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O Comportamento do Treinador em Competição

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 51-54)

3. Observação do Treinador

3.5. O Comportamento do Treinador em Competição

Este problema parece ser um dos mais solicitados pelos media. Quem não observou já imagens do treinador que se levanta do banco dos suplentes e grita para dentro do campo. Uma outra imagem do treinador pleno de alegria quando o seu atleta alcança um record. Estas imagens são amplamente divulgadas pois estão naturalmente carregadas de emoção que é característico da competição.

Portanto, ao analisarmos a competição e mais precisamente o comportamento do treinador em competição temos que considerar o peso da emoção e da afectividade neste processo. É natural que a pesquisa sobre as soluções, as estratégias, as técnicas que o treinador utiliza em competição seja uma tema de particular importância.

O objectivo de Smoll, Smith, Curtis & Hunt (1978) foi analisar a relação entre o treinador e os atletas e determinar como se inter-relacionam os comportamentos dos treinadores com as percepções e as atitudes dos atletas. Foram observados 51 treinadores e 542 atletas, em 202 jogos na liga de Basebol, em Seattle, Washington. Utilizaram o sistema “Coaching Behavior Assessment System” (Smith, Smoll & Hunt, 1977).

Os comportamentos dominantes dos treinadores localizaram-se em três categorias: o reforço positivo (17%); a instrução técnica geral (27%); o encorajamento geral (21%).

O objectivo desta pesquisa (Lombardo, Faraone & Pothier, 1982) foi descrever o comportamento de treinadores de jovens em situação de competição. Observaram 34 treinadores numa época, durante os jogos do campeonato, de diversos desportos.

Utilizaram o “LoCoBAS” (Lombardo Coaching Behavior Analysis System). É um sistema que comporta uma análise sobre a avaliação que o treinador faz do seu atleta: positiva; neutral; negativa. Analisa também a interacção existente entre o treinador e os atletas

Como conclusão entende-se que grande parte do tempo é gasto em observação silenciosa (cerca de 50%). A interacção é dominantemente dirigida à sua própria equipa e aos árbitros.

É interessante verificar que os resultados apontam para intervenções dirigidas aos seus atletas e aos árbitros. Neste processo existem diversos intervenientes que de certa forma interagem com o treinador. São os árbitros devido à sua própria função, são os atletas, mas também são os adversários, os pais dos atletas que observam a competição, os enfermeiros e massagistas, os “estatísticos” (observadores do jogo), o público.

Será que o treinador tem capacidade para se concentrar no desenrolar da competição e rentabilizar a sua intervenção sobre o que é importante no jogo? Que técnicas e estratégias utiliza? Como comunica o treinador com os seus atletas? Que tipo de informação transmite ele?

Isberg (1993) estudou o padrão de comportamento do treinador de elite e seus efeitos nos atletas em situação real de competição tendo sido observados 3 treinadores de desportos colectivos, “bandy”, futebol e hóquei- no-gelo. Os atletas foram submetidos a questionário acerca da sua percepção das suas funções.

Dos dados recolhidos sobre o comportamento do treinador, temos uma dominância clara de instruções (46%-72%), seguido do feedback positivo (19%-32%) e do apoio psicológico (9%-24%).

A identificação da relação que se estabelece na competição é um dos objectivos fundamentais destas pesquisas. Pina & Rodrigues (1993) procuraram descrever e comparar os comportamentos dos treinadores e a reacção dos atletas em competição.

Foram observados 3 treinadores de voleibol e suas equipas seniores masculinas correspondendo a níveis de competição diferenciados. Seleccionaram os momentos de “intervalo de set” e de “tempo de repouso” para observar o comportamento dos intervenientes.

Os dados não permitem concluir diferenças entre os treinadores sendo as categorias prescritiva, auditiva, dirigido à equipa, sobre conteúdo táctico, as mais utilizadas.

Os atletas estão naturalmente atentos à informação e reagem concordando com o treinador.

Este estudo (Madden & Evans, 1993) foi concebido para identificar o conteúdo das mensagens do treinador e verificar as relações entre a

Foram estudados 36 clubes (treinadores e equipas) de diversos níveis de performance, em futebol australiano. Foram identificados nove tipos de comunicação : comentário; soluções; predições; não-específico; condicionais; questões; sugestões; crenças; ameaças.

As categorias mais utilizadas foram a indicação de soluções (média de 8 unidades de informação por período de intervalo) e comentário às situações do jogo (7 unidades de informação por período).

Os autores consideraram que os treinadores resumem a sua informação a pequenos pontos pertinentes, em vez de elaborar grandes e complexos comentários.

Cloes, Delhaes & Pieron (1993) estudaram o comportamento do treinador de voleibol em jogos oficiais. Procuraram descrever o comportamento dos treinadores durante o tempo de repouso e compararam treinadores de equipas femininas e masculinas e, ainda, equipas vitoriosas e derrotadas. Observaram 10 treinadores, cinco de equipas masculinas e cinco de equipas femininas. Utilizaram um sistema de análise dos comportamentos verbais do treinador com cinco dimensões: - objectivo; - referencial; - direcção; - origem; - tempo.

Os resultados evidenciaram um variabilidade individual importante (1 a 12 intervenções por minuto). As intervenções durante o jogo têm uma dominância socio-afectiva. Os conselhos tácticos acontecem com maior impacto nos períodos “mortos” do jogo.

Não existem grandes diferenças entre as equipas masculinas e femininas embora eles sejam mais criticados que elas e recebam menos informação táctica que elas.

Os treinadores vitoriosos apresentam mais intervenções que os derrotados. As equipas que ganham recebem mais estímulos positivos que as outras. Dias, Sarmento & Rodrigues (1994) realizaram um estudo cujo objectivo foi observar o comportamento de instrução do treinador em competição. Analisaram os momentos de instrução de dois treinadores de râguebi, no início do jogo e no intervalo. Foi utilizado um sistema de análise da informação transmitida.

A intervenção dos treinadores no início do jogo na cabine apresenta-se como dominantemente prescritiva e descritiva, de forma auditiva, dirigida à

equipa, com informação táctica e psicológica, sobre o comportamento dos atletas. No intervalo existe uma tendência para a individualização e logicamente para a diversificação da instrução.

O treinador em competição intervem de forma mais influente nos desportos colectivos, no entanto, o treinador tem um papel por vezes decisivo nos desportos individuais e durante (antes e depois) da competição. Seria interessante estudar o treinador de desportos individuais.

As conclusões que vamos obtendo dos estudos realizados possibilitam eleger a conduta afectiva como dominante nas interacções e que o conteúdo específico é transmitido em momentos de paragem do jogo, com incidência nas soluções técnico-tácticas. A informação sobre os adversários não parece ser um factor apontado como decisivo.

Por tudo isto justifica-se um aprofundamento destes estudos envolvendo outros desportos e outras soluções metodológicas de modo a aceder à informação que ainda não conseguimos obter.

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 51-54)