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CAPÍTULO 7 – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

7.5. Técnicas de tratamento e análise de dados

Para Bogdan e Biklen a análise de dados consiste num:

(…) processo de busca e de organização sistemático de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou (1994, p.205).

O tratamento dos dados recolhidos durante o processo de trabalho de campo foi feito por análise de conteúdo. Segundo Morgado, a análise de conteúdo é “hoje um dos procedimentos mais utilizados na investigação empírica no campo das ciências humanas e sociais e, consequentemente, no campo da educação” (2012, p.102), e é uma técnica de investigação que:

(…) procura estabelecer uma relação entre as descrições objetivas que o investigador possui – quer tenham sido elaboradas durante a fase de recolha de dados (entrevistas, registos de observações efetuadas, notas de campo), quer digam respeito a documentos que pretende analisar (documentos, jornais, manuais escolares) – e os fatores que determinaram as suas características, processo que se traduz pelo estabelecimento de inferências ou deduções lógicas (Morgado, 2012, p.111).

De acordo com Bogdan e Biklen, o processo de análise de dados em investigação qualitativa pode efetuar-se através de duas abordagens. Na primeira, a análise “é concomitante com a recolha dos dados e fica praticamente completa no momento em que os dados são recolhidos” e na segunda, “envolve a recolha dos dados antes da realização da análise” (1994, p.206).

No presente estudo fizemos a análise dos dados depois da recolha de todos os dados, apesar de termos feito alguma análise durante a recolha dos mesmos (das observações dos seminários da disciplina de francês), pois como sublinham Bogdan e Biklen nesta abordagem os investigadores “nunca a utilizam na sua forma mais pura, aproximando-se apenas dela, dado que a reflexão, sobre aquilo que se vai descobrindo enquanto se está no campo de investigação, é parte integrante de todos os estudos qualitativos” (1994, p.206).

Além disso, os mesmos autores também defendem que:

apesar de recomendarmos alguma contenção nas tentativas de mergulhar na análise concomitante, alguma análise tem de ser realizada durante a recolha de dados. Sem isto, a recolha de dados não tem orientação; se assim o fizer, os dados que recolher podem não ser suficientemente completos para realizar posteriormente a análise (Bogdan e Biklen, 1994, p.206).

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Ora, de acordo com esta linha de pensamento, o processo de análise de dados iniciou-se logo após as primeiras recolhas de dados, o que permitiu orientar as mesmas em direção a questões ou impressões que iam surgindo e assim aprofundar o estudo, sem perder de vista as questões iniciais.

Para isso, recorremos a uma pré-categorização dos dados na qual “o investigador já possui uma lista prévia de categorias, delineada a partir do objeto de estudo e das teorias que lhe servem de suporte; e a utiliza para classificar os dados” (Morgado, 2012, p.112).

Ora, no final da investigação, considerando o objeto deste estudo, foi feita uma leitura atenta e exaustiva dos documentos com toda a recolha de dados e que servem, portanto, de base ao trabalho de análise – as observações dos seminários (as notas de campo), as transcrições das entrevistas e o diário reflexivo.

Fizemos uma leitura exploratória com cruzamento de informação por forma a encontrar semelhanças e diferenças no que concerne a palavras, expressões ou até a padrões de ideias e comportamentos. Em consequência deste objetivo, foi realizado um levantamento dos temas, conceitos e vocábulos mais recorrentes e aglutinadores dos dados recolhidos. Como defende Esteves:

Antes de se proceder à definição de categorias, (….) se deve fazer uma leitura flutuante do material, ou de grande parte dele, de modo a que “o investigador se aproprie da natureza dos discursos recolhidos e dos sentidos gerais neles contidos a fim de começar a idealizar o sistema de categorias que vai usar no tratamento (cit. por Morgado, 2012, p.110).

Em segundo lugar, procedemos à identificação das categorias e subcategorias, uma vez que segundo Morgado a “definição de categorias é a operação central da análise de conteúdo, através da qual os dados são classificados e reduzidos, depois de identificados como pertinentes” (2012, p.109).

Esta posição é corroborada por Bogdan e Biklen ao afirmarem que “ (…) um passo crucial na análise dos dados diz respeito ao desenvolvimento de uma lista de categorias de codificação depois de ter recolhido os dados e de se encontrar preparado para os organizar” (1994, p.221).

Segundo Morgado, o processo de categorização comporta duas etapas principais:

i uma primeira em que os elementos são isolados, classificados e reduzidos, após ter sido detatada a sua pertinência; ii uma segunda etapa, em que os dados são novamente reagrupados em função das suas analogias, o que permite reconfigurá-los em função dos propósitos da investigação (2012, p.112).

Assim, em terceiro lugar, através de uma “análise categorial” ou processo de categorização, os dados recolhidos foram então separados e classificados em partes significativos, com o intuito de responder aos objetivos que foram delineados para o estudo.

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Em jeito de sistematização, todo este processo de análise de dados envolveu, como perspetiva Bogdan e Biklen “o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta dos aspectos importantes e do que deve ser aprendido e a decisão sobre o que vai ser transmitido aos outros” (1994, p.205).

Em suma, todo este conjunto de tarefas contribuiu para a redução de dados, fundamental para a análise de conteúdo.

Neste estudo a operação da categorização foi feita com base no programa informático WebQDA. Este Software de pesquisa qualitativa proporciona inúmeras vantagens em relação à investigação, uma vez que o investigador pode criar categorias, codificar, fazer buscas, editar, visualizar, interligar e organizar documentos com o objetivo de responder às questões de investigação e obter uma descrição subjetiva e sistemática do conteúdo.

Ora, tendo em conta a preocupação com o rigor científico e a profundidade das pesquisas, este programa apresenta-se como sendo o mais recomendado, pois ajuda os investigadores a identificar elementos significativos para a análise e conclusão e a organizar os dados em diversos tipos de fontes, dando assim uma visão holística do corpo documental.