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1. Origem do direito comercial

4.1 O Direito Europeu das Sociedades

A Diretiva vincula o Estado-membro porque impõe uma obrigação de resultado, com força obrigatória geral, quanto aos destinatários que ela própria designa, deixando a liberdade de escolha da forma do instrumento jurídico, bem como o conteúdo do ato interno de cada Estado. Isto decorre da ideia de que a Diretiva não pode modificar, unilateralmente o direito nacional111.

Desde a adesão de Portugal à União Europeia112 que Portugal está vinculado a integrar

progressivamente as Diretivas, transpondo para a ordem jurídica nacional, o teor das decisões europeias.

Ao longo de 26 anos de presença numa ordem jurídica supranacional, podemos dizer que estamos na esteira da harmonização do direito europeu das sociedades, através de uma conciliação que o nosso direito societário tem determinado com a transposição das Diretivas e a aplicação dos Regulamentos.

A evolução do direito europeu das sociedades a que alguma doutrina não reconhece, até agora, um estrondoso êxito113, não deixa, porém, de trazer consequências benéficas

110 O princípio da liberdade de associação foi proclamado, para a constituição de sociedades anónimas, em 22 de junho de 1867, com a exceção daquelas que explorassem concessões do Estado, e ainda foi estendido às sociedades por quotas pelo Decreto de 11 de abril de 1901. A liberdade de iniciativa económica privada, hoje em dia, um direito económico fundamental, inscrito no art. 61.º nº 1, da Constituição da República. Cf. Anotação ao citado artigo, em J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. I. 111 Cf. João Luiz Mota de Campos, João Mota de Campos, Manual de Direito Comunitário, p.323 e ss. Esta posição sustentada na interpretação do art. 249.º do Tratado de Roma, foi contraditada por um Acórdão de 4 de dezembro de 1974, proc. 41/74, caso Duyn, Col. 1974, p.569, que passou a admitir a aplicação direta da Diretiva comunitária, desde que cumpridos certos requisitos que o próprio Aresto definiu.

112 Portugal tornou-se membro de facto da EU, em 1 de janeiro de 1986, no entanto a adesão à moeda única efetivou-se no primeiro dia de janeiro de 2001, facilitando as trocas comerciais.

113 Cf. sugestiva contribuição de Menezes Cordeiro, que alega a exigente complexidade do direito europeu, e afirma a necessidade de distinguir as empresas pelas suas dimensões, referindo-se claramente ao seu volume de negócios. In Evolução do direito europeu das sociedades, ROA.

provocadas pela conciliação da ordem jurídica comercial com a aprendizagem permanente dos sistemas societários nos vários países da UE.

O direito europeu das sociedades é “um conjunto concatenado de normas e de princípios que visa regular as sociedades comerciais, no âmbito da União Europeia. Está radicado na intenção de facilitar às empresas, o acesso à liberdade de estabelecimento dentro do espaço da União Europeia114. Para tal, busca-se a simplificação do ambiente empresarial e regula-se a sintonização progressiva das regras de registo e publicidade das entidades comerciais com sede em qualquer Estado-membro da União.

Quanto às fontes, o direito europeu das sociedades manifesta-se pelas normas primárias, os Regulamentos, as Diretrizes, os diplomas de transposição, a jurisprudência comunitária e a jurisprudência nacional quando aplica o direito europeu. Assim, normas primárias são as cláusulas contidas no Tratado de Roma, cuja última alteração foi introduzida pelo Tratado de Lisboa115. Salientamos que a liberdade de circulação de pessoas e bens e a progressiva

abolição das restrições ao direito de estabelecimento em qualquer Estado-membro, vem inscrita naquela norma primária, e equipara, para o efeito, as sociedades comerciais, às pessoas singulares, nacionais de cada Estado-membro116.

Em suma, o direito europeu das sociedades, de europeu nada tem, apenas se refere assim, por ser um acervo legislativo, em permanente evolução e que visa a sintonização dos direitos nacionais, com o objetivo de proteger as atividades económicas, tanto internamente como nas atividades transfronteiriças, o reconhecimento recíproco das ordens jurídicas nacionais. A uniformização de sistemas de publicidade registal. Enfim, a preparação de um regime de uma forma societária europeia: a Societas Europea117.

É, pois, necessário facilitar o acesso dos vendedores, credores, parceiros comerciais e consumidores a documentos e informações oficiais e fiáveis no intuito de aumentar a transparência e segurança jurídica em toda a UE. “Cada vez mais, as pessoas circulam e as

114 Diretiva nº 68/151/CEE de 09.03.1968. Programa para a eliminação dos limites à liberdade de estabelecimento, JOCE n.º L 65,812, de 14.03.1968, que foi alterada pela Diretiva 2003/58/CEE de 15.07.2003 no que diz respeito aos requisitos de publicidade relativamente a certas categorias de sociedades (JOCE L 221/13 de 4.09.2003).

115 Entrou em vigor em 1 de 2009 e foi ratificado pelos atuais 27 Estados membros.

116 Cf. Artigo 54.º (ex-artigo 48.º TCE) “As sociedades constituídas em conformidade com a legislação de um Estado-Membro e que tenham a sua sede social, administração central ou estabelecimento principal na União são, para efeitos do disposto no presente capítulo, equiparadas às pessoas singulares, nacionais dos Estados- Membros. Por “sociedades” entendem-se as sociedades de direito civis ou comerciais, incluindo as sociedades cooperativas, e as outras pessoas coletivas de direito público ou privado, com exceção das que não prossigam fins lucrativos.”

117 É uma sociedade anónima de tipo transnacional criada pela Diretriz 2001/86/CE de 8 de outubro, cujo regime foi aprovado pelo Regulamento n.º 2157/2001, de 8 de outubro. De europeia tem apenas o nome, pois cinge-se ao regime registal vigente em cada Estado-membro onde se encontre sedeada.

empresas expandem-se para além das fronteiras nacionais, aproveitando as oportunidades oferecidas pelas fronteiras abertas e pelo Mercado Único Europeu. É, pois, necessário facilitar o acesso dos vendedores, credores, parceiros comerciais e consumidores a documentos e informações oficiais e fiáveis no intuito de aumentar a transparência e segurança jurídica em toda a UE118.