• Nenhum resultado encontrado

O Estado-Providência, a Segurança Social e a Reforma

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4. O Estado-Providência, a Segurança Social e a Reforma

Após a queda do Absolutismo, durante um bom tempo, pensava-se que cada cidadão deveria ser responsável pelas suas decisões, escolhas e, da mesma forma, arcar com o ónus do seu presente e futuro, sem a interferência do Estado, que na época era liberal. Entretanto, tal Estado Liberal acabou sendo substituído pelo Estado Social, também conhecido como Estado-Providência. Na realidade, o surgimento do Welfare

State ou Estado-Providência deu-se no período posterior à Segunda Guerra Mundial

(Chaui, 2000).

Outro facto igualmente marcante também aconteceu imediatamente após a Segunda Grande Guerra: a chamada Guerra Fria, que deu origem a dois grandes blocos geopolítico-económico-militares: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América e o bloco comunista, liderado pela União Soviética e pela China.

Numa estratégia que visava defender o capitalismo do nazi-fascismo e das ideologias comunistas, foi estabelecido o Estado-Providência nos países capitalistas mais desenvolvidos do Hemisfério Norte.

Tem início, então, uma ampla intervenção económica por parte do Estado, investindo maciçamente nos meios de produção estatais e privados. O Estado «assume para si um conjunto de encargos sociais ou serviços públicos sociais: saúde, educação, moradia, transporte, previdência social, seguro-desemprego», complementa-nos Chaui (2000, p. 429). É importante observar que no Brasil a expressão previdência social é equivalente à nossa segurança social.

Foi a partir daí que surgiram os primórdios dos sistemas de segurança social, capazes de garantir a aposentação dos trabalhadores após um determinado período de anos de efectivo exercício profissional. Incluem-se as aposentações por invalidez, por idade e as pensões em caso de morte do cônjuge. São vários e diversificados os direitos garantidos aos cidadãos, mediante suas carreiras contributivas ao longo dos anos de efectiva actividade laboral, seja na função pública ou nas empresas privadas, seja como trabalhador independente ou por conta de outrem.

Guillemard (2003), ao escrever sobre o Estado-Providência em alguns países desenvolvidos, ressalta que tal estado social tem sido prioritariamente voltado para o

bem-estar da população idosa, já que a maior parte dos serviços prestados e direitos instituídos tem como beneficiárias as pessoas de idade avançada.

A socióloga francesa deixa claro que a crise do welfare state está intimamente relacionada às políticas socioeconómicas dos países voltadas para o envelhecimento, que é cada vez maior.

Há quem questione e critique o Estado-Providência em Portugal, tal como Boaventura Sousa Santos e Hespanha (1987, p. 33) quando, num artigo sobre as políticas de saúde, escreveram: «O Estado português não é um Estado-Providência em sentido técnico, nem pelo nível de bem-estar que produz, nem pelos processos políticos que a ele conduzem». Para eles, Portugal está mais para um semi-Estado-Providência ou para uma Sociedade-Providência, como ressalta Pimentel (2005), já que não consegue responder tão eficazmente às determinações legais de atendimento às demandas sociais.

Na realidade, o Estado-Providência chegou tarde a Portugal, quando já dava sinais de crise num futuro próximo nos países onde surgiu e foi implantado inicialmente (Fernandes, 1986).

Em meados da década de 80, do século passado, Santos formulou o conceito de

Sociedade-Providência, tendo em 1993 feito um ajuste ao mesmo. Na realidade, o que

Santos tem tentado demonstrar é que se o Estado em Portugal não consegue dar conta das demandas sociais por si só, com a ajuda de outros segmentos da sociedade, parece mais fácil que tais demandas sejam colmatadas e/ou atendidas, ainda que parcialmente.

Consideramos apropriada e elucidativa a comparação entre Estado-Providência e Sociedade-Providência, apresentada por Ana Alexandre Fernandes, no III Congresso Português de Sociologia. Esta especialista em questões demográficas e sociológicas da população em Portugal afirmou:

«Enquanto o Estado, como Estado-providência, se organiza burocrática e racionalmente no sentido de atingir os objectivos de justiça social que se propõe, as solidariedades que se estabelecem entre amigos familiares e vizinhos resultam das trocas recíprocas que se estabelecem em sociedade e são inerentes aos próprios actos sociais» (1996, p. 6).

O Estado-Providência em Portugal tem suas limitações, mas mesmo assim permite que a maior parte da população tenha direito a sua pensão ou, no mínimo, a um rendimento mínimo que garanta a sua subsistência (Nazareth, 2009).

As pessoas idosas em Portugal, assim como noutros países, acabam por receber quantias inferiores à população activa em geral. Segundo um documento da OCDE (2009), intitulado Panorama das Pensões - 2009: Sistemas de Rendimento de Reformas

nos Países da OCDE, os rendimentos líquidos das pessoas com mais de 65 anos de

idade correspondiam a cerca de 82% dos rendimentos da população geral nos países da OCDE.

Embora as pessoas idosas sejam, de alguma forma, preteridas naquilo que recebem como rendimentos líquidos, não se justifica que o Estado adopte uma postura unidireccional ou unicamente voltada às necessidades dos que possuem 65 anos e mais. Toda a população deve usufruir do chamado bem-estar social ou Estado-Providência.

Em seu livro mais recente, Fernandes (2008) sugere que o Estado não restrinja o seu raio de acção às pessoas idosas e recomenda: «A definição de políticas de protecção social deverá focalizar-se cada vez mais nas necessidades dos indivíduos ao longo de toda a vida» (p. 132). Afinal, dificilmente as pessoas mais jovens chegarão à velhice sem contarem com um mínimo de apoio e respaldo por parte do Estado ao longo da vida.

Ainda a esse respeito, Fernandes (ibidem) complementa: «A protecção social deverá orientar-se para a necessidade de reequilibrar as situações de maior risco através de transferências, independentemente da idade ou da fase do ciclo da vida em que se encontrem». O Estado precisa contemplar a todos cidadãos durante toda a sua existência, já que desde o nascimento até à morte as pessoas carecem de atenção, cuidados e assistência social.

Segundo as «Disposições Comunitárias em Matéria de Segurança Social», devemos destacar as áreas contempladas e que deverão ser aplicadas nas legislações de todos os países pertencentes à União Europeia. São elas:

• doença e maternidade, • acidentes de trabalho,

• doenças profissionais, • prestações de invalidez, • pensões de velhice,

• prestações de sobrevivência, • subsídios por morte,

• prestações de desemprego, • prestações familiares.

Isto significa que pode sempre invocar as disposições comunitárias quando estas são necessárias para o seu direito às prestações.