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NOVAS METODOLOGIAS PARA EVITAR O INCUMPRIMENTO DOS CONTRATOS DE CRÉDITO DAS

FAMÍLIAS E DOS CLIENTES PARTICULARES

7.1 Consequências da recessão económica no rendimento das famílias e nos particulares – Breve apontamento

Em 2012 a economia portuguesa continuou o processo de ajustamento iniciado com o PAEF, a recessão agravou-se, o Produto Interno Bruto (PIB) registou valores negativos de 3.2 por cento face a uma redução de 1.3 por cento em 2011. Esta trajectória deveu-se á forte queda (6.6 por cento) de todas as componentes da procura interna. O consumo priva- do em 2012 apresentou valores negativos de 5.3 por cento afectando mais a componente de bens duradouros, em BdP (2012a) refere-se que este ajustamento foi mais forte que o ano anterior (-3.3 por cento) e resultou da diminuição do rendimento das famílias, das fracas expectativas sobre o futuro do mercado de trabalho, dificuldades nas condições de financi- amento da economia, da incerteza das medidas a adoptar na política orçamental e ao nível de ajustamento do desequilíbrio orçamental. Esta situação levou à redução dos níveis do consumo das famílias e «insere-se no processo de ajustamento da procura interna para ní- veis compatíveis com a produção e o rendimento dos agentes residentes» (BdP, 2012a:110). Esta adaptação das famílias resultou ainda de uma reavaliação do nível de endividamento em que assentava a sua prosperidade e com preocupações também em ade- quar os seus rendimentos ao novo cenário económico que conduzia a restrições de liquidez e a uma desconfiança acentuada nos consumidores. Em 2013 a economia portuguesa pros- seguiu o processo de ajustamento acordado entre o Estado Português a CE o BCE e o FMI. Alguns indicadores económicos continuam a ser negativos mas apresentam uma tendência de melhoria.

Quadro 7.1 – PIB e Principais Indicadores

Fonte: Elaboração própria com consulta à Direcção Geral do Orçamento – Conta Geral do Estado

(2013)

A crise económica e financeira atingiu de sobremaneira os particulares. Durante muitos anos registavam-se aumentos dos rendimentos e baixas taxas de poupança sendo o recurso ao crédito bastante facilitado com destaque especial na aquisição da habitação descurando muitas vezes a capacidade de pagamento dos devedores. O corte no acesso aos mercados financeiros evidenciou a vulnerabilidade em que assentava o sistema financeiro e já não conseguia suportar os fluxos necessários ao funcionamento da economia. O consumo de recursos financeiros era excessivo e resultou num enorme endividamento dos particulares mas o volume do crédito concedido tem vindo a diminuir nos últimos anos.

Figura 7.1 – Crédito concedido a particulares (Valores em milhões de euros - total e por finalida-

de)

Fonte: Elaboração própria com consulta à Pordata (Agosto /2014)

Foi necessário acentuar a forma como as instituições se relacionam com os seus clientes em todas as fases de relação de crédito direccionando as suas práticas para uma actuação mais prudente, transparente e correcta. A degradação generalizada da situação económica afectou a capacidade das famílias de pagar os créditos contratados registando-se, por esta via um aumento do incumprimento, com efeitos na materialização do risco de crédito. Existe incumprimento quando o cliente bancário não paga numa data acordada uma presta- ção do crédito que celebrou com o credor.

Figura 7.2 – Crédito concedido versus crédito vencido (habitação e consumo) Fonte: BdP (2014b:70)

O rácio de cobrança duvidosa regista uma trajectória ascendente desde 2008 no segmento dos empréstimos bancários a particulares para consumo e outros fins. O incumprimento do crédito à habitação aligeirou em 2013 registando o mesmo rácio uma pequena alteração negativa, a esta avaliação está associada uma significativa redução das taxas de juro do crédito à habitação que aliviou o esforço das famílias para pagar as suas responsabilidades.

Figura 7.3 – Taxas de juro de empréstimos bancários – particulares: habitação, novas operações

7.2 Reacção das autoridades ao crescente incumprimento

O problema do endividamento na sociedade portuguesa é sentido desde há muitos anos, em 2004 apresentava o valor de 109% do rendimento disponível passando para os preocupan- tes 130 % em 2009. Como se verifica na figura 7.2 a dívida dos particulares registou au- mentos desde o ano 2009 só inflectindo a partir de 2010. O incumprimento trouxe novas preocupações, o sobreendividamento atingiu a economia e a sociedade. Os compromissos contraídos têm que ser pagos (capital e juros) como salienta Ferrão (2012:2)

[O] capital tem de ser reembolsado e pagos os respectivos juros. Os indivíduos que consumiram para além dos seus rendimentos em períodos passados, vêem agora o seu rendimento encurtado pelo serviço da dívida. Em consequência, têm de ajustar os seus padrões de consumo para poderem acomodar as despesas, provenientes do crédito contraído em períodos anteriores.

A evolução do incumprimento levou o BdP a empenhar-se em aplicar medidas para mitigar o sobreendividamento das famílias e de outros clientes bancários e os pedidos de insolvên- cia. O processo legislativo respondeu para proteger os consumidores endividados com a implementação dos novos regimes de incumprimento, a revisão do regime de mora, intro- duziu alterações no crédito à habitação permitindo que outros créditos com garantia hipo- tecária beneficiem deste regime, foi reforçado o regime de crédito aos consumidores, im- plementou a Rede de Apoio ao Consumidor Endividado (RACE) estendendo estas iniciati- vas também aos Serviços Mínimos Bancários cuja revisão permitiu o acesso a estes servi- ços aos clientes possuidores de apenas uma conta.

Em BdP (2013d) é afirmado que nos últimos anos existiu um ajustamento neste mercado mas a percentagem das famílias com este tipo de dívida continua a ser das mais altas no contexto da ZE. Como se verifica no Quadro 7.2 a maioria dos empréstimos correspondem à aquisição de habitação. O montante de crédito concedido regista aumentos até 2011, altu- ra em que se dá uma contracção e que continua até 2013 mas com uma maior queda em termos percentuais no crédito ao consumo e outros fins apresentando o crédito a “Outros” valores residuais.

Quadro 7.2 – Endividamento dos particulares de 31/12/2009 a 31/12/2013

Endividamento dos particulares

Crédito Concedido (Milhões de Euros)

mês-ano dez-09 dez-10 Variação dez-11 Variação dez-12 Variação dez-13 Variação

Habitação 117.780 119.984 2.204 119.116 -868 115.030 -4.086 110.870 -4.160 Consumo e outros fins* 33.626 33.336 -290 30.677 -2.659 27.432 -3.245 25.160 -2.272

Outros** 1.963 2.147 184 2.330 183 2.280 -50 2.251 -29

Total do crédito 153.369 155.467 2.098 152.123 -3.344 144.742 -7.381 138.281 -6.461

Crédito Vencido (Milhões de Euros)

mês-ano dez-09 dez-10 Variação dez-11 Variação dez-12 Variação dez-13 Variação

Habitação 2.002 2.280 278 2.382 102 2.646 264 2.772 126

Consumo e outros fins* 2.455 2.834 379 3.221 387 3.237 16 3.296 59

Outros** 24 17 -7 47 30 36 -11 29 -7

Total vencido 4.481 5.131 650 5.650 519 5.919 269 6.097 178

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