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CAPÍTULO 3 A RECONSTRUÇÃO DO PRINCÍPIO DA CAPACIDADE

4.2 DO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

4.2.2 O Direito do Desenvolvimento como um Direito de 4ª Geração

Para Alberto Nogueira, Eliana Calmon, e Paulo Bonavides, o Direito ao Desenvolvimento é direito de quarta geração. Na visão de Miguel Calmon Dantas, os direitos de quarta geração ou dimensão correspondem a uma fase ainda em construção no constitucionalismo contemporâneo.271

Hoje a doutrina, já fala nos Direitos de Quarta Geração que incluem direitos para o futuro, não apenas para garantir a liberdade individual, ou o bem-estar-social, ou o ambiente sadio ou uma educação adequada. Trata-se de direitos para as gerações futuras, com a finalidade de não legar aos filhos, netos, bisnetos, e futuras gerações, um patrimônio social, político, educacional, ambiental, coletivo, devastado.272

Alberto Nogueira doutrina que surge uma nova concepção de Direito, não mais o Direito meramente individualista, não mais o Direito estritamente social, o Direito de créditos sociais, de provimento, de se limitar às necessidades de um Estado social, não mais o Direito Civil, o Direito Criminal, o Direito do Comerciante, mas um Direito que abrange todos os Direitos, os de primeira geração, os clássicos, o de segunda e terceira gerações, Direitos sociais e Direitos coletivos, mas, os direitos de quarta geração, que representam os direitos do homem no sentido de que ele será aplicado e reconhecido para qualquer homem, em qualquer lugar, em qualquer jurisdição deste Planeta. Esse é o sentido da formatação de um novo

269

ALMEIDA, Guilherme Assis de; PERRONE-MOISÉS, Cláudia (coord.). Direito Internacional dos direitos humanos: instrumentos básicos. São Paulo: Atlas, 2002. p.181-185.

270

Ibid., p.183-184.

271

DANTAS, Miguel Calmon. Direito à constitucionalização de direitos. In: LEÃO, Adroaldo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo (coord.). Direitos constitucionalizados. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 304.

272

mundo livre, sob o aspecto do Direito, de cada um ver reconhecido em qualquer lugar do mundo.273

O Direito ao Desenvolvimento pertence à quarta geração de direitos, a qual envolve direitos que dizem respeito à qualidade de vida e não simplesmente à vida. Preocupa-se com a vida das futuras gerações. No entender da Ministra do STJ, Eliana Calmon, quando se fala nas tendências dos direitos de quarta geração, tem- se que, necessariamente, enfocar a questão da ética e da moralidade como princípios norteadores da vida em sociedade, até porque, trata-se de uma questão de sobrevivência da humanidade.274

O Direito ao Desenvolvimento pertence a uma nova tipologia de direitos humanos que se desenvolveu no plano do Direito Internacional Público, de natureza transindividual, relacionado à cidadania pós-material, advém do direito de solidariedade. Relaciona-se à qualidade de vida. Caracteriza-se por ser direito difuso. É direito dos povos, tendo em vista que é, simultaneamente, direito de titularidade individual e coletiva.

É um imperativo ligar o direito do desenvolvimento como um direito humano. Isto porque, se, tradicionalmente, a agenda de direitos humanos centrou-se na tutela de direitos civis e políticos, sob o forte impacto da voz do norte, testemunha-se, atualmente, a ampliação dessa agenda tradicional, que passa a incorporar novos direitos econômicos, sociais e culturais, no direito do desenvolvimento. Trata-se de uma ampliação da Agenda Nacional dos Direitos Humanos Universais, conforme registro de Piovesan.275

O Direito ao Desenvolvimento enquadra-se na concepção contemporânea de direitos humanos, a qual foi reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993, resultante da reconstrução da Declaração de 1789. O Direito ao Desenvolvimento é um direito humano formalmente reconhecido, a fim de que possa ser efetivado, materialmente.276

O século XX foi marcado por duas guerras mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto político e industrial. Nesse sentido, observa Ignacy Saches que, o Direito ao Desenvolvimento é direito humano, que se delimita, em seu universo, por

273

NOGUEIRA, 2001, op. cit., p. 179.

274

CALMON, Eliana. Direitos de quarta geração: biodiversidade e biopirataria. Boletim ADCOAS 37, ano 6., n. 11, nov., 2003. p. 395.

275

PIOVESAN, Flávia. Pobreza como violação de direitos humanos. In: WERTHEIN, Jorge; NOLETO, Marlova J. (org.) Pobreza e desigualdade no Brasil: traçando caminhos para a inclusão social. Brasília: UNESCO, 2004. p. 135-162.

276

todas as prerrogativas inerentes aos direitos humanos, tais como a universalidade, a necessidade de efetivação na vida real, a responsabilidade civil dos Estados em caso de descumprimento de determinações protetivas e asseguradoras, necessidade de fomento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento.277

As iniciativas de políticas públicas devem ser não só globais, mas locais, para fomentar a associação do Direito ao Desenvolvimento como um direito humano, e dessa maneira efetivar a redução das desigualdades sociais e econômicas, um problema que por si só priva a imensa maioria da população mundial de uma existência digna.278 A tributação é atividade do Estado que deve estar voltada para atender às exigências constitucionais relativas ao desenvolvimento.

A sociedade contemporânea inserida em um contexto econômico-social de globalização se destaca pela valorização do trabalho em relação ao desenvolvimento econômico. A reflexão que se traz é no sentido de que, desenvolvimento econômico não é apenas crescimento econômico e nem tampouco distribuição de riqueza. Pressupõe a distribuição dessa riqueza em favor do bem-estar social e a participação da sociedade.279

O Direito do Desenvolvimento é finalista, constituindo-se num programa de normas em busca da superação das disparidades de desenvolvimento dos Estados. Contempla-se o Direito do Desenvolvimento, sob o enfoque econômico, mas primordialmente humano e social.280

Nesse sentido, a tributação justa é instrumento adequado para fomentar desenvolvimento.

277

CHEREM, Mônica Teresa Costa Sousa. Muito além da utopia: o Direito ao Desenvolvimento na perspectiva da globalização. In: CHEREM, Mônica Tereza Costa Souza; DI SENA JÚNIOR, Roberto (org.) Comércio internacional e desenvolvimento: uma perspectiva brasileira. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 94-105.

278

Ibid., p. 94-105.

279

VINHA; RIBEIRO, 2005, op. cit., p. 442.

280

4.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL DE 1988 E A PROTEÇÃO AO