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REFORMA: «LIBERTAÇÃO» OU «PESADELO»

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9.3.15. REFORMA: «LIBERTAÇÃO» OU «PESADELO»

A reforma é uma etapa da vida repleta de acontecimentos e momentos inusitados, satisfatórios, menos gratificantes, ora tranquilos ora intensos. Considerando uma longevidade cada vez mais presente, é natural que a duração do período da reforma também esteja mais alargada. Logo, há um novo percurso a ser traçado e trilhado com inúmeras peculiaridades.

Não há uma única maneira de vivenciar o período de reforma. Cada pessoa reformada tem suas características individuais, teve um percurso próprio e possui referências muito particulares e por isso encara a reforma de modo positivo, negativo ou ambivalente, ora bom ora mau.

Para os menos radicais, a reforma possui seus prós e contras, como tudo na vida. Em determinados momentos, a vivência da reforma pode parecer um grande privilégio. Entretanto, nem tudo é um «mar de rosas». Há também dificuldades e aspectos não muito agradáveis.

O factor positivo mais lembrado é o aumento de tempo disponível para se

fazer aquilo que mais se aprecia e deseja. Por outro lado, teme-se o ócio, o vazio, o

isolamento ou a dificuldade de ocupação ou de preenchimento do referido e almejado tempo. Por mais que o tempo disponível seja desejado é também visto com alguma apreensão, por não saber exactamente como utilizá-lo (Quadro Nº 19):

Quadro Nº 19 – Reforma: «Libertação» ou «Pesadelo»

A reforma faz parte da vida, acompanhando a última etapa do

desenvolvimento humano. É pois necessária uma adaptação ao novo estádio e vê- lo com seus aspectos positivos e negativos:

«Nem uma coisa nem outra. Apenas como mais uma etapa, mais um degrau na nossa caminhada»

Ágata.

«Uma etapa da vida que exige adaptação»

Luísa.

«Nem uma coisa nem outra. É mais uma etapa que deve ser encarada com toda a naturalidade»

Gracinha.

«Nem uma coisa nem outra, mas terei de reagir para que possa continuar a “viver”»

«Nem uma coisa nem outra. Tem vantagens (liberdade) e desvantagens (esquecimento)»

Antero.

«De forma normal»

Rosa.

Alguns não encaram a reforma como «libertação», porém de maneira ansiosa e melancólica, ainda que não a considere um «pesadelo». Parecem vislumbrar uma etapa difícil:

«Não vejo a reforma nem como uma “libertação” nem como um pesadelo, mas com alguma preocupação e alguma tristeza»

Eva.

Para as pessoas que têm enfrentado momentos estressantes ou de fadiga profissional, a reforma pode ser vista como sinónimo de alívio para o cansaço excessivo ou como um passaporte para uma vida melhor:

«Libertação. Pesadelo é o Ensino como está!»

Amaro.

«Libertação. Porque neste momento trabalhar no ensino causa-me muito stress»

Leopoldina.

«Neste momento, com alguma tristeza, é uma “libertação”, porque sempre fui apaixonada pela minha profissão»

Eufrásia.

Há aqueles que encaram a reforma como «libertação» e «pesadelo». A reforma significa a libertação do tratamento indesejável que têm recebido e, simultaneamente, o epílogo da existência:

«Uma “libertação”, pela maneira cruel que ultimamente fomos tratados. Um pesadelo por ser a última etapa»

Gertrudes.

A reforma não é vista nem como «libertação» nem como «pesadelo»: «Nem uma coisa nem outra»

Josefa

A reforma pode não ser libertação nem pesadelo, mas traz uma conotação de limitação física acompanhada, entretanto, por oportunidade de retomar aquilo que se perdeu outrora:

«Nem uma coisa nem outra. A Reforma significa que atingi uma idade que poderá significar menor capacidade física, por outro lado, disponibilidade para fazer algumas das coisas que foram deixadas para trás durante o tempo anterior»

Sendo considerada «libertação» ou «pesadelo», ou nem uma coisa nem outra, algumas pessoas imaginam a reforma como uma maior disponibilidade de tempo para se ocuparem com aquilo que lhes dá prazer e satisfação. O pavor ou a preocupação passa pela falta de ocupação ou pelo vazio que poderão, porventura, experimentar.

«Acho que vou sentir esse tempo ora como “libertação” ora como “pesadelo” do vazio. E é para isso que tenho de me preparar»

Virgínia.

«Uma libertação»

Angelina.

«Um pesadelo, se não ocupar pelo menos parte do tempo a trabalhar»

Amélia. «Como uma libertação, pois terei mais tempo para viajar e fazer aquilo que gosto, além da profissão»

Afonso «Mais como libertação – para ter tempo para fazer aquilo que gosto, sem andar a olhar para o relógio»

Joana

«Uma libertação. Há mais tempo para as coisas que realmente gostamos de fazer»

Manuela.

«Nem libertação nem pesadelo, vejo a reforma como um tempo livre onde se faz o que quer e na hora que desejar»

Basílio. A visão que cada um tem acerca da reforma é bastante diversificada, já que cada pessoa possui uma personalidade, uma maneira de ser, suas metas, seus objectivos, seu contexto, enfim, uma história de vida.

As variáveis são inúmeras e os percursos de vida também. Portanto, não há como generalizar nem dicotomizar a reforma enquanto pesadelo ou libertação.

Para alguns, dependendo do seu contexto multidimensional, a reforma pode

ser um período de plena realização e satisfação, enquanto, para outros tal período pode ser um tédio terrível sem o mínimo sentido. A reforma pode significar graça ou

desgraça, dependendo da forma de viver, conviver e ocupar o tempo disponível (Barros de Oliveira, 2005).

Para 30% dos inquiridos a reforma é encarada como uma parte do curso de vida e por conseguinte com naturalidade. São os profissionais da saúde que têm esta perspectiva.

O sentimento que cada um tem em relação à reforma, ao sujeito reformado e ao processo de envelhecer pode ser determinante na história de vida de cada um. Como afirma Fonseca (2009, p. 154): «algumas pessoas nunca se reformam, porque,

efectivamente, nunca se sentem reformadas, como também há pessoas que provavelmente nunca envelhecem porque nunca se sentem envelhecer».