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Os Treinadores das Equipas de 1ª divisão A (série dos primeiros)

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 67-107)

2. Análise Descritiva do Comportamento dos Treinadores das Equipas de 1ª

2.1. Os Treinadores das Equipas de 1ª divisão A (série dos primeiros)

Observámos 10 treinadores, sete treinadores de equipas seniores masculinos da 1ª divisão (Académica S.Mamede; Castelo da Maia G.C.; Nacional da Madeira; Sporting C.P. 1; Sporting C.P. 2; S.L.Benfica), e quatro treinadores de equipas da 2ª divisão (N.V.L. Sebastião e Silva; A.E.I.S.Técnico; C. Nacional de Ginástica; Universidade Lusíada).

Nível de Prática das Equipas Classificação das Equipas Nº de Treinadores Nº de Treinos Observados

1 1ª divisão série dos primeiros

3 30

2 1ª divisão série dos últimos

3 23

3 2ª divisão 4 38

Quadro 1 - Treinadores e treinos observados, em função do nível de prática das equipas.

Os treinadores são todos do sexo masculino. Têm formação académica superior (licenciados), no domínio da Educação Física e Desporto, e com

formação especializada no treino desportivo em Voleibol (Federação Portuguesa de Voleibol), excepto um treinador búlgaro que apresentou creditação da Federação Internacional de Voleibol. Por último, um dos treinadores apresenta somente a formação específica da Federação Portuguesa de Voleibol (curso de treinadores de 3º grau).

2.1.1. As Equipas

As equipas foram agrupadas em função do nível de prática dos seus atletas. Assim temos três grupos de equipas:

a) Grupo A (nível de prática # 1):

• 8 a 10 treinos por semana;

• 2 atletas estrangeiros;

• 2 ou mais atletas naturalizados;

• 3 ou mais atletas da selecção nacional e campeões nacionais; b) Grupo B (nível de prática # 2):

• 5 a 7 treinos por semana;

• 1 ou 2 atletas estrangeiros;

• 0, 1 ou 2 atletas naturalizados;

• 0, 1 ou 2 atletas da selecção nacional e campeões nacionais; c) Grupo C (nível de prática # 3):

• 2 a 4 treinos por semana;

• 0 atletas estrangeiros;

• 0 atletas naturalizados;

• 0 atletas da selecção nacional e campeões nacionais.

Este agrupamento corresponde similarmente à classificação (resultado desportivo) no campeonato nacional seniores masculinos, período em que foram realizadas as filmagens (Quadro 2). Na 1ª divisão as equipas ficaram agrupadas pela série que disputaram na fase final. A série dos “primeiros” corresponde às classificações do 1º ao 6º lugar. A série dos “últimos” classifica do 7º ao 11º.

NÍVEL DE PRÁTICA

CLASSIFICAÇÃO EQUIPAS

1 1ª divisão, série “primeiros” S.L.BENFICA

1 1ª divisão, série “primeiros” SPORTING C.P. 90/91

1 1ª divisão, série “primeiros” SPORTING C.P. 91/92

2 1ª divisão, série “últimos” CASTELO da MAIA G.C.

2 1ª divisão, série “últimos” AC. S. MAMEDE

2 1ª divisão, série “últimos” NACIONAL da MADEIRA

3 2ª divisão UNIV. LUSÍADA

3 2ª divisão A.E.I.S. TÉCNICO

3 2ª divisão N.SEBASTIÃO E SILVA

3 2ª divisão NACIONAL GINÁSTICA

Quadro 2 - Equipas observadas, em função do seu nível de prática e da sua classificação final.

2.1.2. Os Treinos

Os treinos dividem-se em quatro tipos de acordo com o seu objectivo: a) treinos do período preparatório - preparação da equipa para o

campeonato que se avizinhava; treinos realizados durante o mês de Setembro, sendo anterior a qualquer competição oficial; b) treinos do período competitivo, anteriores à competição -

preparação da equipa para a competição imediata do fim de semana; corresponde ao último treino antes da competição; c) treinos do período competitivo, posteriores a uma vitória na

competição - recuperação da equipa após a competição, início da preparação da próxima competição, corresponde ao treino imediatamente após a competição;

d) treinos do período competitivo, posteriores a uma derrota na competição - recuperação da equipa após a derrota na competição, corresponde ao treino imediatamente após a competição;

. 1ª divisão, série “primeiros” 9 9 9 3 1ª divisão, série “últimos” 5 9 4 5 2ª divisão 12 9 12 5 TOTAL 26 27 25 13

Quadro 3 - Treinos observados, em função dos objectivos dos treinos e do nível de prática das equipas.

3. As Variáveis

A investigação científica promove o pensamento organizado e explícito sobre os passos que são necessários para aceder ao conhecimento. A estruturação dos modelos teóricos de análise da realidade devem ser explicados quando pensamos realizar um processo de investigação. Deste modo, a influência de estudos anteriores sobre o processo de ensino, quer no contexto do sistema educativo, quer no contexto do sistema desportivo, são indicadores de referência para este quadro em que se situa a nossa pesquisa. Assim, temos como grande referencial os estudos sobre os treinadores de sucesso que por si só constituem um paradigma típico da Pedagogia do Desporto (Pieron, 1993). Outros paradigmas são mais ou menos utilizados, mas o que nos interessa directamente é o típico paradigma de programa- contexto-processo. Este enquadra-se no modelo presságio-contexto-produto (Pieron, 1982) frequentemente utilizado para situar as variáveis em estudo no contexto do sistema educativo, no que se refere ao ensino da Educação Física.

Este paradigma indica-nos agrupamentos de variáveis das quais iremos abordar as variáveis de programa, as variáveis de contexto e as variáveis de processo. Vamos deste modo excluir da pesquisa qualquer tipo de variáveis de produto.

Perante a argumentação dos diversos autores (Pieron, 1982, 1986a; Siedentop, 1983; Telama, Paukku, Varstala & Paananen, 1982; Tousignant & Brunelle, 1982) que têm pesquisado sobre este modelo de análise, acerca

do treinador (variáveis de processo) apresenta em função de algumas condições programáticas (objectivos dos treinos) e contextuais (nível de prática dos atletas).

3.1. As Variáveis de Programa

São variáveis dependentes do poder de decisão do treinador: os objectivos dos treinos e das tarefas; a matéria (técnicas, tácticas, etc.) a ser treinada; as formas de observação e avaliação do processo de treino.

3.1.1. O Objectivo dos Treinos

Seleccionámos o objectivo dos treinos como variável independente, considerando os seguintes casos:

a) treinos de preparação para a época - realizados no período preparatório, visando dominantemente a condição física e técnica dos atletas;

b) treinos de preparação para a competição - realizados no período competitivo, anterior à competição semanal, visando a preparação da equipa para essa mesma competição, fundamentalmente incidindo sobre a organização colectiva e/ou sobre algumas fases do jogo em particular;

c) treinos após a competição com vitória - realizado no período competitivo, após uma vitória, visando fundamentalmente a recuperação da competição anterior e o início da preparação da competição seguinte, sendo a incidência em aspectos de condição técnica e táctica relacionados com o jogo efectuado;

d) treinos após a competição com derrota - realizado no período competitivo, após uma derrota, visando fundamentalmente a recuperação da competição anterior e o início da preparação da competição seguinte, sendo a incidência em aspectos de condição técnica, táctica e psicológica, relacionados com o jogo efectuado;

3.2. As Variáveis de Contexto

Constituem factores independentes do treinador mas que exercem a sua influência no modo e na qualidade do processo pedagógico. Referem-se às condições externas ao treinador e às quais se deverá adaptar: condições materiais e espaciais dos locais de treino; envolvimento sócio-económico dos atletas e do clube; as características dos atletas (escalão etário; sexo; nível competitivo; nível de prestação técnico-táctica; etc.).

3.2.1. O Nível de Prática dos Atletas

Considerámos que o nível de prática dos atletas poderia ser verificado através do volume de treino (número de treinos por semana), o número de atletas estrangeiros especialmente contratados para a equipa (limite legal de 2 atletas), o número de atletas estrangeiros mas naturalizados portugueses ou com dupla nacionalidade (sem limite legal) e o currículo desportivo dos atletas nacionais. Estes critérios permitem traçar quadros contextuais, relativamente típicos e que possibilitam agrupar as equipas por um certo nível de prática.

Após uma análise da realidade das equipas verificámos, três grandes grupos: a) equipas que treinam muito (8 a 10 treinos por semana), que apresentam 2 atletas estrangeiros profissionais, 2 ou mais atletas estrangeiros naturalizados e ainda 3 ou mais atletas nacionais que pertencem à selecção nacional e já foram campeões nacionais;

b) equipas que treinam cinco a sete treinos por semana, que apresentam um ou dois atletas estrangeiros profissionais, podem apresentar alguns atletas estrangeiros naturalizados (1 ou 2) e ainda podem ter alguns atletas da selecção nacional (1 ou 2) que já tenham sido campeões nacionais;

c) equipas que treinam pouco (2 a 4 treinos por semana), que só têm atletas nacionais e não apresentam atletas que pertencem à selecção nacional e já foram campeões nacionais;

Esta categorização revela uma grande alternância no nível de prática dos atletas, evidenciando-se através da sua prestação quer em treino, quer em competição. O resultado deste nível de prática é também um certo nível classificativo, pois as equipas que se agrupam por nível de prática mantêm esse agrupamento quando analisadas pela sua classificação obtida no campeonato nacional. Assim temos:

a) equipas 1ª divisão A - equipas que se classificaram nos quatro primeiros lugares do campeonato, tendo acesso à fase final em condições de discutir o título de campeão;

b) equipas 1ª divisão B - equipas que se classificaram nos últimos lugares do campeonato, tendo acesso à fase final mas sem condições de discutir o título de campeão;

c) equipas 2ª divisão - equipas que disputaram o campeonato da 2ª divisão com acesso à fase final;

3.2. As Variáveis de Processo

São variáveis que dizem respeito às actividades e comportamentos que acontecem durante o processo pedagógico em treino. Trata-se de esclarecer o que realmente se passa no ginásio, relativamente aos comportamentos dos treinadores, dos atletas, dos dirigentes, dos fisioterapeutas, etc., de todos os intervenientes no processo de treino. Este tipo de variáveis poderá ser decomposto em conjuntos de outras, quando procuramos descrever os diferentes comportamentos ou interacções que acontecem no treino.

3.2.1. O Comportamento do Treinador

Optámos pelo estudo do comportamento do treinador por ser em nosso entender a variável mais influente no processo pedagógico no Treino Desportivo. Como já foi ilustrado na análise da literatura esta variável tem sido estudada com muita dificuldade, devido ao contexto em que a mesma pode ser analisada. Assim procurámos estruturar a nossa observação com

base nos trabalhos já efectuados, que nos indicam as principais funções de ensino que um treinador dominantemente utiliza. Este foi o pensamento que nos levou à selecção dos comportamentos do treinador que vão ser considerados variáveis de estudo: informação dos conteúdos; correcção da execução dos atletas; avaliação simples, positiva e negativa, da execução dos atletas; demonstração das técnicas e das tarefas; questionamento dirigido à equipa e aos atletas; gestão dos episódios de transição entre exercícios (montar redes, apanhar bolas, manipular colchões, etc.); afectividade positiva e negativa; pressão sobre os atletas para o seu máximo esforço; conversas com os diversos intervenientes no processo de treino; observação silenciosa e interessada da actividade dos atletas; atenção às interacções verbais dos atletas dirigidas ao treinador.

4. As Filmagens

Para a obtenção dos dados foi necessário realizar filmagem em vídeo das sessões de treino. Para o efeito, efectuámos uma breve reunião com cada treinador e director das equipas, explicando o objectivo e os procedimentos da pesquisa. Deste modo, foi possível obter a autorização para a recolha dos dados.

4.1. As Limitações das Filmagens

A preocupação fundamental foi seguir o treinador procurando registar o maior número de atletas possível. Foi utilizada para o efeito uma só câmara de vídeo o que dificultou o acompanhamento de todos os atletas, facto que não se torna muito importante para a análise a efectuar. Outra dificuldade situou-se ao nível das características díspares que os pavilhões apresentam quanto à iluminação e espaço livre para a filmagem.

4.2. Material Utilizado

Utilizámos cinco conjuntos de filmagem que incluem vídeo portátil, tripé, extensão eléctrica e microfone emissor-receptor. Estes conjuntos foram manipulados por equipas de filmagem constituídas para o efeito.

Na preparação das cassetes para o visionamento utilizámos um computador para inserir o cronómetro, títulos e mensagens no registo vídeo.

Para a codificação do comportamento do treinador, utilizou-se o programa informático “PEDAGO” (Marques & Rodrigues, 1993), construído para o efeito, instalado em três computadores que conjuntamente com três vídeos de mesa e três monitores, constituíram as nossa unidades de codificação, nas quais trabalharam as equipas de observadores.

5. O Sistema de Observação do Treinador

5.1. Objectivos

Este sistema tem por objectivo estudar o comportamento do treinador em ambientes desportivos. Estuda as funções desempenhadas pelos treinadores na condução das sessões de treino. São estudadas 16 categorias de análise representando cinco dimensões em que podemos enquadrar os mais variados comportamentos.

Trata-se de um registo de grande objectividade e exclusividade como pode ser confrontado pela definição das diversas categorias.

Estudos realizados utilizando este sistema de observação vêm comprovar a sua utilidade e a sua validade para aceder a este tipo de informação (Rodrigues, Rosado, Sarmento, Ferreira & Leça-Veiga, 1993). Estes estudos definiram graus de fidelidade intra e inter observadores entre os 90% e os 100%, aplicando o índice de acordos de Bellack (Siedentop, 1983).

Este instrumento poderá ser extremamente útil na recolha de informação para a formação de técnicos ao nível do feedback de supervisão e da autoscopia, bem como na supervisão pedagógica.

O sistema apesar de inovador assenta os seus fundamentos nos trabalhos de Tharp e Gallimore (1976) e Rushall (1989, in Darst, Zakrajsek & Mancini, 1989). Permite assim a definição de um perfil geral dos comportamentos do treinador mais frequentes em treino.

INSTRU ÇÃO ORGANI ZAÇÃO INTER ACÇÃO CON TROLO ACTIVI DADE Informação Gestão Afectivi

dade (+)

Observação Act. Motora

Correcção Afectivi dade ( - ) Aten. Int. Verbais Não-act. Motora Avaliação (+) Pressão Avaliação ( - ) Conversas Demons tração Questiona mento

Quadro 4 - O Sistema de Observação do Comportamento do Treinador (Dimensões e Categorias) (SOTA).

5.2. Definição das Categorias

Existem cinco dimensões: instrução; organização; interacção; controlo; actividade.

5.2.1. Instrução

• Informação (INF): O professor introduz informação nova ou explica e sumaria informação já transmitida. Incluem-se,

realizar, horários ou outras informações relevantes para o processo de treino. Regista-se também a informação respeitante à organização das tarefas e situações de exercício.

• Correcção (COR): O treinador, reagindo à prestação do atleta ou da equipa, fornece informação ao atleta ou ao grupo afirmando que o seu desempenho é ou não é satisfatório, descrevendo ou afirmando o que fez ou o que deve alterar na sua execução. Pode ou não dizer respeito a comportamentos motores. Consideramos também correcção quando o treinador está a ajudar o atleta (feedback quinestésico).

• Avaliação Positiva (AV+): O treinador avalia a prestação do atleta de uma forma simples, não especificando pormenores sobre a avaliação. A expressão utilizada é positiva e reflecte uma aprovação.

• Avaliação Negativa (AV-): O treinador avalia a prestação do atleta de uma forma simples, não especificando pormenores sobre a avaliação. A expressão utilizada é negativa e reflecte uma desaprovação.

• Demonstração (DEM): Acções motoras do treinador, acompanhadas ou não por verbalização, que visam demonstrar como se deve ou não realizar determinado gesto técnico ou exercício.

• Questionamento (QUE): O treinador formula uma questão relacionada com a natureza dos objectivos do treino.

5.2.2. Organização

• Gestão (GES): O treinador envolve-se em comportamentos que não estão directamente relacionados com a situação de ensino ou com a matéria. Tarefas organizativas como organização de grupos, manipulação de materiais, início e fim de tarefa, regulação dos tempos de repouso, comportamentos de manutenção da segurança (ajudas).

5.2.3. Interacção

• Afectividade Positiva (AF+): o treinador demonstra, abertamente, prazer com o comportamento do atleta, cumprimenta-o ou elogia-o transmitindo um sentimento positivo, verbal ou não, acerca desse comportamento, não contendo qualquer informação específica.

• Afectividade Negativa (AF-): o treinador disciplina e mostra desprazer para com um indivíduo ou grupo cujo comportamento ou desempenho é inaceitável ou inapropriado. Pode ser verbal ou não-verbal. A intervenção não contém qualquer informação específica.

• Pressão (PRE): o treinador encoraja os seus jogadores ou atletas levando-os a intensificar os seus esforços e empenhamento em determinada acção. Pode assumir a forma de marcação de ritmo.

• Conversas (CON): Interacções verbais do treinador com os atletas, dirigentes, pais, treinador-adjunto, roupeiro ou outros personagens não relacionadas directamente com a sessão de treino.

5.2.4. Controlo

• Observação (OBS): O treinador está atento ao que um indivíduo ou grupo estão a fazer, monitorizando a actividade.

• Atenção às Intervenções Verbais (AIV): O treinador está atento às intervenções verbais que os atletas lhe dirigem.

5.2.5. Actividade

• Actividade Motora (AM): O treinador, assim como os atletas, encontra-se a executar actividades motoras.

• Não-actividade Motora (NAM): O treinador não está a executar nenhuma actividade motora proposta para os atletas, nem se encontra a desempenhar qualquer outra função.

5.2.6. Outros Comportamentos (OC)

5.3. Objectividade do Sistema de Observação

Ao impormos um novo sistema de observação para análise das variáveis, surgiram algumas etapas que julgamos importante descrever. A determinação da objectividade do sistema serviu para alicerçar a força que este instrumento tem para analisar o treinador no ambiente do Treino Desportivo.

Para determinar o grau de objectividade do sistema de observação fomos analisar a validade e a fidelidade.

5.3.1. Validade

Iremos abordar quatro tipos de validade procurando cruzar a análise de modo a definir claramente a objectividade do sistema. Optámos pela validade aparente, a validade de construção, a validade de conteúdo e a validade concorrente.

5.3.1.1. Validade Aparente

Pode ser definida como um meio de verificação se o sistema de observação pode medir o que na realidade se pretende medir (Safrit & Wood, 1989). Apesar de ser uma forma de validade muito superficial, não deixa de ser igualmente importante, até porque a análise da validade deve ser realizada

por passos, pelo que uma abordagem superficial ou impressionista deve ser sempre tida em consideração.

Naturalmente, que a validade aparente tem estado sempre desde o início da construção do sistema no nosso espírito e consciência, pois temos realizado os necessários ajustes e adaptações comparando constantemente com a realidade do Treino Desportivo e com os diferentes comportamentos que o treinador vai assumindo.

5.3.1.2. Validade de Construção

Considera-se que as categorias do sistema de observação devem constituir uma amostra do que se pretende observar (Safrit & Wood, 1989). Sendo o comportamento do treinador o objecto da análise, certo seria que o sistema de observação comportasse itens ou categorias que correspondam a parte desse mesmo comportamento. De qualquer modo, o comportamento do treinador apresenta-se subdividido nas principais funções de ensino pelo que parece confirmada este tipo de validade.

5.3.1.3. Validade de Conteúdo

Este tipo de validade permite concluir que o conteúdo do sistema de observação reflecte exactamente o que se pretende observar (Safrit & Wood, 1989).

Ao estudarmos o comportamento do treinador na situação de treino, verificamos que os principais autores apontam para modelos de intervenção, nos quais consideram as funções de ensino como fundamentais, a saber: instrução, organização, interacção, controlo.

Este é o conteúdo da análise repartido em diferentes categorias comportamentais que se objectivam através do processo pedagógico de interacção no treino.

No entanto, deve-se referir que o sistema não está totalmente fechado podendo ser registado na categoria de diversos os comportamentos mais atípicos ou melhor menos regulares do treinador.

5.3.1.4. Validade Concorrente

Por definição, esta validade obrigaria à comparação do sistema de observação com outros já validados que serviriam de referência para o novo sistema de observação (Safrit & Wood, 1989).

Embora este sistema de observação esteja construído sob a influência de outros estudos (Tharp e Gallimore (1976) e Rushall (1989, in Darst, Zakrajsek & Mancini, 1989), é um instrumento novo pelo que não seria adequado realizar uma simples comparação com os outros sistemas. Deste modo, optámos por obter a opinião de peritos em Pedagogia do Desporto e simultaneamente utilizámos o sistema em diversos estudos exploratórios submetendo-os a apresentação pública obtendo daí as diversas críticas para a sua validação (Rodrigues, Rosado, Sarmento, Ferreira & Leça-Veiga, 1993).

5.3.2. Fidelidade

Para garantirmos que o sistema possa ser utilizado por diferentes observadores ou pelo mesmo observador em diferentes momentos resolvemos estudar a fidelidade, alargando assim o campo da determinação da objectividade do sistema de observação.

5.3.2.1. Fidelidade Intra-Observador

Pretende garantir que um mesmo observador em diferentes momentos faça uma codificação semelhante dos diversos comportamentos em estudo. Foram realizados testes, por duas vezes, com o intervalo de uma semana entre eles, sobre o mesmo treino. Obtivemos para todas as categorias valores

iguais ou superiores a 85% de acordos segundo o Índice de Acordos de Bellack (Siedentop, 1983), aplicado ao registo de duração:

valor máximo

% Acordo = --- x 100 valor mínimo

Este índice foi aplicado categoria a categoria, obtendo valores aceitáveis entre os 85% e os 99%. Naturalmente que estes valores devem ser analisados como iniciais, porque o observador está na fase inicial de utilização do sistema de observação.

Os resultados encontrados nos testes realizados podem ser verificados através do seguinte quadro 5.

Inf Dem Cor Av + Av - Que Ges Af +

97% 90% 87% 85% 86% 90% 97% 91%

Af - Pre Con Obs AIV AM NAM OC

89% 90% 95% 99% 93% --- --- ---

Quadro 5 - Fidelidade Intra-Observador

5.3.2.2. Fidelidade Inter-Observadores

Possibilita garantir que diferentes observadores utilizando o sistema de observação conseguem codificar os comportamentos da mesma maneira. Para percebermos como se formaram os observadores aconselhamos a leitura do capítulo sobre o treino de observadores. Aqui iremos somente referir os valores que obtiveram diferentes observadores no teste de fidelidade, utilizando o Índice de Bellack (Siedentop, 1983).

Inf Dem Cor Av + Av - Que Ges Af +

99% 92% 97% 86% 88% 92% 94% 90%

Af - Pre Con Obs AIV AM NAM OC

90% 100% 100% 99% 100% --- --- ---

Quadro 6 - Fidelidade Inter-Observadores

No quadro 6 podemos verificar que os valores da percentagem de acordos se situam entre os 86% e os 100%.

6. As Condições de Observação

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 67-107)