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5- A GESTÃO DO RISCO NA BANCA

5.6. Risco e limites de concentração

num país». Pires (2002) concorda e acrescenta que uma elevada concentração de risco em relação a um cliente ou a um grupo de clientes pode afectar a solvabilidade de uma forma significativa. Sobre esta matéria o BdP considera na Instrução nº 5/2011:

[a] concentração de riscos constitui um dos principais factores potenciais de perda a que uma instituição de crédito se encontra sujeita. Num cenário de concentração, as perdas originada por um número reduzido de exposições podem ter um efeito despro- porcionado, confirmando o relevo da gestão deste risco na manutenção de níveis ade- quados de solvabilidade.

Cabe às instituições de crédito a responsabilidade de ter um processo de auto-avaliação como consta no Art.º 28 do Decreto-Lei 104/2007. Resulta da instrução acima exposta, no n.º 2.º, que o controlo do risco de concentração deve ser feito em base individual e consoli- dada.

Sobre o aspecto particular do risco de concentração de crédito a instituição tem que ponde- rar com rigor a exposição a este risco. O crédito a clientes representa uma percentagem significativa dos activos do balanço daqui resulta a importância de analisar os focos de concentração de crédito, se existir uma deterioração dos factores de risco idênticos ou cor- relacionados a qualidade de crédito agrava-se para todas as contrapartes.

Os riscos mais importantes de concentração de crédito sinalizados na Instrução 5/2011 do BdP e em ligação com o Decreto-Lei nº 104/2007 são:

«a) Exposições significativas a uma contraparte individual ou a um grupo de contrapartes relacionadas (“single name concentration risk “ ou grandes ris- cos”).

b) Exposições significativas a grupos de contrapartes cuja probabilidade de entrarem em incumprimento resulta de factores subjacentes comuns, como por exemplo: (i) o sector económico, (ii) a região geográfica e (iii) a moeda.

c) Exposições de crédito indirectas resultantes da aplicação das técnicas de redução de risco (exposição a um tipo de garantia ou protecção de crédito for- necida por uma contraparte)».

No Aviso 7/2010 do BdP estão referenciados os limites aos grandes riscos30, a ponderação destes riscos devem ter em conta os efeitos de redução de risco de crédito traduzidos nos

30 «Um risco assumido por uma instituição em relação a um cliente ou grupo de clientes ligados entre si é

termos dos artigos 8.º a 11.º do presente Aviso, depois desta abordagem é obrigação das instituições:

 Em relação a um cliente ou um grupo de clientes ligados entre si este risco não pode exceder 25% dos fundos próprios da instituição.

 Se estivermos perante um cliente ou um grupo de clientes, e estes sejam uma instituição, não poderá exceder 25% dos fundos próprios ou 150 milhões de euros, consoante o que for mais elevado.

 Tratando-se de filiais de uma instituição de crédito e filiais de uma compa- nhia financeira, o limite passa para 40%.

Sem autorização do BdP os limites, referidos anteriormente, devem ser respeitados em permanência. Caso estes limites sejam ultrapassados, por motivos alheios à actividade, a instituição tem obrigação de informar o BdP do facto e da origem, cabendo à entidade de supervisão determinar a regularização da situação (Aviso 7/2010 do BdP, Art.º 4.º). No mesmo Aviso, no Art.º 12.º, existe a obrigação por parte das instituições do dever de in- formação incluindo os casos referenciados de excepção aos limites (Art.º 8.º), cobertos por imóveis (Art.º 9.º), riscos garantidos por terceiros (Art.º 10.º) e mitigação de riscos (Art.º 11.º).

A instituição através da Instrução 23/2007 reporta ao BdP um conjunto de informações sobre os grandes riscos onde são identificados: os casos em que a instituição tem um gran- de risco sobre os clientes ou grupo de clientes que têm relações entre si; o valor da posição em risco antes e depois de ter em conta o efeito de redução do risco de crédito; os tipos de protecção de crédito (pessoal ou real) caso existam; as 20 maiores posições em risco numa base consolidada caso opte pelo método de cálculo de requisitos de capital que consta no Decreto-Lei 104/2007 nos artigos 14.º a 20.º.

No denominado caso BPN verificou-se que uma das causas da sua forçada nacionalização esteve relacionada com a concessão de crédito ao grupo seu proprietário, a Sociedade Lusa de Negócios (SLN). A administração do BPN como forma de contrariar a legislação de controlo desenvolve um esquema astucioso e fraudulento recorrendo a vários expedientes e instrumentos, estas acções tinham como objectivo essencial financiar ilegalmente a SLN e

outras empresas indirectamente controladas pelo Grupo, essa prática de financiamento co- locou em causa a solvabilidade do banco BPN. No relatório de inspecção de 2005 do BdP é referido em Assembleia da República (2009:123):

[E]m termos globais verificou-se que a carteira de crédito do BPN apresenta um risco considerável devido à elevada concentração existente, quer a nível de clientes (cerca de 19% do crédito está centrada em dezoito clientes, cujos riscos são superiores aos fundos próprios reportados pelo banco em 2,4 vezes), quer a nível sectorial (52 % das operações estão directa ou indirectamente relacionadas com a actividade imobiliária). Verifica-se, ainda, que o crédito concedido, directa ou indirectamente, aos vinte e cin- co maiores accionistas da SLN SGPS representa 9% dos riscos de crédito, peso que aumenta para 19% ao considerar o total do crédito concedido a accionistas e entidades relacionadas (ou duas vezes e meia o valor dos fundos próprios reportado pelo banco). Desde o início que o BdP levantou dúvidas quanto à estrutura do Grupo SLN/BPN, ao con- trário do que acontecia com a generalidade de outros grupos económicos era a SLN que dominava totalmente o BPN que passa a banco do Grupo, a forma de garantir a articulação entre as duas entidades é a eleição de José Oliveira e Costa para presidente de ambas. Logo no ano 2000 o BPN foi objecto de atenção mais cuidada, o BdP avisava que um banco não pode conceder ao grupo a que pertence um crédito superior a 30% dos fundos próprios do banco (Art.º 109.º n.º 2 do RGICSF). Os sinais persistentes de gestão danosa da adminis- tração de José Oliveira e Costa não foram prontamente corrigidos e arrastaram o banco para a nacionalização ficando a cargo da CGD até 2012. Com a reprivatização o BPN pas- sa a ser propriedade do banco BIC (pertencente a capitais angolanos) sendo o preço acor- dado de 40 milhões de euros, resta a todos os contribuintes pagar uma pesada factura nos próximos anos, à data de 31-12-2013 é apresentado pelo Tribunal de Contas (2014) o valor de -2.202.5 milhões de euros.

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