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2. Motivação e Desenvolvimento Profissional

2.2. O desenvolvimento profissional dos professores

O conceito de desenvolvimento é um dos mais importantes para a caracterização das tendências evolutivas da psicologia de hoje. Neste contexto, assume destaque a influência de Jean Piaget (1993) que, ao longo dos tempos, foi lançando as bases,

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19 directas ou indirectas, de concepções desenvolvimentistas acerca de inúmeros processos e aspectos do funcionamento humano.

Na sequência desta contribuição de Piaget, é concedida uma crescente importância à estrutura interna do organismo, e são criticadas as concepções que pressupõem uma influência unidireccional e determinante do ambiente sobre o indivíduo.

No que se refere ao desenvolvimento de professores vamos apoiar-nos num estudo de Gonçalves (1990) que investigou o desenvolvimento profissional dos professores do 1º ciclo do Ensino Básico. Os resultados a que o autor chegou são semelhantes aos verificados por Huberman (1986) em estudos que este realizou anteriormente. Gonçalves (1990) sintetiza o percurso profissional dos professores em várias etapas, tal como apresentado no Quadro 1.

ANOS DE EXPERIÊNCIA ETAPAS/TRAÇOS DOMINANTES 1 – 4 5 – 7 8 – 15 15 – 20/25 25/40 O início

(Choque do real e descoberta)

Estabilidade

(Segurança, entusiasmo, e maturidade)

Divergência (+) Divergência(-)

(Empenhamento e entusiasmo) (Descrença e rotina)

Serenidade

(Reflexão e satisfação pessoal)

Renovação do interesse Desencanto

(Renovação do entusiasmo) (Desinvestimento e

saturação) Quadro 1 – Percursos de carreira (Fonte: Gonçalves, 1990)

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A partir dos resultados obtidos foram distinguidas cinco etapas do desenvolvimento profissional que se relacionam também, com o tempo de serviço: o início, a estabilidade, a divergência, a serenidade e o final da carreira.

1. O início – é uma fase que se observa entre o primeiro e o quarto ano de serviço, e em que pode ocorrer “entusiasmo” ou, ao contrário, “desilusão”. O período inicial de carreira é considerado por Gonçalves (1990 citado por Jesus, 1992) como o mais difícil e crítico na carreira dos professores do Ensino Básico do 1º ciclo, sobretudo devido ao processo de colocação profissional, à falta de experiência e a uma inadequada formação inicial. 2. A estabilidade – é uma fase que ocorre entre o quinto e o sétimo ano de

serviço. Caracteriza-se pela aquisição de segurança, pelo entusiasmo e pela aquisição de maturidade.

3. A divergência – é uma fase que ocorre entre o oitavo e o décimo quinto ano de carreira, durante a qual se distinguem os professores muito empenhados e os que começam a dar indícios de “saturação”.

4. A serenidade – é uma fase que ocorre entre o décimo quinto e o vigésimo quinto ano de serviço, e é caracterizada pelo distanciamento afectivo. Nesta fase, que na altura em que o estudo foi feito correspondia ao final da carreira, pode ocorrer um interesse renovado pela profissão ou, ao contrário, um maior cansaço, saturação e impaciência.

Embora os autores citados evidenciem os potenciais problemas dos professores que têm entre 10 e 15 anos de serviço, o período do início da carreira é considerado pela quase totalidade dos investigadores como o mais pertinente e potencialmente

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21 problemático, tendo em conta as implicações que o início da carreira tem para o futuro profissional (Jesus, 1992).

Huberman (1986) acentua a importância das características do pensamento do professor que, tal como se apresenta no Quadro 2, diferem e variam ao longo da sua carreira.

Entrada

(Positiva/negativa)

Estabilização

(Consolidação de conceitos pedagógicos)

Diversificação da prática Sensação de rotina (crise existencial)

Serenidade; distanciamento afectivo Conservadorismo; queixas constantes

Desvinculação

(Serena ou amarga)

Quadro 2 - O pensamento do professor segundo o modelo de Huberman (Fonte:Gonçalves,1990)

A fase de entrada na profissão docente pode traduzir sentimentos de natureza positiva ou negativa; à fase de estabilização corresponde a consolidação de conceitos de natureza pedagógica, quer sejam aqueles que o professor adquiriu na sua formação inicial, quer aqueles que decorrem da prática que já desenvolveu. Esta fase pode divergir em duas orientações que se consubstanciam, ou na diversificação de práticas, ou em sentimentos de rotinas instaladas; no caso da diversificação de práticas, o professor experimenta sentimentos de serenidade e distanciamento afectivo; à sensação

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de rotina está associado o conservadorismo e a manifestação constante de queixas. Como última fase Huberman (1986) refere a de desvinculação que corresponde ao período final da carreira. Esta poderá ser “serena “ ou “amarga” em consequência do trajecto anterior que, como vimos, pode divergir em dois sentidos.

Fuller (1974) num estudo clássico, assinalou que na fase de pré-ensino, os futuros professores manifestam-se muito preocupados com a situação dos alunos, tendo frequentemente uma visão fantasiosa da vida de professor. Nos primeiros tempos de leccionação, face aos problemas que encontram nas escolas e nas suas relações com os alunos, passam a centrar as suas preocupações na sua própria sobrevivência, e na sua imagem como professores. O progressivo domínio da situação do ensino, nos três ou quatro primeiros anos, possibilita-lhes abandonarem esta visão egocêntrica centrando agora as suas preocupações nos alunos e nas suas condições de aprendizagem, alargando progressivamente, a sua reflexão a todo o sistema.

Como podemos constatar, tanto para Gonçalves (1990), como para Huberman (1986), como para Fuller (1974), as diferentes experiências, atitudes, percepções, expectativas, satisfações, frustrações e preocupações dos professores parecem estar correlacionados com as diferentes fases da sua vida profissional e pessoal. Os autores citados admitem que cada uma destas fases não é de passagem obrigatória, e que existem aspectos ou situações pessoais, profissionais, contextuais que influenciam os professores. Como escreve Huberman (1986), é possível aceitar que a vida dos professores é um processo, não uma sucessão de acontecimentos, e que este processo não é linear, mas está repleto de oscilações ou regressões.

O desenvolvimento profissional do professor, desde o momento da escolha vocacional ou da opção nesse sentido, mesmo que determinada por circunstâncias

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23 exteriores, envolve uma multiplicidade de aspectos que transcendem a preparação formal para o exercício da profissão (Gonçalves, 1990).

Existem diversos programas de formação que procuram contribuir para a prevenção de situações de mal-estar docente e para o desenvolvimento profissional dos professores.

Para aprender a reduzir o mal-estar docente o professor deve aceitar a possibilidade da existência dessa situação nos seus colegas e nele próprio, compreender o significado dos sintomas, identificar os potenciais factores que podem estar a contribuir para essa situação, identificar as estratégias que utiliza no trabalho e fora dele e desenvolver programas personalizados para redução desses sintomas (Dunham, 1992 citado por Jesus, 1996).