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CAPÍTULO 2 – RUMO À INTERDISCIPLINARIDADE

2.1 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

2.1.4 Racionalidade ambiental

O termo racionalidade ambiental foi cunhado por Leff, significando o questionamento do racionalismo hegemônico (mecanicista-cartesiano), com a reconstrução do sistema econômico baseada em uma nova racionalidade sistêmica que não exclui os saberes locais, a diversidade cultural e as idiossincrasias. Fundamentado no discurso da alteridade e na heterogeneidade humana e tendo-se em vista os limites físicos e sociais do desenvolvimento econômico (LEFF, 2006) argumenta:

A crise ambiental veio questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico, negando a natureza. A sustentabilidade ecológica aparece assim como um critério normativo para a reconstrução da ordem econômica, como uma condição para a sobrevivência humana e um suporte para chegar a um desenvolvimento duradouro, questionando as próprias bases da produção (2008, p. 15).

Esses limites físicos são bem retratados pelo efeito entrópico, importado da segunda lei da termodinâmica que, através da seta do tempo, prevê a tendência à desordem e a perda

3 “The use of goods and services that respond to basic needs and bring a better quality of life, while minimising the use of natural resources, toxic materials and emissions of waste and pollutants over the life cycle, so as not to jeopardise the needs of future generations”. Disponível em: <http://www.iisd.ca/consume/oslo004.html>. Acesso em: 24 jul. 2009.

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 40 irreversível de energia, regendo, segundo Georgescu-Roegen (apud LEFF, 2008, p. 16), também o sistema econômico: “A economia foi concebida com um processo governado pelas leis da termodinâmica que regem a degradação de energia em todo processo de produção e consumo”. Por sua vez, O’Connor, completa que: “Isto leva a fazer a pergunta sobre a possível sustentabilidade do capitalismo como um sistema que tem o irresistível impulso para o crescimento, mas que é incapaz de deter a degradação entrópica que ele gera” (ibid., p. 24).

Daly (2005), alertando sobre a situação contraditória entre crescimento econômico e sustentabilidade, crítica o sistema econômico atual que busca o crescimento contínuo e despreza a limitação da biosfera que lhe dá suporte, sacrificando, assim, o chamado capital natural e gerando um crescimento deseconômico. Com isso é apregoada a necessidade para a transição de uma economia sustentável, sob pena de ocorrência de uma catástrofe com perda da qualidade de vida, pois:

A economia é um subsistema da biosfera finita que lhe dá suporte. Quando a expansão da economia afetar excessivamente o ecossistema circundante, começaremos a sacrificar o capital natural (como peixes, minerais e combustíveis fósseis) que valem mais do que o capital criado pelo homem (estradas, fábricas e eletrodomésticos) acrescentado pelo crescimento. Teremos, então, o que denomino crescimento deseconômico, produzindo "males" mais rapidamente do que bens - tornando-nos mais pobres, e não mais ricos.

Depois que ultrapassamos a escala ótima, o crescimento torna-se algo estúpido no curto prazo e impossível de ser mantido no longo prazo. As evidências sugerem que os EUA talvez já tenham entrado numa fase assim (tradução nossa)4.

Em termos práticos, a relação com a natureza, como bem definiu Marx (apud FOSTER, 2005), deve ser uma metamorfose, em cujo processo se busque o equilíbrio, retratado pela utilização de recursos renováveis em nível inferior à capacidade de regeneração do planeta; dos recursos não renováveis, em velocidade menor, de forma a possibilitar tempo suficiente para a substituição por outras fontes renováveis e, também, que os resíduos sejam produzidos somente como ultima ratio e em quantidade inferior à capacidade de absorção do planeta.

Esse novo paradigma da racionalidade ambiental é construído com base nas racionalidades material ou substantiva, teórica, instrumental ou técnica e cultural. A primeira

4Rather the economy is a subsystem of the finite biosphere that supports it. When the economy’s expansion

encroaches too much on its surrounding ecosystem, we will begin to sacrifice natural capital (such as fish, minerals and fossil fuels) that is worth more than the man-made capital (such as roads, factories and appliances) added by the growth. We will then have what I call uneconomic growth, producing “bads” faster than goods—making us poorer, not richer. Once we pass the optimal scale, growth becomes stupid in the short run and impossible to maintain in the long run. Evidence suggests that the U.S. may already have entered the

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 41 racionalidade está fundada em um sistema de valores para a construção de uma nova “racionalidade social fundada nos princípios teóricos (saber ambiental), materiais (racionalidade ecológica) e éticos (racionalidade axiológica) da sustentabilidade” (LEFF, 2006, p. 254). A segunda dá suporte à construção de uma nova racionalidade produtiva, fundada no potencial ecológico e na heterogeneidade cultural. A terceira produz uma praxiologia de transição e estratégias de poder. Finalmente, a última é caracterizada por um sistema de conformação de identidades culturais diferenciadas.

Assim, o paradigma leffiano, questiona a constelação de crenças, regras, experiências integrantes do racionalismo cartesiano, constitutivo da base lógica do sistema econômico hodierno, sendo, em última análise, uma proposta de verdadeira revolução das estruturas científicas vigentes, na exata acepção de Kuhn (2009), exigindo-se uma mudança de paradigma e, com isso, a reconstrução epistemológica do racionalismo corrente:

Portanto a degradação ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza. A questão ambiental problematiza as próprias bases da produção; aponta para a desconstrução do paradigma econômico da modernidade e para a construção de futuros possíveis, fundados nos limites das leis da natureza, nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana (LEFF, 2008, p. 17).

A busca pela efetiva sustentabilidade ecológica requer a reconstrução de uma nova racionalidade e não apenas a justificação de um discurso neoliberal de crescimento econômico sustentado com base nas regras do laissez-faire, sem preocupação com a variável sócioambiental (sustentabilidade, equidade, justiça e democracia), acarretando assim, a busca por um novo paradigma:

Neste processo, a noção de sustentabilidade foi sendo divulgada e vulgarizada até fazer parte do discurso oficial e da linguagem comum. Porém, além do mimetismo discursivo que o uso retórico do conceito gerou, não definiu um sentido teórico e prático capaz de unificar as vias de transição para a sustentabilidade.

[...]

O conceito de ambiente se defronta com as estratégias fatais da globalização. O principio de sustentabilidade surge como uma resposta à fratura da razão modernizadora e como uma condição para construir uma nova racionalidade produtiva, fundada no potencial ecológico e em novos sentidos de civilização a partir da diversidade cultural do gênero humano. Trata-se da reapropriação da natureza e da reinvenção do mundo; não só de "um mundo no qual caibam muitos mundos'", mas de um mundo conformado por uma diversidade de mundos, abrindo o cerco da ordem econômico-ecológica globalizada (LEFF, 2008, p.21 e 31).

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 42 2.2 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

A produção de resíduos sólidos tornou-se um grande problema no mundo, com reflexos que extrapolam a área ambiental, haja vista que a ausência de sustentabilidade do ciclo linear de produção, consumo e descarte de materiais, além de esgotar as reservas naturais, tem transformado o planeta em um largo depósito de lixo, causando a degradação do meio ambiente e afetando a saúde da população.

Esse problema é agravado exatamente porque, durante as fases que vão da extração da matéria prima até o descarte final, o efeito entrópico é acentuado pelo desperdício de energia e de materiais, devido sobremaneira, ao racionalismo do atual sistema econômico, que não incorpora a variável ambiental em seu contexto.

A entropia, identificada pela segunda lei da termodinâmica, prova que o movimento constante e o reaproveitamento total de toda a energia no sistema são impossíveis, estabelecendo, assim, o limite da racionalidade econômica vigente (LEFF, 2006).

Odum (1987), por sua vez, observa que tal como em um ecossistema, a economia é menos eficiente quando não aproveita todos seus subprodutos dentro do próprio sistema. Os resíduos não utilizados são contaminantes e os reutilizados ou recuperados são benefícios para o sistema econômico.

Nesse sentido, verifica-se que há uma preocupação crescente com as políticas de resíduos sólidos produzidos pela humanidade, com vistas a minimizar sua geração e reutilizá- los, buscando ainda a recuperação (reciclagem e compostagem) desses resíduos e sua reintrodução na cadeia produtiva, dentro de um sistema integrado e participativo de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos.

Resíduos sólidos, conforme leciona Tchobanoglous (1993, p. 3), “Compreende todos os resíduos decorrentes de atividades humanas e animais que normalmente são sólidos e que são descartados como inúteis ou indesejados”. Em seguida, o autor define o termo como abrangendo “[...] materiais heterogêneos descartados pela comunidade urbana como também a acumulação mais homogênea de resíduos agrícolas, industriais e minerais” (tradução nossa)5.

5 “Solid wastes comprise all the wastes arising from human and animal activities that are normally solid and that are discarded as useless or unwanted. The term solid waste… encompassing the heterogeneous mass of throwaways from the urban community as well as the more homogeneous accumulation of agricultural, industrial, and mineral wastes”.

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 43 Por sua vez, Lima, J. D. (2001, p. 32), afirma que resíduos sólidos são “Materiais heterogêneos (inertes, minerais e orgânicos), resultantes das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre outros aspectos, proteção à saúde pública e economia de recursos naturais”.

Já a ABNT (2004, p. 1), explicita e alarga o conceito de resíduos sólidos, definindo-os da seguinte forma:

Resíduos sólidos são: resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível [sic]. NBR 10.004.

Finalmente, a recente Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (LPNRS), materializada na Lei 12.305/2010, consolida, em seu artigo 3º, XVI, o conceito de resíduos sólidos, estendendo e explicitando as definições acima apresentadas:

Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (BRASIL, 2010).

No escopo deste trabalho, são analisados especificamente os resíduos sólidos urbanos (RSU), sendo aqui entendidos como aqueles provenientes das residências, das atividades comerciais, de limpeza das vias, feiras públicas e equipamentos públicos e da poda da vegetação municipal, abrangendo outros, que, por suas características, são similares aos produzidos pelos domicílios e de responsabilidade do poder executivo municipal (CEMPRE, 2000).

O gerenciamento dos resíduos sólidos, depois de sua geração, engloba sua coleta, transporte (e transbordo), destinação e disposição de rejeitos, de forma ambientalmente correta e observando-se, no caso de RSU, o plano municipal de gerenciamento integrado de resíduos sólidos (PGIRS) (Lei 12.305/2010, art. 3º, X).

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 44 Na Agenda 21 Brasileira foi estabelecida, no eixo temático sobre cidades sustentáveis, a importância indissociável do enfrentamento da questão do saneamento ambiental que, por sua vez, abarca o gerenciamento de resíduos sólidos. Nesse contexto, Daltro Filho (2004, p. 13), conceitua saneamento ambiental como:

Um conjunto de ações sócio-econômicas que têm por objetivo alcançar níveis de Salubridade Ambiental, através de sistemas de abastecimento de água e de esgotos; coleta, transporte e destinação sanitária dos resíduos sólidos [...] entre outros, de forma a proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural [...] (grifo nosso).

A defesa do meio ambiente é concretizada nas políticas públicas através do conceito de gestão ambiental, que segundo Coimbra (2002, p. 466):

[...] é um processo de administração participativo, integrado, contínuo, que visa à compatibilização das atividades humanas com a qualidade e preservação do patrimônio ambiental, através da ação conjugada do Poder Público e da sociedade organizada em seus vários segmentos, mediante priorização das necessidades sociais e do mundo natural, com alocação dos respectivos recursos e mecanismos de avaliação e transparência.

Aplicando-se o conceito acima às políticas de resíduos sólidos tem-se a definição da gestão de resíduos sólidos que pode ser traduzida como:

[...] o processo que compreende as ações referentes à tomada de decisões políticas e estratégicas quanto aos aspectos institucionais, operacionais, financeiros, sociais e ambientais relacionados aos resíduos sólidos, capaz de orientar a organização do setor. (LIMA, J. D., 2005, p. 35, grifo nosso).

Tal gestão, conforme se vislumbra do conceito acima esposado por Coimbra, deve ser sistêmica, sustentável ambientalmente e geradora de políticas públicas através do exercício da cidadania participativa, conceito, que, aplicado especificamente a resíduos sólidos, acaba por traduzir a gestão integrada (ou sustentável) de resíduos sólidos.

Por sua vez, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) ressalta que “[...] um efetivo sistema de gestão integrada de resíduos sólidos deve considerar como prevenir, reciclar e gerenciar resíduos sólidos valendo-se de alternativas que mais eficazmente protejam a saúde humana e o meio ambiente” (EPA, 2002, p. 5, tradução nossa)6.

6 “An effective ISWM system considers how to prevent, recycle, and manage solid waste in ways that most

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 45 Nesse sentido, a LPNRS também consolida essa multidimensionalidade do conceito de gestão integrada de resíduos sólidos, definindo-a como um: “Conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável” (art. 3º, XI).

Mais especificamente, a administração dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e as políticas governamentais devem vislumbrar simultaneamente todas as fases do processo, buscando reduzir sua geração e investir no processo de tratamento7 dos resíduos gerados para que possam ser reutilizados ou aproveitados pelo sistema econômico, dispondo somente rejeitos em aterros sanitários ou alternativas tecnológicas de destinação de resíduos, alcançando, com isto, um sistema circular de manejo do lixo produzido (LIMA, J.D., 2001, p. 29).

Em seu artigo 19, ao tratar sobre o PGIRS, a LPNRS acaba por concretizar importantes requisitos da gestão e do gerenciamento de RSU, os quais são tratados de forma detalhada no capítulo 4. Eis os requisitos apontados:

a) gerenciamento compartilhado;

b) inclusão social e econômica dos catadores; c) coleta e transporte seletivos;

d) logística reversa; e) tratamento;

f) disposição de rejeitos ambientalmente adequada; g) mecanismos econômicos de sustentabilidade; h) controle social;

i) educação ambiental.

Assim, para se alcançar a sustentabilidade na geração de RSU, o poder público deve estabelecer políticas e ações que considerem todas as fases da produção de resíduos em sua forma conjunta, considerando-se suas inter-relações e interferências recíprocas (gestão e gerenciamentos integrados), com participação efetiva da população no processo de estabelecimento dessas políticas e ações.

7 "Treatment’ means the physical, thermal, chemical or biological processes, including sorting, that change the characteristics of the waste in order to reduce its volume or hazardous nature, facilitate its handling or enhance recovery” Diretriz do Conselho da União Européia de 26/04/1999, disponível em: <http://eur- lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31999L0031:EN:HTML>. Acesso em: 13 out.2008.

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 46 À luz do conceito de poluição apresentado pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA), qual seja, a degradação da qualidade do meio ambiente ocasionada pela atividade humana8, verifica-se que os vazadouros de lixo apresentam características poluentes que se enquadram em todas as definições da referida lei, vez que entre os aspectos negativos desta atividade, conforme aponta Weiner (2003), podem-se citar: a) associação entre mais de 20 doenças humanas com lixões; b) atração de roedores, aves e outros animais; c) proliferação de moscas; d) contaminação do lençol freático e das águas superficiais; e) poluição atmosférica; f) poluição visual.

Vale ressaltar ainda que o chamado aterro controlado também é atividade poluente, vez que tal denominação é utilizada para a disposição final no solo em que são adotadas algumas medidas de controle, mas estas não são suficientes para evitar a degradação ao meio ambiente. Por isso, tal atividade não é passível de licenciamento ambiental. Nesse sentido, Santos afirma que:

Antes de se descrever os aterros sanitários, é importante que seja desfeito o equívoco que existe entre aterros sanitários e outras formas de disposição final como aterros controlados, lixões, vazadouros, entre outros. Para a engenharia sanitária, a única forma adequada de disposição final de resíduos sólidos no solo é o aterro sanitário. Os lixões, ou vazadouros, são depósitos de lixo a céu aberto, onde nenhuma medida para controle da poluição é executada. Nos chamados aterros controlados, uma ou outra medida de controle como impermeabilização, drenagem pluvial, de gases ou de chorume, recobrimento, controle de tráfego, etc. é realizada. No entanto, como se pode observar, dependendo do local onde está instalado, o aterro controlado pode provocar tanta poluição quanto um lixão. (2007, p. 39, grifo nosso).

O largo espectro poluente dessas atividades de disposição incorreta de resíduos é apresentado por Lima (2004, p. 10) na figura 1, sobre parte do ciclo de contaminação do lixo:

8 “Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

II - degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

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Figura 1: ciclo de contaminação do lixo (LIMA, 2004, p. 10).

Dentre os outros diversos aspectos negativos da utilização de vazadouros de lixo, pode-se citar também o não tratamento do metano gerado pela decomposição de resíduos orgânicos, um dos gases que contribuem para o efeito estufa (GEE)9. Ressalte-se que o metano tem o potencial de contribuir 75 vezes mais (variação de 21 a 75 vezes conforme a linha de tempo adotada) para o efeito estufa do que o CO210.

É importante destacar ainda que, ao contrário dos vazadouros e dos aterros controlados, os aterros sanitários, por sua própria definição, são projetados para eliminação ou aproveitamento energético do metano gerado, ocupando tal atividade, atualmente 11% do mercado global de carbono (UNEP, 2008, p. 25), implementado pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), oriundo do protocolo de Kyoto11(vigente desde 2005), com a redução de emissão de carbono CO2 ou equivalente compensada economicamente por

empresas ou fundos governamentais

Em relação à principal normatização técnica vigente no Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou normas tratando direta ou indiretamente sobre RSU, de observância obrigatória no campo técnico, destacando-se:

9 “Methane has increased as a result of human activities related to agriculture, natural gas distribution and

landfills”. (IPCC, 2007, p. 135).

10 Ibid. p. 212.

11 “Protocolo segundo o qual os quarenta países mais industrializados do mundo reduziriam suas emissões

combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012”. (LIMA, 2005, p. 207).

Capítulo 2 – Rumo à interdisciplinaridade 48 Quadro 1: Normas ABNT relacionadas a resíduos sólidos.

NBR OBJETO

8.418/1984 Apresentação de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos- Procedimento.

8.849/1985 Apresentação de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos – Procedimento.

8.419/1996 Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos – Procedimento.

8.843/1996 Aeroportos - Gerenciamento de resíduos sólidos. 9.690/2007 Mantas de polímeros para impermeabilização. 10.004/2004 Resíduos sólidos – Classificação.

10.005/2004 Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. 10.006/2004 Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. 10.007/2004 Amostragem de resíduos sólidos.

10.157/1987 Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto construção e operação. 10.664/1989 Águas - Determinação de resíduos (sólidos) - Método gravimétrico - Método de

ensaio