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4 I MPLICAÇÕES DA FINANCEIRIZAÇÃO DO CAPITAL NO REPOSICIONAMENTO ECONÔMICO DE CIDADES NA RMR E G OIANA E NA REESTRUTURAÇÃO

4.2 O novo contexto econômico e os reinvestimentos nos núcleos de desenvolvimento da RMR

4.2.1 Novos arranjos institucionais (políticos e legais)

Como se pode observar na seção 4.1 sobre a institucionalização da RMR, a mesma foi acompanhada pela criação de instrumentos de planejamento e gestão, capazes de lidar com o desenvolvimento da região. Entretanto, ainda que muitos projetos tenham sido executados, muitas outras ações enfrentaram dificuldades de implementação, em virtude de múltiplas questões burocráticas no âmbito institucional que as regulavam.

Após a descentralização política e econômica, que conferiu maior autonomia aos municípios, os órgãos de planejamento metropolitano enfrentaram algumas dificuldades, até que se redesenhou seus papéis e funções nos anos 1990, conforme abordado anteriormente. Contudo, os anos 2000 impuseram novos desafios e novas urgências no cenário cada vez mais competitivo do mercado financeirizado, demandando novas atualizações no funcionamento das instituições, agentes econômicos e suas cooperações.

Desta forma, observa-se quem em 2003 ocorre a fusão do Instituto de Planejamento de Pernambuco (CONDEPE) com a Fundação de Desenvolvimento Municipal e Metropolitano (FIDEM), formando a atual Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco – CONDEPE/FIDEM. A mesma incorporou as funções anteriores dos órgãos, mas com uma nova concepção de funcionamento e de estruturação, que segundo o sítio na internet da agência, apoia-se em um novo modelo gerencial descentralizado, com foco em resultados, articulando e firmando parcerias com diversos atores públicos e privados, visando garantir o desenvolvimento e a harmonização de suas intervenções (CONDEPE/FIDEM, 2016). O que sintoniza com os princípios dos novos arranjos institucionais que começam a se formalizar.

Também em virtude do contexto político e econômico, ocorreram alterações na SUDENE, que chegou a ser extinta em 2001, sendo criada em seu lugar a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE), por meio da Medida Provisória nº 2.146, de 04 de maio de 2001. Orientava-se naquele período, conforme salienta Diniz (2009), a extinção das

Superintendências de Desenvolvimento Macrorregional, entendidas como redutos das políticas desenvolvimentistas, que não representariam a nova concepção e papel do Estado, e que além disso, alegava-se a existência de corrupção54. Ou seja, sinalizava-se a necessidade de

readequação das instituições voltadas ao desenvolvimento.

Entretanto, a substituição da SUDENE pela ADENE sofreu rejeição da sociedade nordestina, por não conter uma política clara de desenvolvimento, foi considerada inadequada, em virtude, inclusive, da sua configuração institucional. Dessa maneira, a Sudene foi recriada pela Lei Complementar nº 125/2007, sendo composta por Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE); Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE)55; e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE)56 (SUDENE, 2016).

Além dessas readequações ao contexto, que se cristalizava, incita-se atenção para outro arranjo institucional: a criação e difusão das PPPs, conforme tratadas no segundo capítulo. Que possibilitou a participação do setor privado na infraestrutura pública e a ampliação da realização de consórcios públicos e experiência de prestação de serviços públicos em setores específicos. No Estado de Pernambuco, a Lei nº 11.079, que dispõe sobre as PPPs, levou a criação do Programa Estadual de Parcerias Público-Privadas, pela Lei Estadual nº12.765, o qual define que as PPPs devem ser geridas pelo Comitê Gestor do Programa Estadual de Parcerias Público- Privadas (CGPE) (PERNAMBUCO, 2005a). Além disso, o governo instituiu, em seguida, o Fundo Estadual Garantidor das Parcerias Público-Privadas, por meio da Lei Estadual nº 12.976, com a finalidade de prestar garantia de pagamento de obrigações pecuniárias assumidas pelos parceiros públicos estaduais, em virtude das parcerias (PERNAMBUCO, 2005b). O que revela a percepção do estado sobre a importância das parcerias no contexto econômico financeirizado.

54 Naquele contexto, foram mantidos apenas: a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), o BNB e o Banco da Amazônia (BASA) (DINIZ, 2009).

55 O FNE visa contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, através de instituição financeira federal de caráter regional, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos e em consonância com os respectivos planos regionais de desenvolvimento. Destina-se aos produtores e empresas, pessoas físicas e jurídicas, além das cooperativas de produção, que desenvolvam atividades produtivas nos setores agropecuário, mineral, industrial, agroindustrial, de empreendimentos comerciais e de serviços na área de atuação da SUDENE (SUDENE, 2016).

56 O FDNE tem por finalidade assegurar recursos para a realização de investimentos na área de atuação da SUDENE, em infraestrutura e serviços públicos e em empreendimentos produtivos, com grande capacidade germinativa de novos negócios e novas atividades produtivas. Tendo por agentes operadores, a partir da Lei nº 12.712/2012, as agências financeiras oficiais federais, preferencialmente o BNB, o que consolida o processo de financeirização desses fundos. Uma vez indicado pelo empreendedor, o agente se torna responsável integralmente pelo risco da operação. Ambos os fundos eram geridos pela extinta ADENE e foram reformulados no momento da recriação da SUDENE (Ministério da Integração Nacional, 2016). Anteriormente à Lei, o Tesouro assumia 90% dos riscos dos financiamentos aprovados, ficando o restante a cargo dos agentes operadores. No modelo financeirizado, a mudança viabiliza a circulação do fluxo financeiro sem impactar no resultado primário do Tesouro Nacional, o que permite a efetivação de liberações oportunas (SUDENE, 2016).

Foram contempladas ainda, por algumas legislações municipais, a exemplo do Recife e de Jaboatão dos Guararapes, as operações urbanas consorciadas. Em que cada lei específica de criação da OUC poderá prever a emissão pelo município de uma determinada quantia de CEPACs, que poderão utilizar como garantia para obtenção de financiamento (RECIFE, 2008; JABOTATÃO DOS GUARARAPES, 2010).

Ademais, salienta-se a criação de agências com poderes excepcionais, tanto de tomada de decisão, quanto de intervenção que fortalecem os novos arranjos institucionais. A AD DIPER, conforme já abordado, embora seja da década de 1960, recria-se para assumir as funções atuais, com ênfase no desenvolvimento econômico, a partir da década de 1990. Além desta, tem-se a Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (AGEFEPE), criada pelo Decreto de nº 35.156, de 11 de junho de 2010, suas operações foram iniciadas em 2011 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos habitantes. A AGEFEPE fica autorizada a firmar convênios, termos de cooperação e outros ajustes com órgãos e entidades da administração direta e indireta da União, dos Estados e Municípios, bem como com organismos internacionais, tendo em vista a obtenção de recursos financeiros, materiais e humanos necessários à consecução do seu objeto social, obedecida a legislação própria para cada caso (PERNAMBUCO, 2010a).

A AGEFEPE busca a interiorização e o desenvolvimento econômico das micros, pequenas e médias empresas, bem como dos empreendedores individuais, estimulando a competitividade e a internalização dos efeitos positivos do avanço econômico (AGEFEPE, 2016). Ampliando a rede que poderia absorver o excesso de liquidez de capital que estava presente no mundo.

A criação e adaptações dessas agências no âmbito estadual, foram ainda acompanhadas pela criação de agências municipais, para lidar e orientar o desenvolvimento econômico e municipal, a exemplo da Agência de Desenvolvimento Econômico de Igarassu (ADEMIG) e Agência de Desenvolvimento de Goiana (AD GOIANA). Consolidando, desta forma, os novos arranjos institucionais.

Entretanto, é importante ressaltar, que essas alterações permitiram transformações outras nos âmbitos: político, com novas coalizões políticas e a redefinição de agendas, prioridades, e no âmbito legal, criando normais próprias e específicas para cada caso. Sugerindo a ideia de que a política tradicional teria que dar lugar a nova urbanidade, as novas possibilidades, conforme salientam Swyngedouw et al. (2002), ideia essa consonante com a perspectiva no mundo na era da financeirização. Esses aspectos serão ainda melhor evidenciados, como já citado, nos estudos em profundidade dos recortes territoriais definidos.

Com esse conjunto de alterações, os altos volumes de aporte de capitais puderam ser absorvidos de maneira mais rápida, por meio de grandes obras de infraestrutura urbana produtiva, e grandes projetos imobiliários. Todavia, em um regime permissivo, que embora tenha-se um direcionamento para os investimentos baseado em intenções antigas, observadas nos planos anteriores, as intervenções têm estado dissociadas de políticas públicas urbanas mais amplas, atualizadas e integradas de desenvolvimento socioespacial.

Desse modo, antes de abordar as grandes intervenções urbanas, apresenta-se uma breve caracterização socioeconômica dos municípios da RMR, com a inclusão de Goiana – por ser também objeto de estudo desta tese – a fim de melhor vislumbrar os impactos das transformações recentes, a partir dos respectivos contextos.