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CAPÍTULO 7 – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

7.2. O estudo de caso como estratégia de investigação

Dentro de uma investigação de cariz qualitativa existem vários métodos a que recorrer. No entanto, quando se “requer o envolvimento pessoal do investigador, interagindo com o contexto em que decorre a ação de forma a captar, do modo mais fiel possível, o desenrolar dos acontecimentos” (Morgado, 2012, p.59), estamos em presença de um processo de investigação empírica do tipo estudo de caso.

Nesta linha de pensamento, Stake afirma que “la epistemología del investigador cualitativo es existencial (no determinista) y constructivista”, o que implica que a compreensão dos fenómenos “requiere la consideración de una amplia variedad de contextos temporales y espaciales, históricos, políticos, económicos, culturales, sociales y personales” (1999, p.47).

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Segundo Yin, os estudos de caso em geral “representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo "como" e "por que", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real” (2001, p.19). Ainda para este autor, o estudo de caso, como estratégia de investigação, “contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos” (2011, p.21).

Para Morgado estudo de caso é:

(…) um processo de investigação empírica que permite estudar fenómenos no seu contexto real e no qual o investigador, não tendo o controlo dos eventos que aí ocorrem, nem das variáveis que os conformam, procura apreender a situação na sua totalidade e, de forma reflexiva, criativa e inovadora, descrever, compreender e interpretar a complexidade do(s) caso(s) em estudo, lançando luz sobre a problemática em que se enquadra(m) e, inclusive, produzindo novo conhecimento sobre o(s) mesmo (s) (2012, p.63).

Na opinião de Stake “dos de las utilidades principales del estudio de casos son las descripciones y las interpretaciones que se obtienen de otras personas” (1999, p.63).

Para Lüdke e André, nos estudos de caso os investigadores “recorrem a uma variedade de fontes de informação, o que, para além de enriquecer o estudo, permite cruzar informações, confirmar ou enjeitar hipóteses, descobrir novos dados, afastar meras suposições e formular hipóteses alternativas” (cit. por Morgado, 2012, p.62).

Relativamente às características e face às diversas definições apresentadas, os estudos de caso, na sua essência, parecem ter as características da investigação qualitativa. Neste sentido Stake destaca quatro características definitórias do estudo de caso:

1. É holístico: “la contextualidad está bien desarollada ; está orientado al caso; evita el reduccionismo y el elementalismo y es relativamente no comparativo y busca comprender su objeto más que comprender en qué se diferencia”;

2. É empírico: “está orientado al campo de observación; la observación se centra en lo que se observa (…); hace todo lo posible por ser naturalista, no intervencionista (…)”; 3. É interpretativo: los investigadores confían más en la intuición (…) tratan de mantener despierta la atención para reconocer los acontecimientos relevantes para el problema; y sintoniza con la idea de que la investigación es una interacción del investigador y el sujeto”;

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4. É empático: “atiende a la intencionalidad del actor; busca los esquemas de referencia del actor, sus valores; aunque planificado y el diseño atiende a nuevas realidades” (1999, pp.49-50).

Na perspetiva de Yin, os estudos de caso, como estratégia de pesquisa, podem ser exploratórios, descritivos e explanatórios, dependendo “(a) do tipo de questão de pesquisa proposto, (b) da extensão de controle que o investigador tem sobre eventos comportamentais efetivos e (c)do grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a acontecimentos contemporâneos” (2011, p.23).

Por seu turno, Morgado (2012) assinala três dimensões para este tipo de investigação qualitativa: interpretativo, descritivo e exploratório.

Ora, esta investigação é interpretativa, porque:

no estudo de caso, o investigador, mais do que desvendar a relação causa-efeito de um dado acontecimento, situação ou caso observado, procura interpretar e compreender os fenómenos que lhe subjazem, a partir da conjunção das perspetivas dos distintos atores implicados no mesmo (….). bem como da análise de documentos relevantes para essa interpretação (Morgado, 2012, p.63).

Além disso é também descritiva, porque “uma parte significativa do processo se baseia na recolha e descrição de distintos aspetos que conformam o contexto em que se realiza a investigação” (Morgado, 2012, p.62).

Ora, de acordo com estas perspetivas, a nossa investigação constitui um estudo de caso qualitativo, na medida em que decorreu em contexto natural, numa comunidade escolar, mais concretamente nos seminários de orientação pedagógica, com um número reduzido de atores. A investigadora foi a principal agente de recolha de dados através da observação não- participante e das entrevistas.

7.2.1. A tipologia dos estudos de caso

Para além dos aspetos enunciados anteriormente, importa ainda ter em linha de conta a caracterização que alguns autores fizeram dos estudos de caso, pois pode ajudar a enquadrar as investigações a realizar.

De facto, são diversas as propostas de tipificação do estudo de caso. Stake (1999), por exemplo, identifica três tipos de estudos de caso: (a) o estudo de caso intrínseco - quando o

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investigador tem um interesse intrínseco no caso; (b) o estudo de caso instrumental - quando o investigador pretende obter uma compreensão mais aprofundada sobre um determinado assunto e constata que o pode fazer, se estudar um caso particular; e (c) o estudo de caso coletivo - quando o investigador centra o seu estudo em vários casos, simultaneamente.

Por outro lado, Bogdan e Biklen (1994) e Yin (2001) classificam os estudos de caso em estudo de “caso único” e estudo “de caso múltiplo” ou comparativo. No primeiro exemplo, o investigador estuda uma realidade, um ambiente ou apenas um único caso. Estes estudos são chamados assim pelo facto de se desenvolverem em apenas uma unidade (uma escola, uma turma) ou por incluírem um número reduzido de sujeitos.

Yin defende que um projeto de caso único justifica-se quando o caso representa (a) um teste crucial da teoria existente, (b) uma circunstância rara ou exclusiva, (c) um caso típico ou representativo, ou (d) o caso serve um propósito revelador ou (e) longitudinal (2001, pp.61- 67).

No segundo exemplo, o investigador estuda dois ou mais casos e estes podem assumir uma grande variedade de formas:

Quando os investigadores estudam dois ou mais assuntos, ambientes, ou bases de dados, realizam estudos de caso múltiplos. Os estudos de caso múltiplos assumem uma grande variedade de formas. Alguns começam sob a forma de um estudo de caso único cujos resultados vão servir como o primeiro de uma série de estudos, ou como piloto para a pesquisa de casos múltiplos. Outras investigações consistem, essencialmente, em estudos de caso único, mas compreendem observações menos intensivas e menos extensas noutros locais com o objectivo de contemplar a questão da generalização (Bogdan & Biklen, 1994, p.97).

Neste cenário, o estudo de caso comparativo distingue-se, ainda, porque além de o investigador estudar dois ou mais casos, estes são “efectuados e depois comparados e contrastados” (Bogdan & Biklen, 1994, p.97).

Em suma, no nosso estudo, a estratégia de pesquisa refere-se ao “estudo de caso” qualitativo com tipologia de “caso único” de características descritivas, pois o estudo incidiu em acontecimentos contemporâneos e a experiência desenvolveu-se em contexto real, no qual os fenómenos observados dizem respeito aos seminários semanais na escola de um núcleo de estágio pedagógico da disciplina de francês.