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Uma Nova Visão de MundoUma Nova Visão de Mundo

No documento Teoria e Pratica Da EJA (páginas 145-158)

Uma Nova Visão de Mundo

Português, Matemática, História, Geografia..., nos exames vestibulares, nas coleções lançadas anualmente pelas editoras, nas grades curriculares das escolas, nos cadernos dos alunos, organizados com divisões “por matéria”, estamos acostumados a encontrar as diferentes disciplinas sempre separadas, isoladas em compartimentos, organizadas em espaços bem definidos nos horários e ministradas por diferentes professores.

Essa falta de comunicação entre as áreas, essa fragmentação do conhecimento – reflexo de um complexo processo social e histórico desencadeado pela Revolução Industrial, que exigia mão de obra especializada – têm deixado sequelas profundas em nosso modo de pesquisar, de ensinar e, sobretudo, de pensar e ver o mundo.

Se os alunos, durante toda sua escolaridade e processo de aprendizagem, tomam contato com as disciplinas sempre divididas em segmentos que nunca dialogam, forçosamente desenvolvem uma percepção igualmente fragmentada dos conhecimentos de cada área. Isso, sem dúvida, acaba moldando uma forma de pensar que dificilmente incluirá a síntese, o que é compreensível, considerando que essa habilidade só é adquirida quando se aprende a buscar a visão global dos fatos. Portanto, a organização compartimentada das disciplinas não pode preparar o sujeito para perceber a unidade das coisas, para observá-las e analisá-las por diferentes ângulos e estabelecer relações entre eles, uma vez que essas capacidades vão sendo conquistadas ao longo do tempo, à custa de muitas experiências de unidade.

Em outras palavras, a visão parcelada do conhecimento é um obstáculo para o sujeito alcançar uma integração interna, porque não o instrumentaliza para ver o todo. Fazendo o caminho contrário, podemos pensar que um ensino que conciliasse diferentes conceitos, de diferentes áreas; que integrasse as várias disciplinas e fosse capaz de substituir a fragmentação pela interação, daria ao sujeito a oportunidade de aprender a relacionar conceitos e, consequentemente, de construir novos conhecimentos, com muito mais autonomia e criatividade. Mais autonomia, porque ele teria aprendido a considerar fatores de diferentes ordens na realização de seus objetivos, inclusive de aprendizagem.

Mais criatividade, porque a prática de relacionar implica também a arte de encontrar combinações inéditas, ousadas, saídas novas para velhos problemas. Esse seria um ganho inestimável do processo de ensino no novo milênio. Outro aprendizado importante que essa nova forma de pensar traz em seu bojo é o fato de que as experiências bem-sucedidas de integração incentivam a disposição para buscar relações de complementaridade e estabelecer parcerias. A convivência com o outro, por sua vez, obrigatoriamente impõe a necessidade de administrar os conflitos e desentendimentos provocados pelas diferenças; de compreender a importância de considerar todas as colaborações possíveis; de respeitar e valorizar todos os campos de conhecimento, apesar das divergências. Nesse sentido, não é exagerado dizer que a convivência das disciplinas pode ser uma estratégia para desenvolver a noção de tolerância.

Enfim, parece correto concluir que, tanto quanto a vivência da compartimentalização incentiva o que é sectário e isolado, ou seja, a base do individualismo, a comunhão de áreas, de conceitos, de professores pode ser uma mensagem eloquente sobre os benefícios da composição, articulação de forças, cooperação, que são a base da postura solidária. Considerando o tamanho dos problemas econômicos e ambientais que já enfrentamos, é de grande valia sonhar com um ensino que parte da integração e ensina os alunos a usufruírem melhor dos conhecimentos recebidos na escola.

O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos33 Meire Cavalcante

Misturar as disciplinas -

Misturar as disciplinas - já que no mundo elas não estão separadas -, integrar os alunos na vida escolar e usar a experiência deles em sala. Essas são algumas das chaves para você abrir as portas da escola àqueles que demoraram tanto para chegar até ela.

"A caneta que meu pai me deu foi o cabo da enxada", lamenta Luzinete Maria da Silva, agricultora pernambucana de 50 anos, que cresceu na roça e acaba de se alfabetizar. "Ele dizia que mulher só servia para trabalhar e que, se eu fosse para a escola, ia car mandando bilhetinho para namorado". A história de Luzinete é semelhante à de milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfa- betos ou têm escolarização incompleta. E as causas são as mesmas: pais analfabetos ou machistas, necessidade de trabalhar, inexistência de escolas, paternidade e maternidade precoces e falta de dinheiro, transporte, comida e oportunidade. Mas esse quadro está mudando. Luzinete estuda em uma turma de alfabetização na cidade de Limoeiro e quer fazer o Ensino Fundamental. Assim, ela será um dos 4,5 milhões de brasileiros que cursam as aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) para conquistar não só um diploma, mas uma vida mais digna. É claro que a melhora da escolaridade da população não depende apenas de programas de alfabetização. É preciso incentivar os egressos a continuar os estudos.

Os alunos também vão em busca de instrumentos para viver no mundo da informação e elaborar pensamentos e ações de forma crítica. "Disso depende a autoestima, a identidade e até a possibili- dade de conseguir um emprego", arma Timothy Ireland, diretor de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). Criado em julho de 2004 pelo Ministério da Educação, o órgão coordena ações de alfabetização e oferece apoio nanceiro e

3 CAVALCANTE, Meire. O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos. Nova Escola on-line, São Paulo: Abril, 184, ago,

pedagógico para que estados e municípios garantam a continuidade dos estudos de quem já apren- deu a ler e escrever. "Nos últimos 30 anos, não houve articulação entre a escolarização e a alfabetiza- ção de jovens e adultos. Não se pode separar uma da outra", arma Ireland.

Quem tem uma turma de EJA sabe das diculdades de manter o interesse dos alunos - que chegam cansados do trabalho -, de planejar aulas que tenham relação com a vida deles e que não sejam uma versão empobrecida do que é dado a crianças e adolescentes. Mas já há inúmeras escolas traba- lhando a EJA com sucesso. Selecionamos experiências que trazem os fundamentos para que você possa dar aos estudantes oportunidade de se tornarem cidadãos autônomos e transformar a escola na porta de entrada de um mundo a ser descoberto.

Ensino diversicado: o Educandário Beatriz França, em Limoeiro (PE), abre a biblioteca e oferece aulas de ginástica laboral aos estudantes de alfabetização do Sesi

Um dos grandes parceiros do governo na luta contra o analfabetismo é o Serviço Social da Indústria (Sesi). O Projeto Sesi, por um Brasil Alfabetizado, começou em 2003 e já alfabetizou 600 mil pessoas. Enquanto o governo federal capacita e paga os alfabetizadores, o Sesi fornece material didático e capacita e paga os supervisores. "Eles orientam o trabalho em sala, tiram dúvidas e proporcionam a troca de experiências entre os alfabetizadores", explica Eliane Martins, coordenadora nacional de alfabetização do projeto.

Seguindo a linha do educador Paulo Freire (1921-1997), o projeto alfabetiza com base em temas geradores, fazendo a ligação dos conteúdos escolares com a vida dos estudantes. Em sua turma de alfabetização na Escola Municipal José Clementino Coelho, na zona rural de Limoeiro, o professor Aluízio Barbosa da Silva, por exemplo, começou uma das aulas com uma canção sobre o meio ambi- ente. Enquanto cantavam, os alunos treinavam a leitura e aprendiam que as queimadas empobrecem o solo, tirando o sustento deles e das próximas gerações. "Eu vi por que é importante reciclar o lixo e que muitas famílias vivem de vender os materiais recicláveis", conta a agricultora Marlene Rosa de Lima Silva, 46 anos.

O Sesi atua ainda em parceria com escolas particulares. Na mesma Limoeiro, o Educandário Beatriz França recebe algumas turmas do projeto no período noturno. Os alfabetizandos participam, uma vez por semana, de aulas de ginástica laboral dadas voluntariamente pela professora de Educação Física da escola, Cristina Maria de Mendonça. "Ensino exercícios de relaxamento e alongamento e utilizo músicas e brincadeiras. Com o espírito mais leve, a aprendizagem melhora." Cristina revela que alguns estudantes mais velhos não conheciam doenças como artrite e osteoporose. "Eles falam que com a ginástica as dores sumiram", diz. "Não estamos apenas emprestando algumas salas de aula. Todos têm acesso à biblioteca e, assim que inaugurar a sala de informática, também poderão usá-la. É uma forma de contribuir para o desenvolvimento da nossa comunidade", arma a diretora Maria do Socorro Pereira de Souza.

continuidade da escolarização aos formandos das turmas de alfabetização. A orientação da Secad é de que os alunos sejam estimulados pelos professores a prosseguir os estudos. "Em Limoeiro, estamos mobilizando as secretarias estadual e municipal de educação para ampliar a oferta de EJA. Muitos desistem porque a escola ca distante demais", arma Luíza Antônia Ferreira, supervisora do projeto do Sesi no município.

Mostrar que a escola se modernizou Mostrar que a escola se modernizou

Um grande desao para professores de jovens e adultos é acabar com a estranheza que a escola causa a muitos logo nos primeiros dias de aula. O modelo que a maioria guarda na memória é de salas com carteiras enleiradas, quadro-negro, giz, livro, caderno e um professor - que fala o tempo todo e passa tarefas. Muitos alunos, ao participar de debates, estudos do meio, apresentações de vídeo ou dinâmicas de grupo, cam com a sensação de que estão sendo "enrolados."

Para Vera Masagão Ribeiro, coordenadora de programas da Ação Educativa, organização não-gover- namental em São Paulo, é importante mostrar que recursos variados também fazem parte da apren- dizagem. Para isso, relacionar esses recursos com o conteúdo da aula é um bom começo. "Se a idéia é passar um vídeo para a turma, o professor pode antes dar um texto sobre o tema e provocar uma breve discussão. Terminado o lme, ele pergunta aos alunos qual foi o trecho mais emocionante ou marcante", sugere Vera. Ela alerta, no entanto, que é preciso combinar essas atividades com o mo- mento do registro escrito que, para a turma, é uma característica especíca da escola. "Ao escrever, eles têm o sentimento de aprendizagem, de apropriação do conhecimento."

Na Escola Estadual Jorge Fernandes, em Natal, os professores de EJA são orientados a preparar o terreno antes de cada atividade diferenciada. "Se o aluno for pego de surpresa, acaba achando que aquilo não faz parte da aula", arma a vice-diretora da escola, Maria Gorete de França Gomes. "Por isso, os professores mostram, aos poucos, que existe um mundo além do quadro e do giz: há lmes, músicas, entrevistas, documentários, livros e tantas outras coisas interessantes às quais a maioria não tem acesso", explica. Mas e se, mesmo adotando essas estratégias, o aluno insistir em questionar a qualidade da aula? "Essa é uma boa oportunidade de o professor mostrar que o simples fato de questionar já é um aprendizado", diz Sônia Giubilei, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"Eu estudei até a 4ª série do primário. No meu tempo, o professor parecia que cava um degrauzinho acima da gente e ninguém abria a boca. Dava para ouvir a respiração dos colegas", conta a auxiliar de enfermagem Maria de Lima Pimenta Silva, 60 anos, que acabou de completar o Ensino Médio. Os anos de rigidez escolar zeram com que Maria tivesse medo e vergonha de fazer perguntas e de errar. "Quando voltei para a escola, eu achava que tinha só que escutar. Perguntar e discutir era perda de tempo. Agora aprendi que, se não pergunto, não aprendo", conclui Maria. "Cabe ao educador mostrar que o conhecimento não está apenas no livro ou em sua fala, mas em tudo que nos cerca, no nosso cotidiano", arma Sônia, que coordena desde 1995 o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação

de Jovens e Adultos (Gepeja) da Unicamp. O objetivo do grupo é dar uma formação cidadã e crítica aos estudantes.

Ensinar as disciplinas como elas aparecem na Ensinar as disciplinas como elas aparecem na vidavida

O estudo do meio é uma das atividades desenvolvidas pelo Gepeja com as turmas de EJA, em Campi- nas. Em uma viagem realizada no último mês de junho à cidade de Porto Feliz, distante cerca de 90 quilômetros, cada aluno recebeu uma pasta com seu nome, folhas para anotações, textos, mapas, reportagens e crônicas sobre a visita e o tema gerador, "água". Tudo serviu de gancho para a apren- dizagem graças ao preparo dos professores. O ônibus contratado para fazer o transporte atrasou em quase uma hora. Além disso, não tinha microfone - uma das exigências feitas pelo Gepeja. "Pessoal, segunda-feira vamos escrever uma carta à empresa reclamando. Pagamos por um serviço e temos o direito de exigir que ele seja feito", ensinou a professora Sônia.

Os alunos estudaram conceitos de física, como velocidade, relacionando o tempo da viagem e os quilômetros percorridos, calcularam quantos litros de água uma cidade como Campinas consome a cada mês e aprenderam sobre a história das monções - expedições de navegação em rios ocorridas nos séculos 18 e 19 - que partiam de Porto Feliz. Ao verem peças de tortura da época da escravidão expostas em um museu, debateram sobre as condições de vida dos negros no Brasil. Eles discuti- ram também o grau de poluição do rio Tietê e que impactos isso traz para a vida deles e das futuras gerações. "Nossa preocupação é despertar o senso crítico para que os alunos possam, por exemplo, perceber o que é possível fazer na comunidade para melhorar a qualidade de vida", arma Angélica Sacconi Leme, professora da sala de alfabetização do Gepeja.

No nal do dia, o grupo foi convidado a responder uma folha de avaliação. O questionário abordava, por exemplo, o que mais chamou a atenção da turma e a qualidade do transporte e do lanche. Em seguida, os professores organizaram um bate-papo, que resgatou temas de aulas anteriores e con- teúdos estudados. Todos estavam com a matéria na ponta da língua. "Temos que conservar os lençóis freáticos para ensinar aos mais novos. Senão, tudo isso vai acabar", armou Josué Pimenta Silva, 78 anos, motorista aposentado.

Usar a experiência da turma como base das aulas

Sintonia com o trabalho: empregadas domésticas, alunas da Escola Jorge Fernandes, em Natal, pre- param deliciosos pratos e, em sala, a turma toda estuda conteúdos com base nas receitas

Projetos que fazem sentido para os alunos mostram que o mundo não pode ser dividido por discipli- nas, como acontece na escola. Dessa forma, eles começam a relacionar os conteúdos estudados com fatos do cotidiano e do trabalho. Ao aprenderem o que eram bactérias, as empregadas domésticas que cursam as aulas do nível 2 de EJA (3ª e 4ª séries) da Escola Estadual Jorge Fernandes, em Natal, descobriram por que para cozinhar é tão importante manter as unhas cortadas e as mãos sempre limpas.

daria um bom mote para as aulas. Todas as segundas-feiras um grupo de estudantes vai para a cozinha preparar uma iguaria. Enquanto isso, o restante da turma copia a receita do quadro-negro e faz os exercícios de gramática e ortograa. Ao m da aula, todos se reúnem para provar o prato e conversar. É um momento de socialização, que fortalece os vínculos do grupo.

No decorrer da semana, a professora trabalha leitura, conteúdos de Matemática e Ciências, noções de higiene e também fala da cultura e da história das receitas regionais. Maria das Graças leva em conta a assiduidade, a participação e o envolvimento com as aulas. Esse acompanhamento contínuo permite que ela lance mão de estratégias variadas para ajudar cada um a superar suas diculdades. Além de dar conta do currículo, as alunas que trabalham como empregadas domésticas saem mais qualicadas para o trabalho e para a vida.

"Minha patroa adora as receitas que eu levo daqui", conta Maria das Vitórias Domingos da Silva, 29 anos. "Algumas patroas ligaram para a escola elogiando o trabalho desenvolvido e a evolução no vocabulário das funcionárias", diz a professora Maria das Graças. Ela se preocupa em mostrar à turma que o trabalho de cada um é de extrema importância para a sociedade. "Minha patroa é professora aposentada. O saber dela é um, o meu é outro. E nós duas somos importantes", constata Maria Analete da Silva Aguiar, 45 anos, que pretende continuar os estudos e, no futuro, trabalhar com alimentos congelados e doces e salgados para festas. "Meu trabalho melhorou muito. Aqui aprendi a usar touca, luvas e avental para manter a higiene", arma Maria Auxiliadora dos Santos, 35 anos. "Nossa cozinha ainda é pequena, mas o sucesso do projeto tem sido tão grande que já estamos so- nhando com uma cozinha experimental", revela a vice-diretora Maria Gorete.

Ampliar os horizontes culturais dos estudantes

Um mundo novo: alunos da Escola Rodrigues Alves, em São Paulo, descobrem a vida cultural da cidade e até se arriscam a criar suas próprias obras de arte

A escola pode apresentar o mundo cultural aos alunos. Para explorar uma metrópole como São Pau- lo, que oferece tantas opções, Ricardo Barros, professor-coordenador de EJA da Escola Estadual Rodrigues Alves, criou o projeto Você Tem Fome de Quê?, em que os conteúdos aprendidos em sala se relacionam com as manifestações culturais da cidade. Os professores organizam visitas a exposições de arte, teatros, cinemas e museus e recebem artistas na escola, que expõem seus trab- alhos e suas idéias.

"A primeira vez que fui a uma exposição, achei tudo elegante demais. Fiquei tímido. Hoje já me sinto mais à vontade", conta o manobrista Marcos Antônio dos Santos Soares, 26 anos. "Quando vi que a gente ia sair por aí visitando exposições, pensei que era bobagem. Achava que eu tinha que aprender a ler e escrever e só. Agora co ansiosa esperando o próximo passeio", diz a acompanhante Arlete Alves Feitosa, 22 anos. Marcos e Arlete cursam o 1º ano do Ensino Médio.

Ao participar de uma visita monitorada ao Centro Universitário Maria Antônia, os alunos discutiram o consumismo e a inuência da TV no nosso modo de pensar e participaram de uma ocina sobre

desenho e linguagem da fotograa. Como o trabalho é interdisciplinar, quem acompanhou o grupo foi a professora de Geograa Aline Cristina Cardoso de Castro. "A turma precisa perceber que, apesar de ser um só assunto, ele se relaciona com várias disciplinas."

São comuns casos de estudantes que nunca foram ao cinema ou ao teatro. "O projeto torna esses adultos mais sensíveis à ação transformadora da arte", arma Ricardo. "A nossa mente se abre, a gente começa a car mais crítico. Eu nunca pensei em fazer uma faculdade. Agora meu objetivo é ser psicóloga e trabalhar com Educação Especial", revela a empregada doméstica Maria de Lourdes Alves Nascimento, 35 anos.

Integrar os jovens e adultos aos demais alunos Integrar os jovens e adultos aos demais alunos

Todos juntos: os alunos da rede municipal de Pombal (PB) enfeitam a carroça da EJA e deslam com as turmas dos menores na festa de são João

Tornar as turmas de EJA parte da comunidade escolar é fundamental para o sucesso da aprendiza- gem e para evitar a evasão. O aluno não pode sentir que aquele espaço é apenas emprestado. "Não são raros os casos de escolas que trancam a biblioteca, a sala de informática e até alguns banheiros à noite, no período em que os adultos estão lá", arma Vera Masagão. Além disso, muitas vezes eles são excluídos das festas e feiras culturais, do jornal interno e dos eventos da escola.

Para promover a integração de todas as modalidades de ensino, a secretaria de educação de Pom- bal, na Paraíba, organiza anualmente um desle de carroças na época de são João. Todos, desde a creche até a Educação de Jovens e Adultos, enfeitam suas carroças - e os burros que as puxam - para mostrar ao público o quanto conhecem e valorizam a própria cultura. Antes do grande dia, os alunos estudam os símbolos de são João, como a fogueira e as bandeirinhas, e aprendem sobre a srcem da festa e a culinária local. O tema escolhido pelas turmas de EJA para enfeitar a carroça foi a mulher rendeira. O capricho na confecção dos adereços, laços e babados e da boneca rendeira mostra o carinho e o interesse dos alunos pela escola. "Participo de tudo que os mais jovens fazem. É uma

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