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CAPÍTULO 3 A RECONSTRUÇÃO DO PRINCÍPIO DA CAPACIDADE

3.1.1 O princípio da capacidade contributiva no Direito Comparado

A Constituição da República Brasileira de 1988 constitucionalizou a obrigatoriedade de o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza ser informado pelo critério da progressividade.168

As doutrinas tributaristas portuguesa e brasileira são assentes em posicionar a capacidade contributiva como o critério adequado à repartição do imposto.169 A Constituição Alemã de 1949 não estatui de forma expressa o princípio da capacidade contributiva, mas o princípio da igualdade está positivado em seus artigos 3, 12, 14, 20, I.170 No Brasil, o artigo 145, §1º, da Constituição de 1988 determina que os impostos serão graduados segundo a

164

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 181; 182.

165

AMARO, Luciano. Direito Tributário brasileiro. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 138.

166

COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988: sistema tributário. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 297.

167

ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário. 3.ed. rev. e atual. De acordo com a EC nº 53, de 19.12.2006. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 379.

168

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. art. 123, I.

169

VASQUES, 2004, op. cit., p.60.

170

capacidade econômica do contribuinte. A Constituição Espanhola de 1978, em seu art. 31 estabelece a regra de observância da capacidade econômica do contribuinte. O art. 73 da Constituição Turca utiliza a expressão “capacidade financeira”. O art. 53 da Constituição Italiana de 1967 adota a expressão capacità contributiva.171

Na Alemanha, a doutrina dominante na Ciência dos Impostos e também na Ciência do Direito dos Impostos, declara-se favorável ao princípio da capacidade contributiva. A doutrina de Klaus Tipke anuncia que, o Tribunal Constitucional Federal Alemão, em vários acórdãos, baseia-se no princípio, interpretado no sentido de que todos devem pagar impostos segundo o montante da renda disponível para o pagamento de impostos.172

Os tributaristas alemães definem capacidade contributiva como a capacidade econômica de pagar impostos. É certo que eles partem do princípio de que a capacidade contributiva pressupõe capacidade econômica. Nessa medida, reduziram a base de cálculo do imposto de renda, vendo nisso uma medida de justiça fiscal e fomento à economia. A visão dos tributaristas alemães corresponde à definição anglo-saxônica da ability to pay.

O Tribunal Constitucional Federal Alemão decidiu, em 1991, que não basta que o cidadão declare os fatos relevantes para o lançamento. Também deve ser apurado pelas autoridades da Administração Fazendária se as informações são corretas.173 Ricardo Lobo Torres registra que, o Tribunal Constitucional da Alemanha vem se esforçando em quantificar as parcelas necessárias à proteção do mínimo existencial familiar diante do imposto de renda.174

Nesse sentido, torna-se corolário dos sistemas fiscais-tributários dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, que adotam em suas Constituições o princípio da capacidade contributiva tal qual inaugurado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, resultante da Revolução Francesa, o de que a tributação da renda deve repercutir no acréscimo patrimonial.

Registra Humberto Eustáquio César Mota Filho que, quase todas as Constituições italianas, a partir das emanadas no fim do século XVIII, à semelhança do previsto no art. 13

171

TIPKE apud TIPKE; YAMASHITA, 2002, op. cit., p. 30.

172

Ibid., p. 31.

173

Ibid., p. 25.

174

da Declaração Dês Droits de 1789, estabeleceram que os impostos deveriam ser repartidos em proporção às possibilidades econômicas dos indivíduos. Destaca, ainda, que a Constituição de Weimar, de 1919, retornou ao caminho já trilhado pela Constituição Francesa de 1789, ao prever no seu art. 134, que os cidadãos, sem distinção, deviam contribuir proporcionalmente às suas faculdades, para o custeio dos gastos públicos, de acordo com a lei.175

O princípio da capacidade contributiva, no registro de Fernando Pérez Royo, foi implicitamente consagrado na Constituição Revolucionária Francesa, de 1791, como decorrência do princípio da igualdade.176 Na Argentina, o princípio está implícito no art. 4º da Constituição de 1994, que prescreve que os tributos serão instituídos eqüitativa e proporcionalmente. No México, a Constituição de 1917, prevê no art. 31 que cada cidadão contribuía em medida proporcional e equânime. A Constituição da República da Nicarágua, de 19.11.1986, estabelece em seu artigo 114 que “el sistema tributário debe tornar en

consideracion la distribución de la riqueza y de lãs rentas”.177 Complementa Hugo de Brito Machado que a consciência acerca do princípio da capacidade contributiva é universal. Todavia, adverte o autor, a problemática não consiste na consciência, mas na efetividade do princípio.178

A doutrina tributarista nos Estados Unidos também, dispõe-se, no atual momento, a rescontruir o princípio da capacidade contributiva. Joseph M. Dodge ilustra que o princípio em estudo deve ser interpretado em perfeita harmonia com as teorias sociais de justiça. Para o doutrinador norte americano a justiça, no princípio da capacidade contributiva, está em posicionar os contribuintes iguais no mesmo nível de tributação, permitindo nivelar de forma diferenciada os contribuintes em situação econômico-jurídica diferente. Conclui o doutrinador que o princípio em comento é um princípio de justiça.179

175

MOTA FILHO, Humberto Eustáquio César. Introdução ao princípio da capacidade contributiva. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 55-56.

176

ROYO apud RIBEIRO, Ricardo Lodi. A evolução do princípio da capacidade contributiva e sua configuração no panorama constitucional atual. In: QUARESMA, Regina; OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula (org.). Direito constitucional brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v. 1. p. 473.

177

MACHADO, Hugo de Brito. Os princípios jurídicos da tributação na Constituição de 1988. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p. 48.

178

Ibid., p. 49.

179

DOGDE, Joseph M. Theories of tax justice: ruminations on the benefit, partnership, and ability-to-pay principles. Tax Law Review, summer, 2005.

Há, pelo menos, consenso na doutrina americana no sentido de que a tributação deve estar de acordo com a capacidade contributiva do contribuinte.180 Barker, utilizando-se da doutrina de John Locke, para quem a tributação deve obedecer ao princípio da igualdade de modo que a exação recaia sobre cada um dos cidadãos da sociedade de modo a efetivar a democracia, para se atingir a capacidade em contribuir fazem-se mister três pressupostos: o primeiro deles consiste na aceitação coletiva da importância do fato de ter que contribuir para o custeio do Estado; o segundo deles consiste na adequação econômica da exação, sua repercussão na vida do contribuinte; o terceiro deles se volta para o Estado, na sua capacidade de elaborar política pública de natureza tributária.181

3.2. O PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA PARA O IMPOSTO DE RENDA