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O Exercício Profissional na Área da Educação

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. A Vida Laboral e o Envelhecimento

2.2. O Exercício Profissional na Área da Educação

No âmbito profissional da Educação encontramos inúmeros profissionais, com funções diversificadas, por causa da abrangência dos diferentes níveis de ensino e pela multiplicidade de modalidades educativas. Fazem parte da Área da Educação as escolas propriamente ditas (do Jardim de Infância à Universidade Sénior), os centros formativos e diferentes instituições que se dedicam ao desenvolvimento integral do ser humano.

Os profissionais que actuam na área educativa são, na sua maioria, os professores ou docentes. Na realidade, todos os licenciados nas carreiras voltadas para o ensino são considerados professores, mas nem todos são docentes, já que alguns não leccionam, actuando em funções directivas, administrativas e/ou burocráticas.

A carreira docente, como outras profissões, possui momentos de gratificação e satisfação tanto pessoal como profissional, implicando ao mesmo tempo um grande desgaste físico, mental e emocional.

No desempenho de diferentes papéis e funções no quotidiano pedagógico, professores e professoras experimentam relações e situações paradoxais: vibram pela observação dos êxitos e progressos de alguns alunos e alunas, mas frustram-se com aqueles e aquelas que por algum motivo não alcançaram os objectivos previstos.

Professores, professoras e profissionais do ensino, geralmente, frustram-se pela impossibilidade da educação contribuir para uma democratização de oportunidades aos estudantes. Acreditando que seus alunos merecem ser tratados de forma igualitária e de maneira que alcancem as suas metas, os educadores e educadoras acabam por perceber que a educação, por melhor que seja, não consegue tal proeza. Como sublinha Giddens (2000, p. 500): «a educação tende a expressar e a reafirmar as desigualdades existentes muito mais do que a actuar para as mudar». Sendo assim, é natural que tais profissionais se sintam menos úteis e/ou com um poder interventivo limitado.

A incidência de distúrbios psíquicos em professores é frequentemente constatada, principalmente naqueles com alta exigência de trabalho. Em consequência de diferentes factores stressantes no desempenho laboral dos docentes provoca uma síndrome de esgotamento profissional, responsável por absenteísmo e baixas médicas para tratamento de saúde (Reis et al, 2005).

Da mesma forma que alguns estudiosos do desenvolvimento abordam os ciclos de vida do ser humano em geral, há também quem estude a função docente numa perspectiva de estágios ou etapas ao longo de exercício profissional dos professores. Os ciclos de vida dos professores mereceram especial atenção por parte de alguns autores, tais como: Canário, Formosinho, Fuller, Huberman, Nóvoa, Katz e Sprinthall (Moreira, 1991).

Os estudiosos e defensores da formação docente no próprio contexto de trabalho acabam por reconhecer a existência de diferentes etapas ou níveis de desenvolvimento na vida profissional dos professores. Portanto em função dos momentos e das necessidades do quotidiano pedagógico, o/a docente experimenta diferentes sentimentos e vivências, simultaneamente, enquanto pessoa e profissional (Moreira, 1991).

Figura Nº 01 - As Fases da Carreira de Ensino, segundo o Modelo de Huberman.

Fonte: Moreira (1991)

De acordo com Huberman (2000), podemos identificar cinco fases no processo de evolução da carreira docente: a entrada na carreira (de 1 a 3 anos de profissão), a estabilização (de 4 a 6 anos), a experimentação ou diversificação (de 7 a 25 anos) e a preparação para a aposentadoria (35 a 40 anos de profissão).

Muitos são os estudiosos que se têm debruçado sobre questões concernentes ao exercício do magistério nos diferentes níveis de ensino ao longo da história da educação. Em Portugal, somente para citar alguns, podemos destacar: António Nóvoa, Rui Canário, João Formosinho, Júlia Formosinho, Ramiro Marques e Alexandra Marques Pinto.

Numa investigação sobre o esgotamento físico e mental de professores portugueses, na região de Lisboa, desenvolvida por Marques Pinto; Lima & Lopes da Silva (2003), mais de metade da amostra estudada fez referência à actividade docente como excessivamente geradora de stress.

Cardoso (2006), psiquiatra e estudioso do stress docente em Portugal, refere que há um desequilíbrio entre o muito que o professor precisa oferecer e o pouco que normalmente recebe. A actividade docente exige muita dedicação para a preparação das aulas, muito trabalho intelectual mesmo fora do horário laboral.

As questões disciplinares dos alunos dentro e nas imediações da escola também preocupam e desgastam os docentes que se sentem pouco capazes de controlar a situação. A família delega ou transfere, cada vez mais, as suas responsabilidades de educação em valores à escola. Entretanto, quando os educadores tentam impor determinados preceitos e normas, muitas vezes, os pais ou encarregados da educação revoltam-se, vão à escola tirar satisfações, chegando mesmo ao extremo de, por vezes, agredir os docentes e/ou outros profissionais do ensino (Pocinho & Capelo, 2009)

Também desgastam e estressam os docentes o baixo rendimento alcançado pelos alunos e as reprovações nos exames escolares. Surge um sentimento de desapontamento de trabalho feito em vão, já que os resultados não corresponderam minimamente às expectativas e ao trabalho realizado pelo professor/a. Com o tempo, os docentes acabam por se sentirem frustrados e pouco úteis (Gomes et al, 2006)

Na carreira docente e de outros profissionais que actuam na área escolar não são raros os casos de esgotamento, também denominado no seu expoente máximo,

Burnout. De facto, as exigências do trabalho com discentes, que cada vez mais crescem

sem padrões de autoridade, a utilização de novos métodos e técnicas de ensino e as próprias exigências e burocracias inerentes à profissão, e impostas pelo sistema escolar,

seja ele público ou privado, são factores que contribuem para este esgotamento (Cardoso et al, 2002; Cardoso, 2006; Gomes et al, 2006).

Num estudo realizado com mais de uma centena de docentes numa escola secundária do Porto, cerca de um terço da amostra investigada apresentou valores significativos de stress ocupacional, com prevalência de esgotamento e outros indícios de doenças somáticas. As professoras apresentaram níveis mais altos, em relação aos professores, de stress relacionado com o trabalho excessivo e a exigência de prazos para a realização de tarefas burocráticas e administrativas. Queixaram-se sobretudo de desgaste emocional e problemas físicos. Já os professores, demonstraram uma tendência aumentada para a despersonalização (dissociação da sua própria personalidade). Os mais experientes narraram uma maior dificuldade na abordagem com os alunos indisciplinados, na realização dos trabalhos burocráticos e na carga horária de aulas excessiva (Gomes et al, 2006).

Profissionais sobrecarregados e em estado de desgaste exagerado tendem a manifestar comportamentos «frios», indiferentes ou até mesmo negativos diante daquilo que acontece no seu quotidiano laboral, e até familiar. Se o nível de sobrecarga é muito elevado, há tendência para o esgotamento extravasar o meio profissional e repercutir-se na vida familiar e vice-versa.

A fadiga e o Burnout são cada vez mais frequentes nalgumas profissões, nomeadamente naquelas onde a proximidade com o público é grande, frequente e continuada, exigindo uma intensidade de relações.

«Todas as profissões que privilegiam a relação interpessoal, carregadas de conteúdo emocional e responsabilidade são particularmente vulneráveis ao stresse», sublinha Cardoso (2006, p. 23).

Professores, Psicólogos e Profissionais de Saúde são alguns exemplos de trabalhadores em risco de stress e esgotamento, que pode levar ao pedido de antecipação de reforma. Hansez et al. (2005) realizaram um estudo com professores belgas e avaliaram os motivos que os levavam ao pedido antecipado da reforma. Além do stress, foram mencionados motivos pessoais, desvalorização e falta de reconhecimento profissional por parte da sociedade em geral e precárias condições de trabalho.