Problemas e dificuldades na investigação colaborativa

Existem alguns fatores que tornam o trabalho colaborativo vulnerável e difícil. Segundo Fullan e Hargreaves (1991), muitas formas de colegialidade são superficiais, parciais, e mesmo contraproducentes. Não é possível ter fortes culturas colaborativas sem um forte desenvolvimento individual. Devemos, por isso, evitar esmagar a individualidade na tentativa de eliminar o individualismo. Ao mesmo tempo, os professores não devem ser deixados completamente sozinhos ou mesmo sozinhos. Como destacam Boavida e Ponte, “é por isso que a colaboração não é um valor em si mesma, mas um meio que é possível e desejável utilizar para ajudar a resolver problemas concretos e reais” (2002, p.12).

Em face dos aspetos referidos, um dos fatores que tornam este processo vulnerável é a imprevisibilidade. Como defendem Boavida e Ponte, “uma investigação colaborativa não pode ser planificada ao pormenor, do princípio ao fim. É um processo dinâmico, criativo, mutável, onde por diversas vezes é preciso parar para pensar e, se necessário, reajustar o rumo” (2002, p.11).

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Por outro lado, é necessário saber gerir a diferença, uma vez que os diversos atores têm obviamente objetivos próprios, prioridades e entendimentos diferentes acerca dos assuntos. Neste sentido, Boavida e Ponte sustentam que “a concretização dos objectivos do trabalho em colaboração requer uma disciplina no cumprimento das tarefas e um compromisso em dar grande atenção às necessidades comuns” (2002, p.11).

Por conseguinte, é também preciso estar atento à colaboração confortável, uma vez que esta forma de colaboração é limitada. A este respeito, Fullan e Hargreaves alertam para o facto de “collegiality shouldn't stop at congeniality. lt is all too easy to avoid searching discussions and joint work which might expose disagreements on the principles and practice of teaching. This kind of collaboration is too cosy” (1991, p.70).

Antes de terminar, importa referir que Fullan e Hargreaves apresentam seis grandes fatores para que o processo da colaboração seja ainda difícil de implementar:

1. A sobrecarga: os professores estão cheios de trabalho e daí uma razão para não trabalharem em equipa.

2. O isolamento: este permite e produz o conservadorismo e a resistência à inovação do ensino.

Teaching has long been called "a lonely profession", always in pejorative terms. The professional isolation of teachers limits access to new ideas and better solutions, drives stress inward to fester and accumulate, fails to recognize and praise success, and permits incompetence to exist and persist to the detriment of students, colleagues and the teachers themselves (1991, p.19).

3. O pensamento de grupo (“Groupthink"): o pensamento dominado pelo grupo conduz à supressão da individualidade e da criatividade. A individualidade também é relevante. É importante pensar e trabalhar independentemente e coletivamente: “Working alone has its valuable moments. Indeed the capacity to think and work independently (as well as collectively) is essential to reform” (1991, p.23).

Neste sentido, os autores falam da colegialidade forçada, na qual “it can reduce innovation and imaginative solutions to individual situations, as susceptibility to the latest chosen innovation and "groupthink" carry the day” (1991, p.21).

Our schools need the growth and learning that comes from individual diversity and creativity from within and outside our own school boards. We must experiment and discover better ways of working together that mobilize the power of the group while at the same time enhances individual development. We must use collegiality not to level people down, but to bring together strength and creativity. So we must fight for collegiality, but not naively. We must protect and promote the individual too (p.23).

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4. A competência inexplorada (e a negligência da incompetência): os professores não gostam de ser avaliados, pois têm medo de exporem a má prática e a incompetência.

Their problem is lack of access to other teachers. Access would mean that they could become even better while sharing their expertise. Many other teachers are competent but could improve considerably if they were in a more collaborative environment. If such an environment existed from the very beginning of their careers they would be dramatically better. Those teachers who are ineffective have either become so through years of unproductive and alienating experiences, or were ill-suited for teaching from the beginning. Imposing punitive appraisal schemes for all is like using a sledgehammer to crack a nut (1991, p.24).

Nesta perspetiva, os autores referem que “interactive professionalism exposes problems of incompetence more naturally and gracefully. It makes individuals reassess their situation as a continuing commitment. (…) Any appraisal schemes should be decidedly focused on growth and development” (1991, p.24).

5. A estreiteza no papel do professor (e o problema da liderança): passar muito tempo numa sala de aula reduz a motivação e a eficiência, assim como as rotinas repetitivas.

Traditionally teaching has been a "flat" career. First, spending many years in one's classroom without substantial outside stimulation reduces commitment, motivation and effectiveness. Good ideas and innovations developed by individual teachers are often inaccessible to others in the profession. Spending year in and year out performing the same role is inherently deadening (1991, p.25).

6. Soluções pobres e reforma fracassada:

Em jeito de balanço final, os problemas são tão complexos que não são fáceis de resolver. Como realçam os autores, o problema “ (…) is therefore not one problem but many. It is a problem of promotion-blocked teachers in mid-to late-career, who are losing energy and enthusiasm, as well as motivation and morale as classroom challenges gradually fade into repetitive routines” (1991,p.28).

Daqui se concluiu que é necessário, por isso, que haja um maior envolvimento dos professores na reforma educativa, tanto fora como dentro das suas próprias salas de aula, no desenvolvimento curricular e na melhoria das suas escolas.

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