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1. Origem do direito comercial

7.1 Processo de Registo

7.1.1 Elementos do processo registal

Neste capítulo vamos abordar o processo de registo, tendo em conta as normas onde são reguladas as matérias relativas ao pedido de registo, legitimidade e representação, a prova documental, os modos de qualificação do registo ao dispor do conservador, e obrigatoriedade de despacho fundamentador das decisões de recusa e provisoriedade.

O processo de registo “deveria o conjunto de atos jurídicos integradores, em sequência temporal, da relação registal, sendo o ato final o de tomada de conhecimento. Contudo, entende-se, em regra, o processo registal como finalizado com aquele ato final do processo (…) a decisão do oficial registador, que conduz à elaboração do registo ou à sua recusa”377. A este conjunto de atos concatenados se chega ao conhecimento por parte dos destinatários do registo. O iter processual é pois o conjunto de atos que se agrupam em três fases: a petição, instrução e decisão378. Então, o fenómeno registal é um processo que se inicia por uma declaração de vontade, a promoção do registo. Esta pode ser uma iniciativa privada, ou resultar de uma obrigação do Estado, que regista oficiosamente, a expensas da entidade sujeita a registo379.

Para melhor sistematizar o estudo do processo registal recorremos a Ferreira de Almeida estabeleceu os seus elementos, a saber: os sujeitos que são os autores dos atos que promovem o registo; o autor do ato mediato (registo); os destinatários. O objeto, situação jurídica pessoal. Os fatos, atos de iniciativa de conhecimento; os registos, a tomada de conhecimento. O resultado é o conhecimento por terceiros380.

São registos oficiosos também aqueles que são elaborados gratuitamente pela conservatória e decorrem da alteração tabular existente na entidade comercial, ou noutras que com ela tenham

377 C.F. de Almeida, sugere que “a relação do conhecimento registal impõe não um processo registal, mas vários processos, referentes cada um a seu facto” in Publicidade e Teoria dos Registos, p.164-165.

378 Idem, p.166.

379 No atual regime jurídico de registo comercial os registos oficiosos resultam da iniciativa estadual – Ministério Público, tribunal e conservatória – a quem incumbe a obrigação de promover os registos que criem, modifiquem ou extingam a situação jurídica das pessoas coletivas. Exemplos daqueles: a dissolução administrativa pelos motivos que a lei prevê, a insolvência, a transmissão de quotas não promovida pela sociedade. Em todos estes casos a entidade sujeita a registo é notificada da iniciativa oficiosa.

uma relação tabular381. Esta é uma exceção ao princípio da instância que tem toda a razão de ser, visto o conservatória estar virtualmente em melhores condições de conhecer as interligações que os registos têm. Lembramos o cancelamento da matrícula de uma sociedade incorporada, resultante da transferência global do património para a incorporada resultante de fusão. As várias modalidades de cisão e seus efeitos imediatos à feitura do registo são sumariamente abordados por Parecer do CT 382.

A partir da reforma de 2006, foram alteradas as regras do registo comercial. Foram criadas, duas novas formas de registo, por transcrição e por depósito, regulada a legitimidade especial, no caso de pedido de registo por depósito, os registos dos fatos relativos à SE e ainda a atribuição competência da verificação da legalidade dos atos prévios à fusão e fusão e constituição e transferência da sede da SE.

Foi ainda, criado um novo regime jurídico de dissolução administrativa que regula a dissolução e liquidação oficiosa das sociedades comerciais.

O RCC é o guia do modus faciendi, organiza o suporte e processo de registo, indica quais os elementos - menções obrigatórias - que devem constar em cada tipo de registo383. Ali se consagram os elementos a extrair dos documentos de suporte que acompanham o pedido de registo, o que constará em cada inscrição, averbamento e anotação, na elaboração dos registos384.

7.1.2 O Registo Nacional de Pessoas Coletivas

Ao RNPC 385 compete gerir o FCPC, bem como emitir os certificados de admissibilidade de firma ou denominação, protegendo a exclusividade do seu uso, consoante a natureza das entidades em causa. A admissibilidade de firma ou denominação está sujeita aos princípios gerais mencionados infra386. Para além destes aplicam-se regras especiais a todas as entidades sujeitas a registo, entre as quais, as associações e fundações, as sociedades comerciais e

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Exemplos encontrados, na lei adjetiva: o cancelamento da matrícula da entidade comercial que decorra do registo definitivo de fatos que tem por efeito a extinção, conversão de registo provisório em definitivo. Cf. Arts. 62.º-A, 87.º, n.º 4, 27.º n.º 1.

382 Cf. O art. 67.º-A do CRCom. Ainda entendimento do Parecer P.C.o 6/2010 SJC-CT de 29 de setembro de 2010.

383 Decorre do princípio da especialidade, a indicação expressa das menções a inserir no registo.

384 Aprovado pela Portaria n.º 657-A/2006, de 29 de junho, é o manual prático do registador, indica as menções obrigatórias de cada registo. Cf. também os arts. 57.º a 59.º do CRCom.

385 As funções e competências do RNPC cujo regime foi aprovado pelo DL n.º 129/98 de 13 de maio, que sistematizou num só diploma, a legislação dispersa e promoveu a integração do RNPC no âmbito dos serviços do registo comercial.

sociedades civis sob forma comercial, os comerciantes individuais, os empresários individuais, os EIRL, a herança indivisa, as sociedades civis sob forma civil, outras pessoas coletivas, a transmissão do estabelecimento387.

A terminologia do regime do RNPC “a expressão firma, por que são designados os comerciantes individuais, as sociedades civis e comerciais e os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, compreende a firma-nome, constituída pelo nome do comerciante ou de um ou mais sócios da sociedade (nome próprio e apelido, incluindo alcunha usada pelo seu titular), a firma-denominação, constituída por elementos descritivos, em regra alusivos à natureza jurídica e à atividade, frequentemente precedidos ou seguidos por um elemento característico – sigla, fantasia, composição ou acrónimo –, e firma mista, constituída por elementos nominativos e por elementos denominacionais; em qualquer caso, acresce o aditamento identificativo do tipo de pessoa coletiva, sempre que legalmente exigido”388. O RNPC, para além de gerir a base de dados do ficheiro central de pessoas

coletivas, também funciona como um serviço de registo comercial, para os produtos na hora389.

Das decisões do conservador sobre pedido de denominação cabe recurso hierárquico, e da decisão do diretor-geral dos registos e do notariado sobre este recurso, segue para o tribunal do domicílio ou sede do recorrente390.

As entidades cujas denominações são certificadas pelo RNPC são, designadamente: os comerciantes individuais, os empresários individuais não comerciantes, os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, as sociedades civis sob forma civil, as sociedades por quotas plurais ou unipessoais, as sociedades anónimas, as sociedades em nome coletivo, as sociedades em comandita, as sociedades europeias, as associações e fundações, as Ordens Profissionais, as federações desportivas, outras pessoas coletivas, tais como: as entidades do SEE, os AEIE, os ACE, as cooperativas. As pessoas coletivas religiosas são registadas no RNPC, tendo por efeito a atribuição de personalidade coletiva391.

387 Cf. Arts. 36.º a 44.º do RRNPC. 388 J. de Seabra Lopes, op. cit., p. 325.

389 Art. 29.º do DL n.º 87/2001 de 17 de março.

390 Arts. 63.º e ss e 66.º e ss do RRNPC. Ainda, Ac do STJ, de 2 de março de 2003. Processo 02B4487, que decidiu pela competência em razão da matéria do tribunal de vara cível. Publicado no BRN n.º 3/2003, p. 11-13. 391 Cf. art. 17.º n.º 2 do DL nº 134/2003 de 28 de junho que no seu art. 19.º dispõe como direito subsidiário as normas constantes do RRNPC e do CRCom.

7.1.3 Os princípios gerais da admissibilidade de firmas e denominações

A composição das firmas e denominações estão sujeitas à aplicação de princípios gerais que regem a atribuição, manutenção e perda da firma ou denominação392. O princípio da da verdade393, princípio da novidade394 e princípio da exclusividade395.

O princípio da verdade visa garantir que a firma ou denominação corresponde à real identificação, natureza ou atividade do seu titular. O princípio da novidade procura garantir a inconfundibilidade da firma ou denominação. Os critérios de aferição são o tipo de pessoa, o domicílio ou sede, a afinidade ou proximidade de atividades e o âmbito territorial daquelas, em face das firmas e/ou marcas ou logotipos já registados396. O princípio da exclusividade confere o direito ao uso exclusivo da denominação aprovada, à data da constituição da entidade ou da sua alteração. No entanto, o certificado de admissibilidade397 ao dar publicidade à firma ou denominação aprovada, confere uma presunção de exclusividade que é impugnável judicialmente. Caso seja admitida a prova em contrário daquela presunção, cabe a declaração de perda do direito ao uso da firma398. A perda do uso de firma ocorre também no caso do não exercício da atividade pelo titular da firma ou denominação durante um período de mais de dois anos. Na ENH e EOL, sendo produtos na hora, a escolha da firma, com ou sem marca associada, pode ser feita entre três das hipóteses fornecidas: aprovação automática nos postos de atendimento, no caso de firma-nome, ou escolha de uma firma reservada pelo Estado, aditando-lhe a menção da atividade a que se propõe e o tipo jurídico adotado, ou ainda, a apresentação de um certificado de admissibilidade previamente pedido e deferido pelo RNPC399.

392 Previsto nos arts. 32.º a 35.º do regime do RNPC, DL 129/98 de 13 de maio. 393 Cf. Arts. 33.º do RRNPC e 10.º do CSC.

394

Cf. Arts. 32.º do RRNPC e 10.º do CSC. 395 Cf. Arts. 35.º do RRNPC.

396 No teste de confundibilidade são consideradas a existência de firmas semelhantes já registadas e ainda de sinais distintivos registados no INPI, relativos a marcas e patentes. Cf. Art. 42.º do DL n.º 247-B/2008, de 30 de dezembro.

397 A validade do certificado de admissibilidade é de três meses a contar da data da sua emissão. Art. 53.º do RRNPC.

398 Cf. Arts. 54.º n.º 4, 60.º a 61.º do RRNPC.

399 A bolsa de firmas de fantasia é uma lista do Estado, atualizada diariamente, onde estão as firmas ainda não registadas, tendo já associado um número de NIPC e um número de NISS. Cf. as disposições conjugadas do art. 3.º n.º 3, 15.º do DL n.º 111/2005 de 08 de julho que criou a ENH e o art. 50.-A do RRNPC. Para a EOL, a escolha da firma o art. 50.º-A do RRNPC. A EOL foi criada pelo DL n.º 125/2006 de 26 de junho.

7.1.4 O Ficheiro Central de Pessoas Coletivas

Constituído por uma base de dados que integra a informação, a nível nacional, das entidades inscritas no RNPC, contém informação sobre as pessoas coletivas dotadas de personalidade jurídica, as pessoas coletivas internacionais e pessoas coletivas de direito estrangeiro que têm representações em Portugal400. Os dados pessoais constantes do FCPC são recolhidos dos requerimentos e documentos apresentados pelos interessados e pelas conservatórias do registo comercial, através do SIRCOM e servem para dar eficácia e rapidez à comunicação com os interessados e efetuar os eventuais reembolsos a que tenham direito. Os dados pessoais recolhidos são: nome, residência habitual ou domicílio profissional, número do documento de identificação, número de identificação fiscal, número de identificação bancária, se disponibilizado, meios de contacto telefónicos e informáticos401.

Relativamente à função dos dados e responsabilidade do tratamento e divulgação dos dados pessoais constantes do FCPC são da responsabilidade do presidente do IRN. A comunicação dos mesmos apenas permitida para as finalidades estritamente previstas na lei402, a possibilidade do acesso ao conteúdo dos dados pessoais pelos seus titulares, a divulgação estatística dos mesmos, a proibição de transmissão da informação constante dos dados sem autorização escrita do presidente do IRN403. Além do mais porque a detenção, manutenção e proteção de acesso, tarefa da responsabilidade do RNPC, traduz um imperativo europeu, constitucional e legal de proteção jurídica.