Municipal de Aracaju a assinar o Protocolo de Intenções para a criação da Associação Pública denominada Consórcio Metropolitano para Gestão dos Resíduos Sólidos da Região Metropolitana da Grande Aracaju - COMGRES e dá outras providências

Permite a adesão do município de Aracaju ao consórcio metropolitano para gestão de RSU.

A despeito do aparato normativo em vigor, o município de Aracaju, ao contrário dos demais municípios da RMA, não possui uma Secretaria de Meio Ambiente, mostrando com isso, a pouca importância dada ao tema pelo município. É o único município também que tem lei municipal específica tratando sobre Política de Saneamento no âmbito municipal, entretanto tal norma nunca foi observada pela municipalidade.

4.1.3.2 Nossa Senhora do Socorro

A Lei Orgânica do município de Nossa Senhora do Socorro, de 05 de abril de 1990, contém 174 artigos, tratando da questão dos resíduos sólidos de forma específica somente no seu artigo 10, XXII:

Art. 10º – Ao Município compete prover a tudo quanto diga respeito, ao seu peculiar interesse e ao bem-estar de sua população, cabendo-lhe, privativamente, entre outras, as seguintes atribuições:

XXVII – prover sobre a limpeza das vias e logradouros públicos, remoção e destinação do lixo domiciliar e de outros resíduos de qualquer natureza;

Essa norma confirma a preocupação do município em apenas coletar e transportar resíduos, sem tratar da gestão de RSU de forma sistêmica e sustentável.

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 110 De forma mais genérica, referindo-se a saneamento básico, a Lei Orgânica de Nossa Senhora do Socorro repete, em seu art. 11, IX50, a competência estabelecida no artigo 23 da Constituição Federal, sendo norma inconstitucional (embora nada traga de novo). Isso porque somente a Constituição Federal pode definir competências dos entes federativos brasileiros. Além disso, verifica-se que o artigo 166 da Lei Orgânica, desnecessariamente, transcreve literalmente quase todo o artigo 225 da Constituição Federal.

O Município possui Plano Diretor, desde 10 de dezembro de 2002, implementado através da Lei Municipal 557/2002. Este está, desde 2009, sofrendo processo de revisão por provocação do MPSE, posto que o plano atual, de acordo com seu art. 9051, deveria ter sido revisado em 2007.

Em relação ao plano diretor vigente, verifica-se que o direito à cidade sustentável é traduzido em termos de diretrizes da política urbana municipal, como o acesso ao saneamento ambiental, entre outros direitos (art. 2º, I), incluindo o controle social sobre planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano (art. 2º, III); na adoção de padrões de produção e consumo sustentáveis ambiental, social e economicamente (art. 2º, XII).

O Plano Diretor também prevê a criação do Conselho de Desenvolvimento Urbano, com representação do poder público municipal, sociedade civil e concessionárias, com a função deliberativa no que tange a planos, programas e projetos urbanos e ambientais (arts. 32 a 34).

No que diz respeito à gestão compartilhada de RSU, a norma permite a formação de consórcios municipais para, entre outras questões regionais, tratar da “coleta e disposição final do lixo”(art. 36), registrando-se aqui novamente a visão restritiva de apenas coletar e dispor o RSU, sem observância dos conceitos apresentados de gestão e gerenciamento integrados de RSU.

O Plano Diretor em vigor do referido município reserva um capítulo específico para estabelecer diretrizes municipais para a implementação do saneamento:

50 Art. 11º – É da competência administrativa comum do Município, da União e do Estado, observado a lei

complementar federal, o exercício das seguintes medidas: [...]

IX – promover programas de construção de moradia e a melhoria de condições habitacionais e de saneamento básico.

51 Art. 90 - O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Nossa Senhora do Socorro será revisto pelo

Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano em períodos não superiores a 5 (cinco) anos, e ser aprovado pela Câmara Municipal. Lei Municipal 557/2002.

Capítulo 4 – Resultados e Discussões 111 Art. 76 - A Política do Meio Ambiente e do Saneamento tem por objetivo produzir conhecimento voltado para a gestão municipal do meio ambiente, com ênfase especial no planejamento físico-territorial e na gestão do saneamento.

Art. 77 - As diretrizes da Política de Meio Ambiente e Saneamento são: I. Promover o Desenvolvimento Sustentável;

II. Delimitar as áreas de preservação e conservação ambiental;

III. Dotar as áreas urbanas de sistema de saneamento básico adequado às condições ambientais;

IV. Elaborar programas e estudos baseados nas condicionantes ambientais e