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O impacto da publicação do Código Tributário Nacional e da reforma política de

3. DIVISÃO DA RECEITA TRIBUTÁRIA ENTRE OS ENTES DA FEDERAÇÃO Os entes federados somente gozarão de autonomia se, além de

3.2 A evolução da repartição das receitas tributárias 1 O início de sua repartição no Brasil

3.2.4 O impacto da publicação do Código Tributário Nacional e da reforma política de

A Constituição de 1967 foi marcada pela volta da centralização política e financeira no Brasil, promovida pelo militarismo, instaurado no Brasil em 1964. Diante do momento do histórico vivido pelo país na época, tal fenômeno foi justificado a partir de dois fatores diretamente interligados com a seara fiscal.

O primeiro, diz respeito ao fato de centros de poderes dispersos, dotados de poder de disciplina política e financeira, não serem capazes de se organizarem e fazerem um planejamento econômico eficaz a nível nacional. O desenvolvimento econômico pressupõe simultaneidade de estratégias financeiras e fiscais nas três orbitas de entes federados173.

Estados e do Distrito Federal, e 10% ao Fundo de Participação dos Municípios; §1º A aplicação dos Fundos previstos neste artigo será regulada por lei complementar, que cometerá ao Tribunal de Contas da União o cálculo e a autorização orçamentária ou de qualquer outra formalidade, efetuando- se a entrega, mensalmente, através dos estabelecimentos oficiais de crédito. § 2º Do total recebido nos têrmos do parágrafo anterior, cada entidade participante destinará obrigatòriamente 50%, pelo menos, ao seu orçamento de capital. § 3º Para os efeitos de cálculo da percentagem destinada aos Fundos de Participação exclui-se, do produto da arrecadação do impôsto a que se refere o art. 8º, nº II, a parcela distribuída nos têrmos do art. 20, nº II” (BRASIL, Emenda Constitucional nº 18, de 01 de dezembro de 1965, art. 21).

173 Assim, o objetivo fundamental do sistema tributário foi elevar o nível de esforço fiscal da sociedade de modo que não só se alcançasse o equilíbrio orçamentário como se dispusesse de recursos que pudessem ser dispensados, através de incentivos fiscais à acumulação de capital, para impulsionar o processo de crescimento econômico. Ao privilegiar o estímulo ao crescimento acelerado e à acumulação privada - e, portanto, os detentores da riqueza - a reforma praticamente desprezou o objetivo de equidade. De acordo com a estratégia traçada, a orientação e o controle do processo de crescimento caberiam ao governo federal, o que exigia a centralização das decisões econômicas. Quanto ao setor privado, suas decisões podiam ser moldadas por meio dos incentivos fiscais. Em

O segundo estava relacionado com a necessidade de desenvolver áreas isoladas, quer financeiramente, quer demograficamente ou, ainda, por falta de produtividade. Creu-se que o poder central consolidado na União, possibilitaria a criação de estratégias econômicas que interligaram União, estados e munícipios, bem como que, por meio de transferência intergovernamentais, fossem desenvolvidas as áreas menos abastadas. A União atuaria como agente de nivelamento, saneando os problemas da federação e provendo o equilíbrio nacional (DÓRIA, 1972, p. 158).

Não podemos negar, quer sejam verdadeiros ou não os argumentos utilizados, que a Federação passou por uma profunda transformação.

A nova constituição dava continuidade à reforma tributária iniciada pela Emenda Constitucional nº 18/1965, absorvendo-a com apenas alguns reparos174. Também, neste mesmo período de reformas, foi publicada a Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966, posteriormente, nomeada de Código Tributário Nacional (CTN).

Na nova sistemática, ocorreram aumentos das medidas participatórias, as quais passamos a verificar.

A totalidade da arrecadação do imposto territorial rural, de competência da União e arrecadado pelos seus agentes, continua sendo revertida em favor do município da situação do imóvel sobre o qual incidiu a tributação175.

O imposto de renda, retido na fonte, incidente sobre o trabalho e de títulos da dívida pública dos estados, Distrito Federal e municípios, embora de competência tributária da União, que tem a responsabilidade da arrecadação, a relação ao setor público, era necessário o comando central dos impostos que fossem primordialmente instrumentos da política econômica - como os impostos sobre o comércio exterior e sobre operações financeiras - bem como da forma de utilização dos recursos tributários. A reforma previa, no entanto, que os estados e municípios contassem com recursos suficientes para desempenhar suas funções sem atrapalhar o processo de crescimento, principalmente através da arrecadação do ICM - imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias - e de um sistema de transferências intergovernamentais, que garantia receita para as unidades cuja capacidade tributária fosse precária (VERSANO, 1996, p. 09).

174 A Constituição do Brasil de 1967 pouco se distanciou da Emenda Constitucional nº 18, de 1965: ratificou a nomenclatura econômica para a discriminação de rendas tributárias (arts. 22, 24 e 25); adotou a ordem hierárquica para os atos do legislativo (art. 18); concentrou os impostos na competência da União (art. 22) e manteve o fundo de participação dos estados e o fundo de participação dos municípios (art. 26). A nova constituição, agasalhou idêntica discriminação de renda tributária, adotando os mesmos impostos e mantendo as mesmas competências (arts. 18 ao 28) (MORAES. B, 1996, p. 163).

175 “Compete aos Municípios decretar impostos sobre: [...] §1º - Pertencem aos Municípios: a) o produto da arrecadação do Imposto a que se refere o art. 22, nº III, Incidente sobre os imóveis situados em seu território” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 25).

receita por este gerada era transferida para estes entes federados176.

Nesta época, substituindo o imposto de venda e consignações, surge o imposto relativo à circulação de mercadorias, que embora fosse de competência privativa dos estados, havia participação dos municípios na sua receita, na proporção de 20% do total arrecadado.

Tal modalidade de participação foi estabelecida no Ato Complementar nº 31, de 28 de dezembro de 1966, e mantida na Constituição de 1967177.

Está espécie de distribuição de renda, a qual foi intitulada pela doutrina de “participação direta na arrecadação”, também, foi novidade no nosso ordenamento jurídico: “Trata-se de modalidade de participação obrigatória, tendo o ente federado agraciado uma pretensão diretamente relacionada com o montante de uma específica receita fiscal” (DORIA, 1972, p. 210).

Ainda, sobre a divisão de receita tributária, o Código Tributário Nacional normatizou e possibilitou o início do funcionamento dos Fundos de Participação Estadual e Municipal e, consequentemente, a redistribuição vertical da carga tributária, conforme será visto adiante.

No que diz respeito aos referidos fundos de participação, o constituinte de 1967 embora tenha mantido o que já estava disposto na Emenda Constitucional nº 18/1965, o Ato Complementar nº 40/1968, modificou a Constituição, fazendo constar que a União destinaria do total arrecadado com os impostos incidentes sobre rendas e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados 5% ao fundo de participação dos estados, 5% ao fundo de participação dos

176 “Pertence aos Estados e ao Distrito Federal o produto da arrecadação do Imposto de renda e proventos de qualquer natureza que, ele acordo com a lei federal, são obrigados a reter como fontes pagadoras de rendimentos do trabalho e dos títulos da sua dívida pública” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 24, §1º). “O produto da arrecadação do imposto, de renda e proventos de qualquer natureza que, de acordo com a lei federal, são obrigados a reter como fontes pagadoras de rendimentos do trabalho e dos títulos da sua dívida pública” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 25, § 1º, alínea b).

177 “Do produto da arrecadação do impôsto a que se refere o art. 12 da Emenda Constitucional nº 18, 80% (oitenta por cento) constituirão receita dos Estados e 20% (vinte por cento) dos Municípios. As parcelas pertencentes aos Municípios serão creditadas em contas especiais, abertas em estabelecimentos oficiais de crédito, na forma e nos prazos estabelecidos neste Ato” (BRASIL, Ato Complementar nº 31, de 28 de dezembro de 1966, art. 01, caput). “Compete aos Estados e ao Distrito Federal decretar impostos sobre: [...] §7º - Do produto da arrecadação do imposto a que se refere o item II, oitenta por cento constituirão receita dos Estados e vinte por cento, dos Municípios. As parcelas pertencentes aos Municípios serão creditadas em contas especiais, abertas em estabelecimentos oficiais de crédito, na forma e nos prazos fixados em lei federal” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 24).

municípios e 2% para um fundo especial178.

À Constituição de 1967, sobreveio a Emenda Constitucional nº 01/1969, fazendo-lhe inúmeras modificações, sendo considerada por muitos como uma nova Constituição, mas, que na seara fiscal e na divisão de receitas oriunda dos tributos, manteve o mesmo Sistema Tributário fruto da Emenda Constitucional nº 18/1965 à Constituição de 1946 (COSTA, 2010, p. xvii).

3.3 O restabelecimento da democracia e a divisão de receitas tributárias na