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3 A CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

3.2 A caracterização ambiental

3.2.3 O meio socioeconômico

A análise do meio socioeconômico da região inicia-se pelos aspectos relacionados ao uso e à ocupação do solo, pois isso permite compreender a forma, o ritmo e a intensidade de como as atividades humanas estão contribuindo para a condição ambiental de um determinado território (ARCADIS LOGOS, 2015).

O exame desse elemento essencial para a definição da socioeconomia concentra- se em seus aspectos atuais, embora seja importante registrar que o processo histórico de ocupação da área estudada se intensifica a partir da década de 1960, uma vez que até este momento a região onde hoje se encontra o Parque do Cocó era uma área de sítios.

Entre as propriedades, havia o Sítio Antônio Diogo, que se estendia da linha férrea até a foz do rio Cocó, pela sua margem esquerda. A ocupação era rarefeita, de baixa densidade demográfica, além da extensa região ser deserta e branca, marcada pela exploração de sal – a exemplo das Salinas Diogo –, que também dividia espaço com pescadores artesanais e lavadeiras (ARCADIS LOGOS, 2015).

A partir da década de 1970, a região experimentou um rápido processo de ocupação, notadamente em razão da abertura da Avenida Santos Dumont (ligando o centro da

cidade à praia), da construção da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e também da construção da Cidade 2000, adensando significativamente a ocupação no entorno do baixo rio Cocó. Na década de 1980, a construção do Shopping Iguatemi atuou como vetor de expansão da ocupação da área.

É possível resumir o avanço histórico das ocupações da área destacando o aumento de prédios residenciais, conjuntos habitacionais e pontos comerciais no entorno do rio Cocó e a construção de importantes avenidas, como a Av. Sebastião de Abreu e a Av. Governador Raul Barbosa. Vale ressaltar também as ocupações irregulares na planície de inundação do rio Cocó e nas dunas dos bairros Sabiaguaba, Manoel Dias Branco e Praia do Futuro, além da ação dos barreiros, ou seja, da retirada de barro e areia para a construção civil, resultando em locais como a Lagoa do Amor, localizada no terreno conhecido como Cidade Fortal.

Atualmente, a área analisada enfrenta um crescente processo de ocupação, uma vez que a cidade de Fortaleza continua a crescer para esta área, seja pela ação pública, especulação imobiliária ou por iniciativa própria da população, com acentuado processo migratório originário do interior cearense e também de outros estados (BRUNO; FARIAS, 2014).

Análises realizadas em projetos previstos para a execução na área em estudo demonstram que a tendência é a intensificação da pressão sobre os sistemas ambientais da região. Assim, tanto a infraestrutura viária como a especulação imobiliária de Fortaleza tendem a se direcionar no sentido do Cocó. As principais intervenções previstas são: reurbanização da Praia do Futuro e da Praça 31 de março; duas pontes estaiadas, uma ligando a cidade 2000 ao Centro de Eventos, contando com um mirante, e outra ligando a Avenida Pontes Vieira à Rua Atilano Moura; túnel entre as avenidas Engenheiro Santana Junior e Padre Antônio Tomás – Via Expressa; uma Operação Urbana Consorciada municipal, denominada “Dunas do Cocó”, para construção de unidades residenciais unifamiliares; urbanização da Favela do Dendê e reassentamento de populações carentes nessa região.

A dinâmica socioeconômica da área estudada concentra-se na realização das seguintes atividades: pesca artesanal; atividades extrativistas e usos tradicionais dos recursos naturais (coleta de caju, castanha e murici e a produção do mocororó, uma bebida fermentada feita do caju); atividades comerciais e de serviços (empregados e donos de barracas,

serventes, pintores, pedreiros, e pequenos comerciantes, passeios de barcos, casas de farinha e lavandeiras de roupas); ecoturismo e carvoarias que extraem carvão vegetal de forma ilegal (ARCADIS LOGOS, 2015).

Quanto à identificação do patrimônio histórico, artístico, turístico, cultural, arquitetônico e religioso da região estudada, foram identificadas, sob a perspectiva imaterial, algumas manifestações religiosas, além do preparo do mocororó, que particularizam a cultura local. Dentre elas, a festa que ocorre no dia 13 de dezembro (dia de Santa Luzia), desde 1939, e a caminhada realizada anualmente no dia de São Pedro (29 de junho).

Foi ainda identificada a presença de um significativo material arqueológico nas dunas da Sabiaguaba, como material lítico (pedra) e cerâmico, malacológico (conchas) e faunístico8.

A análise dos recursos hídricos se concentrou no rio Cocó9. Sua bacia contempla as áreas dos municípios de Fortaleza, Aquiraz, Maranguape e Pacatuba, possuindo importantes cursos d’água que drenam o rio. Segundo o Inventário Ambiental de Fortaleza (FORTALEZA, 2003), o rio Cocó possui 29 afluentes na margem direita e 16 em sua margem esquerda, além de 15 açudes e 36 lagoas em sua bacia hidrográfica. Sofre influência das marés até cerca de 13 km da foz, formando um estuário alongado e estreito, composto predominantemente por manguezais (ARCADIS LOGOS, 2015).

A atual situação do rio Cocó é dramática. Observando os aspectos ambientais e de ocupação das margens do rio, constata-se a presença de diversas fontes poluidoras ao longo da área estudada, onde foram encontradas ocupações irregulares que lançam diretamente o esgoto sanitário em suas águas, bem como dispõem de maneira inadequada os resíduos sólidos, ações que alteram os níveis de qualidade da água, indicando maiores quantidades de matéria orgânica e diminuindo os níveis de oxigênio disponível (ARCADIS LOGOS, 2015).

Os expedientes de poluição são nitidamente perceptíveis nas proximidades da ponte da Avenida Sebastião de Abreu, onde as águas ficam turvas e é notada a presença de

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Foram identificados cinco sítios arqueológicos na região da Sabiaguaba. O material localizado está sendo objeto de estudos no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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O Rio Cocó, o qual atravessa grande parte da região metropolitana de Fortaleza, tem sua nascente localizada na Serra da Aratanha, próxima dos municípios cearenses de Pacatuba e Maranguape (CEARA, 2004) e sua foz localizada no bairro do Caça e Pesca, na capital do estado do Ceará. O Rio Cocó possui aproximadamente 45 km de extensão, sendo que 25 km estão localizados em Fortaleza, drenando as porções leste, sul e central do município, ocupando uma área de cerca de 215,9km².

aguapés, já não havendo a prática de pesca ou outra atividade nessas águas, situação que é modificada na medida nas áreas mais próximas da foz do rio, onde as águas ostentam uma coloração azul e são realizadas atividades de pesca. É necessária uma urgente intervenção, visando reverter os dramáticos índices de poluição a que se encontra atualmente submetido.

Nessa perspectiva, embora não componha originariamente o campo de abrangência do presente estudo, a proposta oficial de criação de um programa permanente de intervenções e monitoramento da situação do rio não deixa de ser uma louvável iniciativa de gestão ambiental.