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CAPÍTULO 2 – A ANÁLISE DA CRÍTICA E SEUS TEMAS

2.1 A TV E SUAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

Para muitos autores da crítica do Folhetim, como Orlando Miranda, George Sperber, e Renato Ortiz, o papel do crítico seria o de compreender a estrutura institucional que dá suporte à televisão brasileira, de forma a explicitá-la como uma indústria neste período de entrada do país em um novo estágio do capitalismo. O ponto central seria então mostrar como o meio está à mercê de interesses – seja do Estado seja do mercado, uma vez que este conhecimento seria fundamental para a compreensão do discurso televisivo e do papel da televisão na sociedade.

Neste ponto, trabalha-se com a ideia de uma televisão definida pelas suas condições produtivas e de um telespectador-cidadão que precisa ter consciência desta determinação de forma que possa buscar, então, a emancipação desta televisão que faz parte de uma estrutura de manutenção do poder.

No caso específico do Brasil da década de 1970, o desenvolvimento da indústria cultural esteve diretamente ligado a um processo de institucionalização. No contexto da redemocratização, contexto no qual foi escrita a crítica de televisão do Folhetim, este debate gira em torno de dois eixos: a determinação da televisão pelo estado militar em processo de transição e a determinação pela lógica do mercado136.

É um consenso entre a crítica o fato de que a televisão brasileira, em especial a Rede Globo de Televisão, cresceu e se consolidou como o meio de comunicação de maior abrangência no país devido ao incentivo estatal que, além de prover a infraestrutura para uma transmissão de alcance nacional, também facilitou empréstimos e importações de equipamentos. O regime militar entendia a televisão como um veículo estratégico no sentido de promover uma coesão simbólica, homogeneizadora e totalizante no país. Assim, a

136 Está informação pode ser encontrada em: ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 117-118; RIBEIRO, Ana Paula Goulart; SACRAMENTO, Igor. A renovação estética da TV. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; SACRAMENTO, Igor; ROXO, Marco (Org.). Op. Cit., p. 113; e HAMBURGER, Esther. Op. Cit., p. 22.

expansão direcionada do meio se tornou uma questão de segurança nacional, como atesta Renato Ortiz:

A ideia da ‘integração nacional’ é central para a realização desta ideologia que impulsiona os militares a promover toda uma transformação da esfera das comunicações. Porém, como simultaneamente este Estado atua e privilegia a área econômica, os frutos deste investimento serão colhidos pelos grupos empresariais televisivos.137

No final de 1979 o Folhetim publica uma série de números temáticos dedicados à década de 1970. No dia 18 de novembro, o tema escolhido é a televisão. Nesta edição, na reportagem “O espelho do sistema”, do jornalista João de Barros, o sociólogo Orlando Miranda e o ator David José falam da complexa relação entre televisão e regime militar na década de 1970138. A matéria traz a ilustração de Fausto (Figura 1), na qual um par de braços usando um terno aparece vindo de fora do quadro e traz uma televisão, que apresenta o rosto de um homem de cartola. Tanto os braços como o homem de cartola representam o poder instituído – que traz a si mesmo por meio da televisão.

Na época mestre em Sociologia pela USP, Orlando Miranda coloca, em seu depoimento ao Folhetim, que a expansão da televisão está diretamente ligada à trajetória do Estado militar na década: “milagre econômico”, clima de ufanismo, Copa do Mundo de 1970 e repressão violenta139. Assim, associando o crescimento do alcance da televisão com o clima de medo e a limitação da censura em diversos campos da cultura, o regime militar conforma o público telespectador na década: com medo da repressão, fascinado com os avanços tecnológicos da televisão e passivo por conta da falta de opções.

Ao fazer um balanço da década, o jornalista da Folha de São Paulo, João de Barros, se baseia fundamentalmente na opinião do sociólogo Orlando Miranda. Em sua perspectiva, há uma estimativa de permanência da submissão da televisão ao sistema, apesar de defender um prognóstico de decadência para a Rede Globo, que não se adapta ao contexto da democracia. Quanto ao público, reforça a ideia de que a massificação ocorre somente quando se retiram as demais opções. Dado ao povo a alternativa, este optará pela sua emancipação. A saída seria, portanto, a oferta de uma alternativa, associada ao fortalecimento da sociedade civil, que se organiza na forma dos movimentos sociais.

137 ORTIZ, Renato. Op. Cit. p.118.

138 BARROS, João. O espelho do sistema. Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 3, 18 nov. 1979. 139 Ibidem.

Figura 1

Fonte: Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 3, 18 nov. 1979

Ainda nesta edição do Folhetim sobre a televisão da década de 1970, George Sperber, professor da PUC-Campinas e ex-funcionário da TV Cultura, aborda a difundida ideia de que a televisão é um reflexo do sistema político vigente, portanto atrelada ao desenvolvimento político da época140. Nesta conjuntura, a televisão atua na década de 1970 como difusora da ideia de “milagre brasileiro”.

Da mesma forma que Orlando Miranda, George Sperber associa a trajetória da Globo e seu “padrão de qualidade” à do “milagre econômico”, pois a emissora só é capaz de manter a imagem do milagre enquanto o governo puder de alguma forma sustentá-la. Por outro lado, o retorno daqueles que foram afastados pelo “padrão Globo” (como Dercy Gonçalves, Hebe Camargo e Flávio Cavalcante) representa os sinais da abertura que se anuncia, como a Anistia no campo político.

Em sua análise, George Sperber coloca uma relação de dependência entre Estado e televisão, tanto por conta da sua aliança de interesses quanto pela própria deficiência da televisão em se erguer economicamente sozinha no seu período formativo. O autor aponta que o contexto exigia e pressupunha uma tutela estatal da comunicação, o que explicaria sua relação íntima. Por fim, Sperber coloca a televisão educativa como saída: educadora e historicizadora, ela seria a antítese do discurso fragmentário e generalista da televisão comercial, encontrado especialmente na Rede Globo.

Abrindo o citado número sobre televisão, há também um breve editorial de Oswaldo Mendes, editor do Folhetim na época141. Em seu texto, Mendes afirma que embora a televisão tenha uma presença crucial no cotidiano brasileiro, além de carregar o papel de conduzir o pensamento dominante junto à população e controlar as insatisfações nacionais, a atual conjuntura a impede de conseguir manter a população sob controle.

Tanto a reportagem de João de Barros como o artigo de George Sperber e o editorial de Oswaldo Mendes colocam uma questão central: o milagre econômico foi, em muitos aspectos, forjado pela televisão e com a crise econômica anunciada no final da década de 1970 (ambos os artigos foram escritos em novembro de 1979) essa encenação de prosperidade perde a sua sustentação e novos tempos se anunciam para a televisão.

Existe também uma preocupação, tanto da parte de Orlando Miranda quanto de George Sperber, de se pensar saídas para uma televisão brasileira adequada ao contexto democrático. Enquanto sociólogo, Orlando Miranda vê a emancipação pela via dos movimentos sociais, que já no final da década ganham força no cenário político. George Sperber, professor de letras e tradutor de alemão, aposta na televisão educativa de qualidade, que dê ao cidadão a noção de uma perspectiva histórica do contexto político e social. Muitos

141 MENDES, Oswaldo. Um instrumento de nossas contradições. Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 2, 18 nov. 1979.

autores que escrevem no Folhetim têm essa mesma preocupação de pensar a televisão educativa como um instrumento de formação cidadã, como será demonstrado adiante.

Neste momento de transição democrática, a televisão sofre por um lado com as instabilidades no cenário político que proporciona condições de produção inéditas para este meio que se consolidou já no contexto autoritário no Brasil, mas por outro lado também vê surgir um novo horizonte diante das lutas em favor da suspensão dos mecanismos de censura. O debate em torno da censura no Folhetim mostra duas tendências de crítica de televisão. Alguns autores utilizam a crítica no Caderno como uma ferramenta de contestação política, como uma plataforma para advogar em favor da suspensão da censura diante da opinião pública. Outros autores buscam relatar sua preocupação em torno das condições de produção imposta pela censura, numa tentativa de apresentar um quadro mais complexo das dinâmicas de produção da televisão no contexto da censura colocada.

Em julho de 1976 é criada a Lei Falcão (Lei nº 6339/76, batizada com o nome de seu criador, o então Ministro da Justiça, Armando Falcão), que limitou a transmissão de propaganda política na televisão e no rádio. Em janeiro de 1978, um político do governo que pediu para não ser identificado divulgou a três repórteres de grandes jornais brasileiros que a Lei seria reformulada. Por conta de tal informação, o repórter Cláudio Faviere traz o editorialista da Folha, Samuel Weiner, dois profissionais da televisão e três telespectadoras para opinar sobre o assunto142.

O repórter da Folha de São Paulo, Cláudio Faviere, abre e fecha a reportagem com o depoimento das telespectadoras Sandra Costa Ramos, dona Francisca Martins Jonas e dona Jovina Nogueira. Nos depoimentos das telespectadoras, o que se percebe é que as pessoas desejam a volta dos temas políticos na televisão, uma vez que estes parecem colaborar para que o povo possa reivindicar melhorias nas condições de vida.

Entre os depoimentos das telespectadoras, Cláudio Faviere traz a fala de Mauro Salles, diretor executivo dos Diários e Emissoras Associadas; Samuel Weiner, renomado jornalista, ex-proprietário e fundador do jornal Última Hora; e Demétrio Costa, editor do departamento de jornalismo da TV Cultura.

O tom da reportagem é claro: a Lei Falcão deve ser revogada ou, pelo menos, reformulada. Para reforçar a ideia, Cláudio Faviere traz profissionais de renome da televisão e

da comunicação e mulheres que considera representantes das camadas mais pobres da sociedade paulistana. Cada entrevistado aponta para este “clima” de abertura que se anuncia e a Folha de São Paulo (aqui representada tanto por Cláudio Faviere quanto por Samuel Weiner) se coloca como defensora da volta do debate político na televisão, ressaltando a importância do meio para a participação política, especialmente para aqueles que não têm acesso à comunicação impressa (que é o caso das telespectadoras entrevistadas).

Junto com a reportagem, o Folhetim traz um texto mais aprofundado de Samuel Weiner sobre a Lei Falcão chamado “A ditadura da desinformação”143. Weiner defende que a censura de conteúdo político na televisão vem do medo que o poder institucional tem do povo e seu potencial de insurgência. Dessa forma, a censura seria uma forma de manter a população desinformada e, portanto, desengajada e desarticulada. Em última instância, essa desinformação levaria também a um grande descrédito com relação ao que é transmitido pela televisão.

Por fim, Samuel Weiner ressalta a importância da televisão para a configuração política do país: “A televisão é a imagem do país. Ela é a imagem não só da democracia, ela é a imagem do comportamento. O comportamento político da televisão é o comportamento político que o país está vivendo”144 .

Nesta passagem de Weiner fica clara a importância estratégica da televisão na sociedade brasileira de massa, o que faz com que a censura aja sobre este meio de maneira completamente distinta da forma com que atua sobre os demais, como o jornalismo impresso, a música e o teatro.

Os dois textos sobre a Lei Falcão têm uma preocupação comum de “forçar a mão” para que a Lei seja revogada. O tom não é de um tranquilo otimismo, mas de desconfiança com as mudanças anunciadas, e existe uma clara preocupação em se ressaltar a importância de se suspender a censura para que a televisão possa devidamente informar seu público no campo da política. Samuel Weiner tem até mesmo o cuidado de apontar para o papel central da televisão neste quesito e de reforçar que um povo devidamente informado pela televisão é um povo insubmisso.

143 WEINER, Samuel. A ditadura da desinformação. Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 4-5, 29 jan. 1978.

A censura, em especial, era um tema de incerteza e disputa nos debates da crítica de televisão. A repressão estatal assombrava os meios de comunicação. O tema “censura” era muito debatido como uma forma de resistir, criticar e de lutar para que ela fosse extinta. A censura se fazia presente no debate em novembro de 1979 na charge de Angeli (Figura 2), que apresenta um homem de meia-idade assistindo à televisão, perplexo, ao ouvir anunciar: “Sairemos do ar por alguns instantes para efetuarmos troca de censores!”:

Figura 2

Fonte: Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 16, 18 nov. 1979

Em sua crítica, Angeli faz um paralelo com a suspensão da programação da televisão para manutenções técnicas para colocar o censor como requisito fundamental para o funcionamento e a veiculação legalizada da programação. A televisão estava refém de seu censor, que deveria estar presente enquanto a televisão estivesse no ar, e Angeli explicita o que estava intrínseco ao funcionamento da televisão, enquanto rede de comunicação.

No número 83 do Folhetim, do dia 20 de agosto de 1978, Luiz Egypto traz o tema da volta da sátira política aos programas de humor da televisão tanto em uma reportagem chamada “O riso e o poder”145 quanto em uma entrevista com o Prof. Muniz Sodré146.

Luiz Egypto abre a reportagem trazendo três possibilidades para explicar a emergência do tema da política: a queda da censura ostensiva, o crescimento da popularidade da oposição ao regime militar, o que forçaria a um afrouxamento dos mecanismos opressores, e a

145EGYPTO, Luiz. O riso e o poder. Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 3-4, 20 ago. 1978.

146EGYPTO, Luiz. Humor é sempre de oposição. Será? Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 5, 20 ago.

possibilidade de se tratar apenas de uma nova estratégia mercadológica em busca de audiência e anunciantes.

O tom da matéria é predominantemente elogioso ao programa Planeta dos Homens147, e Luiz Egypto dedica alguns parágrafos finais aos bastidores do programa, ressaltando as longas horas de gravação, o profissionalismo dos atores e o detalhismo do diretor. Egypto também transcreve um trecho de sua entrevista com dois dos roteiristas do programa, Max Nunes e Haroldo Barbosa, na qual afirmam que a abertura salvou o humor na televisão, uma vez que permitiu uma aproximação com o público. Embora os roteiristas ressaltem que “não tomam partido”, também defendem que “o humor é sempre de oposição”.

Logo em seguida, é apresentada a entrevista com Muniz Sodré, professor de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre o mesmo tópico. Sodré começa colocando que muitas vezes os interesses do governo vão de encontro aos interesses do mercado, o que poderia explicar essa contradição apresentada na qual a televisão, que normalmente caminhava de mãos dadas com o governo naquela época, agora se dedica pontualmente a fazer críticas às políticas do regime.

Muniz Sodré, contudo, coloca que esta sátira política feita nos programas de televisão não é uma representação simbólica da luta da oposição, pois a emergência desta seria unicamente uma tática de renovação do conteúdo televisivo, uma vez que para a cultura do consumo é fundamental manter o espírito de novidade. Assim, essa tendência não significa de forma alguma o fortalecimento da oposição ao regime, de fato, porque esta sátira política da televisão não pretende produzir (e não produz) efeitos na política do país. Muniz Sodré chega até a refutar a ideia defendida por Haroldo Barbosa e Max Nunes, trazida na reportagem de Luiz Egypto, de que o humor é sempre de oposição. Assim, o valor de análise da emergência da sátira política na televisão seria apenas o de índice político, e segundo o entrevistado, denotaria uma maior tolerância dos mecanismos de censura.

A reportagem de Luiz Egypto possui um teor mais de diagnóstico. A questão seria verificar se estaria ou não diante de uma virada no que tange ao tratamento dos temas políticos na televisão. Luiz Egypto assinala que sim, que este é um indicador de uma abertura para a discussão. Já a entrevista com Muniz Sodré freia os ânimos, verticalizando a análise e o

147Planeta dos Homens foi um programa humorístico produzido pela Rede Globo e exibido à noite, semanalmente, de 1976 a 1982. O programa era dirigido por Paulo Araújo e escrito por Jô Soares, Max Nunes, Hilton Marques, Haroldo Barbosa, Afonso Brandão, Luis Fernando Veríssimo, Redi, Sérgio Rabello, Alfredo Camargo e J. Rui.

alcance do significado político desta sátira. Afinal, para Muniz Sodré este humor político nada tem de revolucionário; seria antes mercadológico.

Essa diferença indica duas linhas de pensamento que se enfrentam e se aliam ao longo da crítica do Folhetim. A ideia de uma ruptura promovida pela transição democrática que aponta para um novo cenário de saída de um regime autoritário para o democrático e a ideia de uma continuidade, no sentido de que a chamada consolidação da indústria cultural brasileira traça uma trajetória que não é desviada pela mudança do regime político.

Neste momento, existe uma relativização das relações de aliança entre televisão e Estado, uma vez que se colocam os conflitos e as limitações do meio diante da imposição da censura. Este debate abre para uma perspectiva mais complexa das relações entre televisão e Estado, e é também neste momento em que a televisão deixa de ser colocada como um bloco uniforme e passa a ser composta de pessoas que a constituem, que pensam o que estão fazendo enquanto parte desta estrutura e que sofrem as consequências dessa complexa relação do meio com o Estado.

Ao longo da crítica do Folhetim transparece que um dos casos que mais causou indignação nacional contra a censura foi o trágico assassinato do jornalista Vladimir Herzog148, funcionário da TV Cultura, em 1975, mesmo que alguns anos depois.

Para o Oswaldo Mendes, em seu editorial de novembro de 1979149, a virada na história acontece por conta do assassinato de Herzog. O fato de a ditadura ter atacado um homem da televisão tornou o silêncio insustentável. Mendes pede, então, que este trágico evento sirva para que todos tenham olhares mais generosos na hora de julgar as ações contraditórias dos profissionais de comunicação.

Além de um renomado jornalista, Oswaldo Mendes é ator, diretor e autor de teatro. Como um profissional da comunicação, cabe a ele pedir que, neste momento de avaliação do passado e preparação para o futuro, todos vejam a sua classe com um olhar compreensivo. Nada melhor para fazê-lo do que evocar Vladimir Herzog, jornalista, professor e diretor da

148 Vladimir Herzog foi um jornalista, professor e escritor nascido na Iugoslávia (onde hoje se encontra a Croácia) e naturalizado brasileiro. Membro do Partido Comunista Brasileiro, Herzog teve uma postura de oposição diante do governo militar. Em outubro de 1975, na época em que era chefe de edição da TV Cultura, Herzog foi torturado até a morte pela polícia, que tentou encobrir o assassinato com a encenação de um suposto suicídio.

149 MENDES, Oswaldo. Um instrumento de nossas contradições. Folhetim: Folha de São Paulo, São Paulo, p. 2, 18 nov. 1979.

TV Cultura, cuja foto do corpo se tornou um dos grandes símbolos da repressão cívico-militar em 1975150.

Em seu texto, George Sperber também ressalta esta tragédia e destaca que é curioso o fato de terem assassinado um trabalhador da televisão educativa, que no Brasil acabou por muitas vezes fazer o papel de televisão alternativa, ao promover a educação e a contextualização histórica numa tentativa de compensar a lacuna no sistema educacional. Herzog é, aqui, o símbolo da luta de uma parte dos profissionais da área de comunicação de forma mais ampliada contra o regime ao mesmo tempo em que mostra a todos o que estava em jogo para esses profissionais. Ou seja, enfrentar o regime na televisão era correr risco de morte.

Na mesma edição a respeito da televisão nos anos 1970 é promovido um debate com profissionais do meio para discutir o papel da televisão na década151. Coordenado por Ione Cirillo e o editor do Caderno, Oswaldo Mendes, o debate contou com a presença do autor de novelas Lauro César Muniz; o ator Carlos Zara; o dramaturgo, produtor e ex-publicitário, Carlos Queiróz Telles; a atriz e ex-diretora da TV Cultura, Nídia Lícia; a escritora e produtora