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CAPÍTULO 1 O ESTADO, A PÓS-MODERNIDADE, A ECONOMIA E A

1.3 O HOMEM O CIDADÃO EVOLUÇÃO A TEORIA SOCIAL HODIERNA

Todos herdam da sociedade, por meio do Estado, um pacote básico de direitos, deveres e recursos. O horizonte da atuação social do Estado é o desenvolvimento da herança social.68

O conceito de cidadania nos dias atuais é assunto de debates não só nas escolas, mas nas empresas, nos clubes, nos templos, nos partidos políticos, em todos os espaços e seguimentos da sociedade. Expressam-se nos processos reivindicatórios que vão desde a luta

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VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira. Limitações constitucionais ao poder de tributar e tratados internacionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 120.

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CHEREM, Mônica Teresa Costa Sousa; DI SENA JÚNIOR, Roberto (org.). Comércio internacional e desenvolvimento: uma perspectiva brasileira. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 94.

67

VALADÃO, 2000, op. cit., p. 120.

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por saneamento básico, saúde, educação, até o fim da discriminação sexual, racial, para atingir o desenvolvimento econômico e social nos países de regime político-democrático.69

A cidadania deve sempre ser pensada como processo histórico, como conceito ao qual se atribuem novas determinações. A cidadania não é dada para sempre, de modo pacífico, mas é fruto de uma luta permanente, de um longo período histórico.

O constitucionalismo político e social do Estado pauta-se na cidadania de igualdade, a qual detém no Estado Democrático de Direito, autonomia pública e privada, cuja formulação é composta de indivíduos plenamente autônomos, autores e destinatários de suas ações.70 Isto porque a democracia deve ocorrer em ambiente em que todas as classes sociais têm oportunidades no processo econômico, de forma a gerarem possibilidades de escolha na vida pessoal e profissional.71

O conceito de cidadania tem ocupado lugar de destaque no mundo contemporâneo. Desde a Antiguidade Clássica o que se vê são momentos de crise e êxtase no processo de consolidação da cidadania e dos direitos humanos. O período negro que precedeu a Revolução Francesa foi marcado pela humilhação e segregação do homem pelo homem, apoiados em fulcros religiosos. Deve ser reconhecido, que ainda existem enclaves de repressão do homem pelo homem em bases religiosas, como em países do Oriente Médio e da África.

A racionalidade na modernidade, ao passo que iluminou certas mazelas, criou outras formas de exploração e segregação. Contudo, teve o mérito de observar que, sem a garantia de direitos mínimos, a humanidade e o comércio estavam fadados ao extermínio. Não à toa os direitos à vida, à liberdade e à propriedade foram os primeiros a serem consagrados pela Declaração Francesa dos Direitos do Homem.72

O processo de desenvolvimento da cidadania, no curso da afirmação e da consolidação do Estado Moderno traz à baila algumas questões que surgem à idealidade democrática,

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CRUANHES, Maria Cristina dos Santos. Cidadania: educação e exclusão social. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabis, 2000. p. 16.

70

MENDONÇA, Gustavo Proença S. Cidadania multicultural e os novos desafios para a ordem constitucional. In: VIEIRA, José Ribas (coord.). Perspectivas da teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007. p. 94.

71

CAMPOS, Eduardo Nunes. Cidadania social nos blocos regionais: a experiência da comunidade européia e do Mercosul. In: ANNONI, Danielle. Os novos conceitos do novo direito internacional: cidadania, democracia e direitos humanos. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002. p. 145-164.

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quando delineada sobre bases co-participativas para que resulte em um modelo de cidadania plena, com força emancipadora, a qual supera barreiras entre as classes.73

Demonstra Theodoro H. Marshall que a cidadania não é um status meramente legal, de conteúdo estático e definitivo, algo que, concedido ao indivíduo o acompanhe de uma vez e para sempre, mas sim um processo social. A igualdade perante a lei que nasce com a Revolução Francesa é só o início desse processo.74

A virada do século XX para o século XXI revela que o reducionismo da concepção antropológica da modernidade, pelo qual o homem é definido por apenas uma de suas faculdades é indicador da necessidade de se rever paradigmas até aqui consagrados de racionalidade, objetividade, progresso ilimitado.

1.3.1. A Cidadania em um mundo globalizado

A sociedade exerce seu papel social ligado intrinsecamente à Democracia e aos Direitos Humanos, dos quais se dessume a liberdade, a integridade e a consciência. A partir desses aspectos, identifica-se a cidadania como fenômeno humanístico, o qual é estudado nos dias atuais no plano internacional do Direito e dos direitos. A sociedade acabou por instaurar uma nova economia iterativa. O Estado Democrático de Direito resulta das Revoluções, das Constituições decorrentes, das Declarações de Independência dos EUA e dos Direitos do Homem e do Cidadão, nele se consagra os princípios liberais políticos e econômicos.

Danielle Annoni complementa:

“A democracia só pode ocorrer se todas as classes sociais tiverem as mesmas oportunidades no processo econômico, de forma a gerarem as mesmas possibilidades de escolha na vida pessoal e profissional”. “Todo este processo de amadurecimento das lutas e conquistas de novos direitos frente ao Estado e, por conseguinte, da ampliação do conceito de cidadania, fortaleceu-se com o surgimento da ideologia do Estado Social.” “A igualdade perante a lei que nasce com a Revolução Francesa é só o início desse processo.” “O Estado é quem reconhece e concebe a cidadania porque o desenvolvimento da cidadania passa necessariamente pelas instituições públicas.”75

73

CRUANHES, 2000, op. cit., p. 17-25.

74

MARSHALL, Theodore H. O desenvolvimento da cidadania até o fim do Século XIX. In: MARSHALL, Theodore H. Cidadania e classe social: leituras sobre a cidadania. Brasília: Senado Federal, 2002. v. 1. p. 9-22.

75

ANNONI, Danielle. O Direito da democracia como requisito imprescindível ao exercício da cidadania. In: ANNONI, Danielle (org.). Os novos conceitos do novo direito internacional: cidadania, democracia e direitos humanos. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002. v. 1. p. 96-98.

“Destaque-se dois aspectos distintos acerca do desenvolvimento da cidadania: o primeiro diz com a inclusão de novas categorias de pessoas nos direitos de cidadania existentes; o segundo diz respeito à inclusão de novos tipos de direitos na cidadania, a criação de novas componentes ou elementos de cidadania.”76

Para que a democracia se configure, não é bastante que o Estado atue positivamente na satisfação das necessidades das camadas populares carentes ou redistribua a riqueza em vista a maior eqüidade entre as classes sociais. Imprescindível é, para sua existência, a participação de todos, de todas as classes componentes da sociedade no processo não apenas político, mas também econômico.77

A democracia representa um sistema de adoção de decisões que fomentam a liberdade, a qual representa o objetivo maior do Estado Social Democrático de Direito. Nesse contexto, cidadão “torna-se aquele que possui exerce todos os direitos garantidos, dentro e fora das fronteiras do seu Estado. A partir dessa construção, Annoni sugere que o corrente conceito de cidadania se relaciona à completa fruição e exercício dos Direitos Individuais, Sociais, Políticos e Econômicos - Direitos Humanos -, garantidos no ordenamento jurídico interno e internacional.

Democracia, cidadania, direitos humanos, Estado de Direito e sociedade são elementos interdependentes e não mais restritos ao território nacional. O medo de uma nova grande guerra e a preocupação com a reconstrução dos mercados consumidores e produtores mundiais foram os fatores que motivaram, na segunda metade do século XX, a retomada das relações internacionais entre os Estados. O trânsito de mercadorias e serviços, seguido pelo de pessoas e capitais, motivou a necessidade de se rever conceitos. 78

Elucida Valadão que, o homem contenporâneo vive em sociedades organizadas em Estados. É a organização estatal a garantidora dos direitos humanos dos seus cidadãos, seja por meio de ação administrativa, seja por meio de ação judicial, seja por garantir, dentro de suas fronteiras, a liberdade de seus cidadãos.79

76

ANNONI, 2002, op. cit., p. 98.

77

Ibid., p. 99.

78

Ibid., p. 99.

79

VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira. Direitos humanos e tributação: uma concepção integradora. Direito em Ação, Brasília, v. 2, n. 1, p. 221-242, set. 2001.

CAPÍTULO 2 - A TRIBUTAÇÃO. A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E