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O MOBRALO MOBRAL

No documento Teoria e Pratica Da EJA (páginas 31-34)

O MOBRAL

Com significativos recursos, o Mobral instalou comissões municipais por todo o país que executavam as atividades de alfabetização, enquanto controlavam supervisão, orientação pedagógica e produção de materiais didáticos. Organizado a partir do golpe militar, ele tinha o intuito de chegar a quase todos os municípios do país e deveria atestar às classes populares o interesse do governo pela educação do povo.

Neste momento, o Brasil contava com 33% de brasileiros acima de cinco anos analfabetos e o Mobral ampliou sua atuação durante a década de 1970. Entretanto, a crítica pelos níveis de aprendizagem e a dúvida quanto aos indicadores apresentados ampliou seu descrédito, sendo extinto em 1985.

O MOBRAL foi criticado pelo pouco tempo destinado a alfabetização e pelos critérios empregados na verificação de aprendizagem. Mencionava-se que, para evitar a regressão, seria necessária uma continuidade dos estudos em educação escolar integrada, e não em programas voltados a outros tipos de interesses como, por exemplo, formação rápida de recursos humanos (PIERRO, 2000, p.116).

As tarefas relacionadas à alfabetização passaram a compor a estrutura da recém-criada Fundação Educar:

Sua função era de articular o subsistema de ensino e a política nacional de jovens e adultos, fomentar o atendimento nas séries iniciais do Ensino de 1° grau, promover a formação e aperfeiçoamento de professores, produzir material didático e supervisionar e avaliar as atividades (CORREIA, 2008, p. 24).

Os programas de alfabetização e educação popular se multiplicaram, no Brasil, no período compreendido entre 1961 e 1964, quando foram interrompidos pelo golpe militar, que os

F o n t e : P H O T O S . C O M

considerava como ameaça à ordem. Somente em 1967, o governo autorizou a realização desses programas, no entanto, sob o seu controle, lançando o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que surgiu como um prosseguimento das campanhas de alfabetização de adultos iniciadas com Lourenço Filho.

Para Ribeiro (1997), o MOBRAL seria a resposta do regime militar à situação, ainda grave, do analfabetismo no Brasil. Em 1969, foi lançada uma campanha massiva de alfabetização, com orientação, supervisão pedagógica e produção de materiais didáticos centralizados.

A expansão do MOBRAL pelo país se deu durante a década de 70, variando sua atuação. Alguns grupos que se opunham à ditadura procuraram seguir as propostas mais críticas, com base no Método Paulo Freire, os quais puderam se ampliar na década de 80, com o início da abertura política.

O movimento, mantido pelo governo federal, propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando instrumentalizar o cidadão e torná-lo capaz de exercer sua cidadania. No entanto, o MOBRAL se limitou a alfabetizar de maneira funcional, não oferecendo uma formação mais abrangente.

A metodologia utilizada pelo Programa de Alfabetização Funcional baseava-se no aproveitamento das experiências significativas dos alunos, dessa forma, embora divergisse ideologicamente do método que Paulo Freire utilizava-se, semelhantemente a este, de palavras geradoras, porém, totalmente esvaziadas de sentimentos críticos. Além disso, havia uma uniformização do material utilizado em todo o território nacional, não traduzindo, assim, a linguagem e as necessidades do povo de cada região e de uma série de procedimentos para o processo de alfabetização.

O MOBRAL não exigia frequência e a avaliação era feita em 2 módulos, uma ao final do módulo e outra pelo sistema de educação. O fato de não exigir frequência, possibilitava o elevado índice de evasão que se estabeleceu nesse nível.

Quanto aos materiais didáticos, Ribeiro salienta o fato de que seguiram muitos procedimentos consagrados nas experiências realizadas no início da década de 60, porém eram destituídos de sentido crítico e problematizador. Assim, de acordo com Ribeiro (1997, p. 26),

Propunha-se a alfabetização a partir de palavras-chave, retiradas “da vida simples do povo”, mas as mensagens a elas associadas apelavam sempre ao esforço individual dos adultos analfabetos para sua integração nos benefícios de uma sociedade moderna, pintada sempre de cor-de-rosa.

A recessão econômica iniciada nos anos 80 inviabilizou a continuidade do MOBRAL que demandava altos recursos para se manter. Seus últimos anos foram marcados por denúncias quanto às aplicações dos recursos financeiros e ao falso índice de analfabetismo emitido por conta do programa.

Assim, em 1985, o MOBRAL foi extinto, por estar desacreditado nos meios políticos e educacionais. Conforme Ribeiro (1997, p.27-28), “seu lugar foi ocupado pela Fundação Educar, que abriu mão de executar diretamente os programas, passando a apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e empresas a elas conveniadas”. Ampliando a concepção de alfabetização

Ampliando a concepção de alfabetização

As críticas aos programas de alfabetização de jovens e adultos se voltavam, principalmente, com relação ao pouco tempo que se levava para alfabetizá-los e a não continuidade do processo. Dessa forma, segundo Ribeiro (1997, p. 28) surgiram programas que previam,

Um tempo maior, de um, dois ou até três anos dedicados à alfabetização e pós- alfabetização, de modo a garantir que o jovem ou adulto atinja maior domínio dos instrumentos da cultura letrada, para que possa utilizá-los na vida diária ou mesmo prosseguir seus estudos, completando sua escolarização.

Dessa maneira, a alfabetização foi incorporada, de forma crescente, a programas mais extensivos de educação básica de jovens e adultos, o que se refletiu na produção dos materiais didáticos.

de montar ou completar palavras com sílabas dadas, palavras e frases para ler e associar imagens e exercícios de coordenação motora, notando-se uma preocupação em oferecer materiais de leitura. Para a etapa de pós-alfabetização, os materiais eram mais escassos e acabavam por reproduzir os livros didáticos utilizados no ensino primário regular, com a adaptação dos temas, que se voltavam para a vida adulta, referindo-se ao mundo do trabalho, aos problemas urbanos, saúde etc.

Além disso, a ampliação da concepção de alfabetização também se deu a partir da preocupação com relação a iniciação à matemática, uma vez que os educandos demonstravam seu desejo de aprender a fazer contas. Logo, via-se a necessidade de incluir a aprendizagem dos jovens e adultos numa concepção de alfabetização integral, que incorporasse a cultura da realidade vivenciada por eles.

Quanto ao caráter crítico e problematizador na EJA, de acordo com Ribeiro (1997, p. 30), alguns educadores conseguiram promover situações de debates, que os levavam a “reconhecer, comparar, julgar, recriar e propor”. Contudo, quando se tratava do trabalho específico de leitura, escrita ou matemática, tornava-se difícil garantir a natureza construtiva da aprendizagem. Os textos lidos contemplavam sempre o mesmo estilo e a mesma estrutura. Assim, produziu-se uma “dissociação entre os momentos de ‘leitura do mundo’, quando os educandos são chamados a analisar, comparar, elaborar, e os momentos de ‘leitura da palavra’ (ou dos números), quando os educando devem repetir, memorizar e reproduzir” (RIBEIRO, 1997, p. 30).

No documento Teoria e Pratica Da EJA (páginas 31-34)