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3 A CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

3.2 A caracterização ambiental

3.2.1 O meio físico

Sob o ponto de vista da análise do meio físico, deve ser empreendida uma análise integrada do clima e meteorologia, assim como das unidades geoambientais existentes na área de estudo.

A análise empreendida tomou por base o documento intitulado “Elaboração de Plano de Manejo da APA do Vale do Rio Cocó”, elaborado em 2015 pela consultoria Arcadis Logos S/A, para a Secretaria Municipal de Infraestrutura de Fortaleza. O referido documento faz uma análise pormenorizada dos principais aspectos de caracterização utilizados na presente tese.

Segundo dados coletados (EMBRAPA, 2002), o município de Fortaleza localiza- se na unidade climática “Aw”, ou seja, em uma região de clima tropical chuvoso, com temperatura média do mês mais frio superior ou igual a 18ºC e precipitação do mês mais seco menor que 30 mm; a época mais seca ocorre no inverno e o máximo de chuvas ocorre no outono.

De acordo o Mapa de Clima do Brasil (IBGE, 2002), a área em estudo está situada em uma unidade caracterizada como tropical semiárido, em zona equatorial, com 6 meses de seca e temperatura média acima de 18ºC.

O referido documento da consultoria contratada pelo município de Fortaleza cita ainda que, na área estudada, tal como na maior parte do Nordeste Setentrional, há maior concentração de chuvas no primeiro semestre, o que representa mais de 90% do total precipitado ao longo do ano e, em relação à umidade relativa do ar, destaca-se uma média anual elevada, em torno de 78,8 %. Os meses de maior umidade são março (84,7 %), abril (85,2 %) e maio (83,6 %), e os de menores índices são setembro, outubro e novembro, com 74,4%, 74% e 73,7%, respectivamente.

Por fim, um dado relevante que pode ser extraído da coleta de informações feita pela consultoria se refere à possibilidade efetiva de ocorrerem processos de inundação na região em estudo.

Salienta o levantamento realizado que, em face dos compartimentos geomorfológicos da região, tais como planícies fluviais, fluviomarinhas, fluviolacustres e lacustres, as quais, por natureza, apresentam processos de inundação, devem ser impostas severas restrições à ocupação dessas áreas, pois essa condição natural, aliada a uma situação também de fortes eventos pluviométricos e uma crescente antropização (urbanização, impermeabilização do solo, interferências nos canais fluviais e assoreamento destes entre outros), potencializam a ocorrência desses fenômenos, podendo acarretar significativos danos ambientais e socioeconômicos (ARCADIS LOGOS, 2015).

Quanto às unidades geoambientais4 da região analisada, identificou-se um “expressivo trecho de planície litorânea, caracterizada por ampla gama de feições morfológicas de natureza e gênese complexa, vinculada aos processos marinhos, eólicos, fluviais e a combinação destes, que dão origem a formas de acumulação e erosão” (ARCADIS LOGOS, 2015).

Ademais, nesta área, a planície litorânea compreende, em linhas gerais, morfologias específicas, tais como: faixa de praia, terraços marinhos/planície de deflação (pós

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“Compartimentos relativamente homogêneos que são conformados pela associação entre seus aspectos geomorfológicos e geológicos, desenvolvimento pedológico e vegetacional”, segundo a Arcadis Logos (2015, p. 201).

praia), campos de dunas (fixas e móveis), planícies fluviomarinhas e fluviais, lacustres e fluviolacustres (ARCADIS LOGOS, 2015). Além disso, identificou-se ainda a existência de tabuleiros pré-litorâneos.

As praias representam uma unidade morfológica importante da zona estudada. As praias tem definição legal e são categorizadas, nos termos da Lei Federal nº 7.661, de 16 de maio de 1989, em seu Art. 10, como “a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subsequente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro ecossistema”, estabelecendo a legislação, ainda, que as praias são “bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica”.

Nesse sentido, apresentam as praias um potencial elevado de utilização pública e turística. Portanto, são áreas que devem sempre ficar livres, disponíveis para a utilização pública indiscriminada e insuscetíveis de apropriação privada.

Além das praias, a área estudada apresenta consideráveis terrenos abrigados entre a faixa de praia e os campos de dunas. Alguns autores definem tais terrenos como terraços marinhos (SANTOS, 2006), enquanto o próprio Plano de Manejo da APA de Sabiaguaba considera esses terrenos em seus respectivos mapeamentos geoambientais como planícies de deflação que são modeladas por processos eólicos.

Destaca ainda o diagnóstico a ocorrência de diversas lagoas freáticas intermitentes relacionadas à oscilação do nível do lençol freático e à sazonalidade do regime pluviométrico de Fortaleza. Essas lagoas, secas ou não, propiciam uma flora diversificada, bem como são fontes de recursos e habitat para a fauna local na cidade de Fortaleza, no entanto, tais áreas, ressalta o relatório, vêm sendo historicamente ocupadas pela crescente urbanização, exceção feita à região da Sabiaguaba.

Esse fenômeno acaba por modificar a dinâmica de transporte de sedimentos, inibindo o transporte de sedimentos da faixa de praia aos campos de dunas. Dessa forma, por serem tais porções territoriais remanescentes de planícies de deflação não descaracterizadas pelo processo de urbanização, devem ser devidamente conservadas, por apresentarem

relevância para fauna e flora. Outro ponto notável é a potencialidade paisagística desses ambientes (ARCADIS LOGOS, 2015).

Outra feição ambiental importante da unidade geoambiental planície litorânea são as dunas, tendo sido identificadas, na região estudada, formações caracterizadas como dunas fixas e móveis (ARCADIS LOGOS, 2015).

Na área estudada, verifica-se um considerável campo de dunas móveis, com um elevado grau de preservação na região de Sabiaguaba, ao passo que na região da Praia do Futuro uma ampla área de dunas móveis, compreendendo desde a margem esquerda do rio Cocó até a enseada do Mucuripe, compõe hoje um ambiente totalmente descaracterizado pela urbanização, que avança sobre as dunas remanescentes, móveis e fixas da Praia do Futuro.

Existem ainda, na região sob análise, dunas fixas que já sofreram processo de estabilização em face da cobertura vegetal que possuem, impedindo a movimentação destas que, além de área de preservação permanente e, portanto, insuscetível de ocupação privada, apresentam elevado potencial paisagístico e turístico.

Mais uma unidade importante que se verifica na região são as planícies fluviomarinhas, modeladas onde os processos de acumulação (ou agradação) superam os processos de degradação (ARCADIS LOGOS, 2015). Esses compartimentos são influenciados e originados por processos marinhos e fluviais. Na região estudada, essa unidade é recoberta por manguezais que, por sua vez, apresentam restrições legais para utilização em face de sua definição como APP.

Levantamentos realizados na área demostram que as planícies fluviomarinhas e sua cobertura vegetal de mangue constituem alvo constante de variados processos de degradação, como a implantação de salinas, desmatamentos, aterros e a própria expansão urbana para fins de moradias, empreendimentos turísticos e industriais. Essas intervenções diminuíram significativamente a extensão desse compartimento geoambiental (ARCADIS LOGOS, 2015).

Ainda na região examinada, nota-se a presença de planícies fluviais5, lacustres e fluviolacustres6, ambientes hoje degradados na região devido à utilização indevida produzida

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“Formas mais recorrentes da ação fluvial e não estão sob influência de processos marinhos, como por exemplo, as oscilações das marés. Estes ambientes se distribuem ao longo da calha dos corpos hídricos e na Área de Estudo são mais desenvolvidos junto aos rios Cocó e Coaçu”, conforme Arcadis Logos, 2015, Ob.Cit, p.213.

por diversas atividades, como supressão de areia para a construção civil, aterramento de lagoas, mineração de argila para olarias etc.

Por fim, encerrando a caracterização do meio físico, encontra-se uma área de tabuleiros pré-litorâneos, formados por sedimentos mais antigos, pertencentes à formação barreiras e localizados imediatamente após a planície litorânea em direção ao interior continental. São formações estáveis, com baixa declividade e solos espessos, com topos tabulares, o que confere ótima aptidão para a ocupação urbana, implantação de sistema viário e tantas outras ocupações. Contudo, cabe avaliar a importância de se preservar um dos exemplares de tabuleiros pré-litorâneos existentes na área analisada, com destaque para a formação localizada entre as Avenidas Sebastião Abreu e Padre Antônio Tomás (ARCADIS LOGOS, 2015).