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O Método Etnográfico em Contextos Educativos

12. Educação, Identidade e metamorfoses culturais

1.4. O Método Etnográfico em Contextos Educativos

O uso do método etnográfico em contextos educativos leva a uma nova orientação epistemológica que ultrapassa as visões e pesquisas temáticas sobre o insucesso ou sucesso escolar, mas também a uma nova atitude metodológica de quem investiga “factos educativos”, quer seja por parte do antropólogo quer seja por parte do professor investigador.

A “Etnografia da Educação”, que junta duas coisas fundamentais: a metodologia, por um lado, e o domínio de estudo, por outro, que é neste caso a educação, inscreve-se claramente na perspectiva interpretativa e fenomenológica dos estudos antropológicos. Trata-se duma opção metodológica que só aparentemente pode ser considerada invenção recente. Efectivamente, a etnografia trata-se duma metodologia que, embora clássica nos estudos antropológicos, encontra hoje um contexto talvez mais propício à adopção pela comunidade científica e à adequação no estudo de processos sociais, educativos, escolares ou não.

É assim que entre a Antropologia a Sociologia se dão, de novo, fluxos e refluxos de comunicação e identificação. A Sociologia (pelo menos a não positivista) reencontra a etnografia e a Antropologia, no seu “regresso a casa”, estende a etnografia às sociedades ditas complexas, ao processo educativo e à própria escola. Ser etnógrafo da escola, fazer etnografia de reuniões escolares, de reuniões com encarregados de educação, de processos de transmissão cultural, etc. não soa hoje a estranho nem nos manuais de investigação nem entre os próprios investigadores.

E a Etnografia da Educação em contextos educativos, realizada por antropólogos36, pode ser feita na escola, na sala de aulas, no recreio, nos tempos livres, no jogo infantil, na família, nos escuteiros, na catequese, etc. e segue, por vezes, um, dois ou três sujeitos sem aquela preocupação sociologista de estudar a educação como um simples meio de reprodução social sem estudar os modos particulares de socialização de cada individuo:

36 Porque há autores que começam a falar de etnografia sociológica que distinguem da antropológica (cf. Silva, 2003).

“a sociologia da educação e da cultura – pelo menos aquela que não está fechada nos limites da instituição escolar ou das instituições das obras ditas «culturais» - […] deveria poder contribuir para esclarecer esses processos de construção social das estruturas do comportamento e do pensamento. […] São raras as descrições das próprias práticas socializadoras, das modalidades efectivas das formas variadas de socialização. […] Assim o habitus é uma teoria do sujeito especializado à qual falta uma teoria capaz de especificar a sua própria construção” (Lahire, 2002: 172-173).

No fundo, falta a teoria feita a partir da descrição pormenorizada das formas, espaços e tempos de incorporação do habitus.

Referências Bibliográficas e Bibliografia Complementar da Aula 1

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2. Cultura e Identidade

1 aula teórica e 1 seminário

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Palavras-chave: cultura, identidade pessoal, self, identidade cultural e identidade social,

identificação objectivante e identificação subjectiva, etnicização.