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1.5 Do império à democracia brasileira

1.5.4 O federalismo cooperativo e a democracia

Em 1945, foram realizadas eleições direta, que deram a vitória ao General Eurico Gaspar Dutra, este governou mediante decretos-lei até 1946, quando foi promulgada a nova constituição, reconduzindo o país à democracia e ao federalismo.

O constituinte de 1946, ao elaborar a nova constituição, teve que lidar com os problemas específicos do federalismo e com aqueles remanescentes do “unitarismo descentralizado”, do Estado Novo.

Assim, para que fosse possível a implantação da democracia, era necessário reformar o federalismo que já havia existido no Brasil.

Janice Helena Ferreri (1995, p. 30) expõe que no texto da Constituição de 1946, havia a intenção de valorizar os estados por meio da descentralização política e administrativa, mas, de outro lado, havia o problema da desigualdade regional, assim “a técnica constitucional brasileira adotada 1946 foi inspirada na Constituição da Filadélfia e na Constituição de Weimar, posto que discriminou as competências da União, deixando para os Estados-membros os chamados poderes reservados”.

As principais modificações introduzidas pela Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946, foram: devolução da autonomia dos estados, sendo permitida a intervenção federal somente em casos relacionados com a manutenção da ordem do próprio país, reconhecimento da autonomia

municipal, permissão para criação de partidos políticos, os governadores dos estados voltam a ser escolhidos por meio de eleições, retomou-se a repartição de competência entre os entes federados, além da conciliação dos direitos e garantias individuais com os direitos sociais (FERRERI, 1995, p. 30).

A tendência em dar mais autonomia ao governo local, também pode ser notada na atribuição de competência para instituição e cobrança dos impostos concedida a estes, e do início da prática de transferências de recursos entre os diferentes níveis de governo, o que nos permite falar em federalismo cooperativo48. Apesar do nítido esforço para realização de mudanças e evolução do país, um novo golpe de Estado acontece em 1964, sob o comando dos militares, encerrando a vigência da Constituição de 1946.

1.5.5 - A centralização e a ditadura militar

O período da Ditadura Militar, que se estendeu de 1964 a 1985, foi um período no qual muitos dos direitos dos cidadãos foram abolidos. Os que permaneceram pouco eram observados.

No primeiro Ato Institucional, de 01 de abril de 1964, notamos o viés ditatorial da tomada do poder realizada pelas forças militares, pois havia autorização para supressão de garantias e direitos políticos.

Após, por meio do segundo Ato Institucional, de 27 de outubro de 1965, foram extintos os partidos políticos49 e, pelo terceiro Ato Institucional, de 05 de

fevereiro de 1966, canceladas as eleições diretas para governador50.

Em janeiro de 1967, a contento dos militares, foi outorgada a quinta Constituição da República Federativa do Brasil. O Congresso Nacional, apesar de não ter sido extinto, ficou a serviço do chefe de Estado, para ratificar as decisões

48 “As estatísticas revelam crescimento econômico e demográfico desigual, desenvolvendo-se rapidamente os estados do sul e a faixa litorânea, enquanto se estiolava a progressão do interior. Convinha que o aparelho tributário viesse a exercer uma ação compensatória desse desequilíbrio e funcionasse como um sistema de vasos comunicantes, de sorte que a prosperidade de algumas regiões irrigasse a valorização das demais. Foi essa corrente vencedora no entrechoque apaixonado de interesses regionais da Constituinte de 1946” (BALEEIRO, 2006, p. 297).

49 “Ficam extintos os atuais Partidos Políticos e cancelados os respectivos registros” (BRASIL, Ato Institucional nº 02, de 27 de outubro de 1965, art. 18).

50 “A eleição de Governador e Vice-Governador dos Estados far-se-á pela maioria absoluta dos membros da Assembléia Legislativa, em sessão pública e votação nominal” (BRASIL, Ato Institucional nº 03, de 05 de fevereiro de 1966, art. 01).

do poder executivo.

Quanto a economia, a preferência foi pela acumulação de capital, contendo salários, desenvolvendo a indústria primária e estimulando as exportações (CARVALHO, 1996, p. 52).

As reformas feitas pelos militares na constituição confirmaram a tendência centralizadora inerente a qualquer regime ditatorial. Os estados viraram instrumentos de execução de uma administração descentralizada em um sistema político centralizado, e, os munícipios, por razões políticas, ganharam maior importância, pois havia interesse no estreitamento da relação direta entre estes e a União (CARVALHO, 1996. p 53).

A concentração dos poderes de execução, decisão e distribuição de recursos humanos e materiais estava no governo central, o qual usou estes artifícios para promover (segundo suas convicções) o crescimento econômico do país, que, na época, crescia a taxa 10% ao ano (CYSNE,1993).

Chegando ao ápice da concentração de poderes, tivemos, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 0551, seguido da publicação da intitulada Emenda Constitucional nº 01, de 17 de outubro de 1969:

“Teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformado, a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição do Brasil. (...) Se convocava a Constituinte para elaborar Constituição nova que substituiria a que estava em vigor, por certo não tem a natureza de emenda constitucional, pois tem precisamente sentido de manter a Constituição emendada. Se visava destruir está, não pode ser tida como emenda, mas como ato político (SILVA, J., 2001, p. 87).

Essa Emenda Constitucional incorporou o disposto no Ato Institucional nº 05 e alterou completamente a constituição que estava em vigor: estabeleceu eleições indiretas para presidente (artigo 74), aumentou o seu mandato para cinco anos

51“Com a abertura da crise política na segunda metade do 1968, que culminou na promulgação do Ato Institucional 5, em 13.12.1968, foi totalmente extinta a federação no Brasil, assim considerada em termos jurídicos- constitucionais (FERRERI, 1995, p. 31). A centralização do poder fica evidenciada no do Ato Institucional nº 05, de 03 de dezembro de 1967, pois ele dava poderes ao presidente de determinar o fechamento do congresso (artigo 02), suspender direitos políticos de qualquer cidadão (artigo 04), além de ter suspendido uso do “habeas corpus” para crimes políticos e possibilitado ao poder executivo legislar sobre todas as matérias de interesse do Estado (artigo 02, §1º).

(artigo 75, §3º), estabeleceu eleições indiretas para governadores e vice - governadores (artigo 189), concedeu competência ao Conselho de Segurança Nacional para estabelecer as regras da política nacional (artigo 89, I), aumentou a censura, entre outras modificações, sendo todas voltadas para o fortalecimento do governo central.

Os problemas e a decadência do militarismo começaram a partir do momento que a economia ficou estagnada, seguida de um período de recuo. A centralização política se mostra ineficiente para resolução de problemas locais, algumas empresas se desenvolveram sem fiscalização e transformaram-se no próprio Estado da região onde estavam instaladas, o que contribuía para corrupção, a qual cresceu neste período.

Os estados, que estavam enfraquecidos, tinham dificuldade de negociar com o governo central, o que contribuí para o aumento de condições precárias nas regiões mais pobres. E, deste declínio, surgem os primeiros indícios de uma frente que irá lutar pela redemocratização do país.

Em 1982, ocorrem eleições diretas em alguns destes estados, sendo eleitos dirigentes da oposição, ao mesmo tempo que os partidos políticos voltam a se organizarem, o que fortaleceu a luta pela volta da democracia, que veio se tornar efetiva somente em 1988.