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Possibilidades de Ocupação para o Período de Reforma

5 – Educação e Preparação para a Reforma

6. Pensando na Reforma

6.4. Possibilidades de Ocupação para o Período de Reforma

Sócrates (470 – 399 a.C.) afirmava que «uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida», valorizando assim as metas, os objectivos, enfim, aquilo que pretendemos realizar futuramente.

O desejo de alcançar algo e a vontade realizar determinadas obras dão ânimo ao ser humano para continuar sua jornada e perseverar na sua existência. Sem um objectivo ou algo a desenvolver, muito provavelmente, a vida perderá o seu sentido.

Viegas & Gomes (2007, p. 116) lembram-nos um facto corriqueiro, que acontece há algum tempo: «A reforma tem sido tradicionalmente encarada como um importante marcador do envelhecimento social e como o prenúncio da aproximação da velhice».

Por outro lado, segundo as referidas investigadoras, houve quem conseguisse ver a situação duma outra forma, nomeadamente os alunos das universidades da terceira idade, que encaram a reforma como uma possibilidade de se dedicarem a outras actividades. Os alunos de tais instituições, entre os 60 e 70 anos, «assumem a sua reforma como um tempo de hedonismo», deixando muito claro o «alívio que foi em deixar de trabalhar», (ibidem).

Fernandes (2008, p. 77), em seu mais recente livro, faz um questionamento importante: «Velhos reformados ou velhos e reformados?» Conhecedora da demografia portuguesa, explica como a velhice e a reforma que, outrora eram (con) fundidas, deixaram de representar uma única situação. Afirma: «Velhice e reforma dissociaram-se e passaram a representar duas dimensões da realidade, duas realidades distintas onde restam algumas homologias e, por vezes, coincidência» (idem, p. 79).

Durante muito tempo, reforma e velhice foram usados como vocábulos sinónimos, porém, cada vez mais, se estão a dissociar, apesar de ainda hoje nem sempre conseguir garantir a sua correcta e distinta utilização.

Ainda sobre tal facto, o britânico Stuart-Hamilton (2002, p. 137), em sua abordagem psicológica do envelhecimento, complementa: «É importante observar que, com a mudança nos padrões de trabalho, a aposentadoria não é mais vista como sinónimo de ‗velhice‘ da maneira taxativa como era antigamente».

Mesmo estando prevista uma penalização a quem solicitar a sua reforma antes da idade estabelecida como mínima para tal, há sujeitos que optam pela reforma antecipada, mas também há aquelas pessoas que, mesmo tendo a idade requerida para tal, preferem continuar no activo.

Há três décadas, num estudo sueco dividido em duas partes, cuja segunda parte foi sobre reforma antecipada, tendo 59% da amostra (total de 603 sujeitos entre 60 e 75 anos) respondido que optou pela reforma antecipada, foi observado que muitos sujeitos não gostavam do papel previsto ou pré-estabelecido para o aposentado e que outros deixaram de trabalhar compulsoriamente, pois não o desejavam. A investigação também

ressaltou o interesse dos sujeitos estudados por outras oportunidades de trabalho, bem como a possibilidade do desempenho de papéis alternativos (Skoglund, 1981).

Uma nova ocupação laboral em horário parcial, o tão falado part-time, poderá ser uma boa oportunidade para aqueles que não desejam de todo abandonar a actividade profissional ou ainda para quem precisa complementar seus rendimentos. Os papéis alternativos poderão incluir o trabalho voluntário, o auxílio na educação dos netos, o papel de aluno numa universidade sénior entre outros.

Noutro estudo, através de uma amostra aleatória de mais de três centenas de sujeitos, em Chicago, o investigador norte-americano Richard A. Settersten (1998) observou que a idade não foi vista como um factor relevante que justificasse o pedido antecipado da reforma por metade de homens e mulheres. Aqueles que optaram pelo adiamento da reforma não demonstraram arrependimento. Foi assim expressa, pelos participantes no estudo, uma certa flexibilidade em relação ao tempo e à idade na transição entre a vida laboral e a reforma.

Também o desporto, as actividades físicas e as actividades lúdicas podem ser de grande relevância para os sujeitos reformados. Além da satisfação pessoal que podem causar, tais actividades contribuirão de forma importante para um envelhecimento activo e saudável.

Inúmeras investigações científicas e académicas em todo o mundo sublinham a importância da actividade física na promoção da saúde na vida humana. Vários estudos têm demonstrado que a actividade física regular previne e/ou reduz o risco de doenças degenerativas, favorecendo a longevidade da população em geral. Logo, quanto menos sedentarismo houver, maiores as hipóteses de nossos idosos viverem mais e com qualidade de vida superior à daqueles que desprezam as actividades físicas no seu quotidiano.

Veríssimo (1999), num artigo riquíssimo em fontes bibliográficas especializadas no âmbito das actividades físicas praticadas pela população sénior, destaca seus principais benefícios: a manutenção da capacidade funcional e a prevenção de doenças.

O médico e investigador português, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, sublinha que a actividade física minimiza a perda tanto

física como mental da capacidade funcional do idoso, contribuindo para a prevenção da perda de sua autonomia e evitando a sua dependência.

No que diz respeito à prevenção de doenças, o referido autor enumera as que mais poderão ser evitadas por meio do exercício físico regular das pessoas idosas. São elas: doença aterosclerótica, hipertensão arterial, cancro, diabetes, osteoporose e depressão (ibidem, pp. 121-125).

Além da prevenção das patologias anteriormente referidas, Matsudo (1999) sublinha a questão da queda, que é uma das maiores responsáveis por acidentes e incapacidades na velhice. Segundo ele, a queda pode ser evitada por exercícios que fortaleçam os músculos da perna e das costas e por aqueles que visam a melhoria dos reflexos, da sinergia motora e das reacções posturais, assim como pelos exercícios que favorecem a flexibilidade e a mobilidade em geral. Sendo as quedas normalmente causadas por anomalias no equilíbrio e na marcha, por fraqueza muscular, problemas de visão, patologias cardiovasculares, alteração cognitiva e consumo de alguns fármacos, entre outros, o exercício, em alguns casos, poderá contribuir significativamente para a sua prevenção.

A participação num programa de exercício, segundo investigações científicas, pode reduzir em 25% os casos de doenças cardiovasculares, em 10% os casos de acidente vascular cerebral, doença respiratória crónica e de alguns distúrbios mentais. No que diz respeito aos reformados e reformadas, o exercício físico pode reduzir de 30% para 10% a incapacidade de autocuidado, além de contribuir grandemente para uma melhor adaptação à reforma (Matsudo, 1999).