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4 CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.1 O CAMPO DE INVESTIGAÇÃO

Situado no litoral sul do Espírito Santo, o Campus Piúma do Ifes foi inaugurado em 16 de julho de 2010, conforme mostra a placa abaixo.

Figura 1 – Placa de Inauguração do Ifes Campus Piúma

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A história do Campus Piúma, entretanto, remonta a uma época ainda mais antiga, isto porque a área onde o Campus hoje se estabelece fundiu-se àquela pertencente à Escola de Pesca de Piúma – ESCOPESCA (BASÍLIO; BODART, 2016).

A Escola de Pesca de Piúma – ESCOPESCA – foi criada pelo Governo do Estado do Espírito Santo, através da Portaria SE nº 2283, de 06 de novembro de 1986 e aprovada pelo Conselho Estadual de Educação através da Resolução CEE nº 88/86. A partir de 13/07/2005 passou a ter como entidade mantenedora a Prefeitura Municipal de Piúma, segundo a Resolução CEE/ES nº 58/05, o Convênio nº 149/2005 (Anexo D), publicado no DIO-ES de 13 de julho de 2005 (municipalização do ensino fundamental) e a Portaria nº 101-R, de 03/08/2005 (Anexo E), publicada no DIO-ES em 04/08/2005.

Segundo Paulics (2001, p. 48), “em meados de 1986, a Secretaria de Educação do Espírito Santo constatou a inexistência de cursos profissionalizantes que considerassem as características econômicas das diversas regiões do Estado”. De acordo com a autora, embora a pesca fosse uma alternativa de renda para grande número de famílias do litoral capixaba, “os filhos dos pescadores não seguiam esta atividade, pois a profissão de pescador era muito pouco valorizada socialmente: o apelo do setor de serviços, como o trabalho em escritórios ou o atendimento a turistas, era muito maior”.

Essa demanda que surgiu espontaneamente devido à geografia, territórios e sazonalidade do município de Piúma, levou o então Governo do Estado do Espírito Santo a oferecer “aos filhos de pescadores a oportunidade de se qualificarem para a atividade pesqueira, profissionalizando-os em diversas etapas da cadeia produtiva” (PAULICS, 2001, p. 49), de onde surgiu, em 1987, a Escola de Pesca de Piúma. Numa via de mão dupla, afirma Paulics (2001, p. 49), a “Secretaria pretendia ampliar a rede de ensino fundamental da região (que, na época, atingia pouco mais de 30% das crianças e adolescentes em idade escolar)”.

O advento da Escola de Pesca no município acabou por criar indiretamente o embrião do que hoje conhecemos como Campus Piúma do Ifes.

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profissionalizante, mas ensino fundamental II, até a antiga 8ª série. Assim, para as atividades cotidianas de ensino, “a Escola de Pesca contava com uma equipe constituída por um diretor, uma merendeira, uma secretária, dois serventes, oito professores para as matérias do núcleo comum e três instrutores para as matérias profissionalizantes no setor pesqueiro” (PAULICS, 2000, p. 52). As disciplinas da área técnica ministradas abarcavam os seguintes componentes: Mecânica Naval, Carpintaria Naval, Educação Ambiental, Arte de Pesca, Captura e Navegação, Legislação Pesqueira, Tecnologia do Pescado e Natação.

A ESCOPESCA foi, em boa medida, uma derivação dos anseios e da história que se constituiu no entorno do “arranjo produtivo” do município que hoje denominamos Piúma.

A matéria que segue, veiculada em jornal da época, demonstra a importância da ESCOPESCA não apenas para Piúma, mas para toda a região sul-litorânea que, via de regra, apoiava-se fortemente no setor pesqueiro.

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Figura 2 – Matéria jornalística sobre a ESCOPESCA

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Segundo a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1959, p. 95), material divulgado pelo IBGE, a localidade de Piúma foi

Criada pela Lei provincial nº 14, de 4 de maio de 1883, para fazer parte, como distrito do então município de Benevente (hoje Anchieta). [...] a atual vila de Piúma tomou inicialmente o nome de Nossa Senhora da Conceição de Piúma. Consequente ao grande incremento que tomou dentro de pouco tempo, em 19 de janeiro de 1891, foi instalado o município de Piúma, com território desmembrado do de Benevente. Em face da Lei estadual nº 81, de 18 de novembro de 1904, foi criado no município de Piúma o novo distrito de Iconha, que teve sua povoação elevada à vila, erigida em sede do município. Este, porém, manteve-se sob a antiga designação, até 3 de julho de 1924, data em que passou a chamar-se Iconha, pela Lei Estadual nº 1.428 (grifo nosso).

O município de Piúma, portanto, como conhecemos hoje, obteve a emancipação político-administrativa em 24 de dezembro de 1963, através da Lei Estadual nº 1.908 (Anexo C). Com 8 km de praias, o município tem como fonte histórica de renda os recursos pesqueiros. Nesse contexto, atividades secundárias servem-se da pesca e dos conhecimentos historicamente produzidos pelos seus trabalhadores. É assim que encontramos nos períodos de “defeso” – momento de reprodução do pescado em que a pesca é proibida – inúmeros trabalhadores que migram para atividades como retirada de mexilhões, artesanato de conchas, construção de redes e outros equipamentos vinculados à atividade pesqueira, reparo de barcos e demais atividades afins.

Essas atividades vinculam-se às bases sociais, históricas, técnicas e tecnológicas, amplamente discutidas no Curso de Aquicultura, segundo o que se extrai do PPC do referido curso:

A formação técnica e a capacitação de recursos humanos especializados à área de recursos pesqueiros são fruto de esforço de articulação e negociações entre o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a SETEC/MEC e a rede de educação profissional nos Institutos Federais, a exemplo, o IFES. Com base em uma formação com preceitos ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis (IFES, 2013, p. 7).

Diante deste cenário é que se vê, face ao advento, dentre outros ditames legais, da Lei nº 11.892/2008, o surgimento do Campus Piúma do Ifes no formato hoje estabelecido.

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desde a antiga Escola de Pesca, de onde muito, para além da cultura e expectativa nela vivas, foi absorvido.

Inicialmente, através do Termo de Cessão de Uso de Bem Público nº 01/2009 (Anexo F), as instalações da antiga Escola de Pesca passaram a integrar o patrimônio do Campus Piúma. Os antigos prédios onde as aulas eram ministradas foram remodelados e convertidos em laboratórios com tecnologia de ponta voltada para as áreas de pesca e aquicultura, cursos pertencentes ao eixo de recursos pesqueiros desenvolvido pelo campus.

Posteriormente, através do Contrato de Cessão de Uso Gratuito (Anexo G), firmado entre o Ifes e a Superintendência do Patrimônio da União, as áreas fronteiriças à antiga Escola de Pesca foram cedidas ao Instituto Federal para construção do prédio administrativo, salas de aula, outros laboratórios, cantina, cozinha e estacionamento.

Vale destacar que este resgate histórico sobre o Campus Piúma busca em várias medidas compreender por meio não apenas do presente, mas de um passado próximo, os caminhos e trajetórias do processo de escolarização hoje desenvolvido na região e, por conseguinte, no Campus Piúma. Esse resgate reafirma a identidade e a “vocação” de um campus que acredita na historicidade social do seu entorno e na comunidade escolar. Por isso o uso recorrente, nessa seção, de documentos oficiais e fotografias, uma vez que, conforme Ciavatta (2012), “o sentido da fotografia vai além do objeto fotográfico e da imediaticidade da comunicação visual. A mediação se situa no campo dos objetos problematizados nas suas múltiplas relações no tempo e no espaço, sob a ação de sujeitos sociais”.

Abaixo, verificamos um pouco deste processo histórico de transformação, por meio de fotografias, a partir do qual o Campus Piúma alçou lugar entre as melhores escolas públicas do país.

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Figura 3 – Escola de Pesca de Piúma

Fonte: Sítio eletrônico Mapio (2019)

Figura 4 – Escola de Pesca de Piúma

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Figura 5 – Ifes Campus Piúma

Fonte: arquivo do pesquisador (2019)

Figuras 6 – Atividades de extensão na área da Cantina

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Figuras 7 e 8 – Atividades de ensino no Auditório do Campus Piúma

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Atualmente, o Campus conta com 50 servidores docentes e 44 servidores técnico- administrativos. Desse total de profissionais, 30 participaram do processo de entrevistas.

Os professores do Campus Piúma são distribuídos em coordenadorias, que se subdividem em Coordenadoria de Pesca, de Aquicultura e de Engenharia de Pesca. Cabe a cada coordenadoria gerir os processos que envolvem o seu curso e organizar o trabalho junto aos professores que dela fazem parte. Na Coordenadoria de Aquicultura são lotados dezessete docentes, ainda que número maior de profissionais docentes ministrem aulas para o curso. A formação dos docentes é variada, indo dos licenciados nas ciências propedêuticas aos bacharéis em Engenharia de Aquicultura, Engenharia de Pesca e Engenharia Naval.

No entanto, as coordenadorias não influenciam a disposição dos professores em suas respectivas salas. Assim, um professor que pertence à Coordenadoria de Pesca pode estar lotado numa mesma sala de professor que um da Coordenadoria de Aquicultura. Esse fato, em certa medida, facilita o intercâmbio de informações entre os cursos que são ofertados pelo campus.

Os pedagogos e um técnico de assuntos educacionais, por sua vez, pertencem a uma única Coordenadoria, que cuida do assessoramento aos professores, alunos e cursos do campus. Neste caso, o contato de cada pedagogo acaba sendo mais estreito com os professores que ministram as disciplinas nos anos (séries) que fazem parte do “portfólio de atuação” de cada pedagogo. A exemplo, a disciplina de Arte não é ministrada nos primeiros anos, e a disciplina de Educação Física não é ministrada nos terceiros anos. Assim, durante todo um ano letivo o pedagogo pode não ter contato direto com o respectivo professor daquele componente curricular, uma vez que não faz parte do círculo de ação aquele componente naquele ano (série) com o qual desempenha suas atividades pedagógicas.

No caso específico do curso objeto desta pesquisa, há dois pedagogos que dividem turmas entre si do respectivo curso, dando o suporte pedagógico necessário a pais, alunos e professores cotidianamente.

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O Curso Técnico em Aquicultura Integrado ao Ensino Médio do Ifes – Campus Piúma, por sua vez, possui 254 alunos, distribuídos em oito turmas, sendo quatro delas em cada turno, matutino e vespertino. Cada período – matutino ou vespertino – conta com uma turma de cada ano, uma vez que o curso possui periodicidade de quatro anos.

Do número de alunos total (254), por sua vez, 78 são provenientes do município de Piúma, 52 de Anchieta, 36 de Itapemirim, 40 de Marataízes, 8 de Alfredo Chaves e 26 de Iconha. Os demais, 14 alunos, são provenientes dos municípios de Cariacica, Vila Velha, Vitória, Guarapari, Cachoeiro de Itapemirim, Mimoso do Sul, Presidente Kenedy e Rio Novo do Sul.

No que tange à distribuição da carga horária e dos componentes curriculares, o Curso de Aquicultura tem periodicidade de 4 anos e carga horária total de 3570 horas, conforme tabela abaixo:

Tabela 1 - Componentes curriculares e carga horária do Curso Técnico Integrado em Aquicultura.

INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO – IFES CAMPUS PIÚMA CURSO TÉCNICO INTEGRADO EM AQUICULTURA

Carga horária do curso dimensionada para 36 semanas, sendo garantidos os 200 dias letivos ao ano

Carga Horária Dimensionada: 36 semanas Duração da aula: 50 minutos

Componente Curricular

Ano (aulas semanais)

Totais (horas)

73 Base Nacional Comum Arte 1 2 90 Biologia 2 2 2 180 Educação Física 2 2 1 150 Filosofia 1 2 1 1 150 Sociologia 1 1 1 2 150 Física 3 2 3 240 Geografia 2 2 2 180 História 2 2 2 180 Língua Estrangeira (Inglês) 2 2 120 Língua Portuguesa e Literatura Brasileira 3 2 2 2 270 Matemática 3 2 2 2 270 Química 3 3 2 240

Total da Base Nacional Comum 2220

Núcleo Diversificado

Informática Aplicada 2 60

Segurança, Meio

74 Biologia Aquática Aplicada 2 2 120 Gestão e Planejamento de Empreendimentos 3 90

Total Núcleo Diversificado 330

Total aulas/semana (Base Comum +

Diversificado) 23 24 22 16 2550 Núcleo Profissional Introdução à Aquicultura 2 60 Qualidade de Água na Aquicultura 2 60 Oceanologia e Climatologia Aplicada 2 60 Construção de Estruturas para Aquicultura 2 2 120 Nutrição de Organismos Aquáticos 2 2 120 Propagação de Organismos Aquáticos 2 2 120 Piscicultura de Água Doce 2 60 Carcinicultura 2 60

75 Maricultura 2 60 Legislação Aquícola 2 60 Processamento do Pescado 2 60 Extensão Rural Aplicada à Aquicultura 2 60 Patologia e parasitologia 2 60 Cultivo de espécies alternativas 2 60

Total aulas/semana Núcleo

Profissional 6 6 8 14 1020

Total Geral aulas/semana 29 30 30 30 -

Total da Etapa Escolar no Curso 3570

Número Total de Disciplinas por

Ano/Série 14 15 16 15 -

Componentes Optativos - Extra Curricular (contra turno)

Núcleo Complementar Noções de pesca marítima 2 60 Língua estrangeira (espanhol) 2 60

76 Educação Física 2 60 Associativismo e empreendedorismo 2 60 Desenho Técnico 2 60 Estágio (não- obrigatório) 400

Fonte: PPC de Aquicultura (IFES, 2013)

Conforme se extrai da tabela acima, as disciplinas obrigatórias que devem ser cursadas pelo aluno totalizam 60 disciplinas, divididas em quatro anos, sendo 14 no primeiro ano, 15 no segundo, 16 no terceiro e novamente 15, no último ano.

As disciplinas pertencentes ao Núcleo Complementar, por sua vez, afora o Estágio (não-obrigatório), não possuem oferta regular no Campus, sendo conteúdos optativos caso algum professor disponha-se a ministrar qualquer um deles.

O componente curricular Estágio (não-obrigatório), consta na tabela como optativo. Caso o aluno consiga, por meio de empresas privadas, prefeitura ou profissionais autônomos, uma vaga para estágio, este é gerido pela Direção de Pesquisa, Pós- graduação e Extensão, através da Coordenadoria de Extensão do Campus, não havendo vinculação direta, nessa hipótese, com a Diretoria de Ensino, na qual pedagogos e professores são lotados. O aluno apenas deverá ser acompanhado por um professor que será o monitor desse processo de estágio, mas a carga horária não conta para fins de formação ou mesmo no histórico final do aluno.

Buscamos, portanto, com as informações trazidas sobre o Ifes Campus Piúma, descrever de maneira sucinta o lócus da pesquisa, definindo quem são os atores, pedagogos e professores, que propiciaram a produção dos dados que, adiante, passarão a ser analisados sob a luz das contribuições que o trabalho pedagógico do pedagogo emprega nas questões vinculadas à integração curricular no referido curso.

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5 SOBRE A PRODUÇÃO DE DADOS: ALGUMAS DISCUSSÕES E ANÁLISES