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O Comportamento dos Treinadores nos Contextos “Escola” e “Clube”

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 44-48)

3. Observação do Treinador

3.2. Estudos Comparativos do Comportamento dos Treinadores

3.2.3. O Comportamento dos Treinadores nos Contextos “Escola” e “Clube”

vezes também é professor de Educação Física, isto é, assume dois papéis distintos de acordo com o contexto onde está em exercício (clube ou escola). Esta constatação tem levado a algumas pesquisas comparando o treinador quer na sua função no clube, quer na sua função como professor. Assim, o objectivo do trabalho de Pieron & Gonçalves (1987) foi procurar esclarecer esta distinção comportamental.

Foram observados 6 professores que eram treinadores de basquetebol. Os dados referem-se às aulas de Educação Física e aos treinos de basquetebol. Utilizaram o sistema de análise FEED/ULG (Pieron & Devillers, 1980). As diferenças observadas referem-se dominantemente ao feedback positivo prescritivo, que é substancialmente mais utilizado no treino (57%) que no ensino (45%). Por outro lado, no treino o treinador elogia mais (15%) que na escola (10%), mas questiona mais na escola (8%) que no clube (3%).

Rupert & Buschner (1989) compararam os comportamentos de treinadores escolares de basebol (“high school”) e professores de Educação Física. Observaram 9 treinadores nas duas funções, seleccionando parte da sessão de treino para a análise.

Os comportamentos verbais mais utilizados no treino foram a instrução (pré- instrução e pós-instrução) e a organização. Verificaram um proporção de 1,5:1 entre os elogios e as reprimendas.

Estes estudos evidenciam algumas diferenças entre os dois contextos em análise, a escola e o clube. As soluções que são prescritivas no clube, o questionamento na escola, a afectividade e a pressão no clube, são algumas das diferenças que nos apresentam.

No entanto, esta linha de pesquisa parece-nos, ainda, muito pouco explorada, pois a discussão dos resultados aponta para indicadores de atitude e valores que se relacionam com as decisões pré-interactivas e poderão condicionar a estratégia de interacção do professor ou treinador. Deste modo, a pesquisa em diversos contextos de prestação do treinador (por exemplo, no desporto escolar, no desporto universitário, no desporto de trabalhadores, etc.) poderá possibilitar o entendimento das suas principais estratégias.

3.3. O Comportamento do Treinador durante a Época

Esta linha de pesquisa é relativamente recente e têm mostrado a necessidade de especificar ao longo da época qual o principal objectivo dos treinos que estão a ser analisados.

Claxton (1988) num estudo já aqui referido comparou um grupo de 5 treinadores com sucesso com 4 treinadores derrotados. Os observados eram treinadores de ténis (rapazes) no desporto escolar (“high school”). Os treinadores foram observados nos períodos preparatório (“preseason”), competitivo (“midseason”) e de transição (“late season”).

Apesar de ter considerado que a observação em diversos momentos da época iria melhorar os dados recolhidos, não foi apresentado qualquer tipo de tratamento diferenciado para estas variáveis.

Outra perspectiva é o condicionamento de algumas variáveis de programa originando as situações de treino semi-controladas. Leloux, Colomberotto, Pieron & Hunebelle (1989) definiram alguns constrangimentos aos objectivos das tarefas limitando-as no seu próprio conteúdo, analisando e comparando então a prestação dos treinadores de alto-rendimento de ginástica artística masculina.

Foi estudado a intervenção de feedback dos treinadores observados e comparado as diversas situações que estavam sob controlo (solo, paralelas simétricas e barra fixa). Utilizaram um sistema que deriva do FEED/ULG (Pieron & R. Delmelle, 1983).

Como conclusão fundamental, diremos que existe uma variabilidade muito grande entre os treinadores. Estas diferenças vão sobretudo para o valor dos ginastas (nível de execução) e para os objectivos específicos da sessão de treino, ou mesmo das tarefas propostas. As intervenções caracterizaram-se dominantemente pelo seu carácter técnico e específico. Quanto ao objectivo do feedback parece dominar o feedback de carácter positivo e específico. Segrave & Ciancio (1990) procuraram estudar um treinador de sucesso de futebol americano para jovens e compararam o seu perfil comportamental em diferentes períodos da época desportiva: “preseason”; “early season”; “midseason”; “late season”.

Os resultados indicam que as categorias instrução, modelação e questionamento, tendem a diminuir durante a época, enquanto as categorias interacções e diversos aumentam. Os elogios são utilizados consistentemente durante toda a época e raramente é utilizado a reprimenda. O estudo realizado por Alves, Ferreira, Leça-Veiga & Rodrigues (1994) teve por objectivo a caracterização do comportamento do treinador no treino anterior à competição, cujo objectivo era nitidamente a preparação para a competição que se avizinhava.

Foram estudados 6 treinadores de ginástica rítmica durante uma competição. Observaram o treino anterior à apresentação dos atletas. Utilizaram o sistema de observação do treinador (SOTA) (Rodrigues, Rosado, Sarmento, Ferreira & Leça-Veiga, 1993).

Os resultados evidenciam uma dominância da categoria observação silenciosa (44%-57%). Revelou-se também elevado a categoria conversas (7%-32%). A instrução (3%-26%) e a correcção (7%-22%) assumem-se imediatamente como as categorias com mais frequência.

Dos grupos analisados (treinadores de “individuais” portugueses e estrangeiros; treinadores de “grupos”) parece ressaltar uma variabilidade muito grande.

Outro trabalho muito semelhante ao anterior Rodrigues & Ferreira (1995) observaram os treinadores de trampolins, presentes no campeonato do mundo. Registaram-se os treinos anteriores à competição. Utilizaram a mesma metodologia que para o estudo anterior. Observaram 9 treinadores de diversos países.

Os dados evidenciam diferenças individuais que parecem estar associadas a diferentes estilos de interacção com os atletas. Embora a dominância aponte para as categorias observação (40% a 70%) e correcção (6% a 29%), alguns treinadores utilizam com frequência o questionamento. De salientar é o facto de alguns treinadores gastarem muito tempo em conversas (21% e 34%), perdendo de vista os seus atletas.

Estas pesquisas vêm no sentido da especificação do contexto em que o treinador intervem. Procuraram os diversos autores diferenciar o comportamento dos treinadores em função dos tipos de treino, isto é, dos diferentes momentos da época desportiva, originando treinos com objectivos específicos diferentes.

O quadro teórico que atrás desenvolvemos poderá levar-nos a assumir como evidente a diferenciação. No entanto, os resultados não parecem contribuir para a unanimidade. Existe, divergência quanto às conclusões de estabilidade do comportamento dos treinadores. Por vezes, é considerado que as diferenças entre os treinadores são muito importantes, por outro lado as provas estatísticas não indicam que exista uma forte diferença entre eles. Assim, parece ser necessário realizar mais estudos sobre este tema, procurando encontrar metodologias que possibilitem o acesso ao comportamento do treinador em função dos diversos momentos da época desportiva.

3.4. O Comportamento do Treinador em Diversas Situações de

No documento OS TREINADORES DE SUCESSO (páginas 44-48)