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O Desenvolvimento na Constituição Federal de 1988: interpretar é necessário

2 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E O OBJETIVO CONSTITUCIONAL DE

2.1 O DESENVOLVIMENTO COMO OBJETIVO CONSTITUCIONAL

2.1.3 O Desenvolvimento na Constituição Federal de 1988: interpretar é necessário

O objetivo transcendental de desenvolvimento apresentado, possui diversas limitações dentro da estrutura formal da Constituição Federal brasileira de 1988, isso por que a Constituição cidadã ainda que criada sob a égide de um Estado Democrático de Direito em formação, em muitos aspectos mantinha as visões já superadas do ordenamento constitucional do ambiente liberalista, tanto quanto do bem-estar-social.

São muitas as diretrizes que foram criadas dentro do texto constitucional que permaneceram durante anos sendo observadas como meras normas programáticas padecentes de eficácia e efetividade no mundo jurídico e que deixavam por manter a liberalidade das ações econômicas de dominação sem uma estrutura de contenção.

Essas fragilidades podem ser especificamente vistas na maneira como o desenvolvimento foi incutido no ambiente constitucional brasileiro.

Previsto no preâmbulo constitucional como valor supremo equivalente a liberdade, a segurança, o bem-estar, a igualdade e a justiça, o desenvolvimento não estava expresso com o condão qualitativo que hodiernamente possui, mas sim como sinônimo de crescimento econômico, garantindo a Ordem Econômica constitucional um elemento finalístico além da pura liberdade.

Essa visão, algo já superado inclusive dentro do território brasileiro que após anos de críticas, que indicavam que a teoria unicamente econômica do desenvolvimento, ou crescimento, estaria morta, passou assim como acontecia no restante do planeta a acrescentar como revitalização da teoria, o adjetivo da sustentabilidade para significar a preocupação com

59 BRUNEL, Sylvie. Que sais-je?: Le Développement durable. 4ªed.Paris: Presses Universitaires de France, 2004. p.5.

não apenas a humanidade, mas com seu futuro, que passaria a depender de critérios ambientais.60

O desenvolvimento, desta forma, deixa de ser observado dentro de um programa condicional liberal em que se garantia ênfase à individualidade e livre autonomia da vontade em detrimento de institutos como a solidariedade e cooperação61, para dar espaço a uma mudança controlada das relações existentes entre economia, mercado, meio ambiente e a pessoa humana enquanto ser destinatário de direitos. Torna-se ele, o meio de alcance do bem estar geral62

Dessa maneira, a leitura do preâmbulo da Constituição passa por um processo hermenêutico que faz com que o desenvolvimento lá inscrito torne-se o objetivo maior que realmente é, conseguindo alterar o sentido que anteriormente possuía, uma vez que o elemento econômico dentro da sua significação deixa de ter papel principal, para atender instrumentalmente em segundo plano as demandas qualitativas da sociedade.

Na mesma medida, o objetivo constitucional de desenvolvimento conforme previsto no art. 3º, II, da Constituição Federal de 1988, passa a deter novo significado de melhoria da qualidade de vida da nação brasileira e fonte geradora de valores responsáveis pela transformação e progresso social, essa modificação de sentido neste dispositivo ainda ganha um especial papel por conseguir duplicar o seu âmbito de atuação, o primeiro que o transforma em objetivo constitucional temente as demandas da sociedade e definidor das ações do Estado, seguindo a proposta transcendente do desenvolvimento como principal elemento axiológico do atual Estado Democrático de Direito, e o segundo que vincula esse desenvolvimento ao critério

territorial obtido através do adjetivo “nacional” a ele associado.

Em ambas as perspectivas que o art. 3º, II, da Constituição Federal expõe, o desenvolvimento pode e deve ser entendido como elemento finalístico, que inclui a elevação dos níveis educacionais, culturais e tecnológicos, a solução dos problemas relacionados à saúde, condições de trabalho igualitárias, a redução dos desníveis entre pessoas e regiões e especialmente a possibilidade de atuação do cidadão nas decisões políticas estatais.

60 BRUNEL, Sylvie. Que sais-je?: Le Développement durable. 4ªed.Paris: Presses Universitaires de France, 2004. p.39.

61 FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo: Ed. Método. p.203.

62 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Apud: SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Direito ao desenvolvimento. São Paulo: Ed. Método, 2004. p.129

Enfim, o objetivo de desenvolvimento trata da garantia de um foco para o reconhecimento das demandas existentes no seio da sociedade e de uma orientação para as soluções possíveis de serem obtidas.63

Mas a concretização do desenvolvimento, como já foi mencionado, se dá somente quando o Estado consegue garantir aos cidadãos acesso aos direitos fundamentais, tornando mais concreta uma norma de característica tão fluida.

Na concretização de direitos fundamentais e no direito constitucional como um todo, a norma que define os objetivos constitucionais se põe portanto em uma posição de conciliação dos problemas materialmente existentes no seio social com a estrutura jurídica existente, gerando uma relação de complementariedade entre realidade e norma64.

Esta se torna uma realidade ainda mais palatável na medida em que as normas constitucionais de caráter finalístico e conteúdo amplo dependem de algum elemento para sua efetivação65, sendo sempre implementadas através de condicionantes bastante específicas. Tratam-se de autorizativos constitucionais determinantes para atuação estatal que com o caráter de planejamento66 restringe e intensifica um determinado âmbito de ação do Estado.

É, no entanto, preciso realizar a tarefa de interpretação, pois a norma de desenvolvimento como objetivo estatal somente pode ser entendida como uma estrutura normativa clara na medida em que os direitos fundamentais enquanto ideias são impostos como elementos a serem concretizados como uma demanda externa, inclusive, ao direito constitucional.67

Nestes termos, o direito ao desenvolvimento seria assim mais do que indicativo e menos do que cogente, especificamente ele seria uma determinante interpretativa68, garantindo ao Estado o dever de dentro de alguns moldes, especialmente transformando a normativa finalística em ações, cumpri-lo de pronto, plenamente.

Cria-se com o domínio axiológico do objetivo constitucional de desenvolvimento, um espaço para o poder estatal atuar por meio de medidas político-jurídicas, com o fim de tornar reais os interesses sociais69. Isso por que, o programa normativo inserido nos objetivos

63 . ROCHA SCOTT, Paulo Henrique. Direito Constitucional Econômico: Estado e normalização da economia. Porto Alegre: ed. Safe, 2000. p.141

64 MÜLLER, Friedrich. Teoria Estruturante do Direito. São Paulo: Ed. RT, 2008.p.217.

65 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2008, p.180. 66 SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Direito ao desenvolvimento.São Paulo: Ed. Método, 2004.p.127. 67 MÜLLER, Friedrich. Teoria Estruturante do Direito. São Paulo: Ed. RT, 2008.p.221.

68 SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Op. Cit..p.126. 69 SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Op. Cit.. p.102.

constitucionais se torna parte integrante da concretização jurídica, fortalecendo o sistema constitucional através dos dados reais obtidos através de uma análise social concreta70.

Por esse motivo que o Estado passa a formular políticas públicas, que através de um caráter vinculativo concretiza programas políticos constitucionais direcionados finalísticamente pelo objetivo do desenvolvimento71.

Essas políticas no entanto, terão conteúdos diferenciados de acordo com as dinâmicas sociais existentes dentro do território brasileiro, especificamente evidenciando a diversidade existente no espaço nacional, no qual os âmbitos nacional, regional e local adquirem importância diferenciada.

2.2 AS DIFERENTES ESFERAS DE AMPLITUDE DOS OBJETIVOS DE

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