• Nenhum resultado encontrado

6- A OFERTA/PROCURA DE CRÉDITO

6.4 Precauções na Gestão de Crédito

6.4.1 S corin g e Rati ng na aval iação do crédi to

Os clientes quando se candidatam ao crédito devem ser avaliados sobre a sua capacidade de honrar os compromissos que pretendem assumir com o mutuário. Existem modelos sco-

ring que permitem avaliar o risco de crédito e que podem seguir uma abordagem mais teó-

rica ou empírica, como já foi mencionado na Introdução desta dissertação. Entre as poten- cialidades deste modelo constam a previsão de incumprimento no futuro e identifica, de uma forma automática, aqueles clientes que podem representar mais problemas em pagar. A pontuação de risco atribuída a cada cliente selecciona aqueles que podem aceder ao cré- dito, esta decisão ocorre depois de comparadas as informações obtidas com os dados de referência. Com o recurso a uma tabela de pontuação identifica-se a probabilidade do cli- ente respeitar o contrato de crédito com a instituição. Pereira (2012) afirma que o primeiro modelo estatístico de análise de crédito foi desenvolvido em 1945, estes métodos Credit

Scoring foram introduzidos no sistema financeiro e foram considerados fiáveis, salienta-se

BCBS através de Basileia II, incentivaram as instituições bancárias e de crédito a adopta- rem estas metodologias».

As vantagens em adoptar este método são, entre outras: a redução dos custos operacionais em resultado da utilização de processos automáticos na avaliação do crédito; exigência de análises mais objectivas, rigorosas e rápidas dos pedidos de crédito; proporciona flexibili- dade na política de risco logo que se identifica a necessidade de ajustar e definir novas prioridades consoante a fase de ciclo de crédito; a gestão pode controlar e monitorizar todo o processo de gestão de crédito e respectivas aprovações. Estes métodos não estão isentos de algumas limitações nomeadamente: por utilizarem informação histórica e por isso estão dependentes da qualidade dessa informação; não estão isentos de risco e a sua implementa- ção é dispendiosa; não consideram a ponderação e interpretação dos analistas que pode- riam fornecer informação qualitativa; dificuldade de avaliar e analisar os clientes particula- res por não disporem de informação suficiente.

O Rating surgiu para facilitar a avaliação do risco de crédito. Uma qualquer entidade quando vai ao mercado financiar-se emite títulos de dívida (papel comercial, obrigações, etc.). Para alavancar a operação recorre a empresas especializadas de rating (notação) de risco de crédito dispondo assim de maior credibilidade no mercado aumentando a probabi- lidade de sucesso da emissão já que os tomadores valorizam informações sobre o grau de risco em que podem incorrer. O rating aumenta a transparência da operação para «conse- guir um custo de capital mais atrativo» (Neves, 2012:476). Além de uma avaliação do risco de crédito este sistema gradua esse risco baseado em níveis previamente definidos que po- dem variar de acordo com as opções do analista (e da entidade que concede o crédito). As agências internacionais mais conhecidas de notação de rating são a Moody´s, Standard

& Poor´s (S&P) e Fitch. São nomes que nos habituámos a ouvir nos meios de comunica-

ção social e que influenciam as condições de financiamento em mercado mais direccionado para grandes empresas, municípios, bancos e com relevância também, com especial enfo- que nos últimos anos, no rating das dívidas soberanas que agravaram as condições de fi- nanciamento de alguns países e, por consequência, deixaram de ter condições para pagar os seus empréstimos. Os modelos de rating desenvolvidos resultam de uma avaliação que

(potencial) devedora regularizar no futuro o crédito concedido». O analista de crédito deve ter em linha de conta os resultados do emitente e centrar a sua atenção na tentativa de ava- liar os fluxos futuros de caixa operacionais, é nestes dois indicadores que assenta a capaci- dade de cumprir o serviço da dívida no futuro. Importa realçar que o rating era atribuído apenas a emissões de dívida de uma empresa, podia suceder que títulos emitidos pela mesma empresa tinham diferentes notações de risco para os seus detentores. Esta diferen- ciação deve-se: aos diferentes prazos de liquidez dos títulos emitidos, uma emissão a seis meses pode ter uma notação de risco diferente de uma emissão de três anos. Fica evidente que a capacidade de gerar fluxos de caixa em prazos alargados tem um grau de risco maior; a notação depende também das garantias associadas ao financiamento em caso de incum- primento, a inclusão de garantias reais e/ou garantias pessoais oferecem menor risco de crédito; associado aos elementos anteriormente referidos está o «montante (relativo) da operação, face ao total de ativos, cash flows» (Breia [et al.], 2014:66).

A classificação do rating a títulos de dívida de uma empresa proporcionava confusão ao público em geral. A comunicação ao mercado de determinado rating dizia respeito a uma emissão de dívida que estava a ser avaliada e não à empresa no seu conjunto como era en- tendido. Para clarificar esta situação e satisfazerem os seus interesses comerciais as agên- cias passaram a classificar directamente as empresas sem levar em conta as características da emissão. Para Neves (2012) ficou a percepção que esta nova metodologia afectou a cre- dibilidade dessas agências mais evidenciada no período 2007/2008 quando eram bem clas- sificadas empresas não financeiras, seguradoras e bancos mas quase nesse instante algumas declaravam falência. Regista-se o que refere Krugman (2012) sobre a classificação de cré- dito de alguns activos com a máxima qualidade de crédito -AAA- por reputadas agências (incluídas as três referidas no parágrafo anterior) mas que quase nada valiam e se transfor- maram em “lixo tóxico”. Sem a devida cautela e por acreditarem nessas agências «Algum desse lixo tóxico tinha sido descarregado sobre incautos compradores, como o sistema de reformas dos professores da Flórida» (Krugman, 2012:124). Esta propagação do falhanço das agências de rating de crédito atingiu também as dívidas soberanas que passaram a ser classificadas como lixo em Portugal, Irlanda e Grécia e arrastou para essa classificação os bancos desses e de outros países agravando as condições de acesso ao crédito.

Quadro 6.9 – Notas e significado de notação de rating das três principais agências internacionais

Fonte: Pereira (2012:Anexos) 6.4.2 I mparidad es p ara crédi to

das respetivas perdas incorridas. Os critérios e princípios seguidos pelas instituições sujei- tas à supervisão do BdP devem ser prudentes na mensuração da imparidade da carteira de crédito obrigando também a considerar outros aspectos relevantes como a divulgação rigo- rosa da qualidade dos activos e as práticas de gestão de risco seguidas, conforme o disposto nas Normas Internacionais de Contabilidade. As melhores práticas contabilísticas avaliam se no final de cada período existe evidência objectiva, de uma exposição ou grupo de expo- sições, de imparidade. As perdas incorridas na carteira de crédito devem ser identificadas de uma forma tempestiva e reconhecidas na conta de imparidade apropriada a cada seg- mento de crédito. Estas práticas foram reforçadas por várias acções inspectivas, desde o ano 2011, por parte do BdP que foi assessorado por outras entidades independentes para apurar a qualidade dos activos. Voltando ao exemplo da CGD [CGD(2013a:127)], foram implementadas melhorias no processo de notação de risco de crédito com o acompanha- mento do BdP. Uma melhoria registada neste período consistiu na» [...] integração de todo o processo de análise individual de imparidade num workflow automatizado, cuja entrada em produção ocorreu no final de 2013 «. Este modelo foi desenvolvido respeitando as di- rectrizes da IAS 39, tendo como objectivo apurar e monitorizar os créditos onde existem evidência ou indícios de imparidade obrigando a que sejam revistos anualmente para serem ajustadas às condições presentes do mercado. A abordagem do modelo de imparidade se- guida é descrita em CGD (2013a:128):

 «Análise Colectiva de Imparidade – para as exposições consideradas individualmen- te não significativas, determina-se as provisões por imparidade por subsegmentos de risco, que englobam ativos com características de risco similares (nomeadamente segmento de crédito, tipo de colateral, histórico de comportamento de pagamento, entre outras);

 Análise Individual de Imparidade – no caso de clientes com exposições consideradas individualmente significativas, é efectuada uma avaliação individual, com periodici- dade trimestral, que envolve as áreas comerciais da CGD, a área de recuperação de crédito e a área de gestão de risco».

O BdP considerou necessário enveredar por uma supervisão mais intrusiva dos bancos, para esse efeito recorreu a programas transversais de inspecções onde se incluem dois pro- gramas: o Programa Especial de Inspecções (SIP – Special Inspections Programme) com referência a 30 de Junho de 2011 e o Programa de Inspecções (“OIP - On-site Inspections

Programme”) com referência a 30 de Junho de 2012 aos oito maiores grupos bancários a

inspecções tinham como objectivo assegurar que as instituições aplicam critérios conser- vadores e robustos quando é necessário calcular as imparidades nas suas carteiras de crédi- to. Os últimos programas desenvolvidos denominam-se: ETRICC e ocorreram com refe- rência a 30 de Abril de 2012 e Setembro de 2013. A monitorização destes programas coube ao BCE, CE e FMI no âmbito do PAEF, a sua execução foi realizada pelo BdP com o con- tributo de empresas de auditoria independentes das instituições inspeccionadas «visando garantir que, numa base de permanência, as contas dos bancos reflictam adequadamente o valor do seus bens ativos e que as imparidades constituídas se situem em níveis apropria- dos.» (BdP, 2014b:30). No primeiro programa (SIP) considerou-se que existia uma insufi- ciência de 838 milhões de euros para a carteira de crédito, valor representativo de 0,3% do total do universo considerado (BdP, 2013b).

Entre Julho e Novembro de 2012 realizou-se o programa OIP direccionado para os sectores de construção e da promoção imobiliária. O total das exposições consideradas nesta amos- tra atingiu 69 mil milhões de euros. Dessa população foi extraída uma amostra de 2856 entidades representativa de 56% da população e com uma exposição de 39 mil milhões de euros. Depois da análise efectuada e para a mesma data de referência (30 de Junho de 2012) foram contabilizadas necessidades de 861 milhões de euros no valor de imparidades. Em 2013 surge uma nova inspecção conhecida por ETRICC às carteiras de crédito dos oito maiores grupos bancários em Portugal com referência a 30 de Abril de 2013. A este propó- sito foi considerado um total de crédito de cerca de 93 mil milhões de euros incluindo ex- posições extrapatrimoniais, onde se incluem linhas de crédito irrevogáveis e garantias con- cedidas. Como referido em BdP (2014g) esta inspecção estudou 2.206 entidades com valo- res de exposição repartidos em 44.2 mil milhões de euros no balanço e 8.9 mil milhões de euros em extrapatrimoniais. Os critérios de avaliação estimaram uma quantia de 1.1 mil milhões de euros de reforço das imparidades, situação corrigida pelas instituições no final de 2013. O último exercício envolveu clientes com grande relevância nestes grupos bancá- rios, neste caso o ETRICC2 estimou valores de reforço de provisões e imparidades de mil milhões de euros.

Figura 6.12 – Desenvolvimentos da supervisão para estimar as imparidades na carteira de crédito Fonte: Costa (2014a:17)

Na figura seguinte apresentam-se as imparidades para crédito constituídas pelas institui- ções entre o período de 2009 a 2013. Os valores registados estão desde 2009 em crescendo, somente o Millennium BCP apresentou um valor inferior (2013) ao ano anterior.

Figura: 6.13 – Constituição de imparidades para cobertura de crédito nos oito grupos bancários Fonte: Elaboração própria com consulta ao Boletim Estatístico Anual da Associação Portuguesa de

Bancos (2010,2011,2012) e Relatório e Contas

Documentos relacionados