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O FOLHETIM E A CRÍTICA DE TELEVISÃO: ALGUMAS BALIZAS

CAPÍTULO 1 – BALIZAS DA CRÍTICA DO FOLHETIM

1.6 O FOLHETIM E A CRÍTICA DE TELEVISÃO: ALGUMAS BALIZAS

Quando foi lançado em janeiro de 1977, o Folhetim era editado por Tarso de Castro, um jornalista que construiu sua reputação nas publicações alternativas, com destaque para a fundação d’O Pasquim. Tarso de Castro já trabalhava para a Folha de São Paulo na época, pois havia sido contratado em 1976 para revitalizar a Ilustrada, e trouxe para o Folhetim o espírito descontraído d’O Pasquim. Nos seus dois primeiros anos, o Caderno foi espelhado nas publicações alternativas, trazendo humor, textos provocativos, grandes chargistas e longas entrevistas.

Em sua tese sobre o Folhetim, Marco Antonio Chaga analisa o Caderno sob uma perspectiva dos Estudos Literários, mais precisamente a crise pela qual o campo passava na década de 198086. Chaga afirma que a proposta inicial do Caderno se relaciona com a definição oitocentista do termo:

O perfil do Folhetim, como um jornal de variedades, apresentava um espaço bem diversificado que unia divertimento, crônica social, fatos diversos e até o romance publicado em fatias. Neste sentido, a estratégia do suplemento se encaixava nas definições oitocentistas do termo Folhetim, explicitadas anteriormente por Marlyse Meyer. Para a autora, a grande dificuldade para se definir o termo Folhetim reside no fato de sua origem estar cravada por forte apelo popular e a busca constante de uma linguagem simplificada, essencialmente jornalística, capaz de atingir o maior público possível87.

Segundo Nelson Merlin, o Folhetim teve um grande sucesso de vendas em seus primeiros anos, percebido pelo aumento das vendas do jornal aos domingos após o seu lançamento. A ideia inicial era trazer um espaço que tratasse do mundo das artes e dos espetáculos, mas já no final de 1977 o Caderno começou a se inclinar para o lado das discussões políticas88. A equipe fixa do Folhetim era de apenas seis pessoas, os demais jornalistas, mesmo os contratados pela Folha de São Paulo, escreviam como freelancers. O Caderno era publicado no formato tabloide e continha 24 páginas.

Após o conflito com os militares, provocado pela coluna de Lourenço Diaféria e devido ao período conturbado marcado pelos embates em torno do início da transição democrática, Tarso de Castro deixou de ser o editor do Folhetim. Em seu lugar entrou Aldo Pereira, que já era funcionário da Folha de São Paulo quando assumiu o cargo, mas não tinha relação alguma com o Caderno. Aldo Pereira aparece como editor na ficha de expedição a

86 CHAGA, Marco Antonio Maschio Cardozo. Rapsódia de uma década perdida: O Folhetim da Folha de São

Paulo (1977-1989). 2000. 259 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2000.

87 CHAGA, Marco Antonio Maschio Cardozo. Op. cit., p. 63. 88 POLACOW, Patrícia Ozores. Op. cit., p. 102.

partir de 09 de outubro de 1977. Em depoimento, o ex-editor afirma que procurou mudar o tom do humor do Caderno de Tarso de Castro e aplicou algumas mudanças na diagramação e na tipografia89. O período também foi marcado pela saída de alguns colaboradores como Paulo Francis, Josué Guimarães, Fortuna e Mario Quintana. Contudo, devido a conflitos internos, Aldo Pereira pede demissão depois de ter editado apenas cinco publicações.

A partir de 13 de novembro de 1977, Nelson Merlin passa a ser o editor do Folhetim. Ao contrário de Aldo Pereira, Nelson Merlin esteve envolvido com o Caderno desde a sua fundação, além de ter trabalhado com publicações alternativas, uma vez que fez freenlancer para o jornal Movimento. A chegada de Nelson Merlin também trouxe de volta os colaboradores que haviam saído no período de Aldo Pereira, com destaque para a volta do próprio Tarso de Castro ao Folhetim, dessa vez como colaborador eventual. A partir de 18 de dezembro de 1977, o Caderno passa a ser publicado com 16 páginas, em vez de 24.

A ideia de Nelson Merlin era seguir a proposta inicial do Folhetim, mas no período de sua gestão o ex-editor conta que o Caderno teve menos liberdade, pois tudo deveria passar pelo crivo de Boris Casoy (diretor de redação na época), que frequentemente vetava ou cortava matérias90. Em abril de 1979, Nelson Merlin foi demitido por Boris Casoy e substituído por Oswaldo Mendes, que promoveu a primeira grande mudança editorial.

Uma das conclusões de Marco Antonio Chaga sobre o Folhetim é a respeito do propósito pedagógico que guiou o Caderno de diferentes maneiras ao longo de seus 13 anos de publicação. Sobre estes primeiros anos, Chaga afirma que o Folhetim possuía o que chamou de visão gramsciana da cultura e que seus autores ignoravam os debates a respeito da indústria cultural e da estruturação do mercado de bens simbólicos:

Como se observa, mesmo depois da publicação de alguns outros textos datados do final da década de sessenta que tratam da crítica sobre a consolidação da indústria cultural, derivada das análises da Escola de Frankfurt, estas interpretações não encontraram eco na imprensa cultural brasileira, sobretudo no caso do Folhetim. O segmento do jornalismo cultural ainda estava, e este é o viés que procuro enfatizar, muito marcado pela presença das abordagens gramscianas da cultura.91

Seguindo esta linha, o autor afirma que a televisão não é vista de forma crítica e que nas vezes em que é citada é para enaltecer os famosos que trabalham no meio (como atores e

89 Ibidem, p. 118-119. 90 Ibidem, p.123.

dramaturgos) ou para divulgar a sua programação. Sendo assim, a televisão é mais comemorada do que analisada.

Ainda segundo Marco Antonio Chaga, entre 1977 e 1979 o assunto televisão esteve entre os dez temas mais abordados pelo Folhetim, presente em 2,95% das matérias. O tema da indústria cultural como um todo teve uma presença de 1,25%92. A crítica de televisão, entre a criação do Folhetim e o final de 1978, se encontra em três lugares, predominantemente: nas entrevistas de famosos, em notas curtas na seção Folha Corrida e nas charges.

Os três primeiros anos do Folhetim concentraram o maior número de menções à televisão (381 das 504 menções registradas)93. Dos 38 autores que escreveram no Folhetim em 1977, 20 eram jornalistas, sete eram cartunistas, um era profissional do meio televisivo, três eram profissionais do campo das artes e comunicação (excluindo a televisão: escritores, artistas plásticos, cineastas, publicitários, atores etc.), dois eram da academia e outros dois eram de outros campos e três não tiveram a formação encontrada. Para o ano de 1978, a distribuição ficou da seguinte forma: 25 autores, 11 jornalistas, cinco cartunistas, três profissionais de arte e comunicação, um da academia e cinco não encontrados. Em 1979, o número de autores cresce para 49, e a distribuição fica assim: 24 jornalistas, nove cartunistas, quatro acadêmicos, quatro profissionais de arte e comunicação e nove desconhecidos.

É possível notar uma predominância de jornalistas neste período e uma presença marcante dos cartunistas nos primeiros anos. Os acadêmicos, que são pontuais em 1977 e 1978, aparecem com mais frequência em 1979. É importante observar como os profissionais da televisão não escreveram no Folhetim neste momento, mas os profissionais dos demais campos da arte e comunicação, sim. No entanto, vale colocar aqui que os autores contados foram os que de fato escreveram a matéria. Muitos profissionais da televisão foram entrevistados por jornalistas. Das 11 entrevistas sobre televisão em 1977, nove foram com profissionais da televisão, como Jacinto Figueira Júnior e Chico Anísio. Em 1978, das cinco entrevistas, quatro foram com profissionais da televisão e uma com o Professor Muniz Sodré. Já em 1979, todas as sete entrevistas ocorreram com profissionais da televisão, sendo um deles Walter Clark, um dos idealizadores da Rede Globo na década de 1960.

92 CHAGA apud POLACOW, Patrícia Ozores. Op. Cit., p. 105.

93 Todos os dados quantitativos sobre a crítica de televisão do Folhetim foram retirados de um banco de dados elaborado para esta pesquisa, fruto de uma coleta feita a partir do acervo da biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e do acervo online da Folha de São Paulo.

O gênero jornalístico da entrevista foi muito importante entre 1977 e 1979, sendo o terceiro mais utilizado em todo o Folhetim, correspondendo a 11,25% das publicações. Nas entrevistas relacionadas à televisão, o que predomina é o interesse sobre a personalidade dos famosos e a curiosidade sobre os bastidores da televisão. Seguindo a tradição d’O Pasquim, as entrevistas eram longas, chegando a ter cinco páginas, e o tom era informal, como uma conversa entre amigos. A televisão aqui aparece como este lugar que é próximo e também distante, pois traz essas personalidades ao nosso convívio diário, suscitando no espectador sentimentos de afeto e identificação por estes personagens. Ao mesmo tempo, estão longe da realidade das pessoas e da banalidade de seu dia a dia; possuem trajetórias de superação e hábitos excêntricos, dignos de nota. Os programas dos quais esses famosos fazem parte, contudo, ficam em segundo plano nas entrevistas. Não são analisados ou problematizados.

Quase todas as entrevistas que se ligam ao tema da televisão se encontram nos quatro primeiros anos de publicação do Folhetim (das 40 entrevistas coletadas, 38 foram publicadas entre 1977 e 1980). Isso se deve a dois fatores: o número de entrevistas vai desaparecendo do Folhetim em geral ao longo da década de 1980 e o foco do Caderno sobre a televisão sai das curiosidades sobre os famosos para discutir questões ligadas ao meio televisivo em si, trazendo uma abordagem menos pessoal e mais conceitual.

A maior entrevistadora do Folhetim foi Regina Penteado94, jornalista da Folha de São Paulo que entrevistou famosos do período como Elke Maravilha, Marília Gabriela e Clodovil. Em seu estilo de escrita, Regina Penteado contava anedotas sobre seus encontros com os entrevistados. Quando visitava a residência ou o local de trabalho, fazia uma descrição bem detalhada; quando o encontro era em um local público ou sua casa, tratava do cenário só para contextualizar a história. Sempre reservava um momento para descrever a aparência do entrevistado e ia costurando à sua narração as falas que considerava mais pertinentes ou curiosas. Embora o tom de suas entrevistas fosse sempre leve e descontraído, Regina Penteado sempre retratava seus entrevistados com um ar de dignidade e tentava deixar transparecer os aspectos únicos da personalidade de cada um.

Na seção Folha Corrida, a crítica do meio televisivo se faz mais presente. A seção vinha em uma ou duas páginas e trazia textos curtos sobre assuntos variados, sempre tratando de alguma forma de cultura. Esta seção circulou apenas nos três primeiros anos de publicação

94 Não foram encontradas informações a respeito da vida e formação de Regina Penteado. As suas entrevistas sobre televisão no Folhetim foram publicadas entre fevereiro de 1977 e março de 1978, mas foram encontradas entrevistas feitas para o caderno Ilustrada também da Folha de São Paulo entre março de 1973 e julho de 1982.

do Folhetim, mas somando todas as menções à televisão (115) fica em segundo lugar como o espaço de maior destaque para o tema em todos os anos de publicação do Caderno, atrás apenas da seção de Cartas do Leitor (144).

Neste espaço, críticos da Folha de São Paulo e jornalistas da imprensa alternativa se reuniam e criticavam a televisão. O tom dessa voz em geral era, salvo algumas exceções, de uma crítica negativa; a grade e os programas eram severamente criticados, tinham sua qualidade questionada e seu papel social opressor denunciado. Entre os mais frequentes colaboradores estão Celso Nucci Filho, Dirceu Soares, Maria Rita Kehl, Tarso de Castro e Orlando Fassoni.

Enquanto os jornalistas Celso Nucci Filho e Dirceu Soares fizeram uma crítica mais pontual a respeito deste ou daquele programa, Maria Rita Kehl aprofundou o tema ao tentar refletir sobre as implicações sociais e políticas do hábito de assistir televisão em variados momentos da vida e sobre a abordagem do discurso televisivo, por exemplo, a respeito da vida na cidade ou da administração da Febem (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor). Maria Rita Kehl tinha como a Rede Globo seu principal objeto de estudo. Orlando Fassoni, por sua vez, focou nos filmes, seriados e na programação televisiva. Crítico de cinema, Fassoni tinha um conceito específico de qualidade e de gosto e o aplicou em sua crítica à televisão. Tarso de Castro, o mais agressivo do grupo, criticou a televisão como um todo, seu papel alienador e desinformador, também com um destaque para a Rede Globo.

A seção de charges teve destaque nos três primeiros anos, ocupando 10,85% do Folhetim. A crítica de televisão feita nesta seção não foi menos dura com a televisão. Sempre apontando a falta de qualidade, o excesso de conteúdo violento e a fabricação de material que servia para iludir e alienar, a crítica da charge usou o humor para ironizar e denunciar o papel da televisão na sociedade brasileira. As ilustrações foram extintas do Caderno a partir de 1983 e foram contadas um total de 92 charges que trazem o tema da televisão direta ou indiretamente. Nesta seção, se destacam na crítica de televisão cartunistas como Angeli, Jota, Luscar, Nilson e Glauco.

A seção de Cartas do Leitor foi a que mais mencionou a televisão em toda a história do Folhetim (144 vezes). Embora as notas enviadas sejam curtas e as Cartas tenham circulado apenas até 1981, o alto índice de menções revela que este foi um assunto de grande interesse do público e que moveu muitas pessoas ao ponto de sentirem o impulso de enviar uma carta ao Caderno. Dentro do tema da televisão, o tópico mais abordado pelas cartas foi a defesa ou

a crítica a programas específicos. Como nos primeiros anos a crítica de televisão do Folhetim fez mais críticas a programas diretamente, muitos leitores sentiram a necessidade de apoiar a crítica ou de defender seus programas favoritos. Da mesma forma, o segundo assunto que mais mobilizou os leitores que enviaram cartas foi a crítica ou o elogio à postura do Folhetim diante da televisão em geral.

Uma das pioneiras na crítica de televisão, a jornalista Helena Silveira possuía uma coluna fixa nos primeiros meses de publicação do Folhetim, mas não se tratava de uma coluna especificamente sobre televisão, embora ela trate do assunto pontualmente95. Mesmo que suas menções à televisão sejam breves, Helena Silveira toca em pontos sensíveis como gênero e discurso publicitário. Outro colunista que aborda ocasionalmente a televisão é o crítico e jornalista Paulo Francis96, correspondente de Nova Iorque, que faz comentários sobre a televisão dos EUA e os eventos políticos que acompanha pelos telejornais.

Nestes dois primeiros anos do Folhetim predominou, por um lado, a entrevista com famosos, a crítica a programas específicos e reportagens sobre os bastidores e, por outro, a crítica irônica e debochada do meio. Porém, é importante sinalizar, contrariando a afirmação de Marco Antonio Chaga, que a análise mais aprofundada dos ensaios já está presente, especialmente na análise de Maria Rita Kehl, que será objeto de estudo mais detalhado no capítulo 3.

A partir de 1979, o Folhetim começa a adotar um novo rumo e passa a assumir mais estritamente seu intuito pedagógico, trazendo textos e reflexões introdutórias a respeito de diversos assuntos do campo das humanidades, com destaque para a chegada dos ensaios assinados na página 2 do Caderno e dos debates e mesas redondas que traziam análises do cenário político e cultural brasileiro. Embora o humor e o deboche ainda tivessem lugar, com Oswaldo Mendes o Folhetim se aproxima da academia, publicando textos de especialistas dos campos das humanas.

95 Nascida em 1911, Helena Silveira foi jornalista da Folha de São Paulo e publicou uma coluna sobre televisão

no caderno Ilustrada entre 1973 e 1984. Sobre o trabalho de Helena Silveira como crítica de televisão, ver: SILVA, Pedro Paulo da. Jornalismo, telenovela e cultura na coluna ‘Helena Silveira vê TV’ (1970-1984). 176 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Estudos Culturais, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

96 Nascido em 1930, o jornalista, crítico e escritor Paulo Francis foi um importante nome tanto do jornalismo da Ilustrada como da imprensa alternativa como colaborador d’O Pasquim. Foi contratado pela Folha de São Paulo em 1976 como parte da reformulação da Ilustrada promovida por Cláudio Abramo. Estudou Filosofia na Universidade do Brasil, Literatura Dramática na Universidade de Columbia nos EUA e fez parte do Centro Popular de Cultura da UNE.

Antes de assumir o cargo de editor do Folhetim, o ator e jornalista Oswaldo Mendes foi diretor do jornal Última Hora. Em depoimento à Patrícia Polacow ele conta que tentou fazer do Última Hora um “nanico da grande imprensa”, que via muito em comum entre o Última Hora e o Folhetim de Tarso de Castro e que Octavio Frias de Oliveira pediu a ele que desse continuidade à sua proposta para o Última Hora no Folhetim, depois de ter sido afastado da direção daquele jornal por Carlos Caldeira97.

Em setembro de 1979, o Folhetim promoveu um balanço dos anos 1970 no qual dedicou 20 números a uma retrospectiva da década a partir de diferentes pontos de análise como educação, mulher, imprensa, televisão, humor, questão da terra, São Paulo etc. Para a execução deste projeto montou-se uma Comissão Editorial, propulsora da aproximação do Folhetim com os intelectuais da academia, especialmente da USP, que até então tinham uma relação mais próxima com o jornal O Estado de São Paulo98. Desta comissão saiu o Conselho Editorial da nova fase do Folhetim: Rogério César de Cerqueira Leite, Carlos Guilherme Mota, José Augusto Guilhon Albuquerque e Tércio Sampaio Ferraz Júnior.

A partir da coletânea sobre a década de 1970, as publicações do Folhetim passam a ser monotemáticas (cada publicação foca em apenas um tema central). Segundo Marco Antonio Chaga, o Folhetim de Oswaldo Mendes priorizou as reportagens, constituindo 29% do Caderno. Em seguida aparecem as entrevistas, com 15%. As charges, por sua vez, tiveram uma presença de 8%99.

A partir de 12 de abril de 1981, Oswaldo Mendes muda de cargo dentro da Folha de São Paulo e o Folhetim passa a ter Jaime Klintowitz como editor. Nesta mesma publicação, Otávio Frias Filho publica o texto “Terceira dentição”, a respeito da nova fase do Folhetim tendo em vista as novas diretrizes editoriais da Folha de São Paulo diante da abertura política: “O Folhetim, que sempre procurou alojar as discordâncias, hospedá-las e fazer do debate um método, não pretende agora substituir a discussão, mas suplementá-la com reflexões mais demoradas e com exposições de maior fôlego”100 .

Esta transição, segundo Marco Antonio Chaga, não se deu de um número para outro, mas gradualmente. Dessa forma, o Folhetim de Jaime Klintowitz e, posteriormente, o de Maria Carneiro Cunha, se assemelham ao de Oswaldo Mendes, ao mesmo tempo em que vão

97 POLACOW, Patrícia Ozores. Op. Cit., p. 128. 98 Ibidem, p. 133.

99 CHAGA apud POLACOW, Patrícia Ozores. Op. Cit., p. 134.

gradualmente adotando os novos formatos que se consolidariam em 1983. O objetivo era remover aos poucos o jornalista intermediário, deixando o próprio especialista como responsável pelos textos, tornando-os mais complexos e aumentando o grau de dificuldade da leitura. Jaime Klintowitz afirma que a transição também fez do Folhetim uma criação coletiva encabeçada pelo Conselho Editorial, tirando muito do poder de decisão das mãos do editor. Desta maneira, o Caderno perde seu caráter autoral, no sentido de que não se molda à imagem de seu editor como antes.

A chegada de Jaime Klintowitz também marca o fim da seção de Cartas do Leitor, publicada pela última vez em 12 de abril de 1981, e a diminuição drástica do número de charges, que passa a vir somente como ilustração pontual de ensaios e em ocasiões na qual o humor e a charge são o tema. O ex-editor relata que, sob a sua coordenação, o Folhetim se aproximou ainda mais da academia, em especial dos especialistas da USP e da Unicamp101.

Após a saída de Jaime Klintowitz, assume a edição do Folhetim Maria Carneiro Cunha, indicada por Boris Casoy, a partir do dia 01 de novembro de 1981. Formada em Direito, Maria Carneiro Cunha começou a trabalhar na Folha de São Paulo em 1977, como tradutora. Em 1978 passou a trabalhar na Ilustrada, escrevendo sobre literatura. Paralelamente, publicava alguns de seus textos em jornais da imprensa alternativa, como Leia Livros e Movimento. Além de jornalista, era militante feminista e compôs a União Brasileira de Escritores. Quando assumiu a edição, Maria Carneiro Cunha já escrevia para o Folhetim desde a época de Oswaldo Mendes.

Na época de Maria Carneiro Cunha, o Folhetim passou a sair com 12 páginas e, embora ainda desfrutasse de certa autonomia editorial, a cada dia perdia mais recursos. Cunha