• Nenhum resultado encontrado

A reserva de capital obrigatória para eventuais perdas na carteira de crédito – O capital regulamentar e o capital

6- A OFERTA/PROCURA DE CRÉDITO

6.2 A reserva de capital obrigatória para eventuais perdas na carteira de crédito – O capital regulamentar e o capital

económico

A actividade bancária terá forçosamente de enfrentar algum risco quando empresta dinhei- ro aos seus clientes, no crédito concedido o emprestador estabelece uma taxa de juro onde fica incluída um spread (prémio de risco) que será tanto maior quanto maior for o risco, na sua remuneração nominal está associado o lucro económico e a varável risco. A entidade de supervisão obriga a que as instituições reservem o capital suficiente para enfrentar as possíveis perdas nas suas carteiras de crédito, esse capital (especificamente o regulamen- tar) tem que ser o suficiente para garantir que em casos extremos uma instituição não corra risco de insolvência. O regulador obriga a que exista uma adequada capitalização das insti- tuições devendo estas aplicar melhores prática na gestão de risco, esta preocupação resulta da extrema importância que o sistema financeiro tem na estabilidade económica. O capital é o “ADN” de uma instituição na medida em que» Financeiramente, o capital do banco está ligado à sua capacidade para emprestar aos clientes, para fazer aquisições e para re- munerar os accionistas através dos dividendos ou do buy back (se houver excesso de capi- tal)» (Amaral, 2003:6). A exigência de capital fica ajustado ao nível de risco e o “mix” de produtos disponíveis teve que ser adaptado em função do “consumo” de capital de cada

linha de negócio o que permite uma melhor avaliação e gestão de risco. Na literatura iden- tificam-se dois tipos de capital necessário para cobrir as perdas: o capital regulamentar e o capital económico.

O capital regulamentar – é o capital mínimo exigido pelo regulador às instituições, o seu

valor é determinado pelo nível de confiança que o regulador deposita na estabilidade do sistema financeiro. Com Basileia II a mensuração do risco de crédito passou a integrar uma nova metodologia designada por VaR (Value-at-Risk) que já era utilizada para quantificar o risco de mercado. Esse capital deve garantir que cobre com um nível de confiança de 99,99% as perdas ocorridas por incumprimento dos empréstimos, o mesmo é dizer que apenas 0,1% não ficam garantidos e que o risco de insolvência dessa instituição num prazo de um ano é residual,» Desta forma o novo Acordo de Capital incorpora na vertente de crédito o conceito de valor em risco (Value-at-Risk, ou VaR) «. (Carvalho, 2009:324). Este tipo de capital serviu para cobrir o risco de crédito, risco de mercado e o risco opera- cional, a diferença do cálculo do capital mínimo obrigatório em relação ao acordo anterior reside na junção no denominador do risco operacional. Com Basileia III o Pilar 1, para além de introduzir um reforço no quadro global de capitais, acrescenta uma nova preocu- pação – o risco de liquidez e a sua supervisão.

O capital económico – É uma reserva de capital que a instituição constitui para responder

às perdas não esperadas, sobre este tipo de capital Amaral (2003:6) considera que o mesmo «é o capital que permite fazer face às perdas não esperadas, que têm uma muito pequena mas definida hipótese de ocorrerem». A reserva de capital deve ser apurada em função das orientações estratégicas da instituição e do grau de risco que está disposta a correr e assim ficar mais protegida de perdas não esperadas.

Uma instituição que tem um sistema de rating quando classifica os seus clientes em classes de risco pressupõe uma certa probabilidade de incumprimento por classe, associado a cada classe está ainda a frequência esperada de incumprimento e uma estimativa de perda de incumprimento. Com esta metodologia a instituição pode aplicar em cada classe de risco um spread a todos os clientes, as perdas esperadas ocorridas nessa classe são pagas por esses clientes que não entram em incumprimento, é o próprio mercado que fica com a in-

dera que o capital económico deve ser constituído com o propósito de facultar uma “almo- fada” capaz de responder às perdas não esperadas. Considera-se oportuno catalogar as per- das esperadas – aquelas em que existe a probabilidade de ocorrerem num curto espaço de tempo; enquanto as perdas não esperadas - são aquelas que traduzem a volatilidade das perdas esperadas ou nas palavras de Amaral (2003:6) são «as perdas em que se poderá ocorrer para além das perdas esperadas». Outra definição destes conceitos é a de Santos (2011:9) «Podendo-se dizer que, enquanto a perda esperada é a média da distribuição, a perda não esperada é o desvio padrão da distribuição que mede a volatilidade ou exposição potencial máxima para um determinado nível de confiança».

Figura 6.1 – Representação da distribuição das perdas em crédito Fonte: Brito (2005:17)

O capital económico atenua o risco e espelha o modo como a instituição “enfrenta” o risco na sua estrutura de capital. Para poupar em encargos de financiamento a instituição ou re- corre ao seu capital próprio para obtenção de um determinado nível de rating ou reduz esse capital e agrava o rating com consequências penalizadoras de juros quando acede a finan- ciamentos com capital alheio. O balanceamento entre manter o capital económico, para satisfazer inteiramente as suas obrigações ou reduzir o mesmo, terá que ser ponderado pe- las instituições no sentido em que uma adequação de capital em excesso leva a ineficiên- cias e representa maiores encargos, já a opção de reduzir o capital económico liberta recur- sos que podem ser canalizados para operações financeiras mais rentáveis.

Um dos objectivos de Basileia II foi o de aproximar o capital regulamentar e o capital eco- nómico o que exigiu um esforço das instituições para aperfeiçoarem as suas técnicas de

análise e cálculo de risco na tentativa de optimizar o capital regulamentar. Este processo não ficou isento de críticas desde o seu lançamento, em Basileia I ficou manifesto que o modelo de regulação caracterizava-se por ser pró-cíclico, mais tarde no segundo acordo apesar das mudanças introduzidas pelas entidades responsáveis este problema manteve-se. A explicação de Stiglitz (2002) de pró-ciclicidade está relacionada com as regras que o Comité de Basileia aprovou, essas regras baseiam-se na utilização de medidas centradas em taxas de adequação de capital que têm que ser reforçadas quando o ciclo do negócio está em baixa e o volume do crédito concedido tende a reduzir, esta tendência e a obriga- ção de uma maior exigência de capital regulamentar para cada categoria de activo agrava a recessão económica.

Salienta-se ainda as preocupações que as entidades de supervisão manifestaram após a cri- se financeira de 2008 relacionadas com as fragilidades no mercado de crédito e onde se evidenciou que a regulamentação sobre os Fundos Próprios (Capital Regulamentar) era ineficiente, levando essas entidades a emitirem recomendações para não se confiar em de- masia no capital regulamentar apontando que o mesmo não deve ser o mitigador único das perdas originárias do risco de crédito.

As exigências de ajustamento dos requisitos de capital aos riscos foram reforçadas em Ba- sileia III e assentaram nos três pilares definidos no anterior acordo, nesses pilares há exis- tente regulamentação foram integradas novidades regulatórias entre as quais se destaca o reforço qualitativo e quantitativo da base de capital regulamentar e uma maior exigência na cobertura de riscos. No subcapítulo seguinte será analisada a evolução do quadro legal so- bre o risco de crédito em todos os acordos.

6.3 Propostas dos Acordos de Basileia para mitigar o Risco de

Documentos relacionados