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O conflito primordial e o destino final dos homens

CAPÍTULO 1 – OS DEUSES E HERÓIS MITOLÓGICOS

1.5. O conflito primordial e o destino final dos homens

Krauss afirma que: A Bíblia“começa com a solene afirmação de que Deus criou o mundo”. Evidentemente, com um título emoldura a exposição: “No principio, Deus criou o céu e a terra” (Gênesis 1.1) e um posfácio ou epílogo que a designa: “história do céu e da terra, quando foram criados” (2.4a). (KRAUSS, 2007, p. 19). Onde a criação é indicada em hebraico (be-reschit) como acontecimento temporal e ao mesmo tempo, em hebraico como nas traduções grega e latina, como algo que tem haver com a origem, assim como também começa a Epopéia de Gilgamesh e a teogonia do poeta grego Hesíodo (2007, p. 20).

Existe em cada um dos mitos da criação do mundo um indício de conflito primordial. No cristianismo surge uma intromissão no paraíso da serpente, Apófis no Egito; a serpente do caos. Posteriormente identificada com Satanás. A serpente é o símbolo deste conflito entre o cosmo e o caos. A perspectiva mitológica do destino do mundo e dos homens inclui o conflito primordial dualista entre o bem e o mal e as dicotomias entre o cosmos e caos. Assim como o barro primordial, existe em cada um dos mitos da criação do mundo um indício de conflito primordial. No segundo relato da criação, a formação do homem da “argila do solo” é sobremaneira enfatizada:

Na tradução da Bíblia aqui utilizada, o ser humano é “formado” da “(argila) do solo” – na antiga Bíblia luterana, de um “bolo de terra”. No caso se faz um jogo de palavras: o ser humano (adam) é formado da terra do solo cultivável (adamah). No original hebraico, não se encontra “terra” do campo, mas “pó”. Dado que este é considerado sem valor, com isso se faz alusão à caducidade criacional do ser humano. Quando o autor, em vez de “argila”, emprega a palavra “pó”, inusual em olaria, ele já prepara um segundo jogo de palavras, pois mais tarde, dir-se-á que o destino do ser humano seria voltar ao “pó” (3,19). (KRAUSS, 2007, p. 82).

Na antiguidade grega os deuses e homens são igualmente filho da Gaia, a Terra, mas ao contrario dos homens os deuses não estão sujeitos às imperfeições da velhice e da morte e são possuidores de força e beleza imortais, conhecem o futuro e são capazes de se transportar rapidamente de um lugar para outro. Os deuses são geralmente temperamentais e suas disputas têm aspectos muito familiares às disputas entre os seres humanos. Estes conflitos nos mitos dos povos da antiguidade são denominados conflitos primordiais e tem relação com a personalidade dos deuses e heróis mitológicos.

Ainda que na mitologia grega a Terra seja a Gaia, uma divindade da antiga ordem de deuses, o conflito primordial deu origem ao sistema de doze deuses olímpicos e à ordem atual. Constantino Kouzmin-Korovaeff em seu livro: Mitologia da Antiguidade afirma que, “a religião dos nobres dominada pelos homens, divulgada através de Homero, é uma imagem espetacular da sociedade hierarquicamente articulada.” Porém, o papel dos deuses nas origens ou gênese ou nos últimos dias ou na escatologia da Terra não tinha muita relevância para os habitantes da Grécia antiga porque “A religião homérica era voltada para a vida no presente.” (KOUZMIN-KOROVAEFF, 2007, p. 9). No pensamento grego: “Uma vida plena e feliz ligada ao aqui e agora tem significado, não o reino do porvir.” (Ibid., 2007, p. 12).

As catástrofes sempre foram relacionadas aos deuses. Segundo Kouzmin-Korovaeff: “A razão das sempre repetidas erupções vulcânicas do Etna é o monstro Tífon que, soterrado, ainda hoje cospe fogo da montanha da Sicília!” (2007, p. 15). Na mitologia grega Zeus figura como juiz imparcial Daí por diante Zeus figura como juiz imparcial; deus dos juramentos e dos destinos, protetor da casa, da família e da hospitalidade; benfeitor dos que lhe pedem proteção e dos fugitivos. Também vigia o estado, a cidade e a constituição como o deus da paz e da ordem. “Não obstante, também é conhecido por seus acessos de fúria e sede de vingança” (Idem).

Ainda que na mitologia grega a Terra seja a Gaia, uma divindade da antiga ordem de deuses legítimos, o conflito primordial deu origem ao sistema de doze deuses olímpicos e à ordem atual. Cláudio Vicentino considera que a fusão das crenças da antiguidade meso-oriental e grega constitui a base para o surgimento da veneração dos deuses romanos e “influenciou culturas subsequentes de forma significativa” (VICENTINO, 2008, p. 30).

Kouzmin-Korovaeff nos informa que a religião romana recebe um elemento distintivo: “repousa em regras estritas, cujo cumprimento uma classe sacerdotal privilegiada vigia atentamente” (2007, p. 54). Delimitamos investigar brevemente os mitos da criação meso-orientais e gregos, e não ir além deles, senão para entendermos melhor os sistemas de crenças e elucidar o que é central no tema. Quanto aos mitos romanos, faz-se necessário mencionar, pois os mitos gregos e romanos influenciaram as culturas subsequentes, especialmente, por seu caráter normativo e institucional, o

cristianismo; primeiro à Igreja Católica Apostólica Romana e depois, consequentemente, o protestantismo:

O rigor e o formalismo da religião romana devem ser atribuídos a influencia etrusca, a opulência de mitos foi apropriada dos gregos. Em comparação com a mitologia grega, a romana é menos uma ficção que uma representação da história primitiva do povo romano. Os deuses desempenham apenas um papel colateral. Os mais antigos relatos de escritores e criadores de histórias romanos datam da época do nascimento de Cristo. Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.) se ocupou da fundação de Roma e de sua história em sua obra Ab urbe conditia. (70 a.C.-19 d.C.) descreve essa aventura em sua epopéia Eneida. As metamorfoses, de Ovídio (43 a.C.-18 d.C) revelam seu incomum talento para os relatos. De modo vívido ele descreve tanto os mitos romanos quanto os gregos. (2007, p. 55).

A religião meso-oriental, do antigo Irã, desenvolveu uma forma dualista que, conforme descrita por Berger:

Concebe o universo como a arena de um combate entre duas poderosas forças do bem e do mal. Eram personificadas no zoroastrismo, nos deuses Ahura Mazda e Arimã, embora em desenvolvimentos posteriores do dualismo iraniano, como o mitraísmo e o maniqueísmo, emergissem concepções mais abstratas. (BERGER, 2004, p. 83).

No zoroastrismo dualista, assim como, no judaísmo monoteísta, o deus que cumpre a “extraordinária empreitada” de criar a terra é o lado bom ou o lado certo desta “contenda cósmica”. No judaísmo Yahweh ou no islamismo Alah criou todas as coisas, até mesmo o anjo rebelde que personifica o mal: Satanás. O estado da terra descrito no livro de Gênesis no versículo primeiro sem forma e vazia “significando algo não criado ou desordenado” demonstra “uma situação na qual a terra não estava produzindo vida” (Ibid., p. 69). O profeta judeu toma emprestada a linguagem, o estilo da narrativa da criação e algumas palavras literalmente para descrever a situação da terra assolada pela guerra:

Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinha luz. Olhei para os montes, e eis que tremiam, e todos os outeiros estremeciam. Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves dos céus haviam fugido. Olhei ainda, e eis que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira. Pois assim diz o Senhor: toda terra será assolada; porém não a consumirei de todo. (LIVRO DE JEREMIAS, 4.23-27 In Bíblia de Estudo de Genebra, 2015, p. 967).

A ideia de que, o deus bom é o criador, teve a sua antítese no Gnosticismo, também entendido como um sistema dualista; no qual a “contenda cósmica” é entendida entre espírito e matéria. Sendo o espírito bom e a matéria má:

Este mundo, na sua totalidade material, era criação das forças negativas, identificadas pelos gnósticos cristãos com a divindade do Antigo Testamento. A divindade boa não criou este mundo, e portando não pode ser considerada responsável por suas imperfeições. Os fenômenos anômicos deste mundo não são, por conseguinte, entendidos como intrusões perturbadoras da desordem num mudo ordenado. Ao contrário, este mundo é o reino da desordem, da negatividade e do caos, e é o homem (ou melhor, o espírito dentro do homem) que é o invasor, o estrangeiro procedente de outro reino. A redenção consiste em que o espírito volte do exílio deste mundo para a sua própria pátria, um reino de luz totalmente diferente de tudo o que exista no âmbito das realidades do universo material. (BERGER, 2004, p. 84).

O Maniqueísmo deriva seu nome de Manes (216-277) ou Mani, seu fundador; segundo Adalbert G. Hamman: “nascido na Mesopotâmia, que se espalhou no Extremo Oriente e no Ocidente”. O maniqueísmo prega dois princípios antagônicos: “luz e trevas” (HAMMAN, 2002, p. 185); é mencionado nas obras de “Afraates, Efrém, Cirilo de Jerusalém, Serapião, etc.” (Idem); considerado por César Vidal Manzanares: “um movimento religioso de salvação”. A “sua teologia foi combatida eficazmente, entre outros, por seu antigo correligionário Agostinho de Hipona.” (1995, p. 148). Segundo Manzanares o maniqueísmo influenciou a literatura oriental, e “nos últimos anos ressurgiu”; chegou à “criação de grupos com esta mesma teologia”. (1995, p. 149). No seu último trabalho, Berger também registra que “o judaísmo, o cristianismo e o islamismo oficiais” consideraram o gnosticismo uma ameaça radical ao monoteísmo e lutaram contra “os vários movimentos gnósticos que lhes surgiam no seio”. (BERGER, 1999, p. 85).

O Mitraísmo segundo Hamman (2002, p. 185):

Mitra: deus iraniano, de origem indo-persa (1300 a.C.). Seu culto se difundiu na Ásia Menor e no império romano (século I de nossa era). Religião astral: celebrava o deus invictus (deus invencível). Solstício de inverno, que, cristianizado, se tornou o Natal (25 de dezembro) – (Cf. Justino, Tertuliano, Orígenes)..

O Mitraísmo, segundo Kouzmin-Korovaeff, deriva seu nome de Ahura Mazda do zoroastrismo. Mitra é venerado como o salvador do mundo e deidade criadora.

Pertencente às religiões de mistério, talvez, a semelhança com o cristianismo seja uma das causas de seu desaparecimento. Afirma Kouzmin-Korovaeff (2007, p. 88):

Em muitas representações religiosas e atividades rituais o culto de Mitra se assemelha ao cristianismo. Seus seguidores creem na ressurreição dos mortos e na vida eterna, os fiéis serão recebidos na comunidade dos crentes através de uma espécie de batismo e que o sete é um número significativo. Como no século IV d.C. o cristianismo finalmente é declarado religião oficial a veneração de Mitra se depara com um final rápido.

Segundo Nichols o Zoroastrismo antigo (660 a.C.) substituiu o politeísmo natural na Pérsia por um monoteísmo pragmático, seu texto sagrado é chamado de Aveta e seu fundador foi Zoroastro, nome grego de Zaratustra. “Com a conquista islâmica da Pérsia, do ano 650 d.C., a maioria dos seguidores do Zoroastrismo fugiu para índia. Atualmente, são chamados de Parses.” (NICHOLS, 2000, p. 496). No politeísmo da Babilônia o deus criador é também o protetor da cidade, seu nome é Marduque, apresentado na Bíblia como Merodaque. A criação acontece no contexto do combate primordial entre Marduque e Tiamat. O Mito é celebrado solenemente com “a recitação do chamado épico da Criação”. Uma encenação com o poder de reatualizar o “mito”, o qual o Conflito Primordial assume uma atemporalidade. Conforme descreve Mircea Eliade no livro Mito do Eterno Retorno:

Durante o curso da cerimônia de akîtu, cuja duração era de doze dias, o chamado épico da Criação, Enúma Elis, era solenemente recitado diversas vezes, no templo de Marduque. Dessa maneira, era reatualizado o combate entre Marduque e Tiamat, o monstro do mar — combate que tinha sido realizado in illo tempore e colocara um fim ao caos, graças à vitória final do deus. Marduque teria criado o Cosmo com os fragmentos do corpo dilacerado de Tiamat, e procedido à criação do homem a partir do sangue do demônio Kingu, ao qual Tiamat tinha confiado as Lâminas do Destino (Enúma Elis, VI, 33). O fato de essa comemoração da Criação ser, na verdade, uma reatualização do ato cosmogônico fica provado tanto pelos rituais, como pelas fórmulas recitadas durante o decorrer das cerimônias. O combate entre Tiamat e Marduque era encenado por meio de uma luta entre dois grupos de atores, uma cerimônia que também é encontrada entre os hititas (uma vez mais, no quadro do cenário dramático do Ano Novo), entre os egípcios, e em Ras Shamra. A luta entre dois grupos de atores não se destinava apenas à comemoração do conflito primordial entre Marduque e Tiamat, mas ainda servia para repetir e atualizar a cosmogonia, a passagem do caos para o Cosmo. O evento mítico estava presente: “Que ele continue a vencer Tiamat e a encurtar seus dias!”, exclamava o celebrante. Considerava-se que o combate, a vitória e a Criação aconteciam naquele preciso instante. (ELIADE, Mircea, 1992, p. 60).

Os gregos agiam como agem os seus deuses; sempre com liberdade. “Na Ilíada, o herói busca tão somente a virtude e a fama.”. A relação entre o pecado e a culpa e expectativa de morte e condenação eterna gera muita angustia na humanidade. O

psicólogo Antônio Máspoli de Araujo Gomes no livro Eclipse da Alma: A depressão e

seu tratamento sob o olhar da psiquiatria, da psicologia, e do aconselhamento pastoral solidário afirma que a Depressão no Contexto da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung e da Religião comenta que, a “cultura da culpabilidade” que, “os judeus e os cristãos, “por seu turno, desenvolveram” é a que têm maiores consequências para a saúde do

indivíduo” (MASPOLI, Antônio de Araújo Gomes, in Eclipse da Alma: A depressão e

seu tratamento sob o olhar da psiquiatria, da psicologia, e do aconselhamento pastoral solidário, 2014, p. 191). Maspoli afirma (2014, p. 191):

Os gregos, portanto, desconheciam o conceito de pecado e culpa. Por outro lado, desenvolveram uma ética e conduta moral baseada no mito do herói. Na Ilíada, o herói busca tão somente a virtude e a fama. O heroísmo não pressupõe a existência da felicidade (VERNANT, 2002, pp. 169-190). A derrota na busca da virtude, longe de produzir culpa, produz apenas a vergonha. A vergonha social encontrava-se na base do controle social do comportamento do cidadão grego pela polis. O conceito de pecado, nessa cultura, foi substituído pelo conceito de responsabilidade. Na polis, o cidadão é o único responsável pelos seus atos e pelos efeitos dos seus atos sobre o destino da coletividade. Tal conceito parece melhor que o conceito de pecado, na imputação da responsabilidade sobre os atos morais.

Os homens religiosos na Grécia antiga não precisavam temer uma condenação infernal no futuro ou amar a um deus, mas precisavam mostrar respeito pela comunidade dos deuses para viver uma vida melhor neste mundo: “Ideias de ordem, liturgias ou outras obrigações são tão estranhas às pessoas quanto a penitências e pecados. Quem invoca um olímpico espera ajuda prática e não confessa quaisquer pecados nem promete arrependimento.” (KOUZMIN-KOROVAEFF, 2007, p. 12).

As religiões africanas no Brasil, no caso a Umbanda, entre outras, devendo sempre se evitar generalizações nesse campo, incorporaram as doutrinas da reencarnação do espiritismo, conforme apresentado por Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo (KARDEC, Allan. 2000), bem como conceitos cristãos de pecado e danação são rejeitados ou ressignificados. A expectativa de um cataclismo apocalíptico no futuro está presente nas tradições da antiguidade grega, meso-oriental e africana; Hades, na mitologia grega, impera sobre o mundo dos mortos, e espera por todos os mortais, o seu correspondente

africano é Omulu, chefe do Povo dos Abantesmas40 do Cemitério, a mesma divindade da varíola e das doenças em geral. Omulu é uma das respostas escatológicas, quanto ao lugar ou destino dos mortos, e tem destacado papel na preservação da memorial coletiva dos povos sem escrita. Tratando-se do guardião da “memória funerária” (LE GOFF, 2014, p. 398): tem o papel de recordar os feitos heroicos e de preservar a integridade dos sarcófagos, que desempenham “um papel central na evolução do retrato” (Idem). Assim como o mundo viveu um conflito primordial trazendo o caos na antiguidade mítica, os deuses poderiam entrar novamente em disputa trazendo o sofrimento e a catástrofe mundial. Para cada tipo de catástrofe um deus poderia ser responsabilizado, logo os cataclismos dos últimos dias só poderia ser uma repetição inevitável do conflito primordial. Restando aos homens a benevolência da divindade vencedora do conflito final.

Durkheim identificou nas religiões totêmicas as representações sociais, tomando o caso primitivo como simples para se compreender os complexos, com destaque à utilização da classificação binária (luz e trevas, bem e mal, Deus e demônio, saúde e doença) em seu livro As Formas Elementares de Vida Religiosa. Afirma que, “o homem não está em relação apenas com o meio físico, mas também com o meio social infinitamente mais extenso, mais estável e mais ativo do que aquele de que os animais sofrem influência. Para viver, é necessário, portanto, que se adapte a ele” (DURKHEIM, 2008, pp. 99-100). Os relatos da criação do mundo como uma reorganização do caos, da formação dos seres humanos a partir do barro primordial e a correlação dos eventos primordiais com um conflito cósmico são repetidos nas diversas tradições. Aqui se conclui que, assim como o homem não está imune às transformações sofridas na natureza, sofre as consequências dos conflitos dos que lhe são superiores.

A civilização dos escravos não se originou aqui, “dos quadros da sociedade brasileira”; segundo Bastide, foi trazida da África, e de lá trouxeram os seus mitos fundadores. O contínuo surgimento e ressurgimento de grande quantidade de mitos não permite que sejam todos eles investigados, classificados e interpretados, completa e conclusivamente. Porém, não podem ser ignorados, pois revelam muito sobre o sujeito, o dinamismo e a diversidade das sociedades em contínuas transformações.

Concluímos a fundamentação da tese que, quando as ciências investigam os “mitos” e investiga o passado e o futuro, deixa de ser cientifica e passa a ser filosófica inaugurando um novo conceito de mito com consequências para explicação sobre o fato histórico ou o concreto em perpétua transformação e passamos ao estudo compreensivo e comparativo dos mitos das diferentes tradições aqui apresentadas, com muito maior ênfase nas semelhanças do que nas diferenças.

Um novo olhar que facilitará a compreensão da identidade e religiosidade e do objeto do estudo de caso apresentado nesta pesquisa. O estudo da religiosidade brasileira deve considerar a ampla bibliografia dos pioneiros da antropologia,41 social e cultural, sobre o negro, o sincretismo religioso e as interpenetrações de civilizações na situação colonial e a revisão de conceitos no estudo das religiões afro-brasileiras na situação pós-moderna.

A pluralidade racial é um aspecto do homo sapiens sapiens – espécie única –. Quanto à pluralidade do humano, ou seja, a mesma espécie apresenta diversidade étnica distinguível pelos seguintes aspectos: biológicos, estruturais e culturais. Cada um desses elementos já seria suficiente para justificar a pluralidade. A religiosidade brasileira, étnica e religiosamente plural, conhece classificações para designar a diversidade ampla que possui. O entendimento da religiosidade brasileira exige a devida consideração da pluralidade étnica e da diversidade religiosa do país; portanto, será importante considerar a influência do negro na composição desta religiosidade plural e diversificada.

41 Entre outras ciências que estudam o humano ainda se destaca a paleontologia que busca o elo perdido em algum lugar no passado, pesquisa reminiscências de ordem biológica de outras categorias humanas e de eventos de ordem paleontológica. E, a arqueologia busca traços de uma cultura universal ou brasileira recolhendo materiais que são pistas; o arqueólogo busca mais que fósseis a história e a cultura.

CAPÍTULO 2 – A RELIGIOSIDADE HÍBRIDA DO BRASIL