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CAPÍTULO 5 – RECORTANDO A HISTÓRIA

5.2 NOVA REPÚBLICA (1985-1989)

A Nova República indica o fim do longo período de transição política – da ditadura militar à reestabilização democrática – marcando a hegemonia dos partidos

de oposição (em 1986), promulgando a nova Constituição Federal (em 1988) e a eleição popular para presidente da República (1989).

Fausto (2001, p. 285) argumenta que, mesmo com a eleição de Tancredo Neves, a transição para o regime democrático não terminara e estaria sujeita ainda a imprevistos. Dentre os contratempos enfrentados pelo novo governo, o mais significativo foi, sem dúvida, o que envolve as circunstâncias relacionadas à morte de Tancredo que, antes mesmo de assumir a presidência, foi internado em Brasília por motivo de doença. Em março de 1985, o vice-presidente, José Sarney, tomou posse do cargo no Planalto, sob uma situação que se acreditava ser transitória.

Tancredo veio a falecer em 21 de abril de 1985, levando o país a lamentar, além da morte de um presidente em circunstâncias tão pungentes, a perda de uma figura política importante, em um momento frágil (FAUSTO, 2001, p. 285). No entender de Kinzo (2001, p. 7), esse fatídico determinante significava que a Nova República nascia sob circunstâncias bastante delicadas, especialmente para um presidente substituto que precisaria enfrentar a crescente crise econômica e social do país.

5.2.1 Governo Sarney (1985-1989)

Sendo substituto, Sarney tomou posse sem ter um plano de governo estabelecido. Contudo, o maior desafio a ser vencido foi sua falta de legitimidade no recente cenário político estabelecido (KINZO, 2001; FAUSTO, 2001). Como denomina Fausto (2001, p. 285), Sarney era um ―oposicionista de última hora‖, que deixou o PDS, passando à Frente Liberal pouco antes do lançamento da candidatura à presidência. Para Kinzo (2001, p. 7), a figura política de Sarney estava ―marcada por anos de vínculos com os militares‖ e, por esse motivo, ―assumia o poder sem o respaldo das urnas‖, além de não pertencer às ―fileiras do partido que esperava desta vez governar, o PMDB‖. No campo administrativo, Sarney ficou, assim, condicionado a fatores que atribuíram maior dificuldade a sua gestão.

No campo político, as primeiras medidas tomadas foram em relação às emendas à Constituição vigente, a fim de se revogar as leis provenientes da ditadura militar e respeitar as liberdades públicas. Essas emendas estabeleceram, entre outras determinações, as eleições diretas do presidente da República que sucederia Sarney, o direito de voto aos analfabetos, a legalização de todos os partidos

políticos, que tornou legais partidos de orientação comunista como o Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Brasileiro (FAUSTO, 2001, p. 286).

Em 1986, realizou-se a eleição da Assembleia Nacional Constituinte para elaboração da nova Constituição Federal. Os trabalhos da Constituinte perduraram de fevereiro de 1987 a outubro de 1988, quando foi promulgada a nova Constituição. A Carta política buscou representar os diversos grupos da sociedade, que trataram de fixar o máximo de regras no texto constitucional (FAUSTO, 2001, p. 288).

De fato, a Constituição de 1988 expressa bem os anseios da sociedade no período em que foi promulgada. Após vinte anos de ditadura e violação aos direitos humanos, a Carta Política de 1988 consagrou em especial os direitos individuais, dando atenção especial ao princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e aos direitos conexos a este princípio, como a proibição da tortura (5º, III) e a prática de racismo como crime inafiançável (5º, XLII), entre outros. Também consagra a Carta Magna os direitos sociais em capítulo específico, com atenção especial ao direito dos trabalhadores, bem como assegura a igualdade material em diversos momentos (art. 5º, XXXII, L, LXXIV, art. 6º, XVIII, XXV, entre outros exemplos), além de destinar título específico (Título VIII, arts. 193 a 250) para a ordem social (VAINER, 2010, p. 188).

Para Fausto (2001, p. 289), ―a Constituição pode ser vista como um marco que pôs fim aos últimos vestígios formais do regime autoritário‖. Sobretudo, ela representa a concretização das aspirações do povo brasileiro por um Estado realmente democrático.

Apesar da euforia no campo político e da sensação de vitória do povo sobre os direitos constitucionais conquistados, no campo econômico, entretanto, a sensação era de crise. Em 1985, a economia do país, que já estava fragilizada desde o final da década de 70, deu mostras de que havia entrado em colapso, atingindo a marca de inflação de 237% ao ano. Para contornar a situação, em 1986, o governo Sarney anunciou o Plano Cruzado, que previa a estabilização econômica a partir da implementação de medidas de congelamento de preços; de substituição da moeda corrente, o Cruzado, pelo Cruzeiro; de ―gatilho‖ salarial, determinando o reajuste dos salários sempre que a inflação chegasse a 20% ao mês (SILVA, 2000b, p. 394).

Os resultados imediatos da instauração do novo Plano refletiram em prestígio ao presidente, que convocou o povo a colaborar com o governo e a travar uma guerra de vida ou morte contra a inflação. A partir de então, instaurou-se um clima de otimismo generalizado no país. A exemplo, o índice de preços ao consumidor, que em janeiro de 1986 chegavam aos 15% ao mês, baixaram para praticamente

zero. "Como a manchete de alguns jornais sintetizava: 'o dragão da inflação era de papel'" (CASTRO, 2011a, p. 112).

A exaltação com o Plano foi efêmera, pois, com os preços congelados, o consumo aumentou, fazendo com que o congelamento fosse violado. Outro fator que levou à ruína o Plano foi o fortalecimento artificial da moeda que impulsionou as importações, resultando no desequilíbrio das contas externas (FAUSTO, 2001, p. 288). Ao final de 1986, o Plano já havia fracassado, contudo, os resultados desastrosos do plano ainda não eram perceptíveis para maioria do público.

Nas eleições de novembro de 1986, embalado pelo entusiasmo popular, o partido do governo, o PMDB, angariou maioria absoluta das cadeiras da Câmara de Deputados e do Senado. Além disso, elegeu 22 dos 23 governadores do país (FAUSTO, 2001, p. 288). Passadas as eleições, as medidas do plano tornaram-se ineficazes, a inflação voltou a subir e o país reiniciou mais um período de crise econômica. A credibilidade do governo havia diminuído e era crescente a indiferença ou condenação pela opinião pública (SILVA, 2000b, 395). O reflexo desse descontentamento da população pode ser evidenciado nas eleições de 1989, quando todos os candidatos buscaram marcar sua diferença com relação ao governo de Sarney. Ao final do governo, em março de 1990, o país enfrentou o mais um recorde de inflação, atingindo índice anual de 1.198,5% (SILVA, 2000b, p. 404).